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2 COTIDIANO ESCOLAR E CRIANÇAS

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

5. MATTOS 6 MONTEIRO

3.1 Constituição da pesquisa nas relações cotidianas na Educação Infantil da EME

3.1.3 Composição dos encontros

Imagem 6: Poesia que escrevi em 12 de setembro de 2017 ao reler sobre a conversa

com a cozinheira da escola.

Fonte: A autora

23LARROSA, Jorge Bondía. Sobre a lição ou do

ensinar e do aprender na amizade e na liberdade. In:

Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas.

Belo Horizonte: Autêntica, 1999, p. 139-146. Era da janela da cozinha,

que se anunciava o cheiro da comida Foi da janela da cozinha,

Que pude dialogar sobre a chita Pela janela que senti,

Isso quer dizer que uma nota de campo poderia apresentar vários encontros num mesmo dia, seja com as crianças, seja com os adultos.

Na tentativa de entender a dinâmica dos encontros que aconteciam na escola, o texto Sobre

a lição ou do ensinar e do aprender na amizade e na liberdade, de Larrosa (1999)23, foi muito importante. Entendi que fazer com o outro requer ampliar as possibilidades dos significados e pluralizar os sentidos. Há nessa relação uma disposição, o interesse de estar com o outro pelo diálogo, pela conversa, mas ao mesmo tempo há um respeito e compromisso com o silêncio e com a escuta da palavra do outro, constituindo uma experiência de amizade. A leitura desse texto conduziu-me à reflexão da minha condição de sujeito/pesquisadora na relação com os adultos e especialmente com as crianças, relação de amizade, a que Larrosa (1999, p. 139) se refere como a “[...] curiosa forma de comunhão com os outros”, numa unidade que compreende e preserva as diferenças existentes.

Com a releitura das notas de campo, também compreendi que eram permeadas de encontros na escola que aconteciam sem um planejamento prévio. Houve convites inesperados permeados de sensibilidades, tal como apresentei acima, como a conversa que construí com a cozinheira da escola. Os encontros na escola aconteceram abertos para muitos diálogos considerando gestos, olhares, palavras, corpos, danças, músicas, dentre outras possibilidades expressivas e comunicativas. Desse modo, ser espontâneo significou abertura e flexibilidade para construir ações com base nas interações estabelecidas com as crianças. Ao mesmo tempo, ter um planejamento prévio em algumas

23LARROSA, Jorge Bondía. Sobre a lição ou do

ensinar e do aprender na amizade e na liberdade. In:

Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas.

ensinamentos, de maneira a planejar atividades ou ações para confirmar hipóteses ou compreensões sobre esses acontecimentos.

Nos cinco meses em que estive na EMEI, de agosto a dezembro de 2017, convivendo com as crianças diariamente, fui percebendo em cada gesto cotidiano uma construção gradativa das nossas relações, permeadas de sorrisos discretos de canto de boca, piscadela de olhos, corridas pelos corredores, convites, trocas de sapatos, carinho no cabelo ou toque de mãos, gestos que nos aproximavam, fortalecendo a nossa relação. Considerando esse universo de possibilidades expressivas na relação, busquei selecionar para análise, considerando as intenções e as problematizações da pesquisa, maneiras pelas quais os diálogos foram construídos com as crianças, na busca de compreender como praticavam linguagens no cotidiano da EMEI.

Os vinte e sete encontros selecionados para análise aparecem no texto, em alguns momentos, em ordem cronológica, conforme foram acontecendo cotidianamente na escola, uma vez que essa sequência corresponde aos acontecimentos e encadeamentos que compõem a história de construção de conversas com as crianças na pesquisa. Ao mesmo tempo, os encontros aparecem ao longo dos textos de análise também fora da ordem cronológica, de acordo com temas que emergiram. A apresentação das notas de campo em encontros tem o propósito de enriquecer e fortalecer as reflexões da investigação. Exercitei eleger os temas evidenciados pelas crianças com base nos objetivos da pesquisa e buscando obter respostas aos problemas formulados para esta investigação.

Como já foi dito anteriormente, utilizei os quadros laterais, apresentados ao longo da pesquisa, para apresentar os encontros destacados nas notas de campo, destacando as seguintes

informações: nota de campo com data correspondente; encontro identificado com numeral na ordem cronológica; nome da turma; grupo etário; local do encontro na escola; o horário e o tempo de duração do diálogo.

Na nota de campo do dia 12 de setembro de 2017, por exemplo, além do encontro com a cozinheira, outros encontros aconteceram. Então, aproveito esse exemplo para explicar que os encontros selecionados para análise com a participação das crianças e algumas vezes com a participação de adultos da escola, tal como é o caso do trecho24 do Encontro 2, apresentado ao lado, aparece identificado com número da ordem do acontecimento. Essa opção de numerar os encontros deve-se ao fato de buscar uma organização para a composição da história da construção da relação com as crianças, mesmo que ao longo dos textos de análises em alguns momentos não estão organizados desse modo.

Nesse trecho do Encontro 2, registrei o momento que, enquanto conversava com a cozinheira, algumas professoras e educadoras se aproximaram para ouvir sobre o que falávamos e, depois, ao longo do dia, perguntaram-me sobre o que eu fazia na escola. Para essas pessoas, pude contar que eu também era professora de crianças pequenas em outra escola e sobre o tema desta pesquisa – linguagens e crianças. As informações que forneci foram um alívio, já que não estava na escola para observá-las ou criticar o trabalho realizado nem tomar o lugar de alguma delas

Busquei apoio em Sarmento (2011) quando explica que a entrada do investigador no campo estabelece inevitavelmente novas relações sociais. As formas de comunicação vão se estreitando à

NOTA DE CAMPO - 12/09/2017

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