• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.5 Comportamento animal

2.5.1 Comportamento natural da espécie

A estrutura social de porcos selvagens, Sus scrofa, em ambientes naturais, consiste de duas a quatro fêmeas, filhotes em sua maioria de ninhadas recentes, e ainda, filhotes menores de ninhadas anteriores, e é regulada por meio do domínio estável de hierarquias (GRAVES, 1984). Os suínos estabelecem uma forte hierarquia social (FRASE e BROOM, 1990), expressa já nos primeiros dias de vida no controle e disputa dos melhores tetos (HAFEZ, 1969). Esta hierarquia é baseada sobre as relações de superioridade e subordinação de todos os possíveis pares de indivíduos (CHASE et al., 2002; LANGBEIN e PUPPE, 2004), e formada após a luta vigorosa entre os animais que estão sendo familiarizados (MEESE e EWBANK, 1973; PUPPE e TUCHSCHERER, 1994). Já entre porcos recém-familiarizados, o reconhecimento mútuo ocorre durante a agressão (PUPPE, 1998; STOOKEY e GONYOU, 1998).

Os suínos destinados à produção são mantidos em grupos geralmente muito diferentes no que se refere aos quesitos idade, sexo e peso corporal, contrariamente aos animais de habitat

20

natural (SAMARAKONE e GONYOU, 2009).A diminuição da frequência do comportamento agressivo de suínos ocorre depois de estabelecida à formação hierárquica de dominância (RUSHEN, 1988; JENSEN e YNGVESSON, 1998).

Todavia, a prática comum na suinocultura de remanejar os animais, induz às agressões para que uma nova ordem de dominância seja formada (SAMARAKONE e GONYOU, 2009). Consequentemente, desencadeia sérios conflitos que prejudicam o bem-estar, e o desempenho dos animais (STOOKEY e GONYOU, 1994; PUPPE e TUCHSCHERER, 1994; PUPPE et al., 1997; GONYOU, 2001), o que acarreta em lesões e prejuízos na saúde e consumo de alimento por parte dos animais subjugados (BARNETT et al., 1994).

Em todas as fases da produção de suínos, uma quase hierarquia social linear, caracterizado por uma classificação clara de dominante a subdominante (MEESE e EWBANK, 1973; EWBANK, 1976; CHASE et al., 2002) é detectável, e evidente em grupos de suínos mantidos em baixas densidades (DIMIGEN e DIMIGEN, 1971; MEESE e EWBANK, 1973; EWBANK, 1976; SCHEEL et al., 1977; PUPPE et al., 2008). Todavia, em grupos maiores as relações tornam-se mais complexas (MOORE et al., 1996).

Em grupos de suínos alojados com machos e fêmeas juntos, de 10 e 12 leitões desmamados, hierarquias semi-lineares foram observadas (PUPPE et al., 2008; FELS, 2008), enquanto que em grupos menores de seis leitões, era quase linear (FELS, 2008).

Assim, o estabelecimento de uma estável hierarquia social é essencial para a co-existência do grupo, sendo esta uma vantagem evolutiva, pois evita a ocorrência de agressões e lesões (MEESE e EWBANK, 1973; LINDBERG, 2001; MENDL e HELD, 2001). Contudo, em grupos cujas posições hierárquicas já estejam estabelecidas, a agressão pode acontecer durante a mistura de animais desconhecidos até que uma nova ordem de dominância seja estabelecida, e na disputa por espaço físico, alimentos e recursos (FRASER, 1984; OTTEN et al., 1997; DE JONG et al., 1999). Para tanto, esta disputa dá-se por meio de interações sutis, tais como os seguintes comportamentos: cheirar, ameaçar, morder, fuçar, bater e dar cabeçadas (HELD e MENDL, 2000). Ressalta-se que a ordem de domínio dos recursos é relativa (LINDBERG, 2001).

As fêmeas suínas em ambiente natural, não costumam se juntar com outras que não sejam do seu contexto familiar, e apenas relacionam-se com machos desconhecidos no período de acasalamento (GONYOU, 2001). A hierarquia social de fêmeas suínas em fase de crescimento, caso exista, é instável durante todo o período de crescimento (PARENT et al., 2012).

21

Enquanto isso, os suínos machos jovens separam-se do grupo familiar em torno de sete a oito meses de idade, porém, podem precipitar-se em casos de aumento de eventos agressivos às fêmeas do grupo. Ressalta-se que os machos tendem a ser mais receptivos às fêmeas desconhecidas, pois as vejam como parceiras em potencial, ainda que não haja evidências conclusivas e aumento do comportamento de montagem (GONYOU, 2001).

Os achados fisiológicos e comportamentais do estudo realizado por Colson et al. (2012), demonstram a importância de melhorar o ambiente ao desmame a fim de proporcionar um aumento no bem-estar dos leitões. Além das perturbações geradas pela separação do leitão com a porca e a mudança brusca na dieta (WEARY e FRASER, 1997), o estresse social e ambiental também foram aditivos agravantes. Assim, os leitões que tinham seu grupo social alterado no desmame apresentaram maiores comportamentos agressivos se comparado aos demais grupos. Todavia, a mudança de ambiente de habitação induziu um estado geral e prolongado de desconforto, comprovado pelos elevados níveis de cortisol presentes nos animais. De acordo com Fraser (1974) e Ewbank e Meese (1971), os níveis de limite de interações são necessárias para manter a familiaridade e relações de dominância.

Em qualquer idade que aconteça, o processo de desmame é extremamente difícil para o leitão, uma vez que em condições naturais, o suíno é desmamado gradualmente até os 3 meses de idade. Entretanto, nas condições comerciais, são desmamados precocemente entre 2 a 6 semanas de idade e de forma abrupta (WEARY e FRASER, 1997). Segundo experimentos realizados por estes mesmos autores, sugeriram-se que a vocalização dos animais após o desmame é mais frequente e intensa quanto mais cedo ocorrer o desmame.

Já o estresse por separação de leitões das mães a 1, 2, 3, e 4 semanas é maior em animais mais jovens, embora leitões de todas as idades vocalizem internamente durante a separação, mas a taxa de chamadas foi mais baixa se comparada aos leitões desmamados com mais idade, “mais velhos”. Weary et al., (1999) estudaram o efeito da separação dos leitões das mães e do desmame e a dieta em diferentes idades. Foi concluído que o estresse ocasionado pela separação e a frustração da motivação de mamar são problemas comportamentais significantes, na idade de desmame inferior á quatro meses.

Em condições semi-naturais os leitões vão deixar o ninho de parto e se misturarem com leitões de ninhadas desconhecidas em torno de 10 dias pós-parto (JENSEN e REDBO, 1987). Nessa idade, os leitões de diferentes leitegadas estão interagindo com pouca agressão

22

(PETERSEN et al., 1989). As lutas são mais curtas, o que resulta em menos lesões em comparação com os leitões mais velhos (PITTS et al., 2000).

A experiência anterior da alimentação sólida dos leitões no sistema de criação ao ar livre, associado a um menor contato com a porca, sugerem que este sistema porporcione aos leitões melhores condições para o desmame. Além disso, é permitido a porca a escolha de evitar contatos desconfortáveis com os leitões. O atual sistema de criação intensiva de suínos, não oferecem ambientes físicos e sociais necessárias para o desenvolvimento dos diversos componentes do repertório comportamental da espécie, o que resulta em altas incidências de comportamento agonístico e anormal evitáveis (HÖTZEL et al., 2004).

As alternativas viáveis para o sistema de confinamento intensivo devem ser oferecidas para atender aos interesses do mercado consumidor sobre os efeitos de sistemas de produção modernos na fazenda bem-estar animal (FRASER et al., 2001).

Documentos relacionados