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A postura agressiva parte de uma superioridade e da necessidade de fazer prevalecer as opiniões, desejos, projetos de quem a utiliza. Conforme sintetiza Martins (2012, p. 31), o estilo agressivo “abrange os comportamentos autoritários, dominantes, competitivos e prepotentes”.

O indivíduo agressivo mostra total desinteresse pelos outros, suas opiniões e necessidades, que considera inferiores às próprias e, portanto, não dignas de ser ouvidas ou consideradas, mas sim alvo de menosprezo, humilhação e desvalorização. O objectivo da relação é usar os outros explicitamente como meio adjuvante a atingir os próprios fins e de, pela sua inferioridade e submissão, fazerem sobressair a superioridade pessoal (VAGOS, 2006, p. 5).

Na atividade proposta, Lairton encena a comunicação agressiva, no papel de Pedro, e Gilmar representa o papel de Juliana.

Lairton (Pedro): Juliana, você tem que tomar banho pra cuidar logo pra gente ir pro

churrasco. Você vai ou não vai? Vai ficar enrolando?

Gilmar (Juliana): Eu vou pro aniversário da minha sobrinha, na casa da minha tia. Lairton (Pedro): Mas por quê? Se eu sou o homem da casa? Você tem que ir pra

onde eu ir (sic). Você tem que me acompanhar!

Gilmar (Juliana): Mas eu não vou.

Lairton (Pedro): Tem que ir sim, uai! E os meninos vão com quem? Vamo

dividir os menino? (sic) Não, tem que todo mundo ir junto.

Gilmar (Juliana): Não, então vou ficar em casa.

Lairton (Pedro): Não, você vai ter que ir, tem que ir comigo, porque eu sou o

homem da casa. Tem que ir comigo e levar as crianças. Hoje você vai comigo,

não tem escolha.

Gilmar (Juliana): Mas eu não vou. Lairton (Pedro): Vai ter que ir sim! Gilmar (Juliana): Mas eu não vou!

Lairton (Pedro): Vai! Se você não ir (sic), então não sai ninguém, vai ficar todo

mundo em casa.

Gilmar (Juliana): Então nós ficamos.

Lairton (Pedro): Pois é, vai ficar todo mundo então! Ou é do meu jeito ou não é. E outra coisa, no outro final de semana, ninguém sai também, você vai ficar um mês sem sair de casa, sem ir pra lugar nenhum (11ª sessão, grifo nosso).

Na encenação da comunicação agressiva, fica nítida a relação entre violência e os papéis tradicionais de gênero como o de “homem da casa” e da mulher acompanhante do homem sem direito a escolhas, assim como os filhos. “Tem que ir comigo e levar as crianças. Hoje você vai comigo, não tem escolha!” (sic) (Lairton (Pedro), 11ª sessão). Assim, Lairton vestiu o papel de agressor e revelou algumas violências cotidianas que as mulheres sofrem.

A naturalização da violência e a marca do patriarcado aparecem também aparecem no discurso de Lairton, demonstrando que a família é o espaço social de legitimidade do poder masculino (SEGATO, 2010). Além disso, Gilmar assume a passividade tradicional do papel feminino na relação. Assim, sem perceberem, os homens demonstram a forma naturalizada da violência conjugal enquanto organização social (BANDEIRA, 2013).

Segundo Lairton, foi difícil representar esse papel de homem agressivo, porque quando “não tem acordo, acaba gerando briga, discussão, até agressão. Isso acontece muito! Quando eu era casado acontecia muito isso! [...] Às vezes eu ficava com raiva, nós discutia

bastante e nem um nem outro saia” (sic). Apesar de Lairton se declarar desconfortável na posição de agressor, reconhece que já passou por situações como a encenado no antigo relacionamento. É muito nítida a declaração dele quanto à sua inflexibilidade em ceder na relação. “Se não tem acordo” entre o casal, “acaba gerando briga”.

Apesar disso, ele se esquiva do papel de agressor, o que torna ainda mais complexo e desafiador o trabalho das profissionais. Quando comenta a encenação, Lairton não fala sobre a frustração e raiva originária da desobediência da mulher em relação a sua suposta autoridade masculina de “homem da casa”. Isso sinaliza que, apesar de não admitirem diretamente, os homens expressão a disparidade de poder (masculino e feminino) na relação conjugal, amplamente nos estudos de Gregori e Debert (2008), Almeida (2007), Penso e Almeida (2013), Bandeira (2012) e Segato (2010).

Por outro lado, Gilmar demonstrou pouco envolvimento com a atividade numa fala pouco articulada sobre sua atuação e sobre o tema. “Eu achei assim bom, porque hoje em dia, assim, tem muita agressão. Tem gente que, eu que atendo o público direto, sempre vejo assim. Você vê assim um diálogo é mais com as pessoas idosa, mas [com] as pessoa mais nova, você sente mais é agressão” (sic). Desse modo, ele não parece ter percebido a importância da comunicação numa relação conjugal nem os impactos da agressividade e tampouco ter se colocado no papel de agressor.

Os demais homens do grupo reconhecem que a presença da comunicação agressiva na vida conjugal. “Realmente é a realidade. (sic) Não é o certo, mas é o que acontece na realidade” (Vilmar, 11ª sessão). “O que acontece é isso aí mesmo” (Welinton, 11ª sessão). E Silvio chega a relacionar essa forma de expressão com o ciclo da violência, mas se distanciando do papel de agressor.

Essa comunicação é a pior que tem, né. Às vezes, palavras machucam mais do

que a própria agressão física mesmo, né. É igual o lance do copo, se lá na

discussão não rolou de chegar às vias de fato, aí na próxima discussão a tendência é jogar um na cara do outro. Aí vai ser sempre assim, toda discussão, vai ter uma hora que vai [transbordar] (sic) (Silvio, 11ª sessão, grifo nosso).

Desse modo, Silvio considerou a postura inflexível de Lairton (representando Pedro) a passagem mais agressiva do diálogo. Uma das psicólogas explora esse pondo, dizendo que a retirada do direito de escolha de alguém já caracteriza uma agressão, porque anula parte da personalidade, impossibilitando que se conheçam as preferências e vontades do outro. Ressalvam ainda que a comunicação agressiva é o tipo mais difícil de ser abordado, devido aos motivos pelos quais os homens foram conduzidos ao grupo. E assim, elas reforçam que a agressividade não favorece a transmissão efetiva da mensagem, o que gera muita insatisfação.