• Nenhum resultado encontrado

2. TEORIA E MÉTODO DA ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DAS BACIAS DOS RIOS JERIBUCASSU E BURUNDANGA

3.1 Características morfométricas das bacias

4.1.1 Complexo Metamórfico

O município de Itacaré encontra-se sobre o “Cráton do São Francisco”, um extenso núcleo cratônico estabilizado ao fim do ciclo Transamazônico, circundado por faixas de dobramento proterozóicas (PIRES, 1998). Pela compartimentação tectônica de parte do Cráton do São Francisco apresentada por PEREIRA et al (1976) apud ARCANJO (1997), o município de Itacaré situa-se no “Cinturão Costeiro Atlântico” (figura 06, página 62).

Segundo ARCANJO (op. cit.), a denominação “Cinturão Móvel Costeiro Atlântico” foi introduzida por MASCARENHAS et. al. (1976) para as rochas granulíticas da porção oriental do estado da Bahia, conhecida também como “região granulítica” (BARBOSA, 1989). O Cinturão Móvel Costeiro Atlântico estende-se, na Bahia, por uma faixa localizada entre a bacia do rio Pardo ao sul até Salvador ao norte, onde se bifurca em um ramo noroeste até proximidades do rio São Francisco, e outro ramo nordeste até o estado de Sergipe.

Figura 06: Compartimentação tectônica de parte do Cráton do São Francisco Fonte: PEREIRA et. al. (1976) apud ARCANJO (1997).

No sul da Bahia, a região granulítica apresenta de oeste para leste domínios geológicos distintos segundo a tectônica, petrologia e ao quimismo das rochas existentes, denominados Jequié-Mutuípe, de Ipiaú e da Costa

Atlântica (BARBOSA, 1989). Pelo esboço geológico da região granulítica do sul da Bahia apresentado pelo autor, o sítio de Itacaré encontra-se no “Domínio da Costa Atlântica”, que de acordo com a legenda do esboço reúne, na porção referente ao município, rochas de uma série toleítica granulitizada (figura 07, abaixo).

Figura 07: Esboço geológico da região granulítica do sul da Bahia Fonte: BARBOSA (op. cit.).

Segundo BARBOSA (1988), no Domínio da Costa Atlântica predominam litologias semelhantes às de arco de ilhas recentes ou de margem continental ativa, como as da série toleítica do setor onde se encontra Itacaré que é constituída por basaltos, andesitos basálticos e riolitos, todos equilibrados na fácies granulito. BARBOSA (op. cit.) afirma que em metabasaltos e metandesitos desta série, observa-se a presença de hiperstênio, clinopiroxênio, plagioclásio e granada, sendo rara a ocorrência de quartzo e hornblenda.

ARCANJO (1997) caracteriza a extensão sul do Domínio da Costa Atlântica pela ocorrência de rochas granulíticas arqueano eo-proterozóicas,

classificando-as como do “Domínio Coaraci-Itabuna” no mapeamento geológico em escala 1: 100.000 da Folha SD.24-Y-B-VI Itabuna realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). A folha topográfica Itabuna articula-se ao norte com a folha Ubaitaba, onde estão localizadas as bacias dos rios Jeribucassu e Burundanga, em posição muito aproximada da articulação das folhas. A folha Itabuna apresenta como limites os meridianos 39°00’W e 39°30’W e os paralelos 14°30’S e 15°00’S. As bacias aqui estudadas localizam-se entre os meridianos 39°00’W e 39°05’W e os paralelos 14°18’S e 14°24’S, estando, portanto na mesma faixa meridiana, mas cerca de 6° mais ao norte, ou seja, fora do mapeamento realizado pela CPRM.

No mapa geológico apresentado pela CPRM observa-se que a unidade litológica “Complexo São José”, do Domínio Coaraci-Itabuna, distribui-se geograficamente na folha Itabuna em duas áreas: uma no centro-sul, outra no nordeste da folha (figura 08, página 65). A localização das rochas do Complexo São José, no nordeste da folha Itabuna, sugerem uma continuidade deste grupo de rochas para o norte, justamente onde estão localizadas as bacias aqui estudadas, junto à costa sul de Itacaré.

Segundo VeS ENGENHEIROS CONSULTORES (1996A), empresa que realizou o diagnóstico e o plano de manejo da APA da Costa de Itacaré-Serrra Grande, o embasamento que aflora na costa sul de Itacaré é constituído por rochas pertencentes ao Complexo São José. Conforme MELO e SOUZA (1997), o Complexo São José é representado por “conjunto de rochas essencialmente ígneas, granulitizadas, com expressivo bandeamento, abrangendo metatonalitos, metadioritos, metagabros e grande incidência de corpos individualizados de metagabronoritos, metadioritos, metanoritos, metabasaltos e gnaisses quartzo-feldspáticos” (p.42). A expressão “rocha granulítica” ou o adjetivo “granulítico” significa que as assembléias mineralógicas são de fácies granulito e contém hiperstênio como mineral diagnóstico (LIMA et. al., 1981).

Figura 08: Distribuição geográfica e relações de contato do Complexo São José na Folha Itabuna.

A definição da gênese metamórfica das rochas do Complexo São José está representada por plagioclásio, ortopiroxênio e clinopiroxênio, diagnósticos da fácies granulito e que muitas vezes são transformados através de retrometamorfismo, gerando uma associação de minerais neoformados (MELO e SOUZA, 1997) (figura 09, abaixo).

Figura 09: Evidências de retrometamorfismo através das transformações mineralógicas mais freqüentes do Complexo São José: (a) auréola de substituição do ortopiroxênio por hornblenda; (b) transformação de clinopiroxênio em hornblenda; (c) hornblenda e biotita sendo geradas a partir do clinopiroxênio; (d) mosaico de ortopiroxênio envolvendo a biotita; (e) processo de sericitização do plagioclásio; (e) lamela de clinopiroxênio surgindo no seio do ortopiroxênio.

Nas bacias dos rios Jeribucassu e Burundanga, bem como ao largo de toda costa sul de Itacaré, rochas metamórficas afloram no leito dos rios e riachos, nos terços inferiores das encostas, nos costões rochosos e em cortes de estrada. Os afloramentos compõem-se de rochas com predominância de cores cinza claro, escuro ou esverdeado, estrutura bandada e textura foliada na orientação geral N-NE que, por vezes, são cortadas (ou cortam?) corpos máficos de diferentes tamanhos (fotografia 01, abaixo).

Fotografia 01: Possível metabasalto encaixado nas rochas do Complexo Metamórfico. Costão direito da praia da Engenhoca, Itacaré. Ponto de observação 102. Fotografia: Paulo Fernando Meliani, julho de 2001.

A análise microscópica de lâminas delgadas permitiu descrever as características estruturais, texturais e mineralógicas de amostras de rochas e classificar alguns litótipos da área de estudo. As rochas analisadas microscopicamente foram classificadas como granulitos de natureza félsica, máfica e ultramáfica, bem como milonitos de natureza félsica (fotografia 02, abaixo).

A caracterização dos granulitos foi estabelecida pela ocorrência de minerais formados por meio de metamorfismo de fácies granulito, como clinopiroxênio e ortopiroxênio (hiperstênio). Os milonitos foram definidos pela ocorrência de bandas de minerais félsicos cominuídos por catáclase, alternadas por injeções de quartzo em planos de foliação milonítica. Por meio da análise microscópica de lâminas delgadas, veios de quartzo foram também observados cortando granulitos graníticos, provavelmente injetados posteriormente ao metamorfismo granulítico.

Fotografia 02: Em primeiro plano, pegmatito milonitizado (de cor mais clara) associado a milonitos félsicos e granulitos ultramáficos. Costão esquerdo da praia do Havaizinho. Ponto de observação 99. Fotografia: Paulo Fernando Meliani, julho de 2002.