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2.3 A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA

2.3.1 Competências Empreendedoras

Ao abordar o tema competência, no campo do empreendedorismo, torna-se relevante compreender o conceito de competências empreendedoras. Segundo Mamede e Moreira (2005, p.5):

Uma competência empreendedora pode ser considerada como um tipo de característica superior que destaca os indivíduos denominados competentes, através dos diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos. Além disso, estes traços são influenciados pela experiência de cada um, o grau de instrução, a educação, a base familiar do empreendedor e por outras variáveis demográficas.

Esses autores mencionam ainda, que as competências associadas a posturas empreendedoras se vinculam ao senso de identificação de oportunidades, a capacidade de relacionamento em rede, as habilidades conceituais, a capacidade de gestão, a facilidade de leitura, ao posicionamento em cenários conjunturais e ao comprometimento com interesses individuais e da organização.

Feuerschütte e Godoi (2007, p.1) partem da seguinte visão sobre o empreendedor:

O indivíduo empreendedor é tido como detentor de determinados atributos que lhe predispõem ao sucesso e à eficiência, sendo frequentemente desafiado a enfrentar situações complexas que podem transformar-se em espaços para “empreender”, ou seja, realizar ações que expressam aqueles atributos ou características. Essa dinâmica vai ao encontro da noção da competência humana, cuja expressão está na articulação de um conjunto de características individuais, que só são percebidas quando contextualizadas e atribuídas de significado em uma efetiva aplicação à realidade.

Desse modo, conforme exposto acima, a noção de competências empreendedora parte do entendimento da figura do empreendedor como um indivíduo dotado de certos atributos ou características, que o diferencia dos demais, sendo a competência refletida na capacidade de ação frente às situações complexas, em razão das experiências, aprendizagem, educação e base familiar.

Feuerschütte e Godoi (2007, p.4), mencionam, ainda:

As características individuais que demonstram a competência do empreendedor estão na sua capacidade de estabelecer visão de longo prazo, criar oportunidades de negócios, desenvolver pessoas e definir padrões de desempenho. Neste sentido, a definição de empreendedor vincula-se à ação e ao modo como o indivíduo enfrenta os desafios do contexto, transpondo o limite dos traços pessoais ou funções desempenhadas na organização.

Várias são as características do espírito empreendedor. São visionários; sabem tomar decisões; são indivíduos que fazem a diferença; sabem explorar as oportunidades; são determinados e dinâmicos; são otimistas e apaixonados pelo que fazem; são independentes e constroem o próprio destino; ficam ricos; são líderes e formadores de equipes; são bem relacionados (networking); são organizados; planejam; possuem conhecimento; assumem riscos calculados; e, criam valor para a sociedade. (DORNELAS, 2007).

Em se tratando do tema competência empreendedora, alguns estudiosos desenvolveram propostas de modelos de competências que contribuíram para o entendimento das ações necessárias para as atividades empreendedoras. Desse modo, cabe destacar o modelo de Man e Lau (2000) que categorizaram as competências empreendedoras em seis áreas distintas: (1) oportunidade; (2) relacionamento; (3) conceitual; (4) administrativa; (5) estratégias e, (6) comprometimento. O quadro abaixo apresenta essa categorização:

Quadro 5 - Áreas de Competências e Focos Comportamentais. ÁREAS DE

COMPETÊNCIAS FOCO COMPORTAMENTAL

Competências de

Oportunidades Competências relacionadas ao reconhecimento de oportunidades de mercados em suas diferentes formas. Competências de

Relacionamento Competências relacionadas às interações baseadas nos relacionamentos entre indivíduos e indivíduos e grupos. Competências Conceituais Competências relacionadas às diferentes habilidades conceituais que estão

refletidas no comportamento do empreendedor. Competências

Administrativas

Competências relacionadas com a organização de diferentes recursos internos e externos, recursos humanos, físicos, financeiros e tecnológicos.

Competências Estratégicas Competências relacionadas à escolha, avaliação e implementação das estratégias da empresa.

Competências de

Comprometimento Competências que demandam habilidade de manter a dedicação do dirigente ao negócio. Fonte: adaptado de Man e Lau (2000)

Mamede e Moreira (2005) utilizaram o modelo de Man e Lau (2000) com o objetivo de delinear o perfil de competências de empreendedores portugueses e cearenses que

investem em hotelaria no estado do Ceará. Através do estudo comparativo, foi possível detectar algumas diferenças e similaridades entre os dois empreendedores. A competência de oportunidade foi observada pelos dois empreendedores. Com relação às competências conceituais, ambos demonstraram vontade de aprender, elevada capacidade de inovação e facilidade de assumir riscos. Observou-se, ainda, que as competências estratégicas são um traço marcante no perfil do empreendedor português, porém, esta característica não foi percebida no perfil empreendedor cearense, por não existirem estratégias claras e definidas em sua atuação profissional.

Diante do exposto, esse estudo, em suas conclusões, vai ao encontro da noção adotada por Man e Lau (2000), pois considera que as competências empreendedoras estão relacionadas aos traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, adquiridos mediante experiências, aprendizagem, educação e âmbito familiar. Assim, ao considerar as características e comportamentos do empreendedor, torna-se relevante reconhecer a influência de aspectos contextuais, relacionados à cultura e à experiência de vida, pois o conceito de competência empreendedora adotado, no presente trabalho, está associado à noção de complexidade.

Desse modo, cabe destacar, também, a pesquisa desenvolvida por Feuerschütte e Godoi (2007) cujo objetivo foi caracterizar as competências empreendedoras do setor hoteleiro, mediante a reconstrução histórica de experiências de trabalho e da atuação dos sujeitos em seus empreendimentos. A investigação foi realizada através do método da história oral, mediante entrevistas com os empreendedores do setor de hotelaria. A configuração de competências foi estruturada em três categorias: as competências quanto às características pessoais do empreendedor: envolvem atributos, por parte dos sujeitos, influenciados por história familiar e situações críticas vivenciadas, portanto, competências relacionadas aos recursos emocionais, aptidões ou qualidades; as competências relativas à gestão do empreendimento: envolvem o saber usar as próprias experiências como fonte de aprendizagem e, portanto, implica a associação entre conhecimentos e experiências, com a produção de novos saberes aplicados a novos contextos; e as competências relacionadas ao empreendimento e seu contexto. Também envolve a necessidade de articulação para enfrentar as ameaças e formação de redes, além do reconhecimento de oportunidades. Assim, esses autores estudaram o fenômeno do empreendedorismo sob uma visão dinâmica, ou seja, a competência como resultante da ação do profissional, concepção essa que converge com a noção de competência empreendedora adotada pelo presente estudo.

Filion (1991), em suas pesquisas, visando propor um sistema de aprendizagem àqueles que pretendem tornarem-se empresários, classificou o sistema de relações do empreendedor em três níveis: primárias (família), secundárias (relacionamentos externos à empresa) e terciárias (relacionamentos internos à empresa). A competência deve ser compreendida, portanto, como um processo dinâmico, resultado da ação articulada dos sujeitos envolvidos, considerando o contexto do trabalho e as experiências sociais.

Conforme, Feuerschütte e Godoi (2007, p. 13) “a associação entre conhecimentos e experiências, com a produção de novos saberes aplicados a novos contextos, mostra que a competência em ação alavanca o processo de aprendizagem”. A análise da competência, nessa perspectiva, revela a associação entre competência e o processo de aprendizagem, ou seja, a competência se expressa na ação, em determinado contexto, conforme experiências que se acumulam.

No debate sobre competências empreendedoras, em sua multidimensionalidade, cabe destacar as autoras Feuerschütte e Alperstedt (2008), que consideram o empreendedorismo e a competência elementos convergentes e complementares:

A configuração das competências dos empreendedores pode ser estudada a partir da relação do empreendimento com o contexto, da gestão do empreendimento e das características pessoais do empreendedor, realizada sob uma perspectiva dinâmica que busca articular a idéia de que a competência expressa na ação sobre situações complexas pode ser reveladora de oportunidades empreendedoras dispostas ao indivíduo empreendedor. Nesse sentido, a interpretação das competências e os múltiplos saberes que as sustentam e são mobilizados pelos empreendedores demonstram a vinculação entre os construtos competência do empreendedor e oportunidades empreendedoras, mediados pelo surgimento dos eventos críticos ou situações complexas a serem enfrentados pelos sujeitos.

Desse modo, esse estudo parte da ideia de que competência empreendedora se revela mediante a articulação de um conjunto de características individuais que se sustentam em múltiplos saberes e se expressam na ação através de situações complexas ou eventos críticos. Observa-se, portanto, a contribuição do processo de aprendizagem no desenvolvimento de competências relacionadas às atividades empreendedoras.

Na próxima seção será abordada, portanto, os vínculos entre aprendizagem e competências empreendedoras, partindo da premissa de que o processo de aprendizagem atua como um meio pelo qual o indivíduo adquire competências relacionadas ao perfil empreendedor, pois a aprendizagem empreendedora consiste em um fenômeno contextual no qual o indivíduo manifesta certos comportamentos e ações, partindo de experiências acumuladas tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

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