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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. Sexualidade na adolescência

2.2. Comportamentos de Risco

O adolescente ao atingir a maturação sexual, adquire a capacidade para se reproduzir, sente de forma poderosa a necessidade de procurar satisfação sexual e consolida a sua orientação sexual (Sprinthall & Collins, 2009).

Durante a adolescência uma variedade de práticas sexuais vai ser concretizada, uma vez que estas se manifestam através de diversas atividades sexuais, nomeadamente: sonhos sexuais (i.e., sonhos eróticos que podem ser acompanhados por excitação sexual e ejaculação nos rapazes); fantasias sexuais (i.e., desejos que resultam de experiências culturais, pessoais e podem conter material muito variado); masturbação (i.e., comportamento sexual que passa pela autoestimulação sexual) e experiências homossexuais, bissexuais e /ou heterossexuais, que podem não encontrar-se associadas à orientação sexual mas à curiosidade, exploração e aprendizagem recíproca que

caraterizam este período de desenvolvimento (Brás, 2008; Domingues & Domingues, 2007; Ferreira & Nelas, 2006).

Por conseguinte, os adolescentes têm, não raras vezes, comportamentos de risco, relações sexuais não seguras, muitas vezes associadas a hábitos de consumo de álcool e de drogas, que comprometem a sua saúde, não apenas ao nível das IST, mas também no que diz respeito a gravidezes não desejadas (Brás, 2008). Estes comportamentos de risco decorrentes de atitudes imaturas dos adolescentes podem condicionar as suas vidas, pelo que é necessário consolidar os conhecimentos sobre a transmissão das IST e reverter a tendência, potenciando a saúde e o bem-estar dos adolescentes, como imperativo investimento na informação e formação em planeamento familiar (Brás, 2008).

Diversas investigações têm sido conduzidas sobre os comportamentos sexuais de adolescentes em quase todo o mundo, mostrando consistentemente, que os comportamentos sexuais dos adolescentes se iniciam, em média, por volta dos 14 anos de idade, sendo que aos 17 anos têm a primeira relação sexual (Afonso, 2011; Braconnier & Marcelli, 2000; Brás, 2008; Mendez, Hulsey, & Archer, 2002; Nodin, 2001; Prinstein, Meade, & Cohen, 2003).

O início dos comportamentos sexuais nestas idades não deixa de ser preocupante, pelo facto de os adolescentes terem ainda uma grande dose de aventura, irresponsabilidade e imaturidade (Brás, 2008; Lopes, 2006; Matos et al., 2004; Sim-Sim, 2003). Investigações têm mostrado que é comum observar-se que os adolescentes nunca ou quase nunca se recusaram a ter relações sexuais ocasionais, por falta de preservativo (Afonso, 2011; Nodin, 2001; Prinstein et al., 2003).

Outras investigações têm apontado para diferenças nos comportamentos sexuais em função de variáveis como o sexo e a idade (Mendez et al., 2002), sublinhando que são os rapazes que apresentam maiores comportamentos de risco (Shearer, Hosterman, Gillen, & Lefkowtiz, 2005) e os que frequentam o 10º ano os que assinalam, mais frequentemente, que já tiveram relações sexuais, quando comparados com os dos 8º e 6º anos (Matos, Simões, Camacho, Reis, & Equipa Aventura Social, 2015).

É também comum observar-se na literatura sobre o tema, que os adolescentes praticam sexo oral antes de iniciarem o coito vaginal e apenas uma minoria utiliza métodos

contracetivos (Boekello & Howard, 2002; Conrad & Blythe, 2003; Prinstein et al., 2003). Muito embora a consciência do uso do preservativo possa estar presente em alguns estudos com adolescentes (Matos & Equipa do Projeto Aventura Social e Saúde, 2003), essa consciência nem sempre é visível em outros estudos que mostram um maior desconforto em comprar preservativos numa loja (Matos et al., 2015).

Num interessante estudo realizado por Monteiro e Vasconcelos-Raposo (2006) com 1152 estudantes do 10º, 11º e 12º ano de escolaridade, com intuito de conhecer os seus comportamentos sexuais, observou-se que a maioria dos jovens inquiridos ainda não tinha tido relações sexuais, sendo que aqueles que já tinham iniciado a sua atividade sexual, fizeram-no antes dos 16 anos de idade. Neste estudo os autores constataram que a maioria dos adolescentes referiu o uso do preservativo e consideraram-no como método eficaz na prevenção da gravidez e das IST. Curiosamente, os autores constataram um desfasamento entre aquilo que os adolescentes referiram conhecer sobre o VIH/SIDA e o que expressaram nos seus comportamentos sexuais: os adolescentes que não utilizavam métodos de prevenção e os que referiram ter tido três ou mais parceiros sexuais, apresentavam, em média, mais conhecimentos sobre o VIH/SIDA. Almeida et al. (2007) no seu estudo constataram que a alteração de hábitos e comportamentos sexuais face ao VIH/SIDA é independente do meio de inserção dos adolescentes (i.e., urbano e rural); (2) os comportamentos preventivos em relação ao VIH/SIDA são independentes do meio de inserção dos adolescentes; (3) o meio de inserção dos adolescentes influencia as atitudes preventivas em relação ao VIH/SIDA, observando-se que a grande maioria dos adolescentes do meio urbano possui comportamentos de risco e menores atitudes preventivas.

Um outro corpo de investigações tem mostrado que o uso irregular dos métodos contracetivos se encontra associado às dificuldades de comunicação com o parceiro sexual (Nodin, 2001; Roque, 2001), o facto de ter relacionamentos mais estáveis (Fortenberry, Tu, Harezlak, Katz, & Orr, 2002) e o consumo de álcool e de outras drogas que favorecem a prática de sexo desprotegido (Brook, Morojele, Zhang, & Brook, 2006; Labrie, Earleywine, Schiffman, Pedersen, & Marriot, 2005).

Estudos têm revelado a provável associação entre o consumo de álcool e drogas e a prática de comportamentos sexuais de risco (Brook et al., 2006; Eaton et al., 2005;

Labrie et al., 2005). Dados obtidos no Youth Risk Behavior Surveillance (Eaton et al., 2005), mostram que 23,3% dos jovens sexualmente ativos consumiu álcool ou drogas na última relação sexual, verificando-se que são os rapazes que apresentam este comportamento mais frequentemente (Labrie et al., 2005).

Labrie et al. (2005), num estudo realizado com rapazes observaram uma associação negativa entre o consumo de álcool e a utilização de contraceção e, especificamente no uso do preservativo, aumentando a possibilidade de uma gravidez não desejada e a aquisição de IST. Os resultados demonstraram uma percentagem significativa de jovens sexualmente ativos envolvidos numa combinação perigosa de consumo de álcool e drogas e comportamentos de risco.

Pese embora estes resultados, Matos et al. (2015), no seu estudo mostraram que a maioria dos adolescentes que já teve relações sexuais, refere não ter tido relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas, sendo que são as raparigas que afirmam mais frequentemente que não tiveram relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas, não tendo encontrado diferenças estatisticamente significativas em função do ano de escolaridade.

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