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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.5 Comportamento dos predadores na presença e ausência de presas

Para as três condições em que os dois predadores estavam presentes simultaneamente, as categorias comportamentais “Intraguilda” e “Tentativa” foram retiradas das análises, uma vez que não foram observadas durante os 60 minutos de observação em todas as repetições utilizadas.

Nos tratamentos em que os dois predadores estavam presentes simultaneamente na presença de presas, o tempo dedicado à predação das duas espécies de afídeos foi superior às demais combinações, exceto aquela em que as larvas foram mantidas individualmente com R. porosum. O tempo médio em que as larvas de C. externa passaram predando não diferiu em função da espécie de afídeo oferecida, e correspondeu a 67,13% na predação de R. porosum e 62,65% na predação de M. rosae (Figura 6).

Quando confinadas com R. porosum e observadas individualmente, na ausência de H. convergens, as larvas de C. externa permaneceram predando durante 63,49% do tempo, enquanto que quando confinadas com M. rosae, o tempo em que passaram predando foi significativamente menor (49,60%). Esse resultado vai ao encontro daquele obtido no experimento de consumo (item 4.1), por meio do qual verificou-se um consumo maior de ninfas de R. porosum em comparação a M. rosae.

Médias de tempo (%) seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo Teste de Kruskal Wallis P≤0,05.

Figura 6 Tempo (em porcentagem) gasto por Chrysoperla externa (Hagen) em cada categoria comportamental avaliada em diferentes combinações, durante 60 minutos, pelo programa software Etholog 2.2. CE –

Chrysoperla externa; HC – Hippodamia convergens; RP – Rhodobium porosum; MR – Macrosiphum rosae

Esses resultados podem ser explicados pelo comportamento observado na avaliação do consumo de ambos os predadores mantidos em conjunto (item 4.4), onde verificou-se uma mudança no comportamento das larvas de C.

externa ao perceberem a presença de H. convergens. Essa percepção decorrente

da competição entre elas pode ter ocasionado um aumento no número de afídeos consumidos em relação à condição em que foram mantidas sozinhas, acarretando maior tempo de predação.

Em relação ao tempo de busca (Figura 6), as larvas de C. externa apresentaram menor tempo quando na presença do outro predador em

comparação aos tratamentos em que foi avaliada sozinha. Quando avaliadas em conjunto com H. convergens, as larvas de C. externa gastaram 16,70% do tempo buscando por R. porosum e 16,01% buscando por M. rosae. Quando avaliadas isoladamente, o tempo de busca foi de 25,43% e 28,89% na presença de R.

porosum e M. rosae, respectivamente.

Janssen et al. (1998) relatam que, quando dois competidores forrageiam uma mesma área, além de haver competição pelo mesmo recurso, podem ocorrer mudanças no comportamento de busca, refletindo em alterações na taxa de ataque. Assim, o menor tempo de forrageio das larvas de C. externa na presença do competidor pode estar associado à maior rapidez e agilidade na busca pela presa, acarretando no maior número de presas consumidas e maior tempo gasto na predação, como discutido anteriormente. Por outro lado, na ausência do competidor, as larvas de C. externa puderam buscar pela presa de forma mais lenta e, portanto, foram menos ágeis, gerando maior tempo de busca. Dessa forma, a mudança de comportamento de C. externa frente a outro predador resultou em um efeito positivo definido pela redução no número de ninfas das duas espécies de afídeos estudadas.

No tratamento em que os dois predadores foram confinados na ausência de pulgões, registrou-se maior tempo em que as larvas permaneceram paradas (27,65%) e buscando (61,48%). Como já discutido, a presença de um segundo inimigo natural pode ter alterado o comportamento de forrageamento de C.

externa levando a um aumento do tempo gasto com essa atividade em virtude da

ausência de presas. Durante as observações, verificou-se uma alternância entre o comportamento de busca e permanecer parado pelas larvas de C. externa. Estas buscavam pelas presas com muita agilidade durante certo tempo e acabavam permanecendo paradas após não as encontrar.

Para H. convergens também houve diferenças no tempo gasto na atividade predatória conforme os tratamentos (Figura 7).

Médias de tempo (%) seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo Teste de Kruskal Wallis P≤0,05.

Figura 7 Tempo (em porcentagem) gasto por Hippodamia convergens (Guerin-Meneville) em cada categoria comportamental avaliada em diferentes combinações, durante 60 minutos, pelo programa software Etholog 2.2. CE – Chrysoperla externa; HC – Hippodamia

convergens; RP – Rhodobium porosum; MR – Macrosiphum rosae

Nos tratamentos onde os dois predadores foram mantidos juntos, o tempo em que H. convergens passou consumindo ninfas de M. rosae foi significativamente maior em relação ao tempo gasto no consumo de R. porosum. O tempo dispendido com M. rosae nessa mesma condição (presença de C.

externa) também foi maior em relação ao tratamento em que o coccinelídeo foi

mantido sozinho e suprido com ninfas de R. porosum. Esses resultados indicam uma possível preferência de H. convergens por M. rosae, uma vez que,

independentemente da ausência ou presença do outro predador, o coccinelídeo gasta mais tempo predando M. rosae.

Pode-se relacionar o maior tempo em que as larvas de H. convergens passaram predando ninfas de M. rosae quando na presença de C. externa, às mudanças comportamentais decorrentes da competição intraguilda, já mencionadas, justificando o maior consumo de M. rosae quando larvas de ambos os predadores foram confinados simultaneamente (item 4.4).

Em relação ao tempo de busca, observou-se que, assim como as larvas de C. externa, aquelas de H. convergens passaram mais da metade do tempo forrageando (60,57%) quando na presença do competidor e ausência de presas. Sob essa mesma condição, as larvas do coccinelídeo permaneceram maior tempo paradas (35,59%) em relação às demais combinações. Foi observado que nos momentos em que houve encontros dos dois predadores, as larvas de H.

convergens permaneciam inibidas com a proximidade de C. externa, fazendo

com que permanecessem paradas.

Analisando o comportamento de coccinelídeos em laboratório, Elliott, Kieckhefer e Phoofolo (2011) verificaram um aumento da capacidade de busca em função do aumento do tempo de inanição dos predadores. Esse comportamento pode explicar os resultados obtidos neste trabalho na medida em que o maior tempo de forrageamento gasto pelas larvas de H. convergens ocorreu na ausência de presas. Como as larvas foram privadas de alimento durante as 24 horas que antecederam os testes, buscaram ativamente por presas ao serem liberadas nas placas, e seguiram continuamente com o comportamento de busca na tentativa de encontrá-las.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da interação positiva observada entre as larvas de C. externa e H.

convergens, constata-se a viabilidade potencial de utilização simultânea das duas

espécies para o controle de afídeos da roseira. Nas plantas, a taxa de encontro dos predadores será reduzida, refletindo em menores interações negativas entre ambas, mesmo em situações de escassez de presas. Além disso, as duas espécies, quando em conjunto, atuam com maior eficiência na redução de ninfas de afídeos, otimizando, dessa forma, o controle sobre essas pragas.

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