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Compreensão da Humanidade

No documento Nota da Edição Brasileira (páginas 32-34)

Dados e métodos evolutivos vêm sen- do usados para tratar de muitas questões re- ferentes à espécie humana — a nossa histó- ria, a nossa variabilidade, o nosso comporta- mento e cultura e, na realidade, o que signifi- ca ser humano. Alguns estudos sobre a varia- ção e evolução humanas são inambíguos e incontroversos. Outros escritos sobre a Evo- lução humana e suas implicações sociais têm sido extremamente controvertidos — e cau- saram a mesma discordância entre biólogos dedicados ao estudo da evolução e em outras esferas. Esses tópicos controversos geralmen- te contêm dados insuficientes para apoiar as alegações feitas, ou são ocasiões em que fo- ram usados, injustificadamente, dados cien- tíficos, para dar sustentação a discussões so- ciais ou éticas. Além disso, alguns escritores e jornalistas populares interpretam erronea- mente os achados da evolução e da genética humanas — o que evidencia a necessidade de uma educação mais ampla a respeito des- tas matérias.

• História humanaHistória humanaHistória humanaHistória humana.História humana Entre os principais tópi- cos de estudo da história humana, já men- cionados antes neste documento, estão as nossas indiscutíveis relações com os ma- cacos africanos, a história da evolução dos hominídeos, como revelada pelo registro fóssil, e a história das populações huma- nas modernas, na qual a Genética Evolutiva desempenhou o papel principal (Ver Box 2). Extensos estudos de genética de popu- lações, em conjunto com métodos filogenéticos, também determinaram as relações genealógicas entre populações humanas. Estas relações genéticas têm uma boa correspondência com as relações entre os grupos lingüísticos, esclarecidas pelos lingüistas usando métodos modifica- dos da Biologia Evolutiva (9). A combina- ção destas disciplinas forneceu uma base mais sólida às inferências sobre as princi- pais migrações populacionais e a difusão de sistemas culturais importantes, como a agricultura e a domesticação de animais. • VVVVariação dentro e entre populaçõesVariação dentro e entre populaçõesariação dentro e entre populaçõesariação dentro e entre populaçõesariação dentro e entre populações. As

diferenças genéticas entre as populações humanas são pequenas, quando compa- radas com a grande variação dentro delas.

Além disso, os padrões geográficos freqüentemente diferem entre um gene e outro, de onde se deduz que a diferença entre populações quanto a uma caracte- rística não parece ser útil para se preve- rem diferenças quanto a outras caracterís- ticas. Estes dados e princípios deram res- paldo aos veementes argumentos levan- tados por muitos biólogos estudiosos da Evolução contra o racismo e outros tipos de conceitos estereotipados (13, 35). • A natureza humanaA natureza humanaA natureza humanaA natureza humana.A natureza humana Um dos assuntos

mais controversos de todos é o que seria “natural” para a espécie humana. Este tó- pico desperta um enorme interesse em pessoas de todas as categorias sociais, quaisquer que sejam suas crenças a res- peito da Evolução. Em contraste com ou- tras espécies, para nós evidentemente é “natural”, por exemplo, aprender a falar e usar isto. A questão resume-se em saber quais padrões de comportamento huma- no são produtos da história evolutiva, quais são produtos do ambiente cultural e quais são o resultado de uma interação entre os dois. Behavioristas evolutivos documenta- ram, em outras espécies animais, diferen- ças resultantes de evolução em muitos tra- ços comportamentais, tendo utilizado com sucesso princípios como o da seleção parental para explicar a natureza adapta- tiva desses comportamentos. Muitos bió- logos estudiosos da Evolução, antropólo- gos e psicólogos mostram-se otimistas com relação à possibilidade de aplicação de tais princípios ao comportamento humano e têm apresentado explicações evolutivas para alguns comportamentos intrigantes que têm ampla distribuição entre as popu- lações humanas, como os tabus do inces- to e os papéis dos sexos. Outros biólogos que se dedicam ao estudo da Evolução, an- tropólogos e psicólogos mostram-se céti- cos em relação a essas interpretações e sa- lientam os efeitos do aprendizado e da cul- tura. O desafio será elaborar testes defini- tivos para essas hipóteses.

• Modelos de mudança culturalModelos de mudança culturalModelos de mudança culturalModelos de mudança cultural.Modelos de mudança cultural São fre- qüentes as analogias entre mudanças cul- turais e evolução biológica e, em certas ocasiões, elas influenciaram a construção de modelos de antropologia cultural. Al- gumas das analogias do passado foram ingênuas e erradas, como a suposição de

que a complexidade necessariamente au- menta, tanto na evolução biológica como na cultural. Mesmo as melhores entre es- sas analogias apresentam sérias limita- ções, pois alguns mecanismos de “evolu- ção” cultural diferem muito daqueles da evolução biológica. Contudo, a forma e o conteúdo dos modelos evolutivos foram usados, com as devidas modificações, para desenvolver modelos de mudança cultural (8). Alguns desses modelos levam em conta a interação entre as mudanças culturais e genéticas, já que há provas de que uma pode influenciar a outra. Os modelos mais promissores são bastante recentes e ainda não foram adequadamente testados com dados.

• Evolução na cultura popular e na inte-Evolução na cultura popular e na inte-Evolução na cultura popular e na inte-Evolução na cultura popular e na inte-Evolução na cultura popular e na inte- lectual

lectuallectual lectual

lectual. Ninguém, do mais dedicado biólo- go ao mais apaixonado criacionista, nega- ria que a idéia da Evolução teve uma enor- me influência no pensamento moderno. Incontáveis livros foram escritos sobre o impacto do Darwinismo na filosofia, na an- tropologia, na psicologia, na literatura e na história política. A Evolução foi usada (abu- sada, diríamos) para justificar tanto o co- munismo como o capitalismo, tanto o ra- cismo como o igualitarismo. Tal é o poder do conceito de evolução sobre a imagina- ção.

O fascínio exercido pela Evolução, entre- tanto, não se limita às etéreas esferas do discurso intelectual. Um benefício econô- mico que não foi medido, mas que prova- velmente é grande, decorre indiretamente do papel da Biologia Evolutiva na educa- ção de crianças e adultos num contexto de conceitos científicos e também no forne- cimento de entretenimento popular. Livros e programas de televisão sobre biodiver- sidade, história natural, as origens do ser humano e a vida pré-histórica (incluindo os dinossauros) são extremamente popu- lares e oferecem uma entrada de fácil aces- so para o pensamento científico abstrato. Muitas crianças começam a se interessar por assuntos de ciência, engenharia e meio ambiente através da exposição à história natural e, mais adiante, pela introdução aos princípios evolutivos que explicam a uni- dade, a diversidade e as adaptações da vida. Mesmo em pessoas que não seguem carreiras em ciência e engenharia, o inte-

resse pela história natural e pela Evolução acentua o pensamento crítico (a base do ideal de Jefferson de cidadãos educados). Este interesse também constitui uma con- siderável força econômica, por meio da compra de livros e revistas, brinquedos para crianças e visitas a museus e até mes- mo do cinema. (O popular filme Parque dos

Dinossauros não poderia ter sido feito sem

os novos conhecimentos sobre os dinos- sauros desenvolvidos por biólogos dedica- dos ao estudo da Evolução nos 20 anos precedentes). As multidões de visitantes de

exposições de dinossauros em museus, a popularidade da ficção científica que utili- za temas evolutivos, a cobertura dada pe- los meios de comunicação a todas as im- portantes descobertas de fósseis de homi- nídeos e a cada nova idéia importante so- bre a evolução humana, a ampla preocu- pação do público com as teorias genéticas do comportamento humano e com a pos- sibilidade da clonagem — tudo isso com- prova o fascínio, o receio e a esperança das pessoas em relação à história evolutiva e ao futuro da humanidade e do mundo.

No documento Nota da Edição Brasileira (páginas 32-34)

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