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Os fatores que compõem uma cena são inúmeros; porém, nesta fase da análise, serão abordados alguns deles, como determinados planos, enquadramentos, distância, ângulos, efeitos criados em pós-produção, entre outros, que mais se destacam em Confissões de Adolescente, pelo fato de possuírem forte influência sobre o telespectador, pelo peso que possuem na narração das tramas e como auxiliam no processo de assujeitamento do telespectador, ou seja, na captura dele.

O Plano Geral é usado com o fim de contextualizar geográfica e espacialmente o telespectador. Para marcar mudanças de períodos do dia, o seriado apresenta imagens de nascer e pôr do sol, imagens de início de noite com luzes acesas na cidade, etc. Para indicar que as personagens estão em casa, a maioria das cenas mostra uma imagem que vai da praia, passa pelo calçadão até chegar ao prédio onde moram e, por fim, para indicar os locais onde vai ser desenvolvida a trama, mostra planos gerais rápidos dos lugares; por exemplo, o shopping center, a

danceteria, etc. Em Bárbara Vai à Luta, um grande plano geral encerra o episódio sugerindo que as ondas do rádio estão se espalhando pela cidade.

O close-up é de extrema importância em todo o seriado pois transforma o sentido de distância, “levando o espectador a uma proximidade psíquica e a uma

intimidade extremas” (AUMONT: 1993, p. 141).

Uma das principais características do close-up é criar intimidade, contagiar o público de emoções que estão sendo transmitidas naquele momento. O telespectador não só percebe as tristezas, reprovações, intenções, alegrias, etc. antes mesmo de outras personagens, como também, devido ao envolvimento, participa das mesmas emoções. Em Confissões de Adolescente pode-se perceber o que as personagens sentem só pelo close-up.

Daniel Filho exalta a importância do close-up:

A câmera deve ser invisível, não deve se exibir. Fico incomodado ao sentir sua presença. A música também não deve interferir, apenas colaborar para que o espectador sinta emoção. Pode ser que a própria câmera se aproximando em close ajude o espectador a captar o que o personagem está sentindo. A câmera se aproxima porque você quer ficar mais perto dos atores, da cena, lentamente. É orgânico mesmo (FILHO: 2001, p.225).

Os primórdios da televisão e do cinema separavam o protagonista de seu antagonista através da aparência física; mas, com o passar do tempo, essa distinção foi sendo feita através do close-up, pois acaba servindo mais para mostrar um pensamento exposto através do olhar maquiavélico de um personagem do que apenas para expor detalhes.

O Primeiríssimo Plano, também chamado de Plano de Detalhe, é muito usado para auxiliar a trama, dando destaque ao que será ou está sendo abordado. Em

telefone. Em vários momentos, surgem personagens falando ao telefone, o pai em um hotel tentando, em vão, ligar para casa, depoimento dado em frente a um telefone público, etc. Muitas cenas apresentam apenas detalhes do telefone ou o telefone enquadrado sozinho na tela.

A técnica de zoom, tanto o de aproximação quanto o de afastamento, faz parte dos recursos utilizados pelo seriado para obter maior participação emocional por parte do telespectador. Através do zoom, Confissões de Adolescente avisa qual deverá ser o foco da atenção, bem como fazer o telespectador “entrar” ou “sair” nos sentimentos de uma personagem. Em Liberdade Tem Limite, o zoom faz com que o telespectador se aproxime da conversa íntima entre pai e filha, permaneça lá até que eles se entendam, e se afaste lentamente depois de solucionada a questão e a curiosidade saciada.

No episódio Ainda Não, no momento em que Paulo começa a brigar com Diana, os telespectadores “saem de cena” com um afastamento da câmera que acaba se transformando em um grande plongée19, ou seja, a cena é vista de cima,

como se sobrevoasse a briga, como se a decepção de Paulo não fosse com o telespectador, só com Diana.

Não há câmera subjetiva em Confissões de Adolescente, ou seja, quando “o

ponto de vista da câmera é interiorizado na personagem, simulando, ao pé da letra, um ponto de vista particular” (MACHADO: 2007, p. 31).

O que se nota, em determinados momentos, é uma “câmera acompanhante”, isto é, aquela que segue, quase como que numa simbiose, a personagem mas não chega a ser subjetiva, pois a personagem aparece em cena. Machado explica:

Os pólos não se identificam totalmente, o olho da câmera não é o da personagem, a trilha sonora não é o seu monólogo interior em voz-over, mas eles se embaralham, se contaminam, caminhando em sintonia durante a maior parte do tempo (MACHADO: 2007, p. 43-44).

No episódio A Tragédia, a posição da câmera cria intensa intimidade com o telespectador com Natália. Enquanto ela relê sua agenda, a câmera fica “no ombro” da personagem. O telespectador pode, portanto, ler com ela seus segredos, seus medos, etc. É de extrema importância essa técnica no seriado, pois uma agenda de adolescente não pode ser vista por ninguém; apenas por sua “melhor amiga”. Ela chega a verbalizar: “Minhas melhores amigas, pôxa, elas só vêem algumas páginas”.

A câmera também tem o papel de avisar aos telespectadores o que as personagens estão sentindo ou o que sentirão durante determinado episódio. Em

Liberdade Tem Limite, Carol vê, de forma distanciada, a alegria da família,

mostrando que ela não compartilha do mesmo sentimento. Já em É o Maior, Natália reclama de se sentir “invisível” e sente ciúmes das irmãs.

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