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3. MULHER, ESPAÇO PÚBLICO E PODER

3.2. Composição do judiciário brasileiro

Atualmente, por mais que, de acordo com Fragale Filho, Moreira e Sciammarella (2015), o percentual de pessoas formadas no curso de direito pelo país seja constituído por uma maioria de mulheres, é possível perceber que o percentual de magistradas ainda é extremamente reduzido se comparado ao número de magistrados. A título exemplificativo, segue imagem

Assim, de acordo com o Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário, produzido pelo CNJ, no ano de 2019, tendo como base dados do ano de 2018, percebe-se a evidente deficiência na representatividade de gênero no judiciário. Desse modo, seguem as Figuras 1 e 2, que demonstram o percentual de magistradas e servidoras, assim como das funções ocupadas pelas mesmas no poder judiciário, como um todo (Figura 1) e nos Tribunais Superiores (Figura 2).

Figura 1

Percentual de Magistradas, Servidoras e funções ocupadas por servidoras no Poder Judiciário

Fonte: Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário (CNJ).

Figura 2

Percentual de Magistradas, servidoras e funções ocupadas por servidoras nos Tribunais Superiores

Em vista disso, percebe-se que, por mais que de acordo com Fragale Filho, Moreira e Sciammarella (2015), exista um discurso de “inevitabilidade do predomínio feminino”, que deriva do número proporcionalmente maior de mulheres que se formam no curso de direito, o processo de feminização das carreiras jurídicas não tem ocorrido de fato. Essa conclusão é fundamentada no fato de que o percentual de magistradas nos últimos 10 anos no poder judiciário como um todo pouco se difere do percentual de magistradas em atividade no ano de 2018, no que se refere ao percentual dos tribunais superiores o cenário é ainda pior, já que houve uma diminuição da presença feminina nas cortes.

Tal discurso considera que as oportunidades de acesso das mulheres às profissões jurídicas são as mesmas dos homens, tendo que, no caso da magistratura, se dá por meio de concurso público (Fragale Filho, Moreira e Sciammarella, 2015). Essa visão otimista também abrange à progressão na carreira das magistradas, já que, em tese, os meios de progressão, como são estabelecidos por critérios objetivos de antiguidade e mérito, permitiriam com que isso ocorresse.

No entanto, a partir da análise dos dados expostos nas figuras 1 e 2, na prática a igualdade de acesso e progressão de mérito não contemplam pessoas do sexo feminino da mesma forma que as pessoas do sexo masculino, já que quanto maior o grau de decisão e de influência do cargo, menos mulheres o ocupam, a título de exemplo de tal conduta segue imagem 2, 3 e 4.

Imagem 2

Novos desembargadores eleitos pelos critérios de merecimento e antiguidade tomando posse no TJGO em 2019

Fonte: Centro de Comunicação Social do TJGO

Imagem 3

Desembargadores da seção de Direito Criminal se reúnem para foto comemorativa aos 145 anos do TJSP

Fonte: Comunicação Social do TJSP

Imagem 4

Foto da Composição do STJ durante o biênio 2016 - 2018

Fonte: STJ

A progressão da carreira na magistratura se dá da seguinte maneira, o ingresso ocorre através de concurso público e prova de títulos para a vaga de “juiz substituto”, a promoção ocorre alternadamente por antiguidade e merecimento, como prevê o artigo 93, da Constituição Federal Brasileira (1988), nos seguintes termos:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;

II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento;

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;

c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;

d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;

III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância; (BRASIL, Constituição Federal, 1988).

Enquanto, no que se refere aos tribunais superiores, que possuem percentuais ainda menores de equidade de gênero nos cargos, como explicita a figura 2, os magistrados são nomeados pelo Presidente da República e aprovados no Senado para que, assim, possam assumir o cargo de Ministro. De acordo com previsão expressa da Constituição Federal de 1988, tem-se que:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...]

XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; (BRASIL, Constituição Federal)

Para além da previsão legal da Constituição Federal a Lei Complementar nº 25, de março de 1979, que dispõe sobre a magistratura nacional, estabelece os critérios que precisam ser observados pelo presidente da república e pelo senado para a nomeação dos ministros, prevendo, em seu artigo 2º, que:

Art. 2º - O Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da União e jurisdição em todo o território nacional, compõem-se de onze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada. (BRASIL, Lei Complementar nº 25, 1979)

Desse modo, sabendo os critérios utilizados para a progressão na magistratura e para a nomeação dos ministros dos tribunais superiores, seguem figuras elaboradas para o Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário,

produzido pelo CNJ, no ano de 2019, que demonstram o percentual de magistradas, servidoras e de funções ocupadas por estas em relação ao ano de ingresso no poder judiciário como um todo (figura 3) e nos tribunais superiores (figura 4).

Figura 3

Séries históricas do percentual de Magistradas, Servidoras e funções por ano de ingresso no Poder Judiciário

Fonte: Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário (CNJ).

Figura 4

Séries históricas do percentual de Magistradas, Servidoras e funções por ano de ingresso nos Tribunais Superiores

Tendo como base as figuras 3 e 4, pode-se notar que, ao mesmo tempo em que a quantidade de mulheres no poder judiciário encontra-se estável, no recorte dos tribunais superiores houve uma enorme queda no quantitativo.

No que se refere ao momento histórico e sua correlação com a paridade de gênero no judiciário é válida a análise das figuras 5 e 6 desenvolvidas pelo CNJ para elaboração do Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário, do ano de 2019.

Figura 5

Percentual de Magistradas por cargo no Poder Judiciário

Fonte: Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário (CNJ).

Figura 6

Fonte: Diagnóstico da Participação feminina no Poder Judiciário (CNJ).

Consoante as figuras 5 e 6, percebe-se com clareza que no Poder Judiciário como um todo o quantitativo de mulheres nos cargos de magistratura estão praticamente estagnados nos últimos 10 anos e que o cenário nos tribunais superiores se mostra como um ambiente muito menos representativo e, por consequência, democrático.

Nesse sentido, percebe-se, novamente, o discurso de inevitabilidade do predomínio feminino no judiciário, abordado por Fragale Filho, Moreira e Sciammarella (2015), se mostra como uma realidade bastante distante.

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