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Composição e características

A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromo- lecular denominada peptideoglicana (também conhecida como mureína), que está presente isoladamente ou em combinação com outras substâncias. A peptideoglicana consiste em um dissacarídeo repetitivo ligado por polipeptídeos para formar uma rede que cir- cunda e protege toda a célula. A porção dissacarídica é composta de monossacarídeos denominados N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM) (de murus, significando parede), que estão relacionados à glicose. As fórmulas estruturais de NAG e

NAM são mostradas na Figura 4.12.

Os vários componentes da peptideoglicana estão reunidos na

parede celular (Figura 4.13a). Moléculas alternadas de NAM e NAG

são ligadas em filas de 10 a 65 açúcares para formar um “esqueleto” de carboidratos (a porção glicana da peptideoglicana). Filas adja- centes são ligadas por polipeptídeos (a porção peptídica da pep- tideoglicana). Embora a estrutura da ligação polipeptídica possa variar, ela sempre inclui cadeias laterais de tetrapeptídeos, as quais consistem em quatro aminoácidos ligados ao NAM no esqueleto. Os aminoácidos ocorrem em um padrão alternado de formas D e L (veja a Figura 2.13, página 43). Este padrão é único, pois os ami- noácidos encontrados em outras proteínas são formas L. As cadeias laterais paralelas de tetrapeptídeos podem ser ligadas diretamente umas às outras ou unidas por uma ponte cruzada peptídica, consis- tindo de uma cadeia curta de aminoácidos.

A penicilina interfere com a ligação final das filas de peptide- oglicanas pelas pontes cruzadas peptídicas (veja a Figura 4.13a). Como resultado, a parede celular é muito enfraquecida e a célula sofre lise, uma destruição causada pela ruptura da membrana plas- mática e pela perda de citoplasma.

Paredes celulares de gram-positivas

Na maioria das bactérias gram-positivas, a parede celular consiste em muitas camadas de peptideoglicana, formando uma estrutura

espessa e rígida (Figura 4.13b). Em contraste, as paredes celulares

de gram-negativas contêm somente uma camada fina de peptideo-

glicana (Figura 4.13c).

Além disso, as paredes celulares das bactérias gram-positivas contêm ácidos teicoicos, que consistem principalmente de um ál- cool (como o glicerol ou ribitol) e fosfato. Existem duas classes de ácidos teicoicos: ácido lipoteicoico, que atravessa a camada de peptideoglicana e está ligado à membrana plasmática, e ácido

teicoico da parede, que está ligado à camada de peptideoglicana. Devido à sua carga negativa (proveniente dos grupos fosfato), os ácidos teicoicos podem se ligar e regular o movimento de cátions (íons positivos) para dentro e para fora da célula. Eles também podem assumir um papel no crescimento celular, impedindo a ruptura extensa da parede e a possível lise celular. Finalmente, os ácidos teicoicos fornecem boa parte da especificidade antigê- nica da parede e, portanto, tornam possível identificar bactérias gram-positivas utilizando determinados testes laboratoriais (veja o Capítulo 10). Da mesma forma, a parede celular dos estrep- tococos gram-positivos é recoberta com vários polissacarídeos que permitem que eles sejam agrupados em tipos clinicamente significativos.

Paredes celulares de gram-negativas

As paredes celulares das bactérias gram-negativas consistem em uma ou poucas camadas de peptideoglicana e uma membrana ex- terna (veja a Figura 4.13c). A peptideoglicana está ligada a lipopro- teínas (lipídeos covalentemente ligados a proteínas) na membrana externa e está no periplasma, um fluido semelhante a um gel, entre a membrana externa e a membrana plasmática. O periplasma con- tém uma alta concentração de enzimas de degradação e proteínas de transporte. As paredes celulares gram-negativas não contêm áci- dos teicoicos. Como as paredes celulares das bactérias gram-negati- vas contêm somente uma pequena quantidade de peptideoglicana, são mais suscetíveis ao rompimento mecânico.

A membrana externa da célula gram-negativa consiste em li- popolissacarídeos (LPS), lipoproteínas e fosfolipídeos (veja a figura 4.13c). A membrana externa tem várias funções especializadas. Sua forte carga negativa é um fator importante na evasão da fagocitose e nas ações do complemento (causa lise de células e promove a fa- gocitose), dois componentes das defesas do hospedeiro (discutidos em detalhe no Capítulo 16). A membrana externa também fornece

CH2OH OH H H O H NH H O CH2OH H H O H H O C CH3 O O NH C CH3 O O HC CH3 C O OH N-acetilglicosamina (NAG) Ácido N-acetilmurâmico (NAM)

Figura 4.12 N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmi- co (NAM) unidos como na peptideoglicana. As áreas douradas mos- tram as diferenças entre as duas moléculas. A ligação entre elas é denominada ligação β-1,4.

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Que tipo de moléculas são estas: carboidratos, lipídeos ou proteínas?

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Cadeia lateral tetrapeptídica

Ponte cruzada peptídica

Esqueleto de carboidrato Ácido N-acetilmurâmico (NAM)

Cadeia lateral de aminoácido Ponte cruzada de aminoácido

(a) Estrutura de peptideoglicana em bactéria gram-positiva

Proteína Membrana plasmática Parede celular Ácido teicoico de parede Ácido lipoteicoico Peptideoglicana

(c) Parede celular gram-negativa (b) Parede celular gram-positiva

Lipopolissacarídeo Membrana externa Peptideoglicana Membrana plasmática Parede celular Polissacarídeo O Cerne polissacarídico Lipídeo A Proteína porina Fosfolipídeo Lipoproteína Periplasma Proteína Lipídeo A Cerne polissacarídico Polissacarídeo O Ligação peptídica NAG NAG NAM Partes do LPS N-acetilglicosamina (NAG)

Figura 4.13 Paredes celulares bacterianas. (a) A estrutura da peptideoglicana em bacté- rias gram-positivas. Juntos, o esqueleto de carboidrato (porção glicana) e as cadeias laterais tetrapep- tídicas (porção peptídica) compõem a peptideoglicana. A frequência de pontes cruzadas peptídicas e o número de aminoácidos nessas pontes variam com a espécie de bactéria. As pequenas setas indicam onde a penicilina interfere com a ligação das fileiras de peptideoglicano por pontes cruzadas peptídicas. (b) Uma parede celular gram-positiva. (c) Uma parede celular gram-negativa.

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Quais são as principais diferenças estruturais entre as paredes celulares de gram-positivas e gram-negativas?

Microbiologia 87

uma barreira para certos antibióticos (p. ex., penicilina), enzimas digestivas como a lisozima, detergentes, metais pesados, sais bilia- res e certos corantes.

Entretanto, a membrana externa não fornece uma barreira para todas as substâncias no ambiente, pois os nutrientes devem atravessá-la para garantir o metabolismo celular. Parte da permea- bilidade da membrana externa é devida a proteínas na membrana, denominadas porinas, que formam canais. As porinas permitem a passagem de moléculas como nucleotídeos, dissacarídeos, peptí-

deos, aminoácidos, vitamina B12 e ferro.

O lipopolissacarídeo (LPS) da membrana externa é uma molécula grande e complexa que contém lipídeos e carboidratos e que consiste em três componentes: (1) lipídeo A, (2) um cerne polissacarídico e (3) um polissacarídeo O. O lipídeo A é a porção lipídica do LPS e está embebido na parede superior da membrana externa. Quando bactérias gram-negativas morrem, elas liberam lipídeo A, que funciona como uma endotoxina (Capítulo 15). O li- pídeo A é responsável pelos sintomas associados a bactérias gram- -negativas, como febre, dilatação de vasos venosos, choque e for- mação de coágulos sanguíneos. O cerne polissacarídico é ligado ao lipídeo A e contém açúcares incomuns. Seu papel é estrutural – fornecer estabilidade. O polissacarídeo O se estende para fora do cerne polissacarídico e é composto por moléculas de açúcar. O polissacarídeo O funciona como um antígeno, sendo útil para diferenciar espécies de bactérias gram-negativas. Por exemplo, o patógeno alimentar E. coli O157:H7 é diferenciado dos outros so- rovares por certos exames laboratoriais que procuram pelos antí- genos específicos. Esse papel é comparável ao dos ácidos teicoicos nas células gram-positivas.

Paredes celulares e mecanismo da coloração