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A empatia é uma das componentes essenciais da relação de ajuda. A empatia de acordo com Salomé citada por Queirós (1999:38), é definida como “ o conjunto de sinais,

que circulam em qualquer relação, onde uma pessoa facilita o desenvolvimento, ou o crescimento de uma outra, a ajuda a morrer, a adaptar-se, a integrar-se, ou a aproveitar a

sua própria experiência”. Neste contexto, a empatia pressupõe a existência de uma relação

entre o enfermeiro e a pessoa a cuidar, devendo esta revestir-se de um carácter particular. A empatia, de acordo com Watson citada por Queirós (1999:37), é “a habilidade da enfermeira para experienciar o mundo privado e os sentimentos de outra pessoa, mas também a habilidade de comunicar a essa outra pessoa o grau de compreensão, que ela atingiu”. Nesta perspectiva, podemos dizer que a empatia vai mais além da partilha de sentimentos, devendo o enfermeiro compreender o mundo da pessoa doente, como se fizesse parte desse mundo.

Na opinião de Brodley (2001), o profissional, para adoptar uma atitude empática, deve centralizar a sua atenção no significado das palavras e comportamentos do doente, reconhecendo a sua intenção quando comunica e relacioná-los com os sentimentos e

reacções deste, com o intuito de o compreender, e permitir-lhe perceber que é compreendido.

Dois enfermeiros participantes relatam as suas competências relacionais de ajuda, evidenciando as suas habilidades empáticas, que estão relacionadas com a compreensão, com a ajuda, com a atenção e com o envolvimento profissional:

A compreensão foi explicitada por um enfermeiro participante da seguinte forma: “É assim, sinto sempre alguma compreensão (…), tentando também compreender como está a família. (…) e empatia pelo doente”. (E8)

A compreensão está presente durante o cuidar da pessoa doente e família. Esta é, na opinião de Honoré (2004: 226), “um processo de abertura que constitui quem cuida e quem é cuidado como parceiros da acção do cuidar”. Para Honoré (2004:228), “compreender

numa prática de cuidado, é perceber dela alguma coisa sobre a maneira de se situar e agir face a uma dificuldade, apreender-lhe as formas sobre as quais se exprime,

experimentar o que ela põe à prova.”. A compreensão empática é um aspecto, que deve

estar sempre presente durante a interacção enfermeiro / pessoa doente, pressupondo a existência de respeito por esta, permitindo-lhe sentir-se, efectivamente, compreendida. Para Carkhuff (1969), citado por Chalifour (2008: 199), “ sem compreensão empática do

mundo do ajudado e das suas dificuldades tais como ele as vê, não há espaço para oferecer ajuda”.

A ajuda é um aspecto considerado por um enfermeiro participante como nos explica: “ (…) Tentando ver em que lhe posso ser útil naquela fase menos fácil, sinto que preciso de ajudar aquela pessoa, mas também a família é bastante útil, e tento não só ajudar o doente, mas também a família”. (E8)

Durante a sua prática do cuidar, o enfermeiro deve dispensar uma atenção especial, no que se refere à qualidade da relação, que estabelece com a pessoa doente e sua família, de forma a ajuda-los a ultrapassar a vulnerabilidade a que estão sujeitos, face à situação de doença, que vivenciam. Na perspectiva de Chalifour (2008), a relação de ajuda permite a criação das melhores condições possíveis, para ajudar o doente a enfrentar a dificuldade, que apresenta. O mesmo autor, considera que estas condições se traduzem, em primeiro lugar, no reconhecimento do doente como um ser único detentor de um modo particular de interagir com o seu ambiente, traduzindo-se também na estruturação de meios, que lhe permitam adquirir uma maior consciência de si e aceder aos seus recursos pessoais. A combinação dos serviços profissionais com estes recursos, vão permitir-lhe fazer face às

suas dificuldades, dar resposta às suas necessidades, e ao seu desenvolvimento no sentido da natureza.

A atenção é um aspecto tido em conta por um enfermeiro participante, quando cuida, como nos refere:

“ (…) Estando em presença de um doente com dor, sinto que tenho que estar mais desperto. É uma situação, que requer mais atenção da minha parte”. (E1)

A experiência do cuidar do doente com dor evidencia a necessidade de uma atenção especial por parte de quem cuida. A atenção, de acordo com Hesbeen (2000), enquadra-se numa perspectiva de ajuda a uma pessoa, ou seja, de lhe aparecer como um profissional de ajuda, na sua situação singular, utilizando as competências profissionais, que caracterizam os actores da profissão. Esta atenção particular contida no cuidar é única. Lopes (1994), citado por Dias (1997, 221), considera que “ a atenção aos doentes assume-se como uma

referência incorporada, como não fazendo parte do próprio trabalho, não obstante ser evocado como fundamental aquando da construção discursiva do sentido das sua práticas”.

Cuidar de alguém, é, na perspectiva de Pessini (2006:51), dar-lhe tempo, atenção simpatia e qualquer ajuda social, que se possa promover, para tornar a situação suportável, e, se não suportável, pelo menos, que nunca leve ao abandono. Neste sentido, sendo a relação de ajuda um aspecto de primordial importância, no que diz respeito às intervenções de enfermagem de qualidade, consideramos importante realçar, que o enfermeiro, que ajuda o doente, tendo em conta todas as dimensões da pessoa, como ser humano, está a contribuir desta forma para o cuidar em enfermagem.

O envolvimento profissional é um aspecto muito importante do cuidar. Na perspectiva de Watson (2002), o cuidar requer envolvimento pessoal, social, moral e espiritual do enfermeiro e o comprometimento para com o próprio e para com os outros.

Vejamos como os enfermeiros participantes expressaram esse envolvimento:

“ Agora posso envolver-me, porque me sinto preparada para lidar com isso, tenho mais maturidade”. (E1)

“ Acabamos sempre por nos envolver, (…) pronto, a pessoa envolve-se com o próprio doente e com a família …”. (E9)

Os enfermeiros participantes durante o seu cuidar, envolvem-se com a pessoa doente e com a sua família, revelando, deste modo, possuírem maturidade profissional. Esta, de acordo com Doron e Parot (2001), não é mais do que a aquisição pelo jovem adulto de

condições de trabalho, que as caracterizam, as suas capacidades e os seus interesses, a sua hierarquia de valores e a sua personalidade. Na perspectiva deste autor a maturidade profissional é atingida, quando o jovem adulto elaborou um projecto de futuro profissional realista e motivado.

Também Benner (2001), aludindo Dreyfus e o seu modelo de aquisição de competências, considera que é necessário existir um certo nível de envolvimento, para que se desenvolva o sentido de observação. A autora é da opinião que um observador distante tem menos possibilidades de notar mudanças subtis nos doentes. A mesma autora vai mais longe, quando refere que “é necessário um certo nível de envolvimento para atingir o nível

de perícia” (Benner, 2001:190).

Do exposto, salientamos que os enfermeiros participantes evidenciaram possuir algumas capacidades de ajuda, não tendo sido, contudo, mencionadas algumas competências consideradas por Lazure (1994) e Queirós (1999), como indispensáveis para estabelecer uma relação de ajuda, que são: a capacidade de escuta, de respeito caloroso, de clarificar, de ser congruente, de confrontar e de apoio.

1.3 - DIFICULDADES SENTIDAS NO CUIDAR

Os enfermeiros, durante o seu cuidar, experienciaram dificuldades, que foram reveladas ao longo das entrevistas efectuadas aos participantes. Estas dificuldades prendem-se com a precocidade etária da doença, com a inexperiência, com o estado de consciência dos doentes, com a identificação com uma vivência penosa e com a avaliação da dor do doente. A categorização deste tema, que emergiu do texto em análise, encontra-se representada no diagrama 3.

DIFICULDADES SENTIDAS NO CUIDAR PRECOCIDADE ETÁRIA DA DOENÇA Identificação com uma vivência penosa Avaliação da dor INESPERIÊNCIA DIFICULDADES SENTIDAS NO CUIDAR O ESTADO DE CONSCIÊNCIA DOS DOENTES Identificação com uma vivência penosa Avaliação da dor INESPERIÊNCIA

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