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DE RISCO AVALIADOS NO PRESENTE ESTUDO E SUA RELAÇÃO COM OS PRINCIPAIS CONTEXTOS DE VIDA DOS ADOLESCENTES

SITUAÇÕES DE SAÚDE E DE RISCO 2.4.1 Comportamentos de violência

2.4.4. Comportamento sexual

Globalmente, a maioria das pessoas inicia a sua actividade sexual durante a adolescência. A idade de início da actividade sexual parece estar fortemente relacionada com as sanções culturais locais, que são diferentes para rapazes e raparigas (Blum & Nelson, 2005). De acordo com Blum e Nelson (2005), constata-se que rapazes e raparigas que desaprovam a actividade sexual antes do casamento têm apenas metade da probabilidade de ter iniciado a actividade sexual do que aqueles que aprovam o sexo antes do casamento. Vários estudos citados por estes dois autores, que examinaram a relação entre a percepção dos adolescentes acerca de que os seus amigos iniciaram actividade sexual e a influência na sua experiência sexual, encontraram uma relação positiva entre uma percepção exagerada sobre a actividade sexual dos colegas e a actividade sexual dos próprios. Tal significa que quanto mais os adolescentes pensam que os colegas têm relações sexuais, mais eles próprios têm relações sexuais.

Foram identificados alguns factores associados à iniciação sexual antes do casamento, factores esses que são diferentes para rapazes e para raparigas. De acordo com a revisão teórica levada a cabo pela Blum e Nelson (2005), a qualidade dos

relacionamentos entre pais é também um factor importante no comportamento sexual dos adolescentes, sendo que os adolescentes que percebem a relação entre os seus pais como sendo menos estável se envolvem mais frequentemente em actividade sexual.

Quanto à influência da escola no comportamento sexual dos adolescentes, o único factor que surge como factor de risco significativo em mais do que um estudo foi o abandono precoce da escola (Blum & Nelson, 2005). Por exemplo, em dois estudos referidos por Blum e Nelson (2005), verificou-se que os adolescentes que tinham abandonado a escola precocemente estavam mais envolvidos em actividade sexual por comparação com os jovens escolarizados, e este efeito era maior em rapazes do que em raparigas.

«Estudos que investigaram o número de parceiros ao longo da adolescência sugerem que uma larga percentagem da sexualidade activa na juventude implica o envolvimento com mais do que um parceiro» (Blum & Nelson, 2005, p. 49). Contudo, Blum e Nelson (2005) na sua revisão teórica dos estudos relativos à problemática em questão (número de parceiros sexuais na adolescência), manifestam a dificuldade em analisar as conclusões dos diferentes estudos visto que cada estudo usa diferentes metodologias de medição do comportamento: uns estudos medem o número de parceiros nos últimos três meses, outros durante a vida, e alguns medem o comportamento sem se referirem a nenhum período específico.

Segundo Blum e Nelson (2005), destacam-se os seguintes aspectos como factores de risco em termos de comportamento sexual em jovens: 1) Factores biológicos- os únicos factores biológicos que surgiram significativamente relacionados com o número de parceiros sexuais foram a idade e o sexo. Os rapazes revelam ter tido mais parceiros sexuais do que as raparigas. Outros factores biológicos referidos na

Trabalho / emprego - em dois estudos que avaliaram o estatuto face ao emprego em relação ao número de parceiros sexuais entre adolescentes, constatou-se que os rapazes que trabalhavam estavam significativamente mais envolvidos com mais do que um parceiro sexual nos últimos três meses. Por sua vez, a escola revela constituir um factor protector face ao comportamento sexual; 3) Percepção do risco - face a este aspecto encontraram-se resultados diferentes. Talvez se possa concluir que é impossível determinar, a partir dos estudos que têm sido realizados, se os adolescentes começam a perceber o risco de contraírem o VIH antes ou depois de estarem envolvidos em actividades sexuais de alto risco; 4) Consumo de substâncias psicoactivas - apenas alguns estudos encontraram uma relação entre o consumo de tabaco, o consumo de drogas e o número de parceiros sexuais. Já o consumo do álcool aparece mais frequentemente como factor de risco de envolvimento com múltiplos parceiros sexuais; 5) Idade do início da actividade sexual - A investigação, permitiu concluir que os jovens que iniciaram a sua actividade sexual antes dos 16 anos tinham maior probabilidade de ter múltiplos parceiros sexuais; 6) Pares e parceiros - A investigação refere que, quando os rapazes falam entre si com regularidade acerca das suas experiências sexuais, apresentam uma maior actividade sexual ocasional com múltiplos parceiros mais frequentemente. Os rapazes que consomem álcool em grupo e que tinham a percepção de que os seus amigos têm relações sexuais, estavam cerca de três vezes mais envolvidos eles próprios com múltiplos parceiros sexuais nos últimos três meses (Blum & Nelson, 2005).

Em muitos países, a infecção pelo VIH /SIDA foi reduzindo a média da esperança de vida, dissolvendo famílias, sobrecarregando o sistema de cuidados de saúde, reduzindo o crescimento e o desenvolvimento da economia (WHO, 2006). As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) também facilitam a transmissão do vírus

da SIDA, motivo pelo qual se tornaram um alvo de preocupação e de saúde pública. Estima-se que 333 milhões de novos casos de DST ocorram em todo o mundo em cada ano, sendo que, pelo menos, 111 milhões ocorrem na população juvenil com idade inferior a 25 anos. Mais de metade dos novos infectados com o VIH hoje tem entre 15 e 24 anos (WHO, 2006). Assim, a identificação dos factores que influenciam o uso dos preservativos pelos adolescentes é particularmente importante para se desenvolverem intervenções eficazes de prevenção do HIV e das DST.

Em resultado de uma revisão dos estudos efectuados acerca do uso do preservativo pelos jovens, realizada por Blum e Nelson (2005), verifica-se que os adolescentes com um maior nível educacional referiram mais vezes ter usado preservativo no seu último envolvimento sexual. Esta revisão teórica mostrou igualmente que, quando os adolescentes falavam com os professores acerca da sexualidade e da contracepção, referiam mais vezes ter usado preservativo. Esta mesma revisão da literatura permitiu constatar que a estrutura da família surge também como um factor que pode ter alguma influência no uso do preservativo pelos jovens (Blum & Nelson, 2005).

De acordo com dados do estudo do projecto HBSC/OMS, relativos a Portugal, verifica-se uma estabilização do número de adolescentes que dizem já ter tido relações sexuais (22,7% em 2006); um aumento das relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas (14% em 2006) e um aumento do uso do preservativo nas relações sexuais (18,9% em 2006) (Matos & Carvalhosa., 2006).

Numa revisão da literatura efectuada por Blum e Nelson (2005) pode concluir-se que os rapazes adolescentes que repetiram um ano na escola iniciaram a sua actividade sexual mais cedo, bem como quanto maior a idade maior a probabilidade de

Um estudo realizado por M. Carter et al. (2007), permitiu observar que não existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas que afirmaram ter tido um envolvimento sexual nos últimos 3 meses, ainda que mais rapazes do que raparigas afirmassem ter usado preservativo na última relação sexual.

Os seguintes factores situacionais foram associados a alguns comportamentos sexuais de risco para a saúde dos jovens (Blum & Nelson, 2005): o início precoce da actividade sexual; não usar preservativo; múltiplos parceiros; o consumo de pornografia ou influência do mass media; a estrutura familiar e clima familiar; o papel da escola no que se refere ao efeito benéfico da comunicação do professores sobre sexualidade com os alunos e sobre a relação entre o abandono escolar e a actividade sexual. Consideram- se como factores de risco para os rapazes adolescentes: ver material pornográfico; transportar uma arma; fumar; percepção de que os amigos têm actividade sexual; ter abandonado a escola e já trabalhar. Foram identificados como factores protectores para as raparigas: a presença do pai na família; e a estabilidade familiar (Blum & Nelson, 2005).