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4.4. REGRESSÃO DOS DIREITOS E COMPRESSÃO SALARIAL NA NOVA CARREIRA DO

4.4.2. A compressão salarial na nova carreira do Magistério Superior e a diversificação das formas

docente universitário/a.

As novidades na remuneração docente trazidas pela nova carreira do Magistério Superior (Lei 12.772/12) devem ser compreendidas como parte de todo o contexto analisado até aqui. Como vimos, o esvaziamento e a desestruturação dos princípios contidos na carreira anterior são parte da retração dos investimentos em políticas sociais públicas no âmbito do orçamento federal. Esses indicadores são importantes para a compreensão da diversificação das formas de remuneração do/da docente universitário em meio às políticas de ajuste fiscal.

As Leis Nº 12.772/12, Nº 12.863/13 e Nº 13.325/2016 regulamentam em apenas quatro artigos a estrutura remuneratória da carreira do Magistério Federal. A composição é formada pelo Vencimento Básico (VB) e pela Retribuição por Titulação (RT), conforme o Art. 16 e o Art. 17 da Lei de 2012:

Art. 16. A estrutura remuneratória do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal possui a seguinte composição: I - Vencimento Básico, conforme valores e vigências estabelecidos no Anexo III, para cada Carreira, cargo, classe e nível; e II - Retribuição por Titulação - RT, conforme disposto no art. 17.

Parágrafo único. Fica divulgada, na forma do Anexo III-A, a variação dos padrões de remuneração, estabelecidos em lei, dos cargos do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal. (Incluído pela Lei nº 13.325, de 2016)

Art. 17. Fica instituída a RT, devida ao docente integrante do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal em conformidade com a Carreira, cargo, classe, nível e titulação comprovada, nos valores e vigência estabelecidos no Anexo IV. (BRASIL, 2012a)

Nota-se que a regulamentação da composição remuneratória é omissa em relação aos critérios de variações entre degraus, regimes de trabalho e titulações, remetendo-os às tabelas anexas. A Lei 12.863/2013 projetou tabelas para o período 2013-2015 e a subsequente Lei 13.325/16 para o período 2016-2019. A composição da remuneração por duas variáveis e a ausência de critérios de variações definidos em Lei coloca a remuneração docente subordinada à volatilidade das prioridades orçamentárias de cada governo, descaracterizando a estrutura de uma carreira docente pautada em princípios,

“tais como: autonomia de gestão, democracia, indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, financiamento estatal, regime jurídico único, isonomia com salário integral, estabilidade, paridade na aposentadoria, regime preferencial de dedicação exclusiva” (PAULA; 2012, p. 54)

Tal esvaziamento de uma estrutura lógica regulamentada remete ao real propósito da nova forma de remuneração, que passa a estar crescentemente subsumida às prioridades orçamentárias voltadas para os compromissos com o capital financeiro em detrimento da concepção de universidade vigente até então. A análise das tabelas anexas atualizadas pela Lei 13.325/16 permite afirmar ainda com mais vigor este argumento, podendo-se perceber que o regime de dedicação exclusiva segue em plena descaracterização.

A proporção entre o vencimento básico do Regime de Dedicação Exclusiva e o de Regime de 20h era de 3,1, mas em 2019 será reduzida para 2, extinguindo a relação histórica que garantia a manutenção de docentes em regime de Dedicação Exclusiva e que foi responsável pelo aprofundamento do caráter público das universidades federais brasileiras [...]. Na prática, o vencimento básico do Regime de Dedicação Exclusiva desaparece e torna-se igual ao antigo Vencimento Básico do Regime de 40h. (ANDES-SN, 2018b, p. 4) A referência ao ano de 2019 se justifica por dois motivos: em primeiro lugar, é o ano em que as planilhas contêm uma relação percentual lógica entre os diferentes regimes de trabalho, as retribuições por titulação, os degraus e as classes na carreira do Magistério Federal. Até a projeção feita no anexo para o referido ano, não há qualquer congruência nas tabelas remuneratórias do Magistério Federal.

Em segundo lugar porque o ano de 2019, é tido como “ponto de chegada” da nova estrutura da carreira. Isto é, como a malha remuneratória é remetida a tabelas, as projeções salariais resumem-se às tabelas já apresentadas nos anexos das Leis e, isso posto, o ponto de chegada é o referido ano de 2019. Assim, as ditas relações percentuais, embora tenham alcançado uma congruência lógica, não estão asseguradas. Não há como afirmar quais as relações entre regimes, titulações e degraus após este ano, uma vez que os critérios não estão definidos na redação da Lei. Distintas alterações podem ser propostas através de outra norma que venha a atualizar as planilhas constantes nos anexos III-A e IV dos respectivos Arts. 16 e 17 da Lei 12.772/12. Portanto, a análise sobre a remuneração do Magistério Superior só pode ser feita até o ano de 2019, restando incerto o período subsequente.

Então, analisando as tabelas para o ano de 2019, a relação entre o VB do Regime de 40h e o do regime de 20h, que era 2 até a nova carreira, passa para 1,4, fazendo com que dois vínculos em regime de 20h recebam um VB maior que um de 40h. Bem entendido, a relação dos VB entre os três regimes é a seguinte: o regime de DE recebe o dobro que o de 20h, isto é 100% a mais, para dedicação integral e exclusiva ao trabalho na universidade pública. Já o regime de 40h trabalha em jornada dobrada em relação ao de 20h, para ter um acréscimo do VB equivalente a 40% (BRASIL, 2016c). Através desta relação é possível perceber que o regime de Dedicação Exclusiva é o que sofreu maior desvalorização em relação ao vencimento básico no contexto da nova carreira, pois legalmente não pode ser combinado com nenhuma outra atividade laboral. Contudo, podemos adiantar que o pressuposto embutido no encolhimento do vencimento básico dos três regimes de trabalho no Magistério Federal é o estímulo à busca do/da docente por diversas formas de complementação salarial.

Os critérios contidos nas planilhas anexas à Lei 13.325/16 revelam ainda outros elementos que desvalorizam a carreira docente, em especial o regime de dedicação exclusiva. Quanto às classes, também considerando o ano de 2019, nota-se que há uma valorização profundamente desequilibrada. Enquanto a ascensão às classes B e C, respectivamente denominadas Assistente e Adjunto, faz jus a um acréscimo de 5,5% do vencimento básico em relação à última posição na classe anterior, a ascensão à classe D, denominada Associado, implica um acréscimo de 25% do VB. E a ascensão à classe E, denominada Titular, acrescenta 10% ao vencimento básico em relação à posição anterior. (BRASIL, 2016c)

Com esses dados, podemos interpretar uma valorização exorbitante da classe D, denominada Associado, quanto à remuneração no quesito vencimento básico. Contudo, como vimos, as atribuições de um/a docente nesta classe em nada difere das atribuições dos/das docentes que se encontram posicionados/as nas classes precedentes da mesma carreira. Como a nova estrutura da carreira trazida pela Lei 12.772/12 foi concebida de forma heterônoma, isto é, sem considerar as formulações e posicionamentos dos/das próprios/as docentes89, é possível deduzir que a desvalorização do início da carreira tem

89 Conforme registraram Leher e Motta (2014, p. 75): “[...] ficou patente no debate sobre as contrapropostas

do Andes-SN, [que] os problemas da carreira não se restringem [...] às perdas salariais. A consciência dos professores ao longo da greve [de 2012] pode ser aferida pelo fato inédito de que as assembleias que examinaram o projeto [de carreira formulado pelo governo] rejeitaram-no por unanimidade [...]. Mesmo uma análise muito parcial do projeto, confirma, por conseguinte, que a recusa do governo em negociar de

como pressuposto a contenção dos gastos orçamentários e que a discrepante valorização da Classe D aprofunda a diferenciação entre docente que desempenham atividades semelhantes, tendo como uma de suas principais consequências a radicalização do estranhamento no trabalho alienado do/da docente universitário.

Seguindo a mesma lógica de desequilíbrio entre as classes e regimes de trabalho na carreira docente, a Retribuição por Titulação (RT) também amplia a diferenciação entre docentes que desempenham funções similares. Afrontando o princípio de isonomia, o Anexo II da Lei 12.772/12, atualizado pela Lei 13.325/16, cria uma distorção na qual um/a docente com a mesma titulação, porém em regime de trabalho diferente de outro/a, recebe uma RT proporcionalmente distinta. Explicando, enquanto o Doutorado equivale a 115% para o regime DE em relação ao VB, para o regime de 20h, por exemplo, a mesma titulação equivale a apenas 57% do vencimento básico. Conforme o Andes-SN, esta é uma novidade trazida pela nova estrutura de carreira, em oposição à estrutura anterior. “Na forma anterior de organização, a conclusão do doutoramento tinha o mesmo peso de valorização para todos os regimes, mas, na atual lei, um doutorado realizado por um professor de 20h vale menos (a metade para ser exato).” (ANDES-SN, 2018, p. 5)

Também é desequilibrada a valorização do título de Doutor/a em relação às demais titulações. Enquanto no regime de Dedicação Exclusiva esse título acrescenta um percentual de 115% ao VB, o mestrado acrescenta 50%, a especialização 20% e o aperfeiçoamento 10%. Para o caso do Redime 20h as proporções em relação ao vencimento básico são as seguintes: 57% a mais para Doutorado, 25% para Mestrado, 10% para especialização e 5 % para aperfeiçoamento (BRASIL, 2016c). Ressalte-se que esses percentuais não são cumulativos, conforme redação original do parágrafo 2º do Art. 17 da Lei 12.772/12.

Para o conteúdo de nossas análises, é fundamental destacar que, no regime de DE, o valor da RT é maior que o vencimento básico (115%). Este é um potencial ataque à composição salarial do/da docente universitário/a, porque mais da metade de sua remuneração passa a ocorrer na forma de uma gratificação. Legalmente, gratificação é um artifício que tangencia o princípio da irredutibilidade dos vencimentos, pois tal regra

modo democrático o conflito advindo da greve se deve à força e à convicção do bloco de poder em relação ao seu projeto de Estado e de serviço público”.

aplica-se apenas ao salário propriamente dito, o que no regramento da estrutura salarial do Magistério Federal é representado apenas pelo vencimento básico (VB). A Retribuição por Titulação, tal como regulamentada pela nova estrutura de carreira e seus respectivos anexos, configura-se como gratificação, podendo seu valor nominal ser alterado a qualquer tempo, para mais ou para menos. Pode ainda, como gratificação, ser renomeada e/ou condicionada a critérios de elegibilidade como metas e premiações, a exemplo da já mencionada GED.

Todas essas relações salariais combinadas geram um resultado bastante prejudicial para toda a comunidade acadêmica. Além de um discurso eminentemente salarial, que desconsidera as peculiaridades da carreira acadêmica, reforçando distorções entre professores, [...] revela um projeto de destruição da Dedicação Exclusiva, que é uma forma de aprofundar a implementação do modo de funcionamento privatista da educação. (ANDES- SN, 2018, p. 5)

Portanto, a análise da estrutura salarial da nova carreira do Magistério Superior nos permite afirmar que há perdas em todos os níveis da carreira e para todos os regimes e titulações. Porém, é importante destacar que a maior desvalorização, não por acaso, se encontra na classe C, denominada Adjunto. Nesta classe está contido o maior contingente docente. Segundo o ANDES-SN (2018), 47,29% dos/das docentes ativos/as se encontram posicionados na classe C, de denominação Adjunto, e, nesta mesma posição, estão cerca de 60% dos/das docentes aposentados/as. Como o vencimento básico nesta classe é, pelo menos, 25% inferior à classe D (Associado) e a RT é uma proporção do VB, pode-se afirmar que a principal desvalorização na remuneração do Magistério Superior encontra- se exatamente na mesma posição em que estão mais da metade do contingente docente, revelando, novamente, a real intencionalidade da estrutura remuneratória advinda com a nova lei: a contenção dos gastos do orçamento com o serviço público e seu redirecionamento para o rentismo através da dívida pública.

Com efeito, a instabilidade posta em efeitos remuneratórios subordinados a planilhas anexas das Leis, sem qualquer garantia de critérios salariais, pode agravar ainda mais as perdas salariais dos/das docentes, mediante novos ajustes em favor do capital financeiro. Neste sentido, é preciso ressaltar que a referida situação já foi ensaiada pelo governo de Michel Temer quando apresentou a mencionada Medida Provisória Nº 805/2017. Nela, o governo propunha o adiamento dos efeitos financeiros das planilhas anexas, o que na prática postergaria um modesto aumento das remunerações, projetando para o ano de 2020 o aludido “ponto de chegada” da Lei 13.325/16. Como mencionado

em nota na subseção anterior, esta medida prescreveu, mas sua intencionalidade continua a reger as investidas neoliberais.

Isso posto, não restam dúvidas de que a perspectiva neoliberal em curso busca esvaziar a perspectiva de carreira – baseada na formação continuada, na ascensão por titulação, na progressão por tempo de serviço e na valorização da dedicação integral ao trabalho docente – pondo em seu lugar uma planilha remuneratória, cuja maior parcela da remuneração docente é recebida na forma de gratificação (RT). Tal fato, resume que a carreira docente é crescentemente comprimida em termos de salário ao tempo em que é fomentada a remuneração por gratificações e por captação, isto é, através da diversificação recomendada pelo Banco Mundial, promovendo, diante das “limitações orçamentárias”, escalas salariais competitivas e incentivos por desempenho. (CERRUTI; VIOR, 2014)

Assim, a remuneração por captação faz parte da perspectiva de diversificação e vem sendo ampliada e consideravelmente incentivada pelas novas regulamentações. A venda/compra da força de trabalho docente das IFES por meio das parcerias público- privadas vem a ser a principal forma de diversificação da fonte de remuneração docente. Como vimos, as PPP’s abrem as portas para inúmeras formas de complementação na remuneração do/da docente universitário, especialmente no âmbito da pesquisa e da chamada inovação tecnológica. Vejamos como são promovidas, neste sentido, as “exceções” ao regime de dedicação exclusiva no âmbito da nova carreira do Magistério Superior:

Art. 21. No regime de dedicação exclusiva, será admitida, observadas as condições da regulamentação própria de cada IFE, a percepção de:

[...]

III - bolsa de ensino, pesquisa, extensão ou estímulo à inovação paga por agência oficial de fomento, por fundação de apoio devidamente credenciada por IFE ou por organismo internacional amparado por ato, tratado ou convenção internacional; (Redação dada pela Lei nº 13.243, de 2016)

IV - bolsa pelo desempenho de atividades de formação de professores da educação básica, no âmbito da Universidade Aberta do Brasil ou de outros programas oficiais de formação de professores;

V - bolsa para qualificação docente, paga por agências oficiais de fomento ou organismos nacionais e internacionais congêneres;

VI - direitos autorais ou direitos de propriedade intelectual, nos termos da legislação própria, e ganhos econômicos resultantes de projetos de inovação tecnológica [...]

VII - outras hipóteses de bolsas de ensino, pesquisa e extensão, pagas pelas IFE, nos termos de regulamentação de seus órgãos colegiados superiores; VIII - retribuição pecuniária, na forma de pro labore ou cachê pago diretamente ao docente por ente distinto da IFE, pela participação esporádica em palestras,

conferências, atividades artísticas e culturais relacionadas à área de atuação do docente;

[...]

XI - retribuição pecuniária, em caráter eventual, por trabalho prestado no âmbito de projetos institucionais de ensino, pesquisa e extensão, na forma da Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994; e (Redação dada pela Lei nº 12.863, de 2013)

XII - retribuição pecuniária por colaboração esporádica de natureza científica ou tecnológica em assuntos de especialidade do docente, inclusive em polos de inovação tecnológica, devidamente autorizada pela IFE de acordo com suas regras. (Incluído pela Lei nº 12.863, de 2013)

[...]

§ 1o Considera-se esporádica a participação remunerada nas atividades descritas no inciso VIII do caput, autorizada pela IFE, que, no total, não exceda 30 (trinta) horas anuais.

§ 4o As atividades de que tratam os incisos XI e XII do caput não excederão, computadas isoladamente ou em conjunto, a 8 (oito) horas semanais ou a 416 (quatrocentas e dezesseis) horas anuais. (Redação dada pela Lei nº 13.243, de 2016) (BRASIL, 2012a, sem grifos no original)

As “eventuais exceções” ao regime de Dedicação Exclusiva incluídas pela Lei 12.863/13 e, principalmente, pela Lei 13.243/16, ao Art. 21 da Lei 12.772/12, são, na realidade, a prova de que está aberta a via legal para complementação da remuneração via captação de recursos. Em especial, destaque-se o parágrafo 4º, que autoriza um dispêndio de 8 horas semanais ou 416 horas anuais pelo/a docente aos convênios e contratos produto de parcerias público-privadas. Como o salário encontra-se em processo de compressão, é imperativo afirmar como tendência a perspectiva de captação por parte do contingente docente.

[...] as exceções admitidas ao regime de dedicação exclusiva foram significativamente ampliadas, objetivando abrigar o empreendedorismo acadêmico incentivado pela Lei de Inovação Tecnológica, prevendo a percepção de “ganhos econômicos de projetos de inovação tecnológica”, contribuindo para ressignificar a universidade como organização de serviços. (LEHER; MOTTA, 2014, p. 74)

Nesses termos reside um elemento chave para análise do incremento do estranhamento no trabalho alienado do/da docente universitário/a, pois a condição mercantil de sua força de trabalho é hipertrofiada e posta numa relação mais direta com as necessidades de reprodução do capital em crise. Além disso, percebe-se que o esvaziamento do salário e o fomento da remuneração por captação individualiza os ganhos docentes por suas atividades, ampliando fortemente a fragmentação a concorrência entre pares.

[...] no lócus onde se processam as relações de compra e venda da força de trabalho, qual seja, no plano do mercado de trabalho, os contratos, salários, as jornadas e as várias formas de inserção expressam um recrudescimento da mercantilização “[...] exigindo e transferindo aos trabalhadores a pressão pela

maximização do tempo, pelas altas taxas de produtividade, pela redução dos custos com o trabalho e pela ‘volatilidade’ nas formas de inserção e de contratos”. (DRUCK apud LEDA; MANCEBO; SILVA JR, 2016, p. 742). Com a hipertrofia da mercantilização, o sujeito docente passa a se reconhecer menos no conjunto das relações que o envolvem mediante o trabalho. Colegas, estudantes, processos e produtos do trabalho, dimensão coletiva, relações sociais, condição humana, etc, tornam-se mais estranhas ao/à docente neste contexto. Em suma, a forma atual de remuneração da força de trabalho do/da docente universitário imprime uma condição ainda mais mercantilizada, reforçando o estranhamento próprio da relação de produção capitalista.

[...] o trabalhador, ao vender sua força de trabalho, aliena-se diante de sua produção e de sua condição de explorado no trabalho, estranha a si mesmo e aos outros semelhantes e, ao mesmo tempo, mantém-se numa condição de subsistência diante do trabalho, sustentado por uma reprodução social fetichizada pelo consumo [...] Aqui reside uma chave para se afirmar a mudança da natureza do trabalho do professor [...] de sua intensificação, da precarização de suas relações de vida e trabalho e de sua alienação crescente, com consequências nefastas em face [...] da mais pura negação da condição humana. (PIMENTA; SILVA JR., 2014, p. 34/37)

Para concluir esta subseção, é necessário analisar, por fim, a forma pela qual vem se convencionando, nas novas regulamentações, o acesso do/da trabalhador/a docente aos meios necessários à realização do trabalho acadêmico. Como dito anteriormente, a regressão dos recursos de custeio, como produto da queda nos investimentos em políticas públicas, vem “fazendo com que os serviços públicos passem a conviver com a falta crônica de meios e de pessoal” (DRUCK; FILGUEIRAS; MOREIRA, 2017, p. 630).

[...] sob o manto do Estado reformado, cuja lógica é a drástica redução da participação na esfera pública, os cortes das verbas para manutenção e renovação das IES são cada vez mais recorrentes, de modo que a infraestrutura física é abandonada. Todavia, o expediente mais francamente utilizado, possivelmente o mais importante, é o da redução do custo da própria força de trabalho através da implementação de uma variedade de estratégias de flexibilização/precarização que transformam as relações de trabalho e reduzem a folha de pagamento [...] (LEDA; MANCEBO; SILVA JR., 2016, p. 746) Com vemos, a redução dos custos com a força de trabalho é atravessada por cortes de recursos que afetam também a infraestrutura de trabalho e a manutenção da mesma. Podemos dizer, nesse sentido, que a captação de recursos não se resume ao aspecto remuneratório, mas resulta, muitas vezes, em única alternativa para que se tenha

acesso aos meios de trabalho necessários às atividades ordinárias, sobretudo aquelas relacionadas à pesquisa.

[...] as práticas sociais, aí incluido o trabalho docente, não dependem apenas das condições subjetivas, identificadas aqui pela [atividade] do professor que abrange a compreensão dos objetivos de sua ação de ensinar. Dependem, também, das circunstâncias ou condições efetivas de trabalho que fazem a mediação desta busca de relações mais conscientes. (BASSO; 1998, p. 6) Em muitos editais e convênios típicos das parcerias público-privadas, é comum que o/a docente captador/a disponha de recursos para subcontratar outros/as pesquisadores/as e técnicos de apoio ao projeto, e também de recursos para aquisição de meios necessários à realização do objeto contratado.

No caso das subcontratações de pessoal, é preciso destacar que as parcerias público-privadas facultam a ausência de processos públicos de seleção, favorecendo todo tipo de prática clientelista sob a forma de critérios privados de escolha. Esta modalidade de contratação é um tipo hodierno de terceirização que se avoluma e ocorre em detrimento da carreira no serviço público. Conforme destaca Leher (2018, p. 164): “O que subjaz essas medidas é a possibilidade de contratação de pessoal qualificado por meio de