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A escassez de estudos sobre a relação dos aspectos da prosódia – especificamente a entonação - intensificou a motivação para prosseguir nas pesquisas sobre o tema, promovendo assim novos olhares para o entendimento e a importância da prosódia na comunicação humana.

Na visão de Alves (2007), a relação entre sintaxe e entonação no processo da compreensão da leitura propicia o acesso ao significado. Em um de seus estudos, publicado em 2006, ela verificou que as crianças que apresentaram pior entonação e organização temporal tiveram maiores dificuldades em interpretar a leitura. Outro estudo efetuado em conjunto por Alves, Pinheiro, Capellini e Reis (2006) corroborou este resultado verificando que crianças com melhor entonação na leitura apresentaram maior facilidade na interpretação de texto.

A entonação fornece indícios sobre a intenção da mensagem, assim como o estado emocional do falante. Ela colabora no ritmo da fala e pode afetar o significado da expressão.

Levando em consideração que normalmente a boa compreensão do texto se reflete na estruturação prosódica, exceto os casos de dificuldade de decodificação, Alves (2006) levanta a hipótese de que é a compreensão que determina a prosódia, na perspectiva do locutor, logo, na perspectiva do ouvinte de uma voz alta, é a prosódia que certamente interferirá na compreensão da leitura. De acordo com os resultados de suas pesquisas, a autora concluiu que a entonação é uma via de facilitação ao acesso do significado na leitura, embora a direção oposta também deva ser levada em consideração, ou seja, a habilidade de interpretação da leitura melhora o desempenho prosódico.

Como já se disse, a relação entre entonação e compreensão do texto confirma a coexistência dos processamentos top-down e botton-up. Nesta perspectiva Cohen et al. (2001) investigaram a influência da prosódia e do seu

“correspondente visual” - a pontuação - na compreensão de texto, em dois experimentos. No primeiro os autores tiveram como objetivo verificar o papel da prosódia na compreensão do ponto de vista do discurso e no reconhecimento de unidades lexicais, em textos apresentados auditivamente sob três condições: a) normal; b) em monotom; c) padrões prosódicos alterados. Obtiveram resultados que indicaram melhor compreensão sob condição normal do que em monotom ou em condição alterada. Além disso, o reconhecimento de palavras foi melhor quando a prosódia era normal. No segundo experimento, os autores tiveram o objetivo de verificar o papel da pontuação na compreensão do texto e no reconhecimento de unidades lexicais em textos visualmente apresentados sob três condições: a) normal; b) sem pontuação; c) com a pontuação alterada. Os resultados indicaram melhor compreensão quando a pontuação era normal do que quando estava ausente ou alterada, embora a ausência ou alteração da pontuação não tenham impedido a compreensão. No entanto, a ausência de estruturação prosódica provida pela pontuação prejudicou o reconhecimento de palavras.

De acordo com os achados da pesquisa descrita por Cohen et al. (2001), é possível notar que a ausência de pontuação não impediu a compreensão do texto apresentado visualmente, entretanto na condição auditiva foi verificada grande dificuldade na compreensão. Os autores ressaltaram que as habilidades de percepção prosódica (auditiva) e da pontuação (visual) mesmo que numa perspectiva de relação, envolvem dois processamentos distintos sem relação direta um com o outro. Afirmam que, no caso de leitores proficientes, a ausência da pontuação não é capaz de interferir significativamente na organização prosódica, e que a habilidade de processamento prosódico na leitura pode acontecer normalmente. Contudo, ressaltam que a leitura prévia do texto possibilita ao leitor a oportunidade de organização semântica e estruturação sintática, levando-o a uma manifestação prosódica coerente com a sua própria estruturação.

Ademais, estudos de Schwanenflugel et al. (2004) sugerem duas hipóteses sobre a relação entre prosódia e compreensão da leitura. A primeira presume que a prosódia serve como um mediador parcial entre a velocidade de decodificação e a compreensão da leitura. Isto significa que, quando a criança adquire habilidades

automáticas de decodificação, ela pode transferir sua atenção para outras funções superiores de leitura, como a prosódia em situações de leitura oral, por exemplo. A segunda hipótese sugere que a prosódia na leitura seria um reflexo da boa compreensão e habilidades de decodificação, isto é, que a compreensão da leitura é preditor da leitura com prosódia.

Corroborando as hipóteses de Schwanenflugel et al. (2004), é possível verificar que as crianças com maior habilidade em decodificar e compreender o que lêem são mais aptas a utilizar a prosódia e a estruturar, sintática e semanticamente, os enunciados quando lidos em voz alta. Por isso, nesta abordagem, a compreensão é vista como um copreditor da prosódia na leitura, juntamente com a velocidade de decodificação.

Compartilhando dos pressupostos de Kuhn e Stahi (2003) e Schwanenflugel et al. (2004), Alves (2007) considera que a prosódia, por si só, não pode ser uma determinante da fluência na decodificação de palavras, mas pode ser considerada como uma medida diagnóstica para a qualidade da decodificação de palavras e compreensão da leitura.

Autores como Schreiber (1991), Kuhn e Stahi (2003) e Breznitz (2006) afirmam que aspectos prosódicos da leitura são essenciais para uma efetividade na compreensão da leitura de textos.

Sendo assim, pode-se dizer que, para alcançar um nível proficiente de leitura (de decodificação e compreensão), é necessário que o leitor participe de um processo educacional apropriado e isso inclui receber instruções adequadas quanto aos aspectos prosódicos da linguagem.

Com base nos estudos realizados até o presente momento, fica claro que muitas pesquisas ainda deverão ser realizadas para melhor elucidar a questão da prosódia/entonação nos modelos que abordam o processamento da linguagem oral e da linguagem escrita. A relação entre as múltiplas habilidades cognitivas e metacognitivas envolvidas tanto na linguagem oral como na linguagem escrita é um permanente convite à novas investigações no vasto campo da comunicação humana.

3 – METODOLOGIA