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O compromisso fordista e o impacto para a organização sindical dos trabalhadores

No documento felipedefreitasfonseca (páginas 36-46)

Capítulo I – A questão sindical nas crises e nas transformações dos padrões de acumulação e regulação do capital acumulação e regulação do capital

1- A condição estrutural da “questão social”

1.2. O compromisso fordista e o impacto para a organização sindical dos trabalhadores

Apesar do fracasso das tentativas de consolidar uma organização mundial de trabalhadores, visando a construção de um outro projeto societário, a partir da virada do século XIX para o século XX, ocorre a consolidação da classe trabalhadora como “classe para si”, como “sujeito autônomo”, inspirado pela constituição do “campo socialista”, pelas Internacionais dos Trabalhadores e pela conformação do bloco soviético. Os sindicatos atingem força significativa e o Estado capitalista, obrigado pela mobilização da classe trabalhadora, concede direitos para manter a ordem social. Mandel sistematiza: “a classe capitalista teve de fazer concessões ao proletariado para garantir sua dominação política” (Mandel, 1982, p.132).

A resposta para a crise econômica de 1929 determina a tomada de medidas pelos Estados Unidos para recuperar as taxas de lucro e conter a simpatia pelo comunismo. A adoção do binômio taylorista-fordista como padrão produtivo e os planos econômicos New Deal e Marshall foram fundamentais para a retomada do crescimento. Por meio da política keynesiana, rompendo com o liberalismo clássico, o Estado também atua para reativar a economia. Esta política econômica, por intermédio de um plano de obras públicas, volta-se, assim, para a geração de empregos, criando novas demandas para o mercado, aumentando a renda e criando leis de proteção social para redução das desigualdades (BEHRING e BOSCHETTI, 2009).

A introdução do padrão produtivo taylorista/fordista, assim como a introdução de novas máquinas, produziu um maior afastamento dos trabalhadores do controle do processo produtivo, restringindo o operário a tarefas parcelares e especializadas:

No taylorismo e no fordismo, ao contrário, o saber e a habilidade operários tendem a ser monopolizados pelo staff administrativo ou até mesmo a ser diretamente incorporados ao sistema de máquinas, provocando a expropriação dos operários em relação ao domínio do processo de trabalho e uma maior dependência em relação à organização capitalista do trabalho. (BIHR,1999, p.39)

3Trotsky, na tentativa de recuperar as teses de fundação da III Internacional e resgatar a perspectiva de um

partido mundial a serviço da revolução socialista, pouco antes de ser assassinado a mando de Stalin em 1940, funda a IV Internacional, juntamente com membros remanescentes da oposição de esquerda da Internacional Comunista.

A implementação do binômio taylorista/fordista não ocorreu de forma fácil e sem resistências. Para Bihr (1999), houve situações excepcionais, como a Primeira Guerra Mundial, assim como as perdas das ofensivas operárias e o ingresso de novos trabalhadores sem tradição sindical, imigrantes, mulheres e trabalhadores rurais no mercado de trabalho. O modelo de desenvolvimento que o capitalismo ocidental seguiu, no período, foi assegurado pelo compromisso entre a burguesia e o proletariado. Tal compromisso foi estabelecido pela lógica do desenvolvimento anterior do capitalismo, que, após anos de lutas ásperas, chancelou a correlação de forças entre o proletariado e a burguesia, firmado pelas instituições representativas de ambas as classes e ajuizada pelo Estado (BIHR,1999).

Ao proletariado, representado por suas organizações com direções políticas socialdemocratas, estava colocado, com este compromisso: a renúncia da via revolucionária em troca da seguridade social e satisfação de interesses mais imediatos da classe, como estabilidade no emprego, melhorias na condição de vida, diminuição do tempo de trabalho e satisfação de necessidades fundamentais (habitação, saúde, educação, formação profissional, cultural, lazer, etc.). O Estado proporcionará satisfação ou sustentação a algumas de suas reivindicações na exata medida em que isso lhe permitir melhor integrá-lo na sociedade civil e política e, portanto, melhor controlá- lo (BIHR,1999) Para a burguesia, significava a trégua às pressões revolucionárias dos anos anteriores, permitindo ter legitimidade em sua dominação, que ocorreria casso garantisse os interesses imediatos do proletariado. Essa estabilidade serviria para impulsionar o regime de acumulação do capital. Contudo, esse pacto só podia ser renovado enquanto o próprio modelo de desenvolvimento do capitalismo ocidental, que ele tornaria possível, fosse viável. (BIHR,1999)

O novo padrão de acumulação possuía como característica dominante a extração intensiva de mais-valia relativa: o aumento do trabalho excedente pela diminuição do tempo de trabalho necessário à reprodução da força de trabalho do proletariado, graças ao aumento contínuo da produtividade média do trabalho social (Bihr, 1999). A lógica desse padrão de acumulação iria se esbarrar com as consequências do incremento do capital constante e a limitação dos meios de consumo e, por conseguinte, formaria a crise de superprodução.

A crise de 1929, gerada pela discrepância entre o aumento das taxas de crescimento dos lucros e dos salários, produziu um pico especulativo entre os anos de 1926-1929. Esse momento histórico trouxe, assim, a evidência de que um regime de

acumulação, como aquele, só seria viável a partir da condição de divisão igualitária dos ganhos de produtividades entre salários e lucros (BIHR, 1999), o que, no momento posterior à Segunda Guerra Mundial, levou as lutas operárias à busca da concretização de uma valorização salarial.

O movimento operário, por intermédio das direções socialdemocratas, apesar de guardar certa autonomia, tornou-se, portanto, com o compromisso fordista, uma engrenagem da dominação capitalista, uma co-gestora do processo global de reprodução do capital. Essa integração não poderia ocorrer sem o apoio, mesmo que parcial e contraditório, do operariado. Assim, por meio de sua integração, o movimento operário, conduzido pela direção socialdemocrata, seria progressivamente transformado em estrutura mediadora do comando do capital sobre o proletariado.

1.2.1-As transformações do capitalismo contemporâneo e a crise do movimento sindical

A “era de ouro” do capitalismo, do período pós-guerra, permitiu, até o início da década de 1970, o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social nos país centrais da Europa, às custas da superexploração dos trabalhadores do Terceiro Mundo (ANTUNES, 2009; BERING & BOSCHETTI, 2009). As garantias de serviços sociais da seguridade social, serviços de saúde, educação, pleno emprego, assistência social etc. foram as marcas do período do compromisso político entre os partidos socialdemocratas e a burguesia europeia, que afastou da prática sindical o enfrentamento e desarticulou do horizonte dos trabalhadores a luta pelo projeto histórico emancipador.

No final da década de 1960 e início dos anos 70, uma onda de lutas proletárias indicava o fim de um período marcado pelo compromisso fordista. As revoltas operárias incidiram diretamente sobre os métodos taylorista e fordista, que expropriava a autonomia do trabalho, situação que foi suportada, durante um período, pela geração que obteve vantagens no consumo e, assim, compensava a perda de autonomia nas fábricas. A geração seguinte de trabalhadores, formada no consenso do compromisso fordista, segundo Bihr (1999, p. 60), “não estava disposta a “perder a vida para ganhá- la”: a trocar um trabalho e uma existência desprovidos de sentido pelo simples crescimento de seu “poder de compra”“.

A direção socialdemocrata do movimento operário, adaptada ao operário fordista do período do compromisso, via-se sem condições políticas para dirigir as agitações provenientes das bases. Pelo seu papel de controlar para sustentar o acordo com as

entidades patronais, essas direções praticaram ações de sabotagem das mobilizações. Configurado tal quadro, desenvolve-se a ruptura de setores mais ativos dos operariados com essas direções e diversas mobilizações desenvolveram-se, apesar dos interesses das cúpulas, produzindo novos métodos de organização das lutas:

Também nesse caso, as lutas operárias situaram-se no extremo oposto, ao multiplicar as estruturas de auto-organização da classe; comitês de greve inter-trans-parassindicais; conselhos de oficinas e de fábricas; conselhos de bairros e de usuários dos serviços públicos (por exemplo, dos transportes); tentativas de federação dessas estruturas autônomas de base. (BIHR, 1999, p.63)

Apesar da radicalidade e da inovação das práticas autogestionárias e antiautoritárias, este movimento foi vítima da traição das grandes organizações operárias, do caráter disperso e pouco orgânico de suas lutas e da restrição da ação reivindicativa no ambiente fabril, não se alinhando aos “novos movimentos sociais” (ecológicos, antinucleares, regionalistas, urbanos, feministas, etc) em desenvolvimento para um embate ao “modo de vida” do capitalismo. Por estes motivos, as mobilizações da geração que rompia com o compromisso fordista foram de curta duração, o que gerou um refluxo das lutas, permitindo à classe dominante retomar a ofensiva (BIHR, 1999, p.64). Conforme expõe Antunes (2009):

“Dado que as lutas anteriores entre o capital e o trabalho, que tiveram seu apogeu nos anos 60, não resultaram na instauração de um projeto hegemônico do trabalho contra o capital, coube a este, derrotadas as alternativas mais ousadas do mundo do trabalho, oferecer sua resposta para a crise. ” (ANTUNES, 2009, p.38).

Com o início dos anos 1970, portanto, o padrão modelo de acumulação do período pós-guerra apresentava sinais de esgotamento. A recuperação da Europa Ocidental e do Japão havia se completado e já indicavam saturação do mercado interno (HARVEY, 1992, p.135). Durante a crise do fordismo, a realidade econômica dos Estados Unidos era de queda da produtividade e lucratividade, onde se desenvolveu um déficit fiscal em 1966, derivando o aumento da inflação e desestabilizando o dólar. Além desses fatores, Harvey (1992) indica que a política de substituições das importações dos países subdesenvolvidos e o choque no preço do petróleo também contribuíram para desestabilizar a economia mundial, colocando em dúvidas as garantias do acordo de Bretton Woods, confirmada na sua ruptura em 1971. Antunes (2009) reforça os elementos apresentados e indica outros que determinaram a crise do capital nos anos 1970: a queda da taxa de lucro, devido ao aumento do custo da mão de obra, obtido pelas fortes lutas sindicais dos anos 60; a incapacidade de resposta do

modelo taylorista/fordista ao declínio do consumo e incremento do capital financeiro, o que indicava a prioridade para a especulação; o processo de intensificação de fusões de empresas; e a crise fiscal do Estado do Bem-Estar Social.

De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo (HARVEY,1992). A crise que se configura de um padrão de organização do trabalho, na prática, é a expressão fenomênica da crise estrutural do capital, destacada na tendência decrescente da taxa de lucro (ANTUNES, 2009). A rigidez do modelo foi apontada como uma das maiores dificuldades, uma vez que havia problemas de rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de trabalho (HARVEY, 1992). As tentativas, até então empreendidas para superar o modelo rígido do fordismo encontraram dificuldades com a onda de mobilizações ocorridas no final da década de 1960 e início dos anos 1970.

A ocorrência de um período de enfraquecimento da atividade econômica e da crise fiscal do Estado obrigou o capital a entrar num período de racionalização, restruturação e intensificação do controle do trabalho. O capital necessitava se transformar para superar a queda da taxa de lucro, promovendo mudança tecnológica, a automação, a busca de novas linhas de produtos e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de controle do trabalho mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo de giro do capital (HARVEY, 1992, p.137).

A classe dominante, então, inicia uma fase de alterações no padrão de acumulação, rompendo com o compromisso fordista. Ao desenvolver novas experiências no padrão de trabalho e alterar as estruturas do sistema ideológico e político dominante, modificaram-se as condições políticas e sociais anteriormente vigentes. Neste contexto, a contraofensiva do capital tem na restruturação produtiva e nas políticas neoliberais - que promovem a privatização do Estado e a desregulamentação dos direitos do trabalho –, as respostas para a saída da crise (ANTUNES, 2009).

A rigidez do fordismo é combatida com a introdução de um novo padrão de acumulação, o qual Harvey (1992) denomina de acumulação flexível: flexibilização dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo, surgimento de novos setores da produção, novos serviços financeiros, surgimento de mercados e, sobretudo de incremento da inovação tecnológica. O objetivo central era o fortalecimento da flexibilização das condições e relações de

trabalho, reconfiguração e destruição de habilidades, diminuição dos ganhos salariais e retração no poder sindical.

A ofensiva da burguesia para a retomada das taxas de lucro, se valendo do excedente de oferta de mão de obra e da diminuição do poder sindical, impôs, assim, todo tipo de flexibilização dos contratos de trabalho, afetando o modelo estruturado do trabalho no compromisso fordista. Formas flexíveis de promover a contratação de trabalhadores avançaram no período. O trabalho por contrato temporário e as terceirizações marcam a tendência de redução do número de trabalhadores “centrais” nas empresas.

Assim, para responder ao processo de crise, o capital agiu sobre as condições vigentes de organização do trabalho e direitos sociais, formulando novas bases para organizar a acumulação. Essas bases estariam estruturadas nos eixos: reestruturação produtiva (introdução da microeletrônica e novos métodos de organização da mão de obra), reconfiguração do papel do Estado (retorno das ideias do liberalismo clássico, de redução do peso do Estado na economia traduzidas nas teses neoliberais) e remodelação do ideário de sociabilidade dos indivíduos (incentivo a competição e o individualismo); permitindo o capital revolucionar as técnicas de produção, criar novos nichos de mercado e combater os mecanismos de solidariedade entre os trabalhadores.

As transformações na organização do local de trabalho, através das técnicas gerencias e a introdução da microtecnologia, modificaram o padrão do operário especializado-fragmentado para o trabalhador flexível. E, por meio deste processo, avançou o desemprego e promoveu uma desarticulação da atuação sindical:

“Ele impõe mecanismos de ampliação da taxa de exploração via: política de gestão; “enxugamento de mão-de-obra”. Intensificação do trabalho e aumento da jornada sem correspondentes aumento dos salários; estímulo à competição entre os trabalhadores em um contexto recessivo, que dificulta a organização sindical; chamamentos à participação para garantia das metas empresariais; ampliação das relações de trabalho não formalizadas ou “clandestinas”, com ampla regressão dos direitos; entre outros mecanismos, como os aperfeiçoamentos técnicos e a incorporação da ciência e da tecnologia no ciclo da produção no sentido lato (produção, circulação, troca e consumo)” (IAMAMOTO, 2010, p.114).

O Estado capitalista, abalado pela crise econômica da década de 1970, remodela suas concepções com o retorno das ideias liberais. Assim, o capital especulativo se apropria do fundo público, através da financeirização da economia, promove o aumento das dívidas públicas e projeta na retirada de direitos sociais o foco da estabilização

fiscal,corroendo as poucas conquistas obtidas pelos trabalhadores nas lutas das décadas passadas:

“A transferência de riqueza entre classes e categorias sociais e entre países está na raiz do aumento do desemprego crônico, da precariedade das relações de trabalho, das exigências de contenção salarial, da chamada “flexibilidade” das condições e relações de trabalho, além do desmonte dos sistemas de proteção social. A desregulamentação, iniciada na esfera financeira, invade paulatinamente o conjunto do mercado de trabalho e todo o tecido social [...] O capital internacionalizado produz a concentração da riqueza em um pólo social (que é, também, espacial) e, noutro, a polarização da pobreza e da miséria, potenciando exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que se sustenta a questão social” (IAMAMOTO, 2010 p. 111).

As ações empenhadas pelo capital, acima descritas, após a crise do modelo do binômio taylorista/fordista, foram eficazes para a retomada do controle sobre o processo produtivo, iniciando, assim, um processo de crise do movimento operário, o qual persiste nos dias atuais. A representação sindical sofreu com a desestruturação/reestruturação produtiva, que reduziu os postos de trabalho, potencializou o desemprego estrutural, fragmentando e hifenizando a classe trabalhadora por meio das medidas de precarização dos contratos de trabalho, terceirização, contratos temporários etc. (ANTUNES, 2009). A “estatização” e burocratização das direções sociais democratas contribuíram para o apassivamento das cúpulas sindicais e o afastamento do trabalho político de base, gerando uma perda do referencial de luta, bem como facilitando a ação do capital (BIHR,1999).

As medidas tomadas pela burguesia na esfera da produção e da reprodução do capital impactaram, decisivamente, na mobilização da classe trabalhadora. As novas relações de trabalho e o conjunto de ideias que reforçavam a competição e o individualismo, no conjunto dos trabalhadores, fizeram com que refluíssem as lutas sociais e a viabilidade de efetivação de um projeto emancipatório. Esta realidade demonstrou-se impiedosa em todos os países e, no Brasil, não ocorreu de maneira diferente.

1.3 - Movimento sindical no Brasil: das origens aos dilemas de hoje

A formação escravocrata da sociedade brasileira não pode ser desconsiderada para traçar o início das lutas coletivas no país. Ainda no final do regime de trabalho escravo, algumas experiências de formação de uma consciência de classe e desenvolvimento de lutas coletivas serão destacadas por Mattos (2009). A presença de

trabalhadores livres e escravizados no mesmo local de trabalho, na cidade do Rio de Janeiro, possibilitou a troca de experiências organizativas (algumas formas eram vetadas aos trabalhadores escravizados4), formas de mobilização e práticas de solidariedade de classe, como o apoio de fugas em massa de escravos por parte dos operários.

Com a abolição da escravidão, os ex-escravos e seus descentes continuaram a trabalhar em setores como os portos, ferrovias, comércio etc. Por isso, a fundação de muitos sindicatos teve como principal marca a presença de lideranças negras, orientando as lutas pelo classismo e o combate ao racismo. Assim, com este resgate historiográfico, é possível afirmar que as primeiras greves no Brasil ocorreram antes da vinda dos trabalhadores imigrantes europeus, o que desmistifica a ideia, usualmente, difundida sobre as origens da luta sindical no país.

Foi, então, no período da República Velha (1889-1930) que a formação de um movimento operário e da própria classe trabalhadora obteve contornos mais determinantes. Após a substituição do regime de trabalho escravo para o de trabalho assalariado, as lutas da classe trabalhadora aos poucos alteraram seu foco de conflito. Apesar da, ainda pequena, participação da indústria na economia nacional e de um peso expressivo de imigrantes nesse setor (que poderia dificultar uma identidade comum) encontrava-se, em formação, as experiências comuns de vida dos trabalhadores, o que permitiu a construção de uma identidade coletiva, fundamental para o desenvolvimento da consciência de classe (MATTOS, 2009).

As indústrias instaladas no Brasil possuíam, como característica, as mesmas condições precárias de trabalho percebidas no início da revolução industrial na Inglaterra. A presença de trabalho infantil, os constantes acidentes de trabalho, jornadas intensas que superavam as dez horas diárias e os baixos salários estruturavam a indústria nacional no início do século XX:

Em todas as fábricas do país, as jornadas sempre superaram a dez horas diárias, o trabalho de crianças e o maquinário perigoso somavam-se à insalubridade do ambiente para formar um quadro de mortes e acidentes constantes. [...] Se trabalhar era dureza, mais difícil ainda era sustentar uma família com o produto desse trabalho. [...] Trabalhava-se muito, ganhava-se pouco e pagava-se caro para viver mal” (MATTOS, 2009, pgs.42-3).

4

Aos trabalhadores escravizados era negada a participação em qualquer associação profissional. Á eles, no máximo, era permitida a participação em irmandades católicas, que apenas possuíam objetivos catequizantes e eventualmente promoviam auxílios financeiros.

Inspirados nos ideais socialistas surgiram os primeiros partidos operários. Embora com dificuldade organizativa, motivada tanto pela inexperiência política dos trabalhadores, quanto pela repressão política, esses partidos exerceram enormes influências na formação e no desenvolvimento da vida política dos sindicatos. Dessa forma, as primeiras iniciativas de organização coletiva dos trabalhadores apareceriam, no país, através das associações de auxílio mutualista. Ainda assim, pelo perfil distinto, não foram muitos os casos da relação entre a associação de auxilio mutualista e a criação dos sindicatos.

No início do século XX, torna-se marcante a presença de líderes socialistas e anarquistas nos primeiros sindicatos brasileiros. A tática política da ação direta, realizada por meio de mobilizações e greves, era utilizada para exercer maior pressão no enfretamento aos patrões e aos governos5.

Na década de 20, portanto, ocorre o início da transferência de hegemonia política nos sindicatos brasileiros. Até então, os anarquistas exerciam maior influência nas organizações sindicais. Porém, essa realidade é afetada, no período, a partir da intensificação da repressão do Estado, que fecha sindicatos, gráficas e desarticula outros trabalhos políticos, comprometendo as ações desenvolvidas há anos. Somando-se a isto, o surgimento do PCB, a forte expectativa com a revolução russa e a formação da

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