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6 – COMPETÊNCIA JURISDICIONAL

Relativamente recente é o entendimento segundo o qual a Justiça do Trabalho seria competente para apreciar e julgar os litígios envolvendo o acidente do trabalho na hipótese de responsabilidade civil do empregador por dolo ou culpa.

Defendem esse posicionamento, dentre outros, José Augusto Rodrigues Pinto,163 Sebastião Geraldo de Oliveira, 164 Rodolfo

Pamplona,165 Vander Zambeli Vale,166 José Eduardo de Resende Chaves

Júnior,167 Raimundo Simão de Melo, 168Marcelo Ribeiro Silva,169Cláudio

Mascarenhas Brandão, 170 Sérgio Pinto Martins, 171Wagner Giglio,172 Roberto

Pessoa 173e Alexandre Nery de Oliveira. 174

163 PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo Trabalhista de Conhecimento. 3. ed. São

Paulo: LTr, 1994. p. 113.

164 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit.,p. 239-240. 165 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. op. cit., p. 111-112.

166 VALE, Vander Zambeli. Acidente do Trabalho – Culpa do empregador – Indenização –

Competência da Justiça do Trabalho. Revista LTr, São Paulo, p. 1069-1074, ago. 1996

167 CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. Da competência da Justiça do Trabalho

para as demandas acidentárias quando não houver envolvimento do órgão previdenciário.

Revista LTr, São Paulo, v. 63, n. 2, p. 190-192, fev. 1999.

168 MELO, Raimundo Simão de. Indenização Material e Moral Decorrentes de Acidentes do

Trabalho – Competência para Aprecia-las. Revista LTr, São Paulo, v. 63, n.3, p. 349-351, mar. 1999.

169 SILVA, Marcello Ribeiro. Acidentes do Trabalho – Aspectos Legais. Revista Ltr:

Suplemento Trabalhista, São Paulo, n. 171, p. 925-929, 2000.

170 BRANDÃO, Cláudio Mascarenhas. O Dano Resultante do Acidente do Trabalho –

Avaliação do Dano Moral e Juízo Competente. Revista Ltr: Suplemento Trabalhista, São Paulo, n. 173, p. 937-940, 2000.

171 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

p. 119.

172 GIGLIO, Wagner. Direito Processual do Trabalho. 11. ed. rev. e amp. São Paulo:

Saraiva, 2000. p. 41-42.

173 PESSOA, Roberto. Ação de Indenização Decorrente de Acidente de Trabalho:

Competência. Revista LTr, São Paulo, v. 65, p. 1312-1319, nov. 2000.

174 OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Competência da Justiça do Trabalho: Delineamentos

Gerais - Precedentes do STF. Disponível em:

Na verdade, as decisões que atribuem à Justiça Comum estadual a competência para solucionar as questões relativas aos acidentes do trabalho em que o empregador ocupa o polo passivo da relação processual, sustentam-se em teoria ultrapassada segundo a qual a competência da Justiça do Trabalho estaria reservada, somente, à apreciação dos dissídios envolvendo direitos tipicamente trabalhistas.

Sob esse prisma, qualquer conflito cuja hipótese esteja prevista em disposições contidas em outros diplomas legais, verbi gratia, o Código Civil, seria solucionado pela Justiça Ordinária estadual, pois versaria sobre direito comum.

Além do mais, as decisões clássicas fazem referências a construções doutrinarias e precedentes jurisprudenciais fundadas em Constituições passadas.

A dificuldade para solução dessa questão pode ser atribuída, dentre outros fatores, ao fato da Constituição Federal de 1988 não enumerar, exemplificativa ou exaustivamente, as espécies de litígios em que a Justiça Laboral teria competência para solucioná-los.

Porém, vários são os argumentos utilizados para atrair a competência da Justiça do Trabalho para solucionar os conflitos envolvendo o infortúnio laboral, desde que o empregador e não o órgão previdenciário figure como réu.

Nos itens seguintes serão analisados os referidos argumentos.

6.1 – Análise Histórica da Competência

A atual Constituição não afastou expressamente, como fez as suas antecessoras, da apreciação pela Justiça do Trabalho, os litígios envolvendo acidente do trabalho. Não cabe ao intérprete, desse modo, excluir onde a lei não o fez.

Importante proceder com uma análise comparativa das diversas Constituições brasileiras, no sentido de identificar historicamente a competência da Justiça do Trabalho em todas elas.

A Justiça do Trabalho foi organizada inicialmente pelo Decreto-lei n.º 1.237/39, estabelecendo que os conflitos envolvendo acidente do trabalho seriam de sua competência.

Todavia, o Decreto n.º 6.569/40, que regulamentou o supramencionado Decreto-lei n.º 1.237/39 alterou a disposição sobre a competência da Justiça Especializada remetendo aquela espécie de litígio para a apreciação da Justiça Ordinária.

A Constituição Federal de 1946 inseriu a Justiça do Trabalho no âmbito do Poder Judiciário estabelecendo sua competência no art. 123. 175

As Constituições subseqüentes – CF/67, art. 134, § 2.º;176 CF/69,

art. 142, § 2.º177 – mantiveram a competência da Justiça Laboral prevista na

Carta anterior.

Na vigência da Constituição Federal de 1969 e suas antecessoras, como visto, inexistia polêmica sobre a questão da competência para apreciar os litígios decorrentes de acidente do trabalho. Isto porque as referidas

175 BRASIL. Constituição (1946). Constituição da República Federativa do Brasil. Rio de

Janeiro, DF: Senado 1988. Art. 123: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e as demais controvérsias oriundas de relações de trabalho regidas por legislação especial. § 1.º - Os dissídios relativos a acidentes do trabalho são da competência da Justiça Ordinária. Disponível em: <http://www.cebela.org.br/txtpolit/socio/vol9/H_294_03.html>. Acesso em: 23 nov. 2001.

176 BRASIL. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado 1967. Art. 134: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e as demais controvérsias oriundas da relação de trabalho regidas por lei especial. § 2.º - Os dissídios relativos a acidentes do

trabalho são da Justiça Ordinária. Disponível em: <http://www.ipolitico.com/Const1967.asp>. Acesso em 23. nov. 2001.

177 BRASIL. Constituição (1967), alterada pela Emenda Constitucional n.º 1/69.

Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado 1969 Art. 142: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e, mediante lei, outras controvérsias oriundas da relação de trabalho. § 2.º - Os litígios relativos a acidentes do trabalho são de competência da justiça ordinária dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, salvo exceções estabelecidas na Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

Constituições excluíam expressamente da competência da Justiça do Trabalho as demandas envolvendo acidentes do trabalho.

A atual Carta Maior reservou o art. 114 178 para definir a

Competência da Justiça do Trabalho, ampliando sensivelmente o seu raio de ação e sem qualquer limitação quanto às ações tratando de acidente do trabalho, desde que, como dito, seja o empregador ocupante do polo passivo da ação judicial.

6.2 – Competência em Razão da Pessoa

A Carta Maior vigente, em nenhum momento, vincula a competência da Justiça do Trabalho à infração das normas de Direito Laboral. O texto é por demais claro. Qualquer dissídio que haja entre trabalhadores e empregadores, a competência para dirimi-lo será da Justiça Especializada.

Júlio Bernardo Carmo afirma, de forma contundente, ser patente a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar pedidos de índole estritamente civil, em face da exclusão constitucional contida na expressão “e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”,

178 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado 1988. Art. 114: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho. § 3° Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. Constituição Federal de 1988. Colaboradores: Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Luiz Eduardo Alves de Siqueira. 24. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

do retrocitado dispositivo constitucional, em face da ausência de lei ordinária estendendo a competência nesse sentido. 179

Discorda-se dos argumentos apontados pelo eminente doutrinador. Note-se que a expressão utilizada pelo dispositivo constitucional “e outras controvérsias oriundas da relação de trabalho” (grifou-se), diz respeito àqueles conflitos decorrentes, não do contrato de trabalho, assim entendido como relação de emprego subordinado, mas aquelas controvérsias originadas na prestação de serviço autônomo.

A própria CLT já prevê essa possibilidade, quando atribui competência à Justiça Especializada para conciliar e julgar “os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice” (art. 652 da CLT).

A competência material da Justiça do Trabalho não é definida expressamente na Constituição Federal vigente. Essa tarefa cabe ao legislador ordinário, com a edição de uma norma específica.

Trata-se de competência ratione personae desde que tenha origem na relação de emprego. Obviamente que, não derivando o litígio da relação empregatícia, direta ou indiretamente, não há que se falar na competência da Justiça do Trabalho, verbi gratia, quando o empregado é vítima de acidente automobilístico causado coincidentemente pelo seu patrão em via pública.

Como a ação versando sobre acidente do trabalho – Direito material - foi excluída da apreciação pela Justiça Federal, a competência será definida, no caso em apreço e em última análise, através da pessoa incluída no polo passivo da relação processual. É, segundo José Frederico Marques, 180 o exercício do poder jurisdicional através dos elementos

subjetivos da lide.

179 CARMO, Júlio Bernardo. op. cit., p. 295-321.

180 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 1. ed. atual. Campinas:

Exclui-se da competência da Justiça Laboral, apenas, as lides penais, mesmo porque o detentor da pretensão punitiva é o Estado, representado pelo Ministério Público.

Nas hipóteses de crime de ação privada, cabe ao ofendido propor a ação penal, entretanto, atua como mero substituto processual do parquet. Os conflitos penais não são travados entre particulares, mas sim entre o Estado e ofensor, afastando-se, portanto, a competência da Justiça do Trabalho.

6.3 – Direito Comum e Causa de Pedir

Grande parte das decisões que afastam da Justiça do Trabalho a competência para apreciar conflitos envolvendo dano moral ou acidente do trabalho, fundamentam-se no fato de que a causa de pedir e o pedido da ação referem-se a questões de Direito comum, que não são objeto do Direito do Trabalho.

O Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo Teixeira, foi relator do acórdão proferido em Conflito de Competência, cuja ementa é a seguinte:

Tratando-se de pedido de indenização por danos materiais, decorrentes de acidente do trabalho fatal sofrido pelo pai dos autores, e tendo a ação seus fundamentos na responsabilidade civil e não no direito do trabalho, compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o feito. 181

O Juiz Floriano Corréa assinala, com muita propriedade, esse aspecto do problema:

Assim, a reparação de danos é um capítulo do Direito Civil. Daí decorre, para muitos, a conclusão de que a competência para julgar as ações de reparação seria da Justiça Comum, vale dizer, da

181 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência n.º 192.72/SP. 2.ª Sec.

Justiça Estadual Comum. 182

Os “civilistas” idealizam o Direito do Trabalho como sendo formado unicamente por normas especiais contidas na CLT e em algumas normas esparsas específicas.

O Direito do Laboral, entretanto, teve origem no Direito Civil, herdando seus fundamentos e princípios, modificados, obviamente, pela realidade social no momento do seu surgimento.

As normas de direito civil, desse modo, notadamente aquelas que tratam da capacidade das partes, do ato jurídico, das obrigações e dos contratos, são fontes subsidiárias do Direito do Trabalho, desde que não contrariem seus princípios, conforme determinação expressa contida no parágrafo único, art. 8.º da CLT. 183

6.4 – Competência Residual da Justiça Comum

A competência da Justiça Estadual Comum é residual, ou seja, seu raio de ação é delimitado após a operação de exclusão da jurisdição penal e das competências atribuídas às Justiças Especializadas, sejam elas a do Trabalho, a Eleitoral ou a Militar.

O processo lógico, dessa forma, é de primeiro definir a competência especial para depois obter a competência ordinária e não vice-versa como pretende a corrente doutrinária contrária.

José Frederico Marques esclarece, com proficiência, que:

182 SILVA, Floriano Corréa Vaz da. Dano Moral e o Direito do Trabalho. Revista LTr, São

Paulo, v. 62, n.º 1,. p. 15-23, jan. 1998.

183 BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do

Trabalho. Art. 8.º: Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste. Consolidação das Leis do Trabalho. Compiladores: Armando Cassimiro Casta, Irani Ferrari e Melchíades Rodrigues Martins. 29 ed. São Paulo: Ltr, 2002.

A Constituição da República, por outro lado, delimita o círculo de atribuições dos órgãos da justiça especial (militar, trabalhista e eleitoral), com o que fixa a competência residual da justiça ordinária. (grifou-se). 184

6.5 – Interpretação Sistemática da Constituição

Uma interpretação isolada e literal do art. 109, I, 185 da

Constituição Federal vigente poderia conduzir ao entendimento de ser a Justiça Comum Estadual competente para apreciar toda e qualquer ação tratando de acidente do trabalho.

Esse, entretanto, não é o melhor método de interpretação do direito, máxime quando utilizado isoladamente. Fazendo uso do processo sistemático de interpretação da norma jurídica,186 combinado

com o processo histórico, conclui-se que antes de se conflitarem, os arts. 114 e 109, I da Constituição Federal de 1988, se completam e contemplam competências distintas, a depender da pessoa a ser acionada, judicialmente, qual seja, o empregador ou o INSS, embora o conflito derive de um mesmo fato.

Quis o Legislador excetuar da competência da Justiça Federal, as causas de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, mesmo quando a União, entidade

184 MARQUES, José Frederico. op. cit., p. 261.

185 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado 1988. Art. 109: Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Constituição Federal de 1988. Colaboradores: Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Luiz Eduardo Alves de Siqueira. 24. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

186 Para Carlos Maximiliano, a verdade inteira só pode ser obtida com a utilização do

processo sistemático, pois resultante de um contexto e não de uma parte truncada, defeituosa ou má redigida (MAMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 129-130).

autárquica ou empresa pública federal forem interessadas.

Constitui-se uma exceção à regra geral. Portanto, quando for parte no litígio, a Autarquia Previdenciária, a ação tratar de acidente do trabalho e for postulado benefício ou diferença de benefícios previdenciários, a competência será da Justiça Comum Estadual.

Caso a ação de indenização seja proposta contra o empregador e o empregado esteja postulando indenização de direito comum por dolo ou culpa, a competência será da Justiça do Trabalho.

6.6 – Responsabilidade Contratual do Empregador

A obrigação de indenizar as vítimas do acidente do trabalho sempre foi do empregador.

A norma jurídica, adaptando-se aos fatos sociais, para corrigir as injustiças havidas em decorrência da utilização da teoria clássica da responsabilidade civil, baseada na culpa e da quase impossibilidade do empregado demonstrar a omissão, imprudência ou imperícia do patrão, adotou a teoria do risco, eliminando o elemento subjetivo da configuração da responsabilidade civil.

O legislador observou, contudo, que o empregado acidentado ainda permanecia desamparado, em face da insolvência do empregador, na maioria dos casos.

Foi instituído, assim, o seguro obrigatório para cobrir as despesas decorrentes do sinistro. Posteriormente, estatizou-se e monopolizou-se esse seguro de forma que, atualmente, tem natureza jurídica de um tributo, mas a obrigação originária permanece ainda com o empregador (art. 7.º, inciso XXVIII, da CF/88).

As indenizações tarifadas são devidas pela instituição da Previdência Social considerada como o órgão gestor da contribuição

previdenciária complementar representada pelo Seguro Acidente do Trabalho – SAT.

Assim, qualquer ação que vise à postulação, correção ou majoração da referida indenização deve ser proposta contra a Autarquia Federal, no caso o Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, sendo a Justiça Estadual competente para apreciar e julgar o litígio ex vi do disposto no citado art. 109, I da Lex Legum.

Todavia, conforme visto anteriormente, a indenização acidentária é incompleta. Na hipótese de culpa ou dolo do empregador poderá o empregado ajuizar ação de indenização na Justiça do Trabalho, observando a competência instituída no art. 114 da CF/88, pois nesse caso, não ocupará o polo passivo da relação processual a Autarquia Previdenciária.

Além de constituir um dissídio entre empregado e empregador seu conteúdo é eminentemente trabalhista, quando a causa do acidente se der por culpa ou dolo do patrão.

Se a indenização postulada é a acidentária, a responsabilidade que antes era do empregador, passa a ser da Autarquia Previdenciária.

Acrescente-se a isso o fato da natureza contratual da responsabilidade civil do empregador, o que reforça mais ainda a tese da competência da Justiça do Trabalho para apreciar a lide.

Com efeito, conforme estudado anteriormente, o empregador tem a obrigação de manter a incolumidade psicofisiológica do seu empregado, através da adoção de medidas preventivas contra acidentes de trabalho, de forma que essa obrigação constitui, também, uma cláusula contratual.

Talvez no fato narrado acima resida o fundamento do equívoco dos que entendem ser da competência da Justiça Comum as causas envolvendo acidente do trabalho. Sebastião Luiz Amorim afirma que:

As ações de indenização acidentária, fundadas no direito comum (art. 159 do CC) são da competência da Justiça Comum Cível e não da Especial, Justiça do Trabalho, já que se subsumem às normas

legais da apuração da responsabilidade civil. 187

Existindo um liame prévio entre empregado e empregador, não há que se falar em responsabilidade civil aquiliana, mesmo porque, a cláusula de incolumidade encontra-se implicitamente inserida no contrato de trabalho.

Nesse caso, a culpa deriva não de uma determinação legal e genérica de não prejudicar, mas sim, do descumprimento de uma cláusula contratual.

6.7 – Orientação Doutrinária e Jurisprudencial

As recentes decisões do Pretório Excelso, como a que a seguir será transcrita, pioneira e orientadora das demais, em sentido diametralmente oposto àquelas provenientes do Superior Tribunal de Justiça,188 posteriores a

promulgação da atual Carta Maior, acompanham a tese aqui exposta:

Justiça do Trabalho. Competência. Constituição. art. 114: Ação de empregado contra empregador, visando a observância das condições negociais da promessa de contratar formulada pela empresa em decorrência da relação de trabalho.1. Compete à Justiça do Trabalho julgar demanda de servidores do Banco do Brasil para compelir a empresa ao cumprimento da promessa de vender-lhes, em dadas condições de preço e modo de pagamento, apartamentos que, assentindo em transferir-se para Brasília, aqui viessem a ocupar, por mais de cinco anos, permanecendo a seu serviço exclusivo e direto. 2. A determinação da competência da Justiça do Trabalho não importa que dependa a solução da lide de questão de direito civil, mas sim, no caso, que a promessa de contratar, cujo alegado conteúdo é o fundamento do pedido, tenha sido feita em

187 AMORIM, Sebastião Luiz; OLIVEIRA, José. op. cit., p. 22.

188 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n.º 15. Compete à Justiça Estadual

processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do trabalho. Corte Especial, em 08 de novembro de 1990. In: Consolidação das Leis do Trabalho. Compiladores: Armando Cassimiro Casta, Irani Ferrari e Melchíades Rodrigues Martins. 29 ed. São Paulo: Ltr, 2002. p. 556.

razão da relação de emprego, inserindo-se no contrato de trabalho.

189

A essa conclusão também chegaram diversos autores de escol,190 dentre eles Sebastião Geraldo de Oliveira ao afirmar que:

(...) após a Constituição da República de 1988, os litígios referentes às indenizações por danos materiais e/ou morais postulados pelo acidentado, provenientes de acidente do trabalho em que o empregador tenha participado com dolo ou culpa, devem ser apreciados pela Justiça do Trabalho. 191

No mesmo sentido, o magistério de Rodrigues Pinto, ao asseverar que a atual Constituição não repetiu a exclusão expressa, contida no dispositivo que fixava a competência da Justiça do Trabalho, nas Constituições anteriores, não restando dúvida que os dissídios referentes aos

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