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NÍVEL MICRO Organizações

2.2 COMPETITIVIDADE SISTÊMICA

Inicialmente, abordando o termo competitividade, Siqueira (2009, p. 144) relata que competitividade se refere “aos ganhos de produtividade e qualidade decorrentes de uma interação de fatores, internos e externos a empresa, que tornam a produção econômica mais eficiente, tais como infraestrutura, educação, saúde, inovação e política macroeconômica”.

Dessa forma, engloba diversos fatores relacionados ao desenvolvimento econômico de um território, seja uma região, país, estado, munícipio ou empresa.

De acordo com Porter (1990), o conceito de competitividade está ligado à capacidade da indústria de um país para inovar e se manter atualizada para garantir ganhos de produtividade e qualidade.

Conforme Motta, Pimenta e Tavares (2006), para compreender o conceito de competitividade de forma fácil é preciso levar em conta as diferentes possibilidades de análise disponíveis na literatura. Por isso,

ainda de acordo com esses autores, pode-se verificar os níveis de análise conforme o país, indústria, empreendimento e produto.

Dessa forma os indicadores desses níveis permitem um melhor entendimento do conceito de competitividade. Para tanto, o Quadro 04, demonstra como o conceito é aplicado em cada nível de análise. O quadro está estruturado em três estágios interdependentes: desempenho competitivo, potencial competitivo e processo gerencial:

O desempenho competitivo mede os resultados da operação em relação ao percentual de manufatura nos resultados totais nas vendas, na lucratividade, na balança comercial, etc. O potencial competitivo delineia as entradas na operação em termos de tecnologia, produtividade e acesso a recursos, vantagens comparativas e outros. Por sua vez, os indicadores de processo gerencial incorporam à análise políticas governamentais, estratégia, educação, treinamento e comprometimento com negócios internacionais (MOTTA; PIMENTA; TAVARES, 2006, p. 17).

Quadro 04 – Níveis de análise da competitividade Nível de análise Desempenho competitivo Potencial competitivo Processo gerencial País Participação de mercado em exportações; Percentagem de manufatura no resultado total; Balança comercial; Lucratividade. Vantagem competitiva; Competitividade de custo; Competitividade de preço; Indicadores de tecnologia;

Acesso aos recursos.

Comprometimento com negócios internacionais; Políticas governamentais; Educação e treinamento. Indústria Participação de mercado em exportações; Balança comercial; Crescimento das exportações; Lucratividade. Competitividade de custo e preço; Produtividade; Indicadores de tecnologia. Comprometimento com negócios internacionais. Empresa Participação de mercado em exportações; Dependência de exportações; Crescimento das exportações; Lucratividade. Competitividade de custo e preço; Produtividade; Indicadores de tecnologia. Propriedade; Gerenciamento; Estratégia internacional; Proximidade com o consumidor; Economia de escala. Produto Participação de mercado em exportações; Crescimento das exportações; Lucratividade. Competitividade de custo e preço; Competitividade de qualidade; Produtividade; Indicadores de tecnologia. Produto campeão.

Fonte: Buckley, Pass e Prescott (1998 apud MOTTA; PIMENTA; TAVARES 2006, p. 18).

Os autores Coutinho e Ferraz (1994 apud SILVA; SANTOS; CÂNDIDO, 2011) destacam que para motivar a competitividade é necessário observar três fatores: sistêmicos, estruturais e empresariais. Dessa forma é possível visualizar, conforme mostra a Tabela 05, a quais aspectos se referem esses fatores, conforme segue:

Quadro 05 – Fatores determinantes da competitividade Fatores Sistêmicos – relativos ao ambiente concorrencial Fatores Estruturais – relativos ao mercado Fatores Empresariais – relativos a empresa Macroeconômicos – taxa de

câmbio, carga tributária, taxa de crescimento do PIB, oferta de crédito e taxa de juros, política salarial e outros; Político institucional – política tributária, tarifária, tecnológica, poder de compra do governo; Legais e regulatórios – proteção à propriedade industrial, preservação ambiental, defesa da concorrência, proteção do consumidor, regulação do capital estrangeiro; Infraestrutura e condições sociais; Internacionais – tendência do comércio, fluxo de capital e acordos. Mercado – tamanho e dinamismo, grau de sofisticação e acesso a mercados internacionais; Regime de incentivos e regulação da concorrência – aparato legal, política fiscal e financeira, política comercial e papel do Estado; Configuração da indústria – desempenho e capacitação, estrutura patrimonial e produtiva, articulações na cadeia. Inovação Recursos Humanos Gestão Produção

Fonte: Coutinho e Ferraz (1994 apud SILVA; SANTOS; CÂNDIDO, 2011, p. 94-95).

Assim observa-se que:

Os fatores sistêmicos são aqueles que sofrem influências do ambiente, porém não possui condições de intervir nele. Os fatores estruturais são aqueles que a empresa tem capacidade limitada de intervenção, pela mediação do processo de concorrência, estando por isso parcialmente sob sua área de influência. Já os fatores empresariais são aqueles pelos quais as empresas detêm todo o poder de decisão e que podem ser controlados, são as variáveis de poder decisório, tendo quatro áreas

de competência (SILVA; SANTOS; CÂNDIDO, 2011, p. 95).

De acordo com exposto até o presente, o conceito de competitividade aborda uma série de fatores, mas observa-se que os termos desempenho, indústria e concorrência estão sempre presentes no que se refere ao desenvolvimento econômico de sucesso para gerar uma vantagem competitiva.

Partindo desta constatação sobre competitividade, esta pesquisa focou a sua abordagem na competitividade sistêmica.

Esser et al. (1994 apud SIQUEIRA, 2009) aborda o conceito de competitividade envolvendo quatro níveis, que afetam a capacidade competitiva dos países e das empresas, o que, sob o ponto de vista dos autores, é denominado competitividade sistêmica. Sobre os quatro níveis os autores destacam:

nível micro, que considera a capacidade das empresas de aumentar as receitas; nível meso, que trata da competitividade industrial e regional relacionada a infraestrutura e a capacidade de formar redes e de realizar melhorias nos sistemas de inovação; nível macro, relacionado aos fatores macroeconômicos nacionais que afetam a competitividade das empresas, como taxa de juros e câmbio, balança comercial e de pagamentos e dívida pública; e nível meta, relacionado a fatores culturais do país, como a capacidade que a sociedade tem de realizar consensos para conseguir alcançar os objetivos definidos conjuntamente (ESSER et al., 1994 apud SIQUEIRA 2009, p. 144).

Nessa mesma abordagem, o conceito de competitividade sistêmica, de acordo com pesquisadores do German Development

Institute – Instituto de Desenvolvimento Alemão4, refere-se às nações,

regiões, aos setores ou subsetores industriais ao invés de empresas individuais.

4 GERMAN DEVELOPMENT INSTITUTE. Building Systemic

Competitiveness Concept and Case Studies from Mexico, Brazil, Paraguay, Korea and Thailand.

Este conceito de competitividade sistêmica reconhece os fatores macroeconômicos para o desenvolvimento econômico, sendo que ações de governo ou outros atores são necessárias em uma política econômica globalizada.

Os pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Alemão, Tilman Altenburg Wolfgang Hillebrand e Jörg Meyer-Stamer (1998), afirmam que o conceito de competitividade sistêmica procura captar tanto a política quanto os determinantes econômicos do desenvolvimento industrial bem-sucedido. O conceito distingue quatro níveis: o nível micro das redes de empresas e entre empresas; o mesoeconômico de políticas específicas e instituições; o nível macro das condições econômicas gerais; e o metanível de variáveis lentas como estruturas sócio-culturais, a ordem básica e orientação da economia e da capacidade de atores sociais para formular estratégias.

Entrando no detalhamento desses níveis, os ingredientes-chave do desenvolvimento industrial de sucesso são (ALTENBURG; HILLEBRAND; MEYER-STAMER, 1998, tradução nossa):

 No metanível: em primeiro lugar os valores culturais são compartilhados por uma grande parte da sociedade orientada para o desenvolvimento, em segundo lugar um consenso básico sobre a necessidade de desenvolvimento industrial e uma integração competitiva no mercado mundial, e em terceiro lugar a capacidade de atores sociais para formular conjuntamente visões e estratégias e implementação de políticas;

 No nível macro: um quadro macroeconômico estável e previsível. Isto deve incluir uma política cambial realista e uma política de comércio exterior em geral, que estimula a indústria local;

 No mesoeconômico: políticas e instituições para moldar indústrias e seu ambiente (institutos tecnológicos, centros de formação, financiamento à exportação, etc.) e criar uma vantagem competitiva específica. Além disso, é o mundo de iniciativas de competitividade industrial local e regional para fortalecer o ambiente das empresas. Muitas das instituições que atuam no mesoeconômico são normalmente entidades não governamentais, por exemplo associações empresariais ou entidades sem fins lucrativos;

 No nível micro: empresas capazes e melhoria contínua, bem como as redes de empresas com fortes externalidades.

Assim, sob o ponto de vista do território, é possível executar uma análise a partir de cada um desses níveis. Nesta dissertação será analisado o município como nível meso, pois o estudo é realizado em nível regional.

A título de exemplificação, a figura 02 representa a disposição dos níveis mencionados acima, cada um atendendo a um determinado território que pode ser considerado o Estado, a Região, o Município ou a Empresa. Figura 02 - Modelo de competitividade sistêmica aliado ao território

Fonte: Da autora, a partir do conceito de competitividade sistêmica de Altenburg, Hillebrand e Meyer-Stamer (1998).

Os pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Alemão reforçam a questão da governança e da articulação entre os atores, em qualquer que seja o nível de desenvolvimento econômico de um território, região, estado, país ou empresa. Desenvolvimento industrial dinâmico requer uma ação deliberada pelo governo e atores sociais, a fim de estimular e apoiar as empresas no seu esforço para criar vantagens competitivas.

Conforme Meyer-Stramer (2008), o conceito de competitividade sistêmica enfatiza a importância dos fatores que determinam a evolução dos sistemas econômicos que não são sistematicamente abordadas por abordagens macro e microeconômicos convencionais. A distinção entre quatro níveis de análise: o micro, meso, macro e meta, assim como investigar as inter-relações entre eles não apenas fazem sentido no nível das economias nacionais, mas também é útil para a compreensão da evolução das economias locais e regionais.

Ainda, de acordo com Meyer-Stramer (2008), competitividade sistêmica é principalmente o resultado da ação humana, ou seja, a ação individual e coletiva, enfatizando, assim, a importância dos atores no processo de desenvolvimento de um território.

Neste sentido, a competitividade entre o nível das empresas se torna inevitável para melhorar a produtividade, qualidade e inovar no mercado em que atuam.

A partir do modelo de determinantes da competitividade sistêmica é possível identificar as vertentes a serem analisadas para o resultado do

desenvolvimento local sustentável de um território, conforme mostra a figura 03, abaixo.

Figura 03 - Vertentes de análise do território

Fonte: Da autora, elaborado com base nas leituras de Altenburg, Hillebrand e Meyer-Stamer (1998) e Meyer-Stramer (2008).

No modelo acima, representado na figura 03, as vertentes são identificadas como os indicadores de análise para um território. Para que sejam identificadas as iniciativas de empreendimentos intensivos em conhecimento é necessário traçar um cenário do território sob o ponto de vista das vertentes apresentadas acima.

Dentre essas vertentes, a caracterizada como “Mecanismos de Inovação” trata-se de uma importante fonte de análise no estudo deste trabalho, pois para Meyer-Stramer (2008) a inovação é amplamente reconhecida como um componente crítico de competitividade, isso porque a inovação é principalmente o resultado de ações dos empresários e de empresas inovadoras. O que corrobora novamente com a importância dos atores envolvidos com o desenvolvimento local sustentável de um território.

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