• Nenhum resultado encontrado

3. A TUTELA COLETIVA COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA DO

3.4 Competência

O art. 93 do Código de Defesa do Consumidor estabelece o juízo competente para julgamento das ações coletivas, assim: “ressalvada a competência da Justiça Federal, é

competente para julgar a justiça local: I – no foro do lugar onde ocorreu ou deve ocorrer o

37

MIRAGEM, Bruno. Op. Cit. , p. 658. 38

FILHO, Cavalieri Filho. Op. Cit., p.380. 39

dano, quando de âmbito local; II – no foro da Capital do Estado ou no Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente”.

O inciso I fixa a competência jurisdicional no local do dano, Miragem afirma que essa hipótese “atende ao direito do consumidor de acesso à justiça e, mesmo, de efetividade

da prestação jurisdicional, porquanto esta proximidade poderá auxiliar na produção de provas e, em muitos casos, inclusive, coincide com o lugar de domicílio das vítimas” 40. Assim, o autor asseverou a importância do acesso à justiça que se evidencia no CDC.

O inciso II afirma que se for o dano, de âmbito nacional, será competente o foro do Distrito Federal, ou da capital de qualquer Estado brasileiro, estabelecendo, entre essas duas hipóteses, uma competência concorrente. A jurisprudência segue esse entendimento, de modo que esclarece que o fato de o legitimado ter duas opções de foro para propor a demanda coletiva, é fundamental para garantir o acesso ao Judiciário.

Assim “tratando-se de dano de âmbito nacional, que atinja consumidores de mais de

uma região, a ação civil pública será de competência de uma das varas do Distrito Federal ou da Capital de um dos Estados, a escolha do autor”. (Min. Maria Isabel Gallotti. STJ, CC

112235. 2010/0091237, DJe 16/02/2011)41

3.5 Liquidação e execução da sentença nas ações coletivas de direitos individuais homogêneos

Quanto à condenação, nas ações coletivas que defendem direitos individuais homogêneos, o art. 95 do Código de Defesa do Consumidor, prevê a condenação genérica em caso de procedência do pedido. Diante disso, os beneficiários da decisão judicial que reconheceu a lesão a algum direito consumerista, poderão ingressar individualmente no Poder Judiciário, requerendo a liquidação da sentença, para que o fornecedor seja condenado a indenizar o dano pessoal sofrido, fixando o juiz, a indenização a ser paga e a responsabilidade do réu, de acordo com o art. 97.

Verifica-se, na fase de liquidação e execução da sentença, quem são os interessados e mensura-se o quantum devido a cada um. A essa altura, não há mais controvérsia sobre a existência de dano, esta restou superada na ação coletiva proposta pelos legitimados do art. 82, e que condenou genericamente o fornecedor.

40

MIRAGEM. Bruno, Op. Cit., p. 660.

Note-se que a sentença genérica, que inicialmente é ilíquida e só reconhece a existência da violação a um direito individual homogêneo, com o posterior processamento da demanda individual para apuração do dano, o autor, desde que comprove que o dano sofrido tem relação com a ofensa alegada na demanda coletiva, a sentença passa a ter liquidez.

Segundo Miragem, na fase de liquidação e execução de sentença:

“(...) vai manifestar-se a natureza divisível dos direitos

individuais homogêneos, porquanto o procedimento de liquidação, no qual deverão participar todos os titulares dos direitos postulados na ação julgada procedente, terá por utilidade a mensuração e exata determinação do quantum da indenização42”.

Desta feita, enquanto o titular individual não for ao Judiciário quantificar o seu dano, tem em mãos uma sentença genérica e ilíquida, não havendo ainda, a divisibilidade do seu dano, sendo imprescindível a propositura de ação individual para a garantia de que será ressarcido pelos danos pessoalmente sofridos pelo fornecedor condenado genericamente na demanda coletiva.

É importante informar que a liquidação de sentença ocorre com a apresentação de título judicial, que nesse caso é a certidão da sentença que julgou o processo coletivo, e a comprovação do trânsito em julgado da sentença, ou não (art. 98, §1º do CDC). Pode ser proposta no domicílio do autor, não sendo necessário ser o juízo que prolatou a sentença coletiva condenatória. Segundo Ada Pellegrini43, isso ocorre por força do art. 101, inciso I do Código do Consumidor, que determina: “a ação de responsabilidade civil do fornecedor de

produtos e serviços pode ser proposta no domicílio do autor”.

Além disso, realizada a liquidação da sentença, a execução da sentença pode ser feita de maneira coletiva ou individual. A individual será feita, obviamente, pelo titular individual, enquanto a coletiva será procedida pelos legitimados coletivos do art. 82, que nesse caso, agirão como representantes do titular do direito individual homogêneo. Neste caso, o § 2º, inciso II do art. 98 estabelece que o juízo da execução coletiva será o mesmo da ação condenatória.

O art. 100 do CDC afirma que se em um ano, os legitimados não tiverem se habilitado para promover a liquidação da sentença coletiva, os legitimados coletivos poderão

42

MIRAGEM. Bruno, Op. Cit., p. 662. 43

proceder à liquidação e execução, uma vez que a função precípua das ações coletivas dos direitos individuais homogêneos é a reparação dos danos causados aos legítimos prejudicados pela violação de um direito.

Todavia, uma das grandes dificuldades dessas demandas, é a efetiva identificação de todos os indivíduos protegidos por essa tutela; assim, pode ocorrer que os interessados não se habilitem com vistas a apurar o quantum devido pelo fornecedor, em termos de responsabilidade pelo dano causa; os motivos para a não habilitação podem ser diversos, como a insignificância da importância a ser recebida, ou o não conhecimento, por parte do interessado, da existência da demanda coletiva.

Prevendo tais hipóteses, o legislador brasileiro adaptou o instituto do fluid recovery, que quer dizer uma reparação fluída, das class actions do direito norte americano, para promover a liquidação da sentença em caso de não comparecimento dos interessados individuais. Nas class actions, o fluid recovery determina, na própria ação coletiva, a quantificação da indenização devida; enquanto no Brasil, o juiz apenas determinará a liquidação da sentença em frente aos legitimados coletivos, apenas na hipótese do art. 100, ou seja, na circunstância em que os interessados não comparecerem em busca da indenização.

Observa-se, então, que o fluid recovery não é a regra no direito coletivo brasileiro, e foi instituído com a finalidade de não “permitir diante da ausência de titulares de direitos

individuais interessados na liquidação e execução da indenização, que o fornecedor autor do ilícito não venha a responder patrimonialmente pelos danos causados”.44A indenização proveniente do fluid recovery será destinada ao Fundo Federal de Direitos Difusos, criado pela Lei nº 7.347/85, que administra a destinação dos recursos das indenizações dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Porém, é bom asseverar que a destinação da reparação dos danos decorrentes da liquidação da sentença é residual, de modo que é preferível que os reais interessados possam vir a juízo requerer a liquidação de sentença pelo seu dano pessoalmente sofrido, apurado individualmente.

Documentos relacionados