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Competição ou Cooperação nas interações

“Não podemos mais invocar as barreiras nacionais, raciais ou ideológicas que nos separam, sem repercussões destrutivas. Dentro do contexto de nossa nova interdependência, considerar os interesses dos outros é claramente a melhor forma de auto-interesse”. Tenzin Gyatso,

XIV Dalai Lama.

Algumas condições são indispensáveis para uma boa convivência em grupo: respeito mútuo, objetivos comuns e autonomia e, ao mesmo tempo, consciência da interdependência.

Segundo Sedeh (apud Brotto, 1999), “o movimento de aproximação é denominado ‘processo associativo’, que pode apresentar-se na forma de: Cooperação, Acomodação e Assimilação. O movimento de distanciamento é chamado ‘Processo Dissociativo, que por sua vez manifesta-se como: competição e conflito”. Estes dois estilos de interação estão presentes em toda situação de interdependência.

Morton Deutsch (in Rodrigues, 1999) diferencia uma situação competitiva de uma situação cooperativa como:

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Competição: “para que um dos membros alcance os seus objetivos, os outros serão incapazes de atingir os deles”. Há uma declarada oposição de interesses.

Cooperação: “os objetivos dos indivídios são de tal ordem que, para que o objetivo de um deles possa ser alcançado, todos os demais integrantes deverão igualmente alcançar os seus respectivos objetivos”. Todos precisam conhecer claramente os objetivos uns dos outros para ocorrer colaboração.

“A meta constante da cooperação é o benefício mútuo em interações humanas; ela é governada pelo princípio do respeito mútuo. Coragem, consideração, apreço e partilhar suprem uma fundação a partir da qual a cooperação como um processo pode ser desenvolvida”. Essas idéias foram expressas no manual “Vivendo Valores” da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris.

Cooperação é uma responsabilidade de todos, requer reconhecer o papel singular de cada indivíduo e respeitá-los. A cooperação resulta de uma permanente consciência da interdependência entre as pessoas e entre as pessoas e a natureza.

Numa análise sociopsicológica sobre a fenomenologia da injustiça na vida diária, Rodrigues et al (2000) apresenta algumas considerações de Deutsch sobre a questão de justiça nas interações sociais: a justiça nasce do conflito; os valores e procedimentos que a definem desenvolvem-se através do processo de negociação e ressaltam o caráter social e moral da injustiça, na medida em que são violadas normas sociais (valores, regras, procedimentos) que definem o que é justo e o que é injusto. Assim, a experiência de injustiça é mais do que pessoal, pois afeta o indivíduo também como membro de um grupo social e atinge até os demais membros desse grupo.

Para Deutsch (1973) o conceito de justiça refere-se à distribuição de condições e bens que afetam o bem-estar individual, estando aí incluídos os aspectos psicológicos, filosóficos, econômicos e sociais. O conceito de justiça, assim

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concebido, está intrinsecamente ligado, além de ao bem-estar individual, ao próprio funcionamento da sociedade.

Subjacentes ao conceito de justiça encontram-se, segundo o mesmo autor, “os valores naturais de justiça que são aqueles que promovem a cooperação social efetiva, a qual, por sua vez, assegura o bem-estar individual.

O conceito de cooperação inclui a elaboração de meios de não interferência ou não-importunação de um indivíduo por outro e o desenvolvimento de procedimentos aceitos para o engajamento em conflito e competição.

Diante da necessidade de alcançar objetivos comuns ou solucionar conflitos, um grupo pode optar por competir ou cooperar e os resultados de cada alternativa foram descritos por Brotto (1999), no quadro comparativo 2, abaixo.

A aprendizagem cooperativa reduz os fatores de risco que impulsionam as crianças e os adolescentes a empregar a violência e outras estratégias destrutivas no manejo dos conflitos. O desempenho acadêmico pobre, a falta de vínculos com os companheiros e as patologias psicológicas são fatores de risco que, quanto mais a escola puder reduzir, menor será a violência e a quantidade de conflitos manejados de modo destrutivo.

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Quadro - 2

Comparação entre cooperação e Competição

COOPERAÇÃO COMPETIÇÃO

P erceb em que alcan çar os objetivos é, em parte, conseqüência da ação dos outros m em bros

P ercebem que alcançar objetivos é incom patível com a obtenção dos objetivos dos dem ais

S ão mais sensíveis às solicitações dos outros

S ã o m enos sensíveis às solicitações dos outros

A ju d am -se m utuam ente com freq ü ên cia A ju d am -se m utuam ente com m enor freqüência

H á m aior h om ogeneidade na quantidade de contribuições e participações

H á m enor hom ogeneidade na quantidade de contribuições e participações

A produtividade em term os qualitativos é m aior

A produtividade em term os qualitativos é m enor

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O modelo organizacional das escolas, assim como nas empresas e indústrias, tem sido, tradicionalmente, a produção em massa. Este modelo divide o trabalho em pequenas partes componentes onde cada indivíduo trabalha sem se relacionar com seus colegas e, às vezes, em competição com eles. As escolas são divididas em graus (fundamental, médio, superior) e em matérias (idiomas, matemáticas, ciências). Alunos disputam atenção, notas e aprovação. Os professores trabalham sozinhos, cada um em sua matéria. Conforme afirmam Johnson e Johnson (1994) as escolas precisam abandonar a estrutura individualista, competitiva, de produção em massa, e substitui-la por outra baseada em equipes, cooperativa e de alto desempenho.

As escolas de estrutura cooperativa precisam se instrumentalizar em três níveis: 1) dos alunos; 2) dos gestores, educadores e pessoal administrativo e de serviços gerais, que chamaríamos de organização escolar e; 3) do sistema de educação (Secretaria de Educação/MEC). A estrutura organizacional cooperativa nesses níveis resulta em coerência, pois cada um apoia e fortalece os outros.

“Os educadores criam um contexto cooperativo quando estruturam cooperativamente uma maioria de situações de aprendizagem”. (Johnson e Johnson, 1999) Isso gera relações positivas entre os alunos, elevando o nível de suas conquistas e de seu bem-estar psicológico. O professor que promove a cooperação entre os alunos também a exercitará com colegas. O que se promove nas situações de ensino também tende a prevalecer nas relações com os outros membros da escola, e isso afeta a cultura da organização.

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A respeito da cooperação e competição em pequenos grupos, Deutsch (in Rodrigues, 1999) descreve:

A intercomunicação de idéias , a coordenação de esforços, a amizade e o orgulho por pertencer ao grupo, que são fundamentais para a harmonia e a eficácia, parece desaparecer quando seus membros se vêem em situação de competir para obtenção de objetivos mutuamente exclusivos... Ademais, há indicação que a competição produza maior insegurança pessoal (expectativa de hostilidade por parte de outros) do que a cooperação.

Todos nós temos o potencial para nos tornarmos pessoas altruístas ou agressivas. Mas ninguém será altruísta se suas experiências lhe ensinarem a se preocupar apenas consigo mesmo”, afirma Staub (apud Rodrigues, 2000). Os relacionamentos são fontes inegáveis de aprendizagem de valores e a escola é o grande laboratório dessas experiências. Por isso a instituição escolar precisa repensar seus valores e ações para facilitar e oportunizar situações de cooperação.

Completando o pensamento, Dee Hock (1999) contribui afirmando que “enquanto não se modificar a consciência que temos do aspecto relacional do mundo e de toda a vida que há nele, os problemas que esmagam os jovens e fazem chorar os adultos vão ficar progressivamente piores”. O que outros autores atuais sobre administração também estão apontando é que o melhor caminho para a competição externa entre organizações concorrentes passa pela cooperação interna, pelo reconhecimento da condição humana de interdependência e responsabilidade individual.

Sem dúvida, os valores se constituem uma base comum fundamental para uma boa convivência, que propicia a aprendizagem e a produtividade. Apresentamos a seguir um modelo de gestão de conflitos baseado em cooperação, respeito e responsabilidade - a Mediação.

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