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Competência em comunicação audiovisual e competência digital

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 3. Competência em comunicação audiovisual e competência digital

O vocábulo competência, de uma forma geral, designa “una combinación de conocimientos, capacidades y actitudes que se consideran necesarias para un determinado contexto” (Ferrés, 2007, p.100), isto é, a capacidade que demonstra um ser humano para levar a cabo, com sucesso, determinadas ações, utilizando para tal os conhecimentos que detém.

Até determinado ponto da história, o ensino tradicional das línguas era feito com base na transferência e prática exaustiva das regras linguísticas, pois suponha-se que aprendizagem de idiomas radicava deste aspeto, como é o caso dos pressupostos do método audiolinguístico. Com os progressos na investigação sobre a comunicação humana e sobre pedagogia de línguas estrangeiras, assistimos ao surgimento de uma modalidade educativa nas línguas, cuja finalidade máxima da aprendizagem é alcançar a competência comunicativa, que surge definida como a capacidade para a comunicação, respeitando as convenções da língua e sociais:

(…) la capacidad de una persona para comportarse de manera eficaz y adecuada en una determinada comunidad de habla: ello implica respetar un conjunto de reglas que incluye tanto las de la gramática y los otros niveles de la descripción lingüística (léxico, fonética, semántica) como las reglas de uso de la lengua relacionadas con el contexto sociohistórico y cultural en el que tiene lugar la comunicación.2

Mais recentemente, fruto da evolução tecnológica a que temos vindo a assistir, os materiais audiovisuais têm surgido como uma fonte de recursos presente na aula de idiomas. Na verdade, nos currículos da maioria das áreas disciplinares, temos assistido a uma crescente fixação de objetivos e conteúdos que poderíamos relacionar com essa competência, fator que obriga à união do código linguístico ao pedagógico e específico da componente audiovisual. Deste modo, a competência audiovisual “(…) implica trabajar sobre el conocimiento y uso (…) de diversos códigos o sistemas de signos (niveles fónico, morfosintáctico y léxico); de lenguas naturales (maternas, segunda y

2 in Diccionario de Términos Clave del Instituto Cervantes:

http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/competenciacomunicativa.htm (Consultado em: 23/9/2015)

extranjeras), de los signos corporales, gestuales y quinésicos, visuales, icónicos o gráficos, musicales, proxémicos, formales, etc.” (González, 2010, p.10). Segundo Gonzalez (2010, p.11), a aproximação da competência comunicativa e da competência audiovisual dá-se através da utilização simultânea e complementar desses códigos que dizem respeito à língua e aos códigos do texto audiovisual.

Retomando a importância do desenvolvimento das tecnologias no âmbito educativo, o qual poderia consubstanciar a emergência de uma competência audiovisual, é necessário realçar que surgiram algumas tentativas para aproximar a educação das TIC, acompanhando esse processo de metamorfose considerável. Em março de 2000, no Conselho Europeu de Lisboa, efetuou-se um primeiro passo rumo a essa aproximação entre educação e tecnologia. Posteriormente, no ano de 2002, em Barcelona, o mesmo Conselho acentuou a necessidade de a alfabetização digital surgir como competência básica do processo educativo nos documentos reguladores, sugestões que foram sendo introduzidas nos currículos educativos dos países da Europa (Ferrés, 2007, p.100).

É no contexto da proliferação das TIC e da valorização da alfabetização digital nos âmbitos educativos que Joan Ferrés Prats (2007) afirma o grau de similaridade entre competência digital e competência audiovisual, argumentando que, na atualidade, são quase indissociáveis, na medida em que ambas implicam a utilização dos meios eletrónicos para o seu desenvolvimento:

(…) implica el uso confiado y crítico de los medios electrónicos para el trabajo, el ocio y la comunicación. Estas competencias están relacionadas con el pensamiento lógico y crítico, con las destrezas para el manejo de la información a un alto nivel y con el desarrollo eficaz de las destrezas comunicativas” (Ferrés, 2007, p. 102).

Em suma, podemos concluir que as duas competências enunciadas pelo autor se complementam e também surgem relacionadas com o processo comunicativo, área de relevado interesse para o estudo que levamos a cabo e para a nossa área de docência.

No que respeita especificamente às duas valências dos materiais audiovisuais que trataremos de estudar ao longo desta exposição, interessa referir que o autor que citamos anteriormente afirma que a competência em comunicação audiovisual designa a “capacidad de un indivíduo para interpretar y analizar desde la reflexión crítica las imágenes y los mensajes audiovisuales [recurso] y para expresarse con una mínima corrección en el ámbito comunicativo [produto]” (Ferrés, 2007 p. 102). Como é possível concluir através da leitura deste enunciado, a competência em comunicação audiovisual

prevê a implicação de, pelo menos, duas atividades em língua distintas entre si: a compreensão e a expressão / produção, sobre as quais, de resto, assentamos o nosso projeto de investigação em ação.

Neste contexto, será ainda importante expor brevemente a proposta do Conselho Audiovisual da Catalunha (CAC), onde são assinalados alguns dos critérios pelos quais se devem avaliar os níveis de competência em comunicação audiovisual e que permitem definir um individuo capaz nesse âmbito. Os autores enumeram critérios de avaliação de uma competência em comunicação audiovisual partindo da análise dos âmbitos em que esta se desenvolve (pessoal e operativo), das várias dimensões de que dispõe este material (a linguagem, a tecnologia, os processos de programação, a ideologia e os valores, a receção e audiência, a dimensão estética) e dos indicadores (códigos textuais, tecnologia, processos e agentes de produção e programação, receção e audiências, valores e ideologia e estética).

Foi da adaptação dos descritores para a descrição e avaliação das capacidades no âmbito da competência em comunicação audiovisual supra enumerados e esboçados pela CAC (os quais sintetizamos numa tabela em anexo - Anexo 1), que surgiu a adaptação à nossa realidade de investigação e, de resto, para a elaboração de uma tabela de avaliação das produções feitas pelos alunos, dado que o processo avaliativo é essencial para o desenvolvimento das aprendizagens.

Capitulo 4. A importância das curtas-metragens na aula de