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1. Introdução

Após termos discutido no Capítulo II as bases teóricas subjacentes à concretização prática dos sistemas verbais inglês e português, estamos agora em condições de abordar esses mesmos sistemas detalhadamente, embora apenas no que diz respeito à expressão do “passado” inerente às duas línguas.

Nesse sentido, começaremos por estudar as duas possibilidades de que o Inglês dispõe para exprimir uma acção passada (secção 2.), analisando, de início, cada uma delas isoladamente e contrastando-as depois entre si, para mais facilmente nos apercebermos dos significados chave identificativos das formas verbais em causa.

Passaremos, então, à expressão do conceito de “passado” em Português (secção 3.), conceito esse que se traduz, na prática, por três possibilidades concretas e distintas, que serão, do mesmo modo e, com o mesmo objectivo, examinadas independentemente umas das outras e contrastadas.

Por fim, procederemos a uma análise envolvendo as duas línguas (secção 4.), no âmbito da qual os tempos verbais ingleses e portugueses estudados separadamente na esfera específica do passado serão contrastados em termos dos seus contextos de utilização prática, para que possamos reflectir, de forma pormenorizada e sistemática, sobre as possíveis diferenças e semelhanças encontradas, a este nível, entre os dois sistemas verbais.

2. A expressão do “passado” em Inglês

“It is well known that English has two chief ways of indicating past time by means of the verb: the Past Tense (I worked, he wrote, etc.) and the Perfect Aspect (I have worked, he has written, etc.).” (Leech, 1987, p. 35).

São de facto estas as duas formas verbais com que nos iremos ocupar de momento: Simple Past e Simple Present Perfect. Analisaremos ambas tanto a nível formal, como semântico, embora este último seja, compreensivelmente, o que nos merecerá maior destaque.

2.1. Simple Past

Time A time before now, earlier than now.

Attitude Describes something which began and ended before the present, i. e. it describes

a completed act.

(Allsop, 1983, p. 156). Ao abordarmos a forma do Simple Past, há uma questão que unanimemente se impõe, dada a sua pertinência neste contexto: a da distinção entre verbos regulares e irregulares.

Os primeiros constituem uma classe aberta, que forma o Simple Past acrescentando um morfema com três variantes: /id/ depois das oclusivas alveolares t ou d (wanted, prodded, added, hated, ended, rested), /d/ após outros sons sonoros consonânticos ou vocálicos (rubbed, hugged, pulled, tied, loved, called) e /t/ a seguir aos sons surdos /k/, /f/, /p/, /∫/, /t∫/ (walked, sniffed, hoped, washed, watched). Reconhece-se tradicionalmente a identidade de função entre estas três formas, pelo uso duma representação gráfica comum

para o morfema -(e)d, por vezes precedido pelo dobrar da consoante final da palavra base (o infinito), como se pode ver pelos exemplos1.

Os segundos apresentam um vasto leque de diferentes tipos de formação do passado, impossível de aprender de outro modo, que não seja o duma prática persistente. Dado constituírem uma classe praticamente fechada, é normal encontrá-los ordenados por listas em gramáticas, dicionários e mesmo nalguns manuais2.

À excepção do verbo to be, as formas de passado, tanto dos verbos regulares, como dos irregulares, são invariáveis, o que significa que não se alteram face a determinadas categorias morfológicas como sejam a Pessoa e o Número.

Posto o que acabámos de referir, importa salientar, no que respeita aos verbos ingleses, que a oposição non-past/past não é estabelecida por uma diferença regular de forma. A maioria dos verbos tem, de facto, uma forma de passado que contrasta com a do presente (mesmo os verbos invariáveis têm como diferença, no passado, a não modificação da 3ª pessoa do singular), mas esse contraste pode assumir tantas concretizações práticas, que é preferível encararmos a função como a base da oposição. Mais tecnicamente falando, o que interessa, pois, é uma diferença de distribuição quanto ao tipo de co-texto e contexto em que as formas verbais ocorrem.

Passemos então à caracterização dos diferentes usos do Simple Past. Parece não haver dúvidas quanto à sua utilização mais comum. De facto, segundo todos os autores consultados3, ela diz respeito ao relato de acontecimentos passados, no âmbito dos quais se salientam dois elementos de significado: por um lado, a existência dum tempo definido no passado (um ponto particular ou um período) e, por outro, a ocorrência de acções completamente terminadas nesse tempo específico (note-se a exclusão total do momento presente), que tanto pode estar expresso como subentendido.

1 Sobre as várias regras ortográficas que se aplicam à formação do Simple Past no caso de verbos regulares,

ver , por exemplo, Murphy (1985, pp. 267-268), Aitken (1995, p. 35) ou Swan & Walter (2001, p. 42).

2 Strang (1968, pp. 147-151) apresenta pormenorizadamente seis casos diferentes de formação irregular do

passado.

Ainda sobre a distinção entre verbos regulares e irregulares apenas quanto ao aspecto formal, ver Murphy (1985, pp. 265-266).

3 Corder (1960), Strang (1968), Graver (1971), Quirk & Greenbaum (1975), Leech & Svartvik (1975),

Zandvoort (1975), Barnes (1977), Kaluza (1977), Nehls (1978), Swan (1980), Thomson & Martinet (1980), Allsop (1983), Murphy (1985), Comrie (1985), Lewis (1986), Ramalho (imp. 1986), Leech (1987), Downing & Locke (1992), Alexander (1993), Aitken (1995), Swan & Walter (2001), Foley & Hall (2003), Thornbury (2004).

Em relação a esta última questão, Leech & Svartvik (1975) e Thomson & Martinet (1980) vão um pouco mais longe, ao especificarem precisamente os diferentes modos de identificar um tempo definido no passado. É possível, pois, fazê-lo através:

1. dum advérbio ou expressão adverbial de tempo passado existente na frase (tempo claramente expresso),assunto a que voltaremos mais adiante nesta secção: “I met him yesterday.” (Thomson & Martinet, 1980, p. 148); “Haydn was born in 1732.” (Leech & Svartvik, 1975, p. 66);

2. do contexto linguístico precedente (tempo especificado na primeira oração): “Joan has become engaged; it took us completely by surprise.” (Leech & Svartvik, 1975, p. 66);

3. do contexto extra-linguístico (tempo não mencionado, ou seja, subentendido): “Did the postman bring any letters?” 4 (Leech & Svartvik, 1975, p. 66); “I bought this car in Montreal.” 5 (Thomson & Martinet, 1980, p. 148);

4. do resultado obtido após uma pergunta e resposta no Simple Present Perfect: “Where have you been? I’ve been to the opera. Did you enjoy it?” (Thomson & Martinet, 1980, p. 148).

Kaluza (1977) e Allsop (1983) têm razão quando afirmam que o Simple Past não permite a distinção entre passado remoto e passado recente. A prová-lo, recordemos alguns dos exemplos já apontados: “I met him yesterday.”; “Haydn was born in 1732.”. Como vemos, o facto duma acção ter ocorrido há muito ou há pouco tempo atrás é totalmente irrelevante para uma utilização correcta do tempo verbal em causa.

Por outro lado, também a duração do acontecimento referido não tem qualquer importância neste âmbito. Facilmente o compreendemos, se tivermos em consideração o seguinte parágrafo apresentado por Allsop (1983): “I was born in a little village in the

4 Usa-se, neste caso, o Simple Past sem a ajuda dum contexto linguístico, porque se parte do princípio, por

exemplo, de que o carteiro vem sempre à mesma hora todos os dias. Podemos, pois, dizer que, mentalmente, o falante está a pensar num tempo definido.

A simples referência a um nome próprio pode, devido ao seu significado definido, fornecer também as condições necessárias ao uso do Simple Past: “Caruso was a great singer.” (Leech & Svartvik, 1975, p. 66). Obviamente a frase implica a morte de Caruso ou, pelo menos, a sua reforma profissional.

5 Mais uma vez, embora a acção tenha decorrido, sem dúvida, numa altura definida do passado, essa altura

não é indicada, mas subentendida. Em casos como este, não se trata, em geral, duma acção muito recente. Convém referir que a maior parte das vezes em que o Simple Past é empregue sem uma expressão adverbial de tempo, se deve ao facto de não interessar a especificação exacta da altura em que a acção ocorreu. Frases do tipo: “He did it.”; “You behaved very bravely.”; “They killed him.” pretendem chamar a atenção apenas para a ocorrência passada da acção; a ocasião não é mencionada por não ser conhecida ou, simplesmente, porque não importa fazê-lo.

Midlands, and went to school there until I was eighteen. We didn’t have much money, so we never had any holidays.”(Allsop, 1983, p. 156).

No que diz respeito a Kaluza (1977), o autor sintetiza as principais características do Simple Past através duma definição objectiva e até certo ponto original, inclusivamente pela forma como as palavras se encontram destacadas em letras maiúsculas: “(. . .) the preterite (. . .) is a PAST, CHRONOLOGICAL, ONE-POINT, DEFINITE tense.” (Kaluza, 1977, p. 17). É evidente a explicação dada sobre cada um destes termos. Pelo que já referimos acerca do Simple Past, vimos que ele surge geralmente com indicadores de tempo passado, tais como: that moment, yesterday, last year, etc. A sua referência temporal é, claramente, o passado. Além disso, indica, sem dúvida, uma cronologia bem patente, por exemplo, na frase: “I got up, went to the door, opened it and looked out.” (Kaluza, 1977, p. 17). É ainda considerado “a one-point tense”, uma vez que se identifica com um ponto ou segmento de tempo cronológico passado, encarado como um todo, ponto esse ou segmento que já constatámos ser vulgarmente definível.

São, pois, todos estes factores que possibilitam a utilização do Simple Past em textos narrativos, quer se trate de acontecimentos históricos reais, quer de factos imaginários, como se pode, por exemplo, verificar pela grande quantidade de ocorrências desta forma verbal (sobretudo se comparada com o número de ocorrências do Simple Present Perfect) que tivemos oportunidade de contabilizar, ao analisarmos os graded readers seleccionados para integrarem o programa de leitura extensiva a implementar no âmbito da experiência didáctica levada a cabo nesta investigação (ver a enumeração exaustiva das referidas ocorrências nos quadros do Anexo 2, bem como a sua contabilização por graded reader no Anexo 3). Por isso, encontramos em Graver (1971, p. 50) a designação de “past narrative”, sempre que o autor se refere ao que é unanimemente considerado um dos usos mais comuns desta forma verbal (neste contexto, ver também, por exemplo, Swan & Walter, 2001, p. 46 e Foley & Hall, 2003, p. 54).

Em relação ao que ficou dito, Leech (1987) salienta ainda uma outra questão importante, nomeadamente a que diz respeito à inexistência de contraste entre estado e evento no âmbito do passado. De facto, uma vez que o Simple Past se emprega apenas no caso de acções completamente terminadas, tudo aquilo a que ele se refere é, de certa maneira, um “evento”, ou seja, um acontecimento completo, unitário, tido como uma entidade total (daí a expressão “Unitary Past” – Leech, 1987, p. 13). É esse o sentido que

podemos extrair de frases como: “William Barnes was born, lived and died in his beloved country of Dorset.” (Leech, 1987, p. 13), ou ainda: “The water of the Nile sustained the prosperity of the Pharaohs for thousands of years.” (Leech, 1987, p. 13).

Contudo, há que distinguir entre este passado unitário e o passado habitual, ou seja, o que descreve um acontecimento repetido: “In those days I enjoyed a game of tennis.” (Leech, 1987, p. 13); “I rode a bicycle when I was young.” (Aitken, 1995, p. 36). Estamos, pois, perante um outro uso do Simple Past. A seguir à sua utilização mais comum, que acabámos de abordar (acções completamente terminadas no passado e num tempo definido), este é, sem dúvida, o que os autores mais referem. Fazem-no nomes como Corder (1960), Graver (1971), Quirk & Greenbaum (1975), Zandvoort (1975), Barnes (1977), Swan (1980), Thomson & Martinet (1980), Lewis (1986), Leech (1987), Aitken (1995) e Foley & Hall (2003).

Para o distinguirem do passado narrativo, Graver (1971, p. 50) e Zandvoort (1975, p. 60) optam, neste caso, pelas designações de “past iterative” e “iterative meaning” respectivamente. Zandvoort, por seu lado, chama ainda a atenção para o facto, igualmente abordado por Corder, de que este uso específico do Simple Past se serve, geralmente, de advérbios e expressões adverbiais próprios do Simple Present, tais como every day, always, whenever, every time, entre outros, visto eles contribuírem precisamente para transmitir a noção duma acção habitual; eis como exemplo: “My grandmother always went to Switzerland for her holidays.” (Corder, 1960, p. 73). Note-se que a mesma frase sem o advérbio adequado: “My grandmother went to Switzerland for her holidays.” tem um significado totalmente diferente da anterior, deixando, pois, de implicar uma actividade habitual. Nestes casos, dizem Quirk & Greenbaum (1975), recorre-se, em geral, às formas used to, ou (mais raramente) would, que possibilitam o sentido desejado: “My grandmother used to/would go to Switzerland for her holidays.”6.

Para além dos dois usos do Simple Past já referidos como expressão do passado real, há ainda um terceiro a salientar, este já menos frequente que qualquer dos anteriores

6 É evidente que as três formas verbais mencionadas – Simple Past, used to e would – não têm exactamente o

mesmo significado. Lewis considera-as formas alternativas, apenas na medida em que transmitem a mesma informação factual. Porém, a opção por qualquer uma delas indica a diferente atitude do falante face ao acontecimento em causa.

Sobre a distinção precisa entre o Simple Past, used to e would, ver Lewis (1986, pp. 72-73). Apenas sobre used to e would, ver Foley & Hall (2003, p. 57).

Especificamente sobre a forma used to e as suas possíveis implicações, que podem ou não ser canceladas pelo contexto, ver Nehls (1978, p. 42), Barnes (1977, pp. 132-133) e Thomson & Martinet (1980, pp. 137- 138).

(apenas Graver (1971), Leech & Svartvik (1975) e Thomson & Martinet (1980) o focam) e que implica a existência duma barreira, por assim dizer, entre o tempo referido e o momento presente, isto é, visa acções passadas improváveis ou impossíveis de voltar a acontecer no futuro. Por oposição ao “past narrative” e ao “past iterative”, Graver (1971) atribui a este uso a designação de “past neutral” e exemplifica-o deste modo: “He worked in a bank all his life.” (Graver, 1971, p. 50). Ter trabalhado num banco foi uma característica constante e imutável de toda a sua vida. Nesse caso, perante este exemplo, apenas duas deduções são possíveis: ou a pessoa em causa morreu, ou se reformou; o tempo verbal utilizado nada mais nos permite concluir.

Um diagrama pode ajudar-nos a compreender melhor alguns destes usos:

PAST PRESENT FUTURE

B

A / C

D

Figura 9 – Representação esquemática dos principais usos do Simple Past.

A. “John went to school yesterday.” (ponto definido no passado);

B. “I lived in New York when I was a teenager.” (período de tempo definido no passado);

C. “I saw Churchill once.” (como Churchill já morreu, o facto de eu o ver não voltará a ocorrer – a rutura entre o passado e o presente é total);

D. “Where did you file last year’s financial report?” (passado um ano, este relatório e a sua utilização são considerados como algo já completamente terminado; por isso, qualquer referência que se lhes faça leva a um “retorno ao passado”, com o objectivo de reactivar um acontecimento então ocorrido).

Em suma, abordámos até ao momento os principais usos do Simple Past, aqueles que, de facto, nos interessam, pois permitem estabelecer o contraste com a outra forma

verbal inglesa também objecto do nosso estudo, o Simple Present Perfect (ver secção 2.3.), para além de possibilitarem igualmente uma outra comparação, desta vez entre a expressão prática das noções de passado inerentes às duas línguas que nos propusemos analisar (ver secção 4.).

Contudo, como é do conhecimento geral, o Simple Past surge ainda em diversos outros contextos, dos quais importa salientar a área específica do discurso indirecto, as orações condicionais do segundo tipo (unreal conditional clauses), as orações temporais e a sua utilização depois de expressões como wish, if only, as if, as though, would rather/sooner, it is time, supposing, providing, as long as, on condition that, what if, entre outras. Limitamo-nos, no entanto, a fazer-lhes esta breve referência, dado nenhum deles ter influência directa no subsequente desenvolvimento desta investigação.

Conforme verificámos, o Simple Past tem, fundamentalmente, uma referência temporal passada, a única que de momento nos interessa, dada a especificidade do nosso tema de trabalho. Mas, para além do seu significado passado, ele surge em determinadas situações (entre as quais já referimos o caso de certas orações condicionais e das expressões em cima indicadas) com uma referência temporal presente ou futura (lembremos a não existência de correspondência directa entre tempo gramatical e tempo real, tema que abordámos no Capítulo II, concretamente nas secções 2. e 3.). É o que acontece também em relação às formas de passado dos verbos modais, que raramente marcam o passado real. Por isso mesmo Nehls (1978) as considera como metáforas temporais, quando ocorrem num desses contextos7.

Resta-nos, por último, tecer algumas considerações sobre o tipo de advérbios e expressões adverbiais que, em geral, se coadunam com a utilização do Simple Past. Os mais frequentes são, obviamente, os que se referem a um ponto ou período de tempo definido no passado:

7 De facto, sempre que uma forma de passado surge no âmbito do presente ou do futuro, a sua característica

de remoteness revela todo o seu poder metafórico, transmitindo, em particular no que diz respeito a certos contextos da conversação diária directamente relacionados com o significado presente do Simple Past, uma maior delicadeza ou respeito.

Entre outros, Quirk & Greenbaum (1975), Nehls (1978), Swan (1980), Lewis (1986), Leech (1987), Downing & Locke (1992), Aitken (1995) e Thornbury (1997) abordam este assunto.

I saw him

yesterday (morning, evening etc.) last night/week/year; last Monday just now (= a few moments ago) in the morning

on Wednesday; in June; in 1974; in the 16th century

at four o’clock

then; the other day; at that time during the war

Quadro 9 – Advérbios e expressões adverbiais vulgarmente usados com o Simple Past.

O termo ago é muito comum em contextos adequados ao emprego do Simple Past; trata-se do padrão X + AGO, sendo X uma expressão de tempo definido (three weeks ago, two hours ago, a century ago, etc), ou indefinido (some time ago, ages ago, a long time ago, etc.), consoante a informação que se pretende transmitir.

Caso se queiram expressar hábitos passados, já vimos ser necessária a presença de advérbios ou expressões adverbiais de frequência, os mesmos que se usam com o Simple Present: “We often stayed up late.” (Allsop, 1983, p. 159); “They never drank wine.”; “He always carried an umbrella.” (Thomson & Martinet, 1980, p. 149).

Há ainda a ter em conta um terceiro grupo de advérbios e expressões adverbiais, que tanto se utilizam com o Simple Past, como com o Simple Present Perfect, dando origem, no entanto, a mensagens ligeiramente diferentes, conforme aparecem associados a um ou ao outro. Observemos os seguintes exemplos (Leech & Svartvik, 1975, p. 68)8:

I saw

have seen him

today.

this week/month/year. recently.

He always/never forgot ‘s always/never forgotten my wife’s birthday.

Quadro 10 – Advérbios e expressões adverbiais usados tanto com o Simple Past, como com o Simple Present Perfect.

Tal como realça Kaluza (1977), isto deve-se ao facto do Simple Past manter sempre as suas características temporais de passado, independentemente do reforço adverbial se situar na área do presente ou mesmo do futuro. Na prática, pensemos numa frase do tipo: “We did a lot of work this morning, didn’t we?” (Kaluza, 1977, p. 17). A forma verbal em causa implica que a afirmação foi feita a qualquer hora do dia após o meio-dia. Também no caso “They intended to go there next week.” (Kaluza, 1977, p. 17), a utilização do Simple Past significa que, inicialmente, a intenção de lá ir na semana seguinte era sincera, mas, entretanto, algo aconteceu de inesperado, alterando os planos iniciais e impossibilitando-os de os concretizar.

Antes de sintetizarmos o que acabámos de expor relativamente aos diferentes usos do Simple Past, há um ponto importante, para o qual gostaríamos de chamar a atenção e que tem a ver, em particular, com o “Princípio do Uso Geral” defendido por Lewis (1986). Este princípio apela para a existência de regras gerais, isto é, de distinções primárias, que descrevem as características partilhadas por todos os usos duma dada forma. Conhecendo- se essas características, os tradicionais “usos diferentes” passam a ser encarados como sub- grupos ou sub-categorias de uso geral. A vantagem mais imediata deste princípio é a de dar ênfase às semelhanças da língua em causa, revelando-a como um sistema coerente, de modo a fazê-la parecer mais lógica, regular e mesmo mais fácil de aprender e utilizar (ver Lewis, 1986, pp. 29-38).

Nesta perspectiva, com a qual nos identificamos, parece-nos, pois, inevitável encontrar a característica comum a todas as utilizações do Simple Past, ou seja, a semelhança de significado subjacente a todos os seus usos. Quanto a nós, essa semelhança está, sem dúvida, no elemento remoto, de distanciamento, de não-actualidade da acção, elemento esse que se pode revestir de várias formas, nomeadamente as de distanciamento no tempo (a mais comum), distanciamento ao nível de relações (relações frias ou cerimoniosas), distanciamento quanto à concretização de possibilidades ou condições (possibilidades ou condições improváveis), entre outros.

Mais que uma vez aqui referimos o facto do Simple Past ter essencialmente (embora não exclusivamente) uma referência temporal de passado. Traduz, nesses casos, o equivalente gramatical para o passado real. Mas é igualmente possível falar desse passado real sem utilizar o Simple Past. Há outro tempo verbal inglês também com essa finalidade

– o Simple Present Perfect – como teremos oportunidade de constatar na secção que se segue.

2.2. Simple Present Perfect

Time A moment or period of time between "before now" and "now"..

Attitude We are talking about an action which took