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A Tabela 2 apresenta os resultados da composição centesimal das amostras analisadas.

As misturas M1 e M3, contendo serragem de eucalipto em sua composição, mesmo em diferentes concentrações, não apresentaram diferença estatística quanto ao teor de matéria mineral (MM), que foi em média 6% e a mistura contendo bagaço de cana (M2), apresentou 4% em média de MM. Os pós-cultivos com maior teor de MM foram os de origem comercial (SMS5 e SMS6), inoculados com os fungos P.

erynguii e P. ostreatus, seguido do SMS2, inoculado com o fungo F. hepatica cc102, com 5,82% de MM. Os cogumelos com maior teor mineral foram o P. ostreatus e o P. erynguii. Os cogumelos Pleurotus spp, foram os que apresentaram maior teor de matéria mineral, se assemelhando com os resultados encontrados por Pedra et al., 2009, que analisou dois isolados de P. ostreatus cultivados em casca de coco moída suplementada com farelos. Comparando as misturas com os pós cultvos, o SMS2 foi o único que apresentou aumento de MM, sugerindo que os minenaris ficaram mais concentrados no micélio. Já os outros SMS, apresentaram valores menores de MM em relação a mistura, indicando que o cogumelo retirou os minerais presentes nas misturas para seu desenvolvimento (corpo de frutificação).

Segundo Sales-Campos et al., 2009, fatores como a espécie de fungo usada no cultivo e as condições ambientais têm influência direta na composição química dos cogumelos, principalmente nos minerais e na qualidade protéica. O substrato também influencia diretamente a composição de minerais, pois as hifas dos cogumelos ficam em contato com esse material e dele retiram seus elementos essenciais (KWAK; JUNG; KIM, 2008; ZERVAKIS et al., 2001). Foi foi realizado um estudo da composição química e nutricional de 400 espécies diferentes de cogumelos e os minerais encontrados foram o sódio, o cálcio, o magnésio, o enxofre, o fósforo e o potássio, em ordem crescende de concentração, sendo que o potássio não é uniformimente distribuido nos cogumelos, se concentrando principalmente no píleo (KALAC, 2009).

A M1, com serragem de eucalipto, foi a que apresentou maior teor de extrato etéreo (EE) com 3,31%. O SMS2, inoculado com o F. hepatica cc102, foi o que apresentou maior teor de EE (1,36 %). Os SMS1, SMS5 e SMS6, inoculados com o fungo Pleurotus spp, apresentaram teor de EE variando de 0,75 a 0,97%, não apresentando diferença estatística. Os cogumelos P. ostreatus (Cog1 e Cog6), foram os que apresentaram maiores valores de EE, 1,12 e 1,05%, respectivamente.

Apesar de serem provenientes de diferentes misturas, não apresentaram diferença estatística quanto ao valor de EE. Ragunathan e Swaminathan (2003) avaliaram a composição centesimal de Lentinus sajor-caju (anteriormente classificado no gênero Pleurotus spp.), obtendo valores médios de 0,95, 1,22, 1,41 e 1,19% de extrato etéreo para os substratos com resíduos da parte aérea do cultivo de algodão, palha de milho, palha de sorgo e misto, respectivamente. O conteúdo total de lipídeos ou extrato etéreo de cogumelos comestíveis pode variar, de acordo com a espécie, de 1 a 10%, sendo 72 a 85% deste valor representado por ácidos graxos insaturados, como os ácidos linoleico e oleico. O ácido linoleico é o ácido graxo encontrado em maior proporção em Pleurotus spp (CASTRO et al., 2007; PEDNEAULT et al., 2008;

SINANOGLOU et al., 2015). O ácido linoléico e o ácido α-linolênico são ácidos graxos essenciais (EFA-Essential Fatty Acids) porém não são produzidos pelo organismo humano, portanto devem ser obtidos a partir da alimentação. O consumo desses ácidos graxos pode ajudar na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares, hipertensão, inflamações em geral, asma, artrite, psoríase e vários tipos de câncer (SANDERS, 2000). Dessa forma, observamos que quando o teor de EE é maior na mistura, o cogumelo apresenta maior EE. No caso da M2, como o F.

hepatica cc102 não frutificou, o teor de EE no SMS2, foi similar ao da mistura.

A proteina bruta foi calculada de acordo com o fator de correção 6,25, para as misturas e SMS, que significa que as proteínas possuem 16% de nitrogênio totalmente digeríveis, desprezando substâncias nitrogenadas não proteicas que podem estar presentes nas amostras. No entanto, os cogumelos possuem quantidades significativas de substâncias nitrogenadas não proteicas em suas paredes celulares (quitina). Desse modo, o fator de correção adotado para os cogumelos foi 4,38, sugerindo que apenas 70% dos compostos nitrogenados presentes sejam digeridos (FURLANI; GODOY, 2007).

As misturas são estatisticamente diferentes umas das outras, apresentando valores de proteína bruta (PB) entre 8 e 21%, aproximadamente (Tabela 1). O baixo teor de PB na M3 ja era esperado devido sua composição com 80% de serragem, que não apresenta muita proteína, de acordo com Andrade et al. (2008), que encontraram valores semelhantes de PB em eucalipto (7,70%). Os SMS5 e SMS6 apresentaram maiores valores de PB, (34,48% e 26,4%), respectivamente, seguidos dos SMS1, SMS2 e SMS3, que não apresentaram diferença estatística, com 22% de proteína bruta em média. Podemos observar que o tipo de fungo foi o principal fator que influenciou no teor proteico do SMS e do cogumelo, haja vista, que mesmo para misturas de teor de PB diferentes M2 e M3 os SMS2 e SMS3 não apresentaram diferença estatistica, ao passo que a mesma mistura (M3), quando inoculada com fungos diferentes gerou SMS e cogumelos com teor de PB diferentes (Tabela 2). O cogumelo P. ostreatus foi o que apresentou maior teor de proteína bruta, variando de 26 a 30 % aproximadamente, entre o comercial (Cog6) e o cultivado com M1 (Cog1), confirmando os estudos de Manzi e colaboradores (1999) que analisaram diferentes isolados de P.ostreatus e encontraram teores de PB variando entre 20 e 35%, aproximadamente, em base seca. O teor de PB encontrado no P. erynguii (Cog5), foi um pouco abaixo (15,72 %) do encontrado por Manzi e colaboradores (1999) (22,74%) na mesma espécie. O P. lecomtei cc 040 e o F. hepatica cc102 apresentaram bons valores proteicos (20,01 e 23,05%), respectivamente. Outro fator importante a ser ressaltado é o aumento do teor protéico no SMS5 e SMS6. Esse fato pode ser explicado porque foi realizado uma unica colheita desses pós-cultivos, já nos outros, foram feitas colheitas durantes 21 dias, aproximadamente, 3 fluxos. O teor de proteínas no SMS pode representar um método alternativo de produção de ração animal a baixo custo para os pequenos produtores. No entanto, são necessários mais estudos para a viabilização da utilização de torta de caroço de algodão para alimentação de animais, ja que os SMS1, SMS2, SMS3 e SMS4 mostraram destoxificação.

Segundo Shashirekha e colaboradores (2002) cogumelos produzidos em substratos mais ricos em nitrogênio/proteína são os mais ricos em nitrogênio/proteína, porém, nas amostras analisadas, a M3 continha baixos valores de proteína/nitrogênio, mas os cogumelos apresentaram valores elevados de proteína, ao passo que, quando comparados com a M2, que continha maior teor de

PB, não houve corpo de frutificação. Esse fato pode estar relacionado com as condiçoes de cultivo, como por exemplo, a temperatura e a umidade das estufas.

As fibras estão presentes tanto na forma solúvel como insolúvel. As principais fibras insolúveis são a celulose e a lignina. A fibra em detergente neutro (FDN), é a fração nutricional correspondente à soma de hemicelulose (HEM), celulose (CEL) e lignina (LIG). A hemicelulose tem alta digestibilidade, a celulose tem digestibilidade variável e é afetada principalmente pela maturidade das plantas e a lignina é praticamente indigerível, por ruminantes. A fibra em detergente ácido (FDA), é a fração correspondente à soma de celulose e lignina. Quanto maior o valor de FDA, maior a chance de ter teores elevados de lignina e maior a chance de ter a digestibilidade reduzida. Os valores de hemicelulose foram calculados pela diferença entre a fibra em detergente ácido e a fibra em detergente neutro, e a celulose foi calculada pela diferença entre a lignina e a fibra em detergente ácido (NOGUEIRA e SOUZA, 2005).

Com relação as análises de fibras, quando o meio apresentou maior teor de LIG (M3), os SMS3, inoculado com o fungo F. hepatica cc102 e o SMS4, inoculado com o fungo P. lecomtei cc040, apresentaram menor teor de lignina., Quando o meio apresentou maior teor de HEM (M1 e M2) do que de lignina, os SMS1, inoculado com o fungo P. ostreatus cc389 e o SMS2, inoculado com o F. hepatica cc102, apresentaram menor teor de hemicelulose.

Após o cultivo dos diferentes fungos, os valores de celulose (CEL) encontrados nos pós-cultivos, foram maiores. Esse aumento de celulose pode ser explicado devido a presença de fibras que compõem a parede celular dos fungos e se comportam como celulose (insolúvel em detergente neutro e em detergente ácido). Por exemplo, a quitina, que é uma fibra encontrada na parede celular dos fungos, é estruturalmente semelhante à celulose (KUMAR, 2000; PILLAI; PAUL;

SHARMA, 2009), podendo interferir na determinação de FDA. Portanto, são necessários mais estudos a cerca da composição das biomassas vegetais e microbianas.

As misturas apresentaram teor de hemicelulose (HEM) variando de 10,99%

a 18,64%. Os pós-cultivos de origem comercial apresentaram maior teor de hemicelulose, no entanto, o SMS do P. ostreatus (SMS1) cultivado na Embrapa, apresentou menor teor de HEM. Os cogumelos dos fungos F.hepatica cc102 e P.

lecomtei cc040, se destacaram pelos altos valores de hemicelulose, 37,12% e 27,04%, respectivamente, sendo praticamente o dobro dos valores encontrados para o gênero Pleurotus spp estudados. O teor de HEM das misturas 1 e 2 foram reduzidas após o cultivo, ao passo que, o teor de HEM nos SMS3 e SMS4 aumentam em relação ao teor da mistura de origem (M3). O alto teor de HEM encontrado nos Cog3 e Cog4, pode ser um erro na tecnica de análise, ja que os cogumelos não possuem hemicelulose, e sim quitina e β-glucana. O mesmo fato se observou para o teor de celulose (CEL) nestes materiais.

Os valores de lignina nos SMS3 e SMS4 foram baixos quando comparados aos demais, mesmo vindo de uma mistura rica em lignina (M3), demonstrando o poder deslignificante dos fungos F.hepatica cc102 e P. lecomtei cc040, de aproximadamente 47%, característica importante para a nutrição animal. Podemos observar que pode haver ação enzimática desses fungos, degradando a lignina e tornando o SMS um substrato mais digerível.

Tabela 2. Composição centesimal dos cogumelos, das misturas antes e após cultivo do micélio (mistura e SMS).

AM % MM % EE % N %PB* % FDN % FDA % LIG %CEL %HEM

M1 6,44± 0,17Aa 3,31± 0,03Aa 3,10± 0,08Ba 19,05± 0,04 Ba 61,86± 0,30Ca 47,40 ± 0,03Bb 11,71± 0,59Bb 28,15 14,46

M2 3,95± 0,05Bb 1,60± 0,06Ba 3,41± 0,11Aa 21,28± 0,67Aa 64,61± 0,31Bb 45,97± 0,28Cb 11,12± 0,05Bb 34,26 18,64

M3 6,64± 0,30Aa 1,60± 0,11Ba 1,19± 0,05Cb 7,64± 0,04Cb 71,74± 0,10Ab 60,75± 0,63Aa 19,25± 0,15Aa 41,51 10,99

SMS1 4,68± 0,05Cb 0,78± 0,02Bb 3,31± 0,05Ca 20,70± 0,30Ca 60,95± 0,05Fa 48,32± 0,15Da 17,36± 0,19Aa 30,96 12,62

SMS2 5,82± 0,21Ba 1,36± 0,01Aa 3,51± 0,08Ca 21,92± 0,52Ca 67,53± 0,43Ea 52,93± 0,53Ca 15,58± 0,28Ba 37,35 14,61

SMS3 4,64± 0,00Cb 0,25± 0,10Cb 3,62± 0,14Ca 23,07± 0,46Ca 71,07± 0,18Cb 55,60± 0,30Bb 9,00± 0,25Cb 46.60 15,46

SMS4 3,86± 0,12Db 0,24± 0,04Cb 1,51± 0,15Db 8,88± 0,21Db 72,93± 0,18Ba 57,23± 0,17Aa 8,75± 0,32Cb 48,47 15,71

SMS5 7,14± 0,04A 0,97± 0,08B 4,20± 0,35B 26,24± 2,18B 74,04± 0,27A 56,72± 0,08A 16,62± 0,30A 40,10 17,32

SMS6 6,12± 0,04A 0,75± 0,26B 5,52± 0,11A 34,48± 0,70A 69,38± 0,08D 52,38± 0,15C 16,16± 0,31B 36,21 17,01

Cog1 7,43± 0,31B 1,12± 0,11A 5,87± 0,07B 25,69± 0,32B 29,82± 0,12C 12,95± 0,27C - - -

Cog3 4,24± 0,01D 0,68± 0,13B 4,65± 0,15D 20,01± 0,02D 64,87± 0,06A 27,76± 0,28A - - -

Cog4 4,34± 0,12D 0,72± 0,12B 5,26± 0,00C 23,05± 0,00c 45,38± 0,34B 18,33± 0,06B - - -

Cog5 6,74± 0,18C 0,76± 0,01B 3,68± 0,16E 15,72± 0,30E 27,94± 0,26D 13,16± 0,00C - - -

Cog6 9,52± 0,20A 1,05± 0,07A 7,01± 0,17A 30,30± 0,24A 22,20± 0,07E 12,07± 0,18D - - -

AM: amostra; MM: matéria mineral; EE: extrato etéreo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido, LIG: lignina; N: nitrogênio; PB:

proteína bruta; CEL: celulose; HEM: hemicelulose. *: para cálculo de PB a partir do teor de Nitrogênio, foi utilizado o fator 6,25 para as misturas e SMS, e o fator 4,38 para os cogumelos. Foi realizado teste de Scott-Knott entre as misturas, entre os SMS´s e entre os cogumelos, representado pelas letras maiúsculas. Foi realizado test t entre as misturas e os SMS, representado pelas letras minúsculas. Foi comparado a M1 com o SMS1, a M2 com o SMS2, a M3 como SMS3 e a M3 com o SMS4. Diferentes letras na mesma coluna, indicam diferença estatística entre as amostras, admitindo nível de significância p< 0.05.

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