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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.5. Compostagem

2.5.9. Compostagem de resíduos da Indústria da pasta e do papel

As lamas compostadas, como o próprio nome indica, são obtidas submetendo as lamas a um tratamento relativamente prolongado (3-4 meses), durante o qual através do controlo de alguns parâmetros ambientais se proporciona a acção de microrganismos.

Estas lamas caracterizam-se muitas vezes por serem pobres em nutrientes (sobretudo as primárias), não sendo facilmente compostadas isoladamente devido a um elevado rácio C:N, a adição de fertilizantes ou materiais com elevado conteúdo em N aumenta a degradação microbiológica sem consequências nefastas para o N absorvido pelas plantas (Zhang et al., 1993; Feagley et al., 1994, Bellamy et al., 1995; Norrie & Gosselin, 1996). A elevada quantidade em celulose, lenhina e cinzas tornam também o material difícil de degradar para os microrganismos. Promover um ambiente que leve ao aumento de organismos celulósicos será a chave do aceleramento da estabilização. A lama da IPP compostada (quadro 10) apresenta em relação às lamas primárias e secundárias, um teor de matéria orgânica muito mais baixo e, sobretudo em relação á lama primária, um teor de macronutrientes principais, fósforo e potássio mais elevados

56 do que na lama secundária, facto que resultará, certamente, de aqueles elementos terem sido aplicados no processo de compostagem.

Quadro 10.Características das lamas celulósicas.

Parâmetros Lamas primárias Lamas secundárias Lamas compostadas

Matéria Orgânica (%) 81,30 89,77 32,80 Azoto (N, %) 0,05 1,69 1,07 Fósforo (P2O5, %) 0,05 0,74 2,00 Potássio (K2O, %) 0,09 0,80 2,51 Cálcio (Ca, %) 5,30 5,50 6,64 Magnésio (Mg, %) 0,05 0,23 1,13 Razão C:N 943 29 18 Fonte: Santos (2001)

Á semelhança do que se verifica nas lamas secundárias, mas em muito maior extensão as lamas compostadas não apresentam, pelo menos em termos teóricos, factores limitantes à sua utilização. Ficam no entanto restrições de natureza prática e económica, já que não é possível incorporar correctamente quantidades muito elevadas e se trata de produtos que ao contrário das lamas frescas poderão ser agora vendidos aos agricultores a preços relativamente elevados (Santos, 2001).

Evanylo & Daniels (1999) num estudo em que realizaram a compostagem de lamas da IPP verificaram que se produziu um composto estável num intervalo de 8-12 semanas. A razão C:N e o teor em nutrientes indicaram que o composto tem elevada qualidade, uma fertilidade média no crescimento e apresenta-se melhor do que um fertilizante orgânico como fonte de nutrientes e na melhoria da estrutura do solo. A sua aplicação poderá ter um acréscimo na capacidade de retenção de água com a adição de turfa, mas os autores verificaram que também se pode conseguir essa melhoria através de uma melhor homogeneização durante a compostagem.

Trabalhos anteriores realizados por Marche et al., (2001) mostraram que a compostagem de lamas da IPP com a adição de resíduos de madeiras duras pode alcançar grande sucesso se operações chave tais como arejamento, humidade, C:N forem optimizados.

Estudos de campo têm demonstrado a viabilidade das lamas da IPP para compostagem (Campbell et al.; 1995; Line, 1995; Rantala et al., 1999).

57 Carter (1983) efectuou com sucesso a compostagem em grande escala de lamas primárias e secundárias misturadas com cascas de eucalipto. Foi observada uma degradação da celulose de 40% para 19% durante a compostagem. O processo com arejamento forçado levou um mínimo de 60 dias e em alguns casos 90 dias. Altas taxas de degradação foram encontradas quando o material foi misturado com estrume de bovino que poderá ter introduzido uma população de organismos degradadores da celulose o que acelerou o processo.

Os resíduos da IPP compostados quando aplicados em solos arenosos podem aumentar o teor em carbono do solo, estabilizar o C e um aumento da disponibilidade de água para as plantas de 5 a 45% segundo pesquisas realizadas por Foley et al., (2002).

Simard et al., (1998) aplicaram lamas de papel compostadas misturadas com estrume seco (0,10 e 15 t/ha) antes da plantação da couve repolho (Brassica olercea var.capitata L.), e observaram que a produção foi significativamente menor em comparação com fertilizantes minerais de azoto misturados com lamas frescas, devido a uma imobilização de N.

Brito (2005) investigou as respostas de culturas de alfaces (Lactuca sativa L.) após a aplicação de resíduos urbanos e lamas da IPP compostadas e verificou uma acumulação de matéria seca que aumentou com a subida das concentrações de lamas compostadas. Sippola et al., (2003) estudaram várias proporções de lamas da IPP compostadas para a produção de cevada mas não verificaram diferenças significativas entre as produções que receberam fertilização mineral e as que receberam composto e fertilizantes. Contudo, houve um efeito decrescente de fertilização do composto durante o primeiro ano indicando uma imobilização e indisponibilidade de N.

Por sua vez, Evanylo & Daniels (1999) sugerem que as lamas da IPP compostadas são melhores para fornecer os nutrientes necessários para o pimento verde (Capsicum

annum L.) comparadas com fertilizantes comerciais. Inversamente, Campbell et al.,

(1995) demonstraram que mistura de resíduos da IPP compostadas e estrume bovino são inibidores para o crescimento do tomate (Lycopersicon esculentum), mas sustentável para o crescimento de choupos (Populus spp).

Uma avaliação de parâmetros bioquímicos e microbiológicos efectuados por Cunha- Queda et al., (2007) da compostagem de resíduos da IPP com casca de eucalipto e de

58 pinho demonstraram uma maior actividade microbiológica durante a fase termofílica (> 40 º) do processo. Os valores máximos ocorreram na fase termofílica e mesófilica ( < 40º), e a maior actividade enzimática ocorreu na biomassa de casca de eucalipto..

Rantala et al., (1999) aplicou lamas da IPP compostadas para cultivar cevada em duas taxas diferentes baseadas na quantidade de P e K suplemetados com N (90 kg/ha), os campos de cevada com a aplicação das lamas compostadas tiveram a mesma produção como as fertilizadas por fertilizantes comerciais de NPK.

Vários autores consideraram os efeitos da adição de cinzas às lamas da IPP para compostagem e verificaram que ajuda a alcançar os teores de desejados de matéria seca no inicio da compostagem, aumentando a porosidade da lama, que por sua vez reduz a densidade e, mais importante ainda, aumenta o fluxo de oxigénio no composto. A adição de cinzas da madeira efectivamente aumenta os macro e micronutrientes do produto final incluindo o fósforo, potássio, magnésio, cálcio, cobre e zinco (Koivula et

al., 2004).

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