• Nenhum resultado encontrado

Características sociais dos pescadores

O número de pescadores sediados no município de Ilha Comprida (SP), que apresentam algum tipo de registro da categoria (carteira do IBAMA e Instituto de Pesca) atinge a cifra de 486 pessoas, separados em 6 comunidades ou localidades (tabela 22). Estas comunidades se distribuem ao longo de toda Ilha Comprida, estando mais próxima da área de praia ou de estuário (figura 38).

Tabela 22. Número de pescadores e idade média por comunidade e total do município de Ilha Comprida (SP).

Idade

Comunidades ou Localidades Número

média mínimo Máximo

Boqueirão norte (cidade) 382 52,8 ± 13,8 18 88

Pedrinhas 48 52,2 ± 13,5 23 74 Boqueirão sul 33 38,5 ± 10,7 22 61 Juruvaúva 11 43,2 ± 10,4 24 56 Ubatuba 9 54,9 ± 12,6 33 82 Vila Nova 3 56,6 ± 13,7 47 72 Total geral 486 51,7 ± 14,0 18 88

O Boqueirão Norte é a porção do município mais habitada, incluindo vários balneários e bairros, tendo assim o maior número de pescadores registrados (382 pessoas). Fora do centro do município, a comunidade de Pedrinhas apresenta o maior número de pescadores cadastrados, com 48 pessoas, seguida do boqueirão sul (33 pessoas).

Visando obter um perfil mais detalhado das comunidades e dos pescadores do município foram realizadas 91 entrevistas (23,8% do total), coletando informações sócio- econômicas e produtivas dos pescadores. Durante as saídas de campo foi acrescido mais uma comunidade, Sítio Arthur, visto não ter sido registrada anteriormente.

Boqueirão Norte Boqueirão Sul Vila Nova Sítio Arthur Ubatuba Pedrinhas Juruvauva Ilha Comprida Cananéia Iguape Boqueirão Norte Oceano Atlântico N

A tabela 23 mostra informações sócio-econômicas dos pescadores de Ilha Comprida. De acordo com as informações coletadas nas entrevistas, os pescadores do município apresentam idade média de 40 anos (±16,3 anos) e escolaridade média próximo de 4 anos de estudo. Suas famílias são compostas, em geral de 4 pessoas, e a renda dos pescadores fica em 1,7 salários mínimos.

Na maioria são casados ou com união estável (65,6% do total) e possui registro geral (RG) como principal documento, mas apenas 20,9% dos pescadores possuem documentação de pesca. Suas habitações, em geral são próprias ou moram com parentes (principalmente com os pais), utilizando água de poço ou córrego (65,9% do total) e 68,1% possuem energia elétrica convencional, os demais ou possuem placas solares ou não têm energia elétrica. Apenas 16,5% dos entrevistados são atendidos pela coleta de esgoto e 65,9% têm coleta de lixo.

Tabela 23. Características sócio-econômicas dos pescadores de Ilha Comprida (SP), em 2003.

Média Mínimo Máximo

Idade 40,4 ± 16,3 anos 13 anos 77 anos

Escolaridade 4 ± 2 anos de estudo analfabeto 11 anos

Nº de pessoas na família 4 ± 2 pessoas 1 pessoa 11 pessoas

Renda média (bruta) R$ 413,13 ± 249,05 R$ 240,00 R$ 1.500,00

Renda média (bruta) nº de salários 1,7

Nº pessoas % solteiro 28 30,1 casado 58 62,4 desquitado 2 2,2 Viúvo 2 2,2 ESTADO CIVIL

Outros (amasiado ou união estável) 3 3,2

Registro geral (RG) 91 100,0 Carteira da Colônia 31 30,8 IBAMA 48 48,4 Capitania de Portos 21 20,9 DOCUMENTAÇÃO SEAP 21 20,9 Própria 56 70,9 Alugada 1 1,3 Emprestada 0 0,0 HABITAÇÃO

Outros (mora com pai, mãe, etc.) 22 27,8

SABESP 31 34,1

ÁGUA

Tabela 23 (continuação). Características sócio-econômicas dos pescadores de Ilha Comprida (SP), em 2003.

ELEKTRO 62 68,1

Placa solar ou gerador 16 17,6

ENERGIA ELÉTRICA Sem energia 13 14,3 SABESP 15 16,5 ESGOTO Fossa ou valas 76 83,5

LIXO Com coleta 60 65,9

Estes pescadores apontam como principais problemas a falta de infra-estrutura (38,5%), seja pesqueira ou básica, como comunidades sem energia elétrica, água encanada, entrepostos de pesca e oferta de gelo. Seguindo a falta de infra-estrutura temos a fiscalização e melhores condições de comercialização dos produtos pesqueiros, 26,4% e 22,0%, respectivamente como problemas mais citados. Embora a pesca do município dependa em grande parte do turismo, a atividade dos turistas, utilizando petrechos de pesca profissional, também foi muito citada, juntamente com a pesca predatória (tabela 24).

Mais da metade dos pescadores não apresenta outra fonte de renda (56%), sendo que trabalhos na construção civil e no comércio foram indicadas como principais alternativas de melhora da renda dos pescadores, com 7,7% ambas (tabela 25).

Tabela 24. Principais problemas encontrados pelos pescadores de Ilha Comprida (SP), em 2003.

Problemas Nº %

Falta de infra-estrutura pesqueira e básica 35 38,5

Fiscalização ineficiente 24 26,4

Comercialização 20 22,0

Atividade do turista na pesca profissional 15 16,5

Pesca predatória 15 16,5

Falta de invertimentos e assistência 13 14,3

Valo Grande aberto 11 12,1

Gestão dos recursos pesqueiros 10 11,0

Produtividade baixa 10 11,0

Alto esforço pesqueiro 9 9,9

Pesca com parelhas 4 4,4

Rede tresmalhos (feiticeira) 3 3,3

Cultivo de camarão exótico 3 3,3

Desorganização / Desunião do setor 2 2,2

Tabela 25. Atividades paralelas dos pescadores de Ilha Comprida (SP), em 2003. Outras atividades % Comércio 7 7,7 Construção civil 7 7,7 Caseiro 6 6,6 Aposentado 5 5,5 Funcionário público 4 4,4 Prestação de serviços 4 4,4 Extrativismo 4 4,4 Turismo 4 4,4

Sem atividades paralelas 51 56,0

Metade dos pescadores possui embarcação própria (53%) sendo os barcos de alumínio (voadeira) com motor de popa a mais comum (34,1% dos pescadores entrevistados), seguido da canoa a remo (12,1%) e da canoa motorizada (11%). Dos pescadores entrevistados, 23,1% trabalham com embarcações emprestadas e 24,2% não possuem embarcação.

Entre as artes de pesca utilizadas, as redes de emalhar são as mais comuns, perfazendo 68,1% dos pescadores, seguido do gerival (42,9%) (tabela 24). Nas redes de emalhar, os tamanhos de malhas mais utilizadas são de 70 mm (48,4% dos entrevistados), para pescadas e parati, seguido de 140 mm (45,2%), para corvina e bagre-branco e 110 mm (35,5%) para a tainha.

O número de pescadores que não possui algum tipo aparelho de pesca fica em 25,3%, fazendo com que os pescadores tenham que faz parceria com outros para poder praticar a atividade.

Tabela 26. Principais artes ou métodos de pesca empregada pelos pescadores de Ilha Comprida (SP), em 2003.

Artes de pesca em Cananéia %

Rede de emalhar (redes de espera, deriva ou de batida) 68,1

Gerival 42,9 Puçá 8,8 Cerco fixo 7,7 Tarrafa 4,4 Corrico de praia 4,4 Corrico de manjuba 3,3 Lanço de praia 3,3

Arte amadora (vara, carretilhas e molinetes) 2,2

Cambal 1,1

Espinhel (horizontal) 1,1

Nas entrevistas, foram percorridas 6 comunidades ou localidades, visando obter o perfil particular de cada comunidade. As informações estão na tabela 27, onde mostra o perfil sócio-econômico dos pescadores divididos por comunidade.

- Boqueirão Norte: localizada na porção norte do município, sendo a parte mais urbanizada e povoada. A pesca é praticada na praia, com principais produtos a tainha e pescada-foguete. Os pescadores, no geral apresentam idade média de 51 anos (±19 anos) e escolaridade em torno de 2 anos (± 2 anos). A maioria das pessoas é casada ou com união estável (79% do total). Trabalham na pesca, em média a 26 anos, possuindo documentação básica (RG), mas não possuem documento de pesca (SEAP). Suas habitações são geralmente próprias (75%), com água encanada e energia elétrica, coleta de esgoto e de lixo, com famílias de 4 pessoas. Estes pescadores recebem em torno de 2,2 salários mínimo, com base na pesca da tainha e pescada-foguete. Grande maioria faz da pesca seu único meio de vida (78,6%), sendo que os restantes prestam pequenos serviços ou têm estabelecimento comercial. Em relação a embarcação, encontramos que 42,9% não possuem embarcação e 14,3% trabalha em embarcação emprestada, seguido de 28,6% possuem canoa com motor e 21,4% barco de alumínio com motor de popa. As artes de pesca mais utilizadas são as redes de emalhe (50%) principalmente os tamanhos de malha de 110 mm para capturas de tainha (85,7%) e malhas de 70 mm para capturas de pescada (71,4%). Entre os problemas mais encontrados na comunidade do Boqueirão Norte, estão a pesca de parelhas junto a costa (28,6% dos entrevistados), causando pesca predatória e conflitando com os pescadores mais costeiros que trabalham com redes de emalhar; e a falta de investimento na atividade no município (21,4%).

- Boqueirão Sul: comunidade localizada na porção sul de Ilha Comprida, com principal característica o predomínio da pesca junto na praia, com capturas de pescada-foguete, corvina e cações. Os pescadores, no geral apresentam idade média de 33 anos (±13 anos) e escolaridade em torno de 5 anos (± 2 anos). Existe o predomínio de solteiros na comunidade (47,8%), seguido de casados (39,1%). Trabalham na pesca, em média a 12 anos, com documentação básica (RG) e pouquíssimos com documentos de pesca (SEAP). Metade dos pescadores possui habitação própria, com água de poço artesiano e energia elétrica apenas para 82% das habitações, não tendo coleta de esgoto e com coleta de lixo. Suas famílias possuem 5 pessoas, em média, com rendimento de 1,6 salários mínimos mensais. Grande maioria não possui atividades paralelas (81%), e o restante são funcionários públicos ou trabalham em estabelecimento comercial. Destes pescadores 72,7% não apresentam embarcação, trabalhando como tripulante ou em parceria com outros pescadores, além de ter pescadores que trabalham sem embarcação. As artes de pesca mais utilizadas são as redes de emalhe (77,3%), seguido dos pescadores que utilizam corrico de praia, arrasto de praia e cerco-fixo.

fiscalização ineficiente (50%) e falta de estrutura básica e pesqueira (45,5%), tais como a falta de energia elétrica, saneamento básico e gelo para o pescado desembarcado.

- Juruvaúva: comunidade localizada na área estuarina, com a pesca caracterizada pelo uso de redes e gerival, trabalhando com produto abatido e vivo para isca-viva. No geral apresentam idade média de 37 anos (±14 anos) e escolaridade em torno de 5 anos (± 2 anos). Maioria é casada (66,7% do total) e 26,7% são solteiros, com famílias de 5 pessoas. Trabalham na pesca, em média a 20 anos, com documentação básica (RG) e 33,3% com documentos de pesca (SEAP). Suas habitações são próprias ou moram com familiares, com água oriunda de poço artesiano e energia elétrica de placas solares, mas não possuem coleta de esgoto e a coleta de lixo atende apenas 13% dos pescadores, visto que estes moram em Cananéia e trabalham na comunidade de Juruvaúva. Seus rendimentos ficam em torno de 1,2 salários mensais, tendo o extrativismo animal (ostra e mexilhão) e vegetal (musgo e samambaia), e o trabalho no comércio como principais atividades paralelas. A maioria dos pescadores possui barco de alumínio motorizado (33,3%) e canoa a remo (33,3%). As artes de pesca mais utilizadas são as redes de emalhar (40%), principalmente com tamanhos de malha 70 mm para pescadas e parati e 140 para corvina e bagre-branco; seguido do gerival (33,3%) para captura de camarão para isca-viva. Em Juruvaúva, os problemas mais encontrados estão a falta de infra- estrutura básica (energia elétrica e água) e pesqueira (conservação do pescado – gelo), e problemas para comercialização dos produtos pesqueiros, com valores baixos.

- Pedrinhas: comunidade localizada na porção central do município, com a pesca volta a captura de camarão para isca e de peixes. A idade média dos pescadores é de 46 anos (±18 anos), com 5 anos de estudo. A maioria das pessoas é casada ou com união estável (76% do total), que trabalham na pesca, em média a 26 anos, com documentação básica (RG) e 40% apresenta com documento de pesca (SEAP). Geralmente possuem casa própria (80%), sendo que 80% possuem água potável e os demais provindos de poço artesiano e todos têm energia elétrica e coleta de lixo, mas não possuem coleta de esgoto. Suas famílias são compostas por 4 pessoas, em média, com rendimentos médios mensais de 1,6 salários mínimos vindo da pesca. A maioria possui atividade paralela, com a construção civil, os serviços de caseiros e aposentados outros rendimentos adicionais às famílias. Quase a metade possui embarcações de alumínio com motor de popa (45%), visando, principalmente a pesca com gerival. As principais artes de pesca utilizadas são as redes de emalhe (90%) e o gerival (85%), sendo a primeira visando captura, principalmente de tainha, corvina e bagre-branco e a segunda a pesca de isca-viva. Embora tenham uma pesca voltada a atender o turismo, os pescadores têm como principal problema a pesca dos turistas com petrechos profissionais (redes e gerival), atribuindo a fiscalização ineficiente a causa deste problema. Outro problema indicado pelos pescadores de Pedrinhas é o elevado número de pescadores, sejam turista ou profissionais, acarretando um alto esforço pesqueiro sobre os recursos.

- Sítio Arthur: situada na porção estuarina, é a única comunidade do município que apresenta acesso apenas por água (através de embarcação), com os pescadores voltados à pesca de peixes no estuário e isca-viva. A idade média de 35 anos (±16 anos), com 5 anos de estudo e experiência de pesca de 23 anos, em média. A maioria é solteiro (57%), possuindo documentação básica (RG) e apenas 14% têm documentação de pesca (SEAP). Suas casas são próprias (71%) ou moram com familiares (29%), com 3 pessoas, sem água tratada (utilizam poços artesianos) e sem energia elétrica convencional (utilizam placas solares ou lampião), bem como sem coleta de esgoto e lixo. Estes pescadores recebem em torno de 2,6 salários mínimos mensais, vivendo exclusivamente da pesca (71%) ou atendimento ao turista (29%). A maioria dos pescadores possui embarcação própria, principalmente voadeira (57% dos entrevistados) ou canoa a motor (14,3%). Como a principal pesca da comunidade é sobre a isca-viva, o gerival é o petrecho mais utilizado (85,7%), mas a rede de emalhar e cerco-fixo são artes de pesca importantes para os pescadores. Os tamanhos de malha mais utilizados ficam entre 110 a 140 mm (75% das redes) visando a captura de tainha, corvina, robalo e bagre-branco. A principal reclamação destes pescadores é referente a falta de infra- estrutura básica (energia elétrica, acesso e saneamento) (57,1%) e a pesca dos turistas com petrechos profissionais (57,1%), assim atribuindo este último a uma fiscalização ineficiente.

- Ubatuba: localizada ao lado do Sítio Arthur, apresenta característica principal a pesca no estuário sobre camarão para isca-viva e a utilização de redes de emalhar. Os pescadores, no geral apresentam idade média de 42 anos (±10 anos) e escolaridade em torno de 4 anos (± 2 anos). A maioria das pessoas é casada (75% do total). Trabalham na pesca, em média a 29 anos, possuindo documentação básica (RG) e 37,5% com documentação de pesca (SEAP). Todos possuem habitação própria, com água de poços artesianos e energia elétrica convencional, não possuem coleta de esgoto (utilizam fossas) e coleta de lixo. As famílias, em geral são compostas por 4 pessoas, tendo rendimentos mensais médios de 1,9 salários mínimos. Grande maioria faz da pesca seu único meio de vida (87,5%), possuindo barcos de alumínio motorizados (62,5% dos entrevistados). As artes de pesca mais utilizadas são o gerival (87,5%) e as redes de emalhe (87,5%), principalmente para a pesca de tainha, bagre-branco e robalo (tamanho de malha de 110 a 140 mm). Entre os problemas mais citados pelos pescadores está a falta de infra-estrutura (62,5%), principalmente de energia elétrica e saneamento básico, a falta de investimento sobre a atividade (50%) e a dificuldade de comercialização a valores compatíveis com os custos (37,5%).

- Vila Nova: também localizada próximo de Sítio Arthur, apresenta como principal característica a pesca de isca-viva e de siri. Têm idade média de 40 anos (±15 anos) e escolaridade em torno de 3 anos (± 2 anos). A maioria das pessoas é casada (80% do total), que trabalham na pesca, em média a

elétrica (utilizam lampião), sem coleta de esgoto, sendo utilizado fossas assépticas e apenas 20% com coleta de lixo. Suas famílias apresentam 3 pessoas, em média e seus rendimentos médios mensais ficam em torno de 1,4 salários mínimos. Praticamente todos fazem da pesca seu principal meio de vida, trabalhando com embarcações de alumínio motorizadas (80%). As artes de pesca mais utilizadas são o gerival (80%), o puçá (80%) e as redes de emalhe (60%), principalmente para a pesca de bagre-branco e robalo (tamanho de malha de 140 mm) e de tainha (110 mm) e de pescadas (70 mm). Entre os problemas mais citados pelos pescadores está a falta de infra-estrutura básica (energia elétrica e saneamento) e a falta de investimentos sobre atividade pesqueira da comunidade de Vila Nova.

As condições sociais estão na tabela 28, mostrando a diferença estrutural de cada comunidade, com os atendimentos básicos de saneamento, habitação e documentação.

De acordo com as variáveis econômicas e suas atividades produtivas podemos dividir as comunidades do município em quatro grupos:

Grupo 1. Comunidades que apresentam pesca de pequeno porte desenvolvido no estuário. Tem

Documentos relacionados