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A complementaridade técnica: a interpretação das subjetividades através da análise de dados textuais

3 PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO MUNDO VIVIDO PERIURBANO: DIRECIONAMENTO PARA O INQUÉRITO DA APA ALDEIA

3.5 A complementaridade técnica: a interpretação das subjetividades através da análise de dados textuais

Nesta pesquisa os discursos dos sujeitos constituem a fonte primordial de informações. A princípio o esforço interpretativo é capaz de revelar as subjetividades contidas nas relações socioespaciais, imputando às análises um caráter essencialmente qualitativo, entretanto, ferramentas computacionais podem ser utilizadas para extrair dados de cunho estatístico que reafirmam as conclusões obtidas mediante o esforço hermenêutico. O emprego de ferramentas computacionais neste trabalho reafirma a ideia de complementariedade dos aspectos qualitativo e quantitativo da pesquisa.

Para analisar os discursos coletados foi utilizado o software Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), esta ferramenta realiza diferentes processamentos e análises estatísticas de textos, tais como: estatística textuais clássicas, pesquisas de especificidades de grupos, classificação hierárquica descendente, análise de similitude e nuvens de palavras.

Neste estudo optou-se pela nuvem de dados como forma de processamento dos textos produzidos a partir das entrevistas e diálogos, esta opção ocorreu em virtude de se tratar de uma representação gráfica e estatística de fácil compreensão ao leitor, permitindo uma melhor interpretação dos discursos.

A nuvem de dados agrupa graficamente as palavras de acordo com a frequência em que elas aparecem nos discursos de um arquivo chamado de corpus textual e que é composto pelos textos gerados a partir das transcrições das entrevistas. Assim, mediante a frequência em que as palavras são evidenciadas é realizada a análise lexical dos discursos, ou seja, ocorre o cruzamento de informações de cunho estatístico (quantitativo) e textual (qualitativo), superando as relações dicotômicas.

Partindo destas considerações foi gerada a nuvem de dados relativa aos discursos coletados e selecionados com o objetivo de, através da repetição das palavras e da interpretação, melhor compreender quais as memórias e identidades que caracterizam aldeia enquanto mundo vivido, quais os novos sentidos criados a partir das

transformações observadas e como tais sentidos implicam na reconfiguração das percepções, atitudes e representações dos sujeitos.

A primeira nuvem de dados tem por base o inquérito das relações subjetivas e de afetividades desenvolvidas a partir das experiências pretéritas. É importante salientar que, a nuvem de dados representa o consenso dos diferentes seguimentos sociais aqui analisados e que as palavras que obtiveram maior frequência de repetição, refletem uma forma de conhecimento do senso comum voltada para a interpretação do mundo e que orienta a comunicação e as relações nos níveis grupais e intergrupais.

Na análise de Aldeia enquanto mundo vivido, a partir das experiências pretéritas e das memórias, as palavras que apresentam maior destaque e grau de repetição evocam os sentidos ecológicos, bucólicos e de aconchego, ou seja, reforçam a ideia de Aldeia enquanto lugar, enquanto ambiente onde as relações de pertencimento e de afetividade foram estabelecidas com base nos atributos físicos e culturais criadores de uma identidade e de vínculos afetivos.

Com base nas memórias e experiências vivenciadas percebe-se que o mundo vivido de Aldeia é interpretado e comunicado através das relações afetivas e de comunidades evidenciadas através da palavra “gente”, que assume a posição central no que se refere a frequência de repetição. Assim, Aldeia revela-se como ambiente de vida em comunidade, onde o cotidiano das festas, das tradições familiares, da vida bucólica é reforçado.

Assim como as relações pessoais cotidianas, a ideia de natureza e o apelo ecológico e bucólico é igualmente reforçado através da frequência de repetição do vocábulo “ambiente”, nesta perspectiva pode-se estabelecer uma relação direta com outros vocábulos, tais como: tranquilidade, qualidade, natureza, dentre outros que evidenciam os sentidos de Aldeia como um refúgio ecológico e como ambiente ligado às tradições campestres.

Ainda no que se refere as formas de conhecimento e interpretação do mundo vivido em Aldeia, ou seja, nas representações sociais construídas através das experiências pretéritas, as palavras “lugar”, “casa” e “viver” estão relacionadas e evocam o sentido de lar, de ambiente seguro e pautado em uma lógica de afetividade.

A nuvem de palavras revelou uma Aldeia presente nas memórias e afetividades como ambiente positivo, seguro e familiar onde as relações afetivas revelam a apropriação do espaço e a criação de vínculos simbólicos que perpetuam no imaginário dos sujeitos da experiência as vivências cotidianas pretéritas (Figura 15).

Figura 15 - Nuvem de dados sobre representações sociais pretéritas de Aldeia

Fonte: A autora, organizado com base no software Iramuteq.

As transformações espaciais provocadas a partir da sucessão de distintas temporalidades provocam alterações de sentidos e significados do mundo vivido. A constatação de que tais alterações ocorreram no espaço periurbano de Aldeia foram reforçadas a partir da repetição da frequência de algumas palavras da nuvem de palavras anterior e do surgimento de novas palavras que indicam o surgimento de experiências que atribuem à Aldeia sentidos topofóbicos.

Novos contextos, como a intensificação da periurbanização, a degradação da qualidade ambiental e outras transformações de cunho socioambiental são evidenciadas através da frequência elevada de palavras como “problema, “lixo”, “condomínio”, dentre outras com menores frequência de repetição.

Observa-se na nuvem de palavras gerada a partir dos discursos dos sujeitos que experienciam Aldeia, tanto dos espaços de exclusividade, como das áreas periféricas, um consenso para a inserção de novas interpretações espaciais e, consequentemente, novas formas de comunicar as vivências cotidianas. Nesta perspectiva, Aldeia adquire paulatinamente os aspectos negativos das urbes, assim, os vocábulos com elevada frequência revelam uma Aldeia que não se restringe apenas ao ambiente ecologicamente equilibrado e bucólico, mas que assume cada vez mais sentidos urbanos em função do movimento de expansão dos limites da cidade em direção ao campo, fato que se comprova com a frequência de repetição da palavra “Recife” (Figura 16).

Figura 16 - Nuvem de dados sobre representações sociais atuais de Aldeia

4 PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES DO MUNDO VIVIDO EM ALDEIA: