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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. IMPORTÂNCIA E MONITORAMENTO DAS PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DISPOSTOS EM ATERROS SANITÁRIOS

2.2.1. PROPRIEDADES FÍSICAS

2.2.1.1. COMPOSIÇÃO FÍSICA

A composição física consiste na separação em forma de grupos para os diferentes elementos constituintes dos RSU, podendo ser divididos em materiais orgânicos, papeis, papelão, plásticos (sacolas, garrafas), vidros, metais, couros, borrachas, tecidos, madeiras, solo e pedras, entre outros. Seguidamente, estes grupos de elementos podem ser expressos em termos de:

composição em peso ou composição gravimétrica; expresso pelo percentual de cada componente em relação ao peso total da amostra;

composição volumétrica; expresso pelo percentual em volume de cada componente em relação ao volume total da amostra.

A composição física é uma das características de maior influência nas propriedades mecânicas (resistência e compressibilidade) dos RSU dispostos em aterros sanitários. Além disso, permite estimar o potencial de geração de gás (valor energético) a partir do conhecimento básico da quantidade da fração biodegradável.

Como comentado anteriormente, os resíduos sólidos urbanos num aterro sanitário, caracterizam-se por serem formados por três fases: sólida, líquida e gasosa. Num primeiro momento, tem-se o domínio da fase sólida; após algum tempo, devido aos processos de biodegradação, destacam-se as fases líquida (chorume) e gasosa (dióxido de carbono CO2, metano CH4 e outros). Essas duas últimas fases estão relacionadas aos processos de decomposição do resíduo ao longo do tempo, os quais estão diretamente associados ao teor de umidade, conteúdo orgânico de RSU e condições climáticas.

Em termos de comportamento mecânico, num aterro sanitário, diferentes tipos de “partículas” podem estar presentes nos RSU e são convencionalmente classificados como seguem (Dixon & Langer, 2005; Hudson et al., 2004; Grisolia et al. 1995; Landva & Clark, 1990; ETC8, 1993).

• Classe A: materiais estáveis inertes;

• Classe B: materiais altamente deformáveis. Sendo incluídos: a) partículas esmagáveis ou frágeis (garrafas de vidros e latas), que podem liberar gás ou líquido, resultando uma diminuição aparente em volume ocupado pela partícula quando ocorre o esmagamento ou a ruptura; b) partículas compressíveis, maleáveis ou de outras formas de deformação, que trocam de forma e volume quando a tensão é incrementada.

Wilber Feliciano Chambi Tapahuasco Página 11 • Classe C: materiais degradáveis, que trocam de volume ou trocam da fase sólida

a líquida ou gás devido à decomposição.

Devido à grande variedade de materiais presentes nos RSU, uma aproximação prática é identificar grupos principais de materiais (Dixon & Langer, 2006). Por exemplo, o método de composição dos resíduos sólidos, utilizado pelo Departamento Americano de Qualidade Ambiental (2007), usa os seguintes grupos principais: Papeis; plásticos; produtos orgânicos (restos de poda, madeira, restos de alimentos, pneus, materiais têxteis, tapete, etc.); vidro; metais; outros produtos inorgânicos (tijolo, entulho, gipsita, etc.); desperdícios médicos /outros materiais perigosos; materiais não classificados. Grisolia el al. (1995) classifica os elementos dos RSU em grupos de materiais orgânicos putrescíveis (resíduos alimentares, de jardinagem e de varrição e aqueles que apodrecem rapidamente); orgânicos não putrescíveis (papéis, madeiras, tecidos, couros, plásticos, borrachas, tintas, óleos e graxas); inorgânicos degradáveis (metais); e inorgânicos não degradáveis (vidros, cerâmicas, solos minerais, cinzas e entulhos de construção). A precisão da escolha dos componentes da composição física dos resíduos vai depender do objetivo específico do trabalho a ser realizado, por exemplo, com fins de determinar o potencial de geração de gás, reciclagem, etc.

A composição física dos resíduos sólidos urbanos assim produzidos varia bastante de uma região para outra e, em geral, está relacionada com os níveis de desenvolvimento econômico, tecnológico, sanitário e cultural das mesmas (Boni ET AL., 2006; Durmusoglu et al., 2006; Santos & Presa, 1995). Tomando como referência algumas cidades importantes do Brasil, pode-se comentar que do total dos RSU produzido no país mais de 50 % correspondem a materiais orgânicos degradáveis (Tabela 2.1).

A partir de dados coletados de outros autores, a Tabela 2.1 apresenta a composição gravimétrica dos RSU em diversas cidades do Brasil.

Componentes Materiais putrescíveis

Papel/papelão Plástico Metais Madeira/couro/vidro/ Borracha/outros Brasília1 50 26 15 2,5 6,5 Belo Horizonte2 61,6 9,5 10,9 2,3 15,7 Curitiba 3 66 3 6 2 23 Maceió4 50 16 13 3 18 Palmas5 63 10,7 11,4 5,9 9

Tabela 2.1 – Composição gravimétrica de resíduos sólidos urbanos em cidades do Brasil, em % peso úmido.

Wilber Feliciano Chambi Tapahuasco Página 12 Porto Alegre3 74 11 6 4 5 Salvador6 70 16 10 1,5 2,5 São Paulo7 58 13 16 2 11 Rio de Janeiro8 60,7 13,5 15,3 1,6 8,9 Recife9 46,3 12,2 19,4 1,9 20,2

Não obstante, muitos autores preferem apresentar a composição física dos resíduos em termos gravimétricos (% em peso); é importante e recomendável, fazer, paralelamente, a composição física volumétrica (% em volume). Isto devido à existência de muitos elementos de baixa densidade que ocupam volumes significativos, como é o caso dos resíduos gerados na cidade de Recife, onde os materiais plásticos apresentam-se em proporções menores em peso em relação aos materiais orgânicos e, curiosamente, apresentam-se em proporções maiores em % de volume (Tabela 2.2). Desta maneira, Mariano et al. (2007) comenta que as análises de composição volumétrica servem como indicador de quanto cada tipo de resíduo ocupa em volume das células de aterramento e mostra que a falta de programas de reaproveitamento e reciclagem fazem com que os aterros diminuam a sua vida útil de forma bastante significativa.

A continuação, a Tabela 2.2 apresenta em termos de comparação, a composição gravimétrica e volumétrica para os resíduos gerados na cidade de Recife/PE.

Componentes Composição Gravimétrica Composição Volumétrica solta * Composição Volumétrica compactada Matéria orgânica 46,3 23,1 26,1 Papel/papelão 12,2 15,1 12,9 Plásticos 19,4 45,7 40,6 Madeira 2,7 2,4 2,6 Têxteis 3,5 3,1 2,6 Borracha e couro 0,8 0,8 1,1 Metais 1,9 2,0 2,4 Vidro 1,0 0,5 0,6

1Junqueira (2000); 2SMLU (2003); 3Oliveira (2001) apud Boscov (2008); 4Universidade Federal de Alagoas (2004); 5Naval & Gondim (2001); Santos & Presa (1995); 7Limpurb (2003); 8Comlurb (2005);

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Mariano et al. (2007).

Tabela 2.2 – Composição gravimétrica e volumétrica dos resíduos sólidos urbanos da cidade de Recife, realizado em condições naturais e expresso em % (Mariano et al., 2007).

Wilber Feliciano Chambi Tapahuasco Página 13

Fraldas 3,6 3,2 3,2

Coco 6,0 3,3 7,2

Outros 3,1 0,8 0,7

*Não especifica o valor da carga aplicada sobre cada componente de RSU