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A noção de competência comunicativa tem sua origem calcada na dicotomia chomskyana: Competência e Desempenho lingüístico, sendo que para Chomsky, competência significa conhecimento da língua, ou seja, suas regras gramaticais, enquanto que desempenho significa o “uso real da língua”, sem se preocupar com a função social da mesma. Mais tarde pesquisadores como Taylor (1988); Hymes (1972); Savignon (1971); Canale & Swain (1980); Canale (1983); Stern (1987); Spolsky (1973); Widdowson (2005); Bachman (1990, 2003); Almeida Filho (1997); Consolo (1990) e Alvarenga (1999) ampliam o seu alcance a aspectos mais holísticos e complexos, conduzindo assim, o termo para uma explicitação mais voltada ao processo pedagógico de ensinar/aprender línguas.

Hymes foi o primeiro a incorporar o aspecto social no conceito de competência quando introduziu o termo comunicativo, isto é, a Competência Comunicativa, que segundo o autor:

É a capacidade do sujeito circular na língua-alvo apropriadamente em diversos contextos sociais de comunicação humana. As capacidades de uma pessoa que dependem tanto do conhecimento[tácito]-‘usage’-(conhecimento gramatical) quanto de uso[habilidade para]- ‘use’-(conhecimento do contexto). (HYMES, 1972, p. 282).

Como podemos observar na sua definição, o autor estava realmente preocupado com aspecto social da língua, ou seja, para Hymes (1972 apud SILVA, 2007):

Não é bastante que o indivíduo saiba e use a fonologia, a sintaxe e o léxico da língua para caracterizá-lo como competente em termos comunicativos. É preciso que, além disso, esse indivíduo saiba e use as regras do discurso específico da comunidade na qual se insere. (p. 1).

Entretanto, um indivíduo para ter competência comunicativa, precisa saber não só falar uma língua gramaticalmente correta, mas também saber transmitir significado compreensível de acordo com a situação e contexto social em que se insere, saber seu turno de fala, com quem fala, como falar e/ou não falar. Devemos também a ele o acréscimo no conceito de competência no que se refere à “capacidade do sujeito circular na língua-alvo”, ou seja, “a habilidade para usar”, com a inclusão da habilidade para uso como parte da competência, permite não somente fatores cognitivos, mas também fatores não cognitivos, como a motivação. Sendo assim, Hymes (1972) abriu espaço para os lingüistas e lingüistas aplicados ampliarem seu conceito inicial de competência comunicativa, visando assim uma

perspectiva mais social ao estudo da língua, como o próprio autor afirma a necessidade da criação de uma teoria que dê conta de conceituar tal falante-ouvinte, que inquestionavelmente são postulados como base de estudo dos mesmos, sendo que estes são variáveis sócio- culturalmente na realidade de uso da comunicação que estão inseridos. A partir dessa afirmação de Hymes (1972), outros estudiosos tentaram e ainda tentam explicitar o conceito de competência comunicativa, como veremos a seguir, Canale & Swain (1980), tentaram reformular o conceito de Hymes (1972), trazendo-o para um contexto mais pedagógico e prático para ser utilizado no ensino e/ou aquisição de LE e L2. Não deixando de ser um grande ganho para os estudiosos da área, o conceito de competência comunicativa passou a ser um complexo arcabouço teórico, que se subdivide em quatro competências, a saber:

Competência Gramatical: saber regras gramaticais ou lingüísticas para a produção de palavras e frases;

Competência Sociolingüística: conhecer as regras sociais que norteiam o uso da língua em contexto real de uso da mesma;

Competência Discursiva: ter a capacidade de coerência e coesão de uma série de orações e frases com a finalidade de produzir de forma oral ou escrita uma linguagem de significado;

Competência Estratégica: devido a grande complexidade da Competência Comunicativa, o falante tem que ser capaz de usar estratégias para compensar falta de vocabulário ou estrutura gramatical.

Dez anos mais tarde, seguindo o modelo de Canale & Swain (1980), Bachman (1990) também oferece um arcabouço teórico para a definição de competência comunicativa, dividindo-a em três subcompetências, dando assim uma maior amplitude ao termo:

1. Competência Lingüística: subdividida em Organizacional (que consiste em competência gramatical e textual) e Pragmática (que consiste em competência ilocucionária e sociolingüística);

2. Competência Estratégica (conhecimento sócio-cultural): é vista como a capacidade que relaciona a competência lingüística ou conhecimento da língua, as estruturas de conhecimento do usuário da língua e as características do contexto no qual a comunicação acontece. Ela realiza funções de

averiguação, planejamento e execução na determinação dos meios mais eficientes para atingir um propósito comunicativo;

3. Mecanismos psicofisiológicos, que estão relacionados com os processos neurológicos e psicológicos na real produção da língua como um fenômeno físico, ou seja, os mecanismos psicofisiológicos envolvidos no uso da língua caracterizam o canal (auditivo, visual) e o modo (receptivo, produtivo), através dos quais a competência é implementada.

Posteriormente, Widdowson (2005), também deu sua significante contribuição para o termo com a sua distinção entre FORMA (gramatical) e USO (comunicativo):

A noção de competência tem a ver com o conhecimento de regras lingüísticas abstratas por parte do usuário da língua. Esse conhecimento tem de ser veiculado na forma de comportamento, tem de ser revelado através do desempenho. (WIDDOWSON, 2005, p. 16).

Novamente retomamos a dicotomia de Chomsky Competência/Desempenho que convergentemente com a definição de Widdowson (2005) afirma que para haver comunicação o indivíduo tem que mostrar sua habilidade lingüística (competência) através do desempenho. Mas e o uso? Onde o autor enquadra os aspectos sócio-culturais da fala?

O uso é outro aspecto do desempenho: aquele que torna evidente até que ponto o usuário demonstra capacidade de uso do seu conhecimento de regras lingüísticas para a comunicação eficaz. (WIDDOWSON, 2005, p. 17).

Ao afirmar que “o uso é o elemento que torna evidente até que ponto o usuário demonstra seu conhecimento lingüístico através do desempenho”, não estaria o autor dando ênfase aos aspectos lingüísticos da comunicação? Sendo que posteriormente contradiz declarando que: “A nossa preocupação é com o uso e isso neutraliza tais irregularidades da forma” (WIDDOWSON, 2005, p. 17).

Enriquecendo mais ainda os aportes teóricos da Competência Comunicativa, Almeida Filho (2005) acrescenta às teorias de Chomsky (LYONS, 1970); Hymes (1972); Canale & Swain (1980); Canale (1983) e Widdowson (2005) entre outros, alguns itens de extrema importância para reflexão e esclarecimento para a definição do termo, pois para o autor:

O discurso é aqui concebido como uma linguagem com fins específicos e aceitáveis, marcado por diferenças individuais em situações sócio-culturais reais nas quais o (inter)locutor se depara com a manutenção das relações sociais, conflitos, necessidades de informações e negociações sempre sob o prisma de atitudes, motivações pessoais ou coletivo-culturais. (ALMEIDA FILHO, 2005, p. 81).

No entanto, o autor engloba na sua concepção de linguagem comunicativa a noção de variedade sócio-cultural e/ou coletivo-culturais, as funções da linguagem (negociar, informar, gerar conflitos, persuadir etc.) e os aspectos não-cognitivos (motivação e atitude), em outras palavras, ele concebe a comunicação como algo que vai além de um simples processo lingüístico com fins na transmissão de informações em contextos apropriados, pois o discurso também depende de outras competências (implícitas ou explícitas) e conhecimentos. E, consequentemente Almeida Filho (2005), nos assegura que aprender uma outra língua não é somente aprender outro sistema (competência lingüística), nem tampouco saber passar informações a um interlocutor, mas sim saber construir num discurso (a partir de contextos sociais concretos e experiências prévias) ações sociais e culturais apropriadas. Pois segundo o autor:

Comunicar-se é atividade que apresenta alto grau de imprevisibilidade e criatividade (nos sentidos gerativo e imaginativo) tanto na forma quanto nos sentidos construídos no discurso. (ALMEIDA FILHO, 2002, p. 9).

Dentro dos parâmetros da dicotomia chomskyana, podemos observar que o autor contempla tanto a competência (estrutura da língua) quanto o desempenho (uso real da língua), abarcando assim, a complexidade e amplitude que é o processo de comunicação, como podemos observar no organograma abaixo:

Figura 3 – Organograma da competência comunicativa Fonte: Almeida Filho (2002, p. 9)