• Nenhum resultado encontrado

1. Aprendizagem cooperativa como estratégia para o desenvolvimento de

1.3. Competências sociais

Considerando a aprendizagem como um “processo mediante o qual se adquirem conhecimentos, aptidões e atitudes, no âmbito do sistema educativo, de formação e da vida profissional e pessoal” (Decreto-lei n.º 396/2007, de 31 de

dezembro, alínea a), artigo 3.º)1, como já referido, “o desenvolvimento de competências não só académicas, como também sociais, adquire importância relevante, pois é fundamental que os alunos aprendam e sejam formados para saber se relacionar e cooperar uns com os outros” (Vieira, 2000, citado por Pinho, Ferreira & Lopes, 2013, p.915).

Neste contexto e face às alterações que a sociedade sofreu nos últimos tempos, são maiores as exigências e os desafios globais que são colocados aos indivíduos (Rychen & Tiana, 2005) e, assim, a implementação da aprendizagem cooperativa como estratégia de ensino e aprendizagem para proporcionar a aquisição de aprendizagens significativas dos conteúdos e para o desenvolvimento das referidas competências, assume elevada importância, uma vez que torna os alunos capazes de dar resposta e encarar as exigências que a sociedade lhes coloca, possibilitando-os a (con)viver em sociedade, particularmente, no mundo do trabalho (Vieira, 2000, citado por Pinho, Ferreira & Lopes, 2013; Rychen & Tiana, 2005).

Posto isto, considero fundamental compreender do que se está a falar quando nos referimos às competências sociais. No entanto, primeiramente, debruço-me no conceito de competência para, seguidamente, abordar o conceito de competência social.

O conceito de competência tem tido, ao longo dos últimos anos, maior destaque na área da educação, devido às atuais exigências da sociedade (Rychen & Tiana, 2005). O mesmo conceito foi introduzido na década de 70, por Mertens, que recusou o conceito até então utilizado, designado de skill (Galvão, Reis, Freire & Oliveira, 2006). De acordo com Roldão (2003, p.18), “os skills eram sobretudo associados às diferentes subcompetências que era preciso consolidar nos vários passos duma aprendizagem, dentro de cada campo de saber ou disciplina”. Voltando ao conceito de competência, este “tem provocado acesos debates conceptuais, não se tendo ainda hoje (…) conseguido chegar a consenso” (Galvão, Reis, Freire & Oliveira, 2006, p.47).

De qualquer forma, as competências são consideradas “essenciais para a vida” (Galvão, Reis, Freire & Oliveira, 2006, p.46). Estas “englobam saberes (os saberes, o saber-ser, o saber-fazer prático, o saber estar com os outros), conhecimentos, atitudes e raciocínios operacionalizados” (Galvão, Reis, Freire & Oliveira, 2006, p.47).

Dias (2009, p.17) define competência como “a capacidade que a pessoa tem para agir eficazmente num determinado tipo de situação, a capacidade que as pessoas desenvolvem de articular/relacionar os diferentes saberes, conhecimentos, atitudes e valores”. De acordo com o Decreto-Lei n.º 396/2007, de

1 O decreto-lei n.º 396/2007, de 31 de dezembro, estabelece o regime jurídico do Sistema Nacional de Qualificações e define as estruturas que asseguram o seu funcionamento.

31 de dezembro, competência é “a capacidade reconhecida para mobilizar os conhecimentos, as aptidões e as atitudes em contextos de trabalho, de desenvolvimento profissional, de educação e de desenvolvimento pessoal” (alínea b), artigo 3.º).

No que diz respeito à competência social, esta “refere-se a um conjunto de comportamentos aprendidos, socialmente aceites. Uma boa competência social permite interações eficazes com os outros e previne relações socialmente inaceitáveis” (Gresham & Elliott, 1984, citados por Lemos & Meneses, 2002, p.267). Sanini, Sifuentes e Bosa (2013, p.100) acrescentam que a competência social “é definida como um conjunto de comportamentos aprendidos no decorrer das interações sociais”. Assim, é possível compreender que os indivíduos podem desenvolver as suas competências sociais a partir das interações sociais que estabelecem com os outros.

Lopes, Rutherford, Cruz, Marthur e Quinn (2006), citados por Baptista, Monteiro, Silva, Santos e Sousa (2011), consideram que as competências sociais são de grande importância para o sucesso escolar, vocacional, profissional, conjugal, familiar e social.

Para Sassu (2007), referido por Baptista, Monteiro, Silva, Santos e Sousa (2011, p. 4):

“a competência social divide-se em três parâmetros: atributos individuais, capacidades sociais e atributos de relacionamento com os pares. Os atributos individuais estão relacionados com o temperamento da criança, com a sua baixa dependência dos adultos, com a empatia, capacidade de humor, entre outros. As capacidades sociais, por sua vez, estão ligadas à assertividade, capacidade de justificar as suas ações, capacidade para fazer parte de um grupo, participar em discussões, mostrar interesse pelos outros, etc. Por fim, e no que concerne aos atributos de relacionamento com os pares, os autores referem como exemplos o facto de a criança ser usualmente aceite pelos outros, ser convidada para brincar e trabalhar e ser considerada pelos outros como uma amiga”.

Lopes e Silva (2009), referem que o fator que, possivelmente, mais contribui para a dificuldade de os grupos obterem o sucesso académico é a ausência de competências sociais por parte dos alunos. Os mesmos autores acrescentam que “sentar os alunos ao lado uns dos outros não é o suficiente para assegurar o trabalho em equipa. Muitos alunos têm pouca noção de como interagir adequadamente com os colegas. Pura e simplesmente não possuem as competências sociais necessárias para realizar as tarefas cooperativas mais básicas” (Lopes & Silva, 2009, p.33).

Neste sentido, Lopes e Silva (2009, p.34) referem que “as competências sociais podem ser ensinadas da mesma forma que as matérias escolares” e apontam alguns exemplos de competências sociais, que apresento de seguida:

 Elogiar (não derrotar os outros)  Partilhar os materiais

 Pedir ajuda

 Falar baixo para não perturbar os outros  Participar como os outros

 Permanecer na tarefa  Dizer coisas agradáveis  Usar os nomes das pessoas  Encorajar os outros

 Ser paciente (esperar pela sua vez)  Comunicar de forma clara

 Aceitar as diferenças

 Escutar atentamente (saber ouvir)  Resolver conflitos

 Seguir instruções  Parafrasear  Gerir os materiais

 Estar solidário com a equipa  Partilhar ideias

 Registar ideias  Partilhar tarefas

 Celebrar o sucesso (Lopes & Silva, 2009, p.34).

Ainda que as competências sociais sejam “determinantes para as aprendizagens académicas, para a qualidade de vida e para a prevenção do isolamento ou da delinquência, evidencia-se uma grande percentagem de alunos que revelam um baixo nível de competências sociais” (Catalano & Hawkins, 1996, citados por Baptista, Monteiro, Silva, Santos & Sousa, 2011, p.6). No entanto, Lopes et. al. (2006), citados por Baptista, Monteiro, Silva, Santos e Sousa (2011, p.6), referem que a investigação demonstra que “o ensino dessas competências não deve ser realizado com disciplinas específicas para o efeito, mas sim realizado por todos os professores, em todas as aulas e em todo o momento”.

Caso as crianças não desenvolvam as suas competências sociais, pode revelar-se desfavorável para as mesmas, uma vez que a falta destas competências pode prolongar-se durante todo o seu desenvolvimento até à idade adulta, assim como até à idade sénior, podendo causar dificuldade em manter contactos de interação social (Baptista, Monteiro, Silva, Santos & Sousa, 2011).