• Nenhum resultado encontrado

Muitas são as dificuldades que diversos alunos encontram quando entram em contato com os mais variados tipos de texto, sejam esses orais ou escritos, em diferentes contextos sociocomunicativos.

Para se falar em competência discursiva faz-se necessário retomar as origens dos conceitos de competência e performance nos linguistas Saussure, Chomsky e Hymes. Não se pode dizer que a dicotomia saussuriana langue e parole é exatamente a competência e a performance denominadas por Chomsky (1965), porém, Saussure (2012) diz que a linguagem tem seu lado social, a langue, língua, e seu lado individual, a parole, fala, sendo esse dois lados interdependentes entre si. A língua é considerada pelo teórico como instituição social, acervo linguístico e realidade sistemática e funcional e a fala como ato individual e, portanto, impossível de ser sistematizada. Chomsky aborda o conceito de competência como o conhecimento da gramática da língua e o de performance como o uso desse conhecimento. Chomsky (1965, p. 83) fala que:

A teoria linguística se preocupa primeiramente com um falante-ouvinte ideal numa comunidade de falantes completamente homogênea, que sabem sua língua perfeitamente e não são afetados por condições gramaticais irrelevantes tais como limitações de memória, distrações, desvios de atenção e de interesse e erros (ao acaso ou previsíveis), ao aplicar seu conhecimento da língua no desempenho verbal.

Quando o autor refere-se à competência considerando-a como gramática internalizada, sugere um modelo linguístico-psicológico limitado, observando-se que a Psicolinguística, fundamentada na sintaxe, não consegue abranger as questões da semântica relacionada ao uso da língua, visto que se baseia na ideia de que a

gramática transformacional expressa a estrutura e a aplicação do conhecimento linguístico. Sabe-se que, quando os falantes de uma língua interagem entre si, utilizam-se de diferentes competências, não apenas a gramatical. Hymes (1984) opôs- se a Chomsky afirmando que esses falantes possuem variados comandos sobre a língua, criando o termo competência comunicativa, que abrange, além dos conhecimentos psicolinguísticos, os sociolinguísticos, os linguísticos e os pragmáticos, as habilidades desenvolvidas pelas pessoas para poderem participar do processo comunicativo que envolve identificação, compreensão e uso de diferentes tipos textuais, sejam esses orais ou escritos.

Segundo Baltar (2004, p. 212)

O trabalho de Hymes tem como objetivo principal fazer uma crítica à linguística hegemônica proposta por Chomsky, que teve a adesão da maioria dos linguistas na década de 60. O ponto positivo, talvez, de Chomsky seria o de ampliar a visão anterior do Estruturalismo; ampliar a visão de uma linguística imanente para a questão da relação entre os estudos da linguagem e o comportamento humano, ou da psicologia cognitivista. Ao contrário disto, a proposta de Hymes indica outra direção. Trata-se da ampliação do quadro teórico da linguística em direção à linguagem como fruto da experiência social das comunidades de falantes, colocando a pesquisa além da linguística imanente e da psicologia mentalista ou cognitivista. Hymes analisa a questão da competência e da performance de Chomsky como uso criativo da linguagem, refutando esta ideia e afirmando que onde Chomsky diz competência deve-se ler gramática; onde diz performance, deve-se ler realização psicológica, e onde diz criatividade, deve-se ler produtividade sintática. Ainda acrescenta que onde diz apropriação – adequação –, há um problema, pois a apropriação – adequação – da linguagem implica, na sua visão, analisar o contexto social, o que Chomsky não faz.

A partir dessa divergência de Hymes em relação a Chomsky, desenvolvem- se conceitos como comunidades linguísticas, assim como a própria Sociolinguística, que se importa com as falas individuais de cada falante e a sua interação social por meio do uso da língua com outros seres que também têm suas especificidades no uso da linguagem. A gramática como concebida por Chomsky deixa de ter destaque nos estudos em Linguística e passa a ser concebida principalmente sob seu aspecto normativo. A gramática continua tendo utilidade e valor enquanto herança sociocultural, porém, o que se coloca, a partir de Hymes, no centro da atenção é a observação do uso da língua por falantes e ouvintes vistos de forma individual, considerando-se a inexistência da ideia de comunidade linguística homogênea defendida por Chomsky e seus seguidores.

Quando se está na sala de aula, tanto em bairros periféricos quanto em bairros nobres, percebe-se que não há como confirmar a ideia de falante-ouvinte ideal. Se existe um falante-ouvinte ideal, esse falante não pode ser representado pela gramática normativa nem pode ser robotizado por meio dela, tão menos de forma homogênea, visto que cada grupo de falantes vive em realidades sociais relativamente diferentes umas das outras e fazem parte de comunidades que diferem-se entre si pelos seus sistemas de valores e crenças expressos pelas especificidades das suas linguagens. Não há, portanto, como separar essas questões sociais das questões linguísticas das comunidades de falantes, assim como não há como negar que o uso da língua por esses falantes é determinado pela sua necessidade de interação, o que é levado em conta nos estudos de Hymes (1984) para a construção da sua ideia de “competência comunicativa”.

Conforme Baltar (2004, p. 218):

Hymes assevera que o termo competência de comunicação é um termo indispensável para efeito de generalização. Competência de comunicação deveria, então, ser entendido como competência NA comunicação e competência PARA comunicação. A comunicação não é apenas um objetivo da linguagem, mas um atributo. Toda utilização da linguagem coloca em jogo esse atributo.

Partindo dessas reflexões, trataremos adiante da “competência discursiva” e, sabendo que o ensino da língua não existe em dissociação com as competências comunicativas que visa desenvolver nos alunos, discutiremos também sobre o desenvolvimento dessas competências nas aulas de língua portuguesa no Ensino Básico.

Documentos relacionados