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Como mencionado antes, no capítulo II da Constituição Federal estão presentes as repartições de competência em seus arts 22 a 24, dentre eles, a CRFB/88 aborda as competências da União. Sobre a historicidade da Constituição com o regimento das competências da União, Paulo Mohn explica que “apesar de toda a largueza que os poderes federais assumiram na história, sempre houve nos textos constitucionais um rol que delimitava (ou procurava delimitar) os poderes da União” (MOHN, 2010).

Além disso, a CRFB/88 reuniu em somente um dispositivo as competências Legislativas (para legislar) e a Materiais (de cunho administrativo) da União em seus respectivos artigos 21 e 22, quando antigamente elas estavam juntas no art 8º. Paulo Mohn ensina:

Tradicionalmente, porém, as constituições brasileiras reuniram, em um só dispositivo, tanto as competências materiais quanto as legislativas. Por exemplo, no regime constitucional anterior, elas estavam juntas no art. 8º (BRASIL, 1967, art. 8º). A novidade da Constituição de 1988 foi cindir a enumeração de competências privativas da União em dois artigos: o art. 21 para as competências materiais e o art. 22 para as legislativas (BRASIL, 1988).

Ainda, Almeida (2005) diz que em comparação com o regime constitucional precedente, as competências materiais da União foram ampliadas na Constituição de 1988. Diz também que não era a intenção dos constituintes, por conta do objetivo de descentralização dos poderes, mas acabou resultando sim um reforço dos poderes da União. A autora conclui que “a grande maioria dos poderes arrolados não poderia deixar de estar ali”.

No âmbito da competência Material, ou seja, administrativa, existem dois tipos de competência a exclusiva, art. 21, e a comum, art. 23, sendo a exclusiva analisada agora.

Na competência exclusiva à União, rege matérias de relevante valor à nação, como garantir relações com estados estrangeiros ou emitir moeda, dentre outras competências dispostas no artigo 21, é importante destacar que a competência exclusiva da União é indelegável, não havendo autorização constitucional para a delegação a outros entes federativos. Sobre isso Ensinam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, que naquelas à União, deverá “atuar com absoluta exclusividade, não havendo, sequer, autorização constitucional para a delegação a outros entes federativos. Sua principal característica é, pois, a indelegabilidade.” (PAULO; ALEXANDRINO, 2012, p. 353).

Um exemplo objetivo da competência exclusiva da União é a relativa à emissão de moeda, segundo a qual não é possível aos Estados o fazer, pois, se assim fizesse estaria atingindo usurpando das competências da União (art. 21, inc. VII).

Paulo Mohn (2016, p. 221-222) divide as competências materiais exclusivas da União em três grupos:

1 - Autoridade do Estado no plano internacional, guerra e paz, e defesa do território; Proteção da ordem constitucional em momentos de crise; Moeda e câmbio;

2 - Distrito Federal; Serviços oficiais; e

3 - Planos de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, calamidades públicas, desenvolvimento urbano.

Segue, in verbs, o artigo 21 da CRFB/88 com as competências materiais exclusivas da União:

Art. 21. Compete à União:

I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;

II - declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional;

IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII - emitir moeda;

VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;

X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;

d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;

e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;

XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;

XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;

XVII - conceder anistia;

XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa (BRASIL, 1988).

O art. 21 não exaure as competências materiais exclusivas da União, algumas outras podem ser encontradas em outros dispositivos da Constituição de 1988. Entre eles existem: art. 164 (emitir moeda); art. 176 (pesquisa e lavra de recursos minerais e aproveitamento de energia hidráulica); art. 177 (petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos); art. 184 (desapropriação para fins de reforma agrária); art. 194 (organizar a seguridade social); art. 198 (organizar o sistema único de saúde); art. 214 (estabelecer o plano nacional de educação).

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