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O PROGRESSO CIENTÍFICO É ESSENCIAL

4.1 Comunicação: algumas definições

O processo de comunicação pode ser entendido como “interação social através de mensagens” (GERBNER, 1967, p.61). De acordo com o autor, os meios de comunicação são “os meios ou veículos capazes de assumir formas que tenham características de mensagens ou que transmitam mensagens” (Idem, p.62).

Para Gill e Addams (1998), duas definições de comunicação são predominantes:

Na primeira, a comunicação é um processo em que o comunicador ou emissor dirige uma mensagem através de um meio/canal a um receptor, com alguns efeitos; Na segunda definição, a comunicação é percebida como uma atividade social, em que pessoas em uma determinada cultura

criam e trocam significados, em resposta à ‘realidade’ que experimentam (GILL, ADDAMS; 1998, p.41, tradução nossa)

Segundo Sousa (2006, p. 22), essas duas definições são complementares, uma vez que “as mensagens trocadas só têm efeitos cognitivos porque lhes são atribuídos significados e estes significados dependem da cultura e do contexto em geral que rodeiam quem está a comunicar”. No entanto, algumas diferenças são percebidas pelo autor: enquanto a primeira sugere que a mensagem deve ser codificada, na segunda definição não há necessidade de codificação ou, sequer, de emissor, mas ainda há significado para o receptor, “pois, de certa forma, o mundo é a mensagem, no sentido de que o mundo é, inevitavelmente, interpretado por cada pessoa, adquirindo significados, pois só assim se torna compreensível” (Idem).

O pensamento vai ao encontro da premissa de McLuhan de que “o meio é a mensagem”. Ao tentar explicar a relação dos meios de comunicação com a sociedade, Marshall McLuhan, define os meios como extensões dos sentidos e afirma que eles “estabelecem novos índices relacionais, não apenas entre nossos sentidos particulares, como também entre si, na medida em que se inter-relacionam” (MCLUHAN, 1969, p.72).

Dessa forma, a experiência comunicacional estaria relacionada não apenas ao processo de transmissão de mensagens, mas também à forma como essas mensagens são transmitidas, ao meio, geralmente encarado “como simples canal de passagem do conteúdo comunicativo, mero veículo de transmissão da mensagem” (POMBO, 1994, p. 40),.

Na interpretação da autora, para McLuhan, “o meio, o canal, a tecnologia em que a comunicação se estabelece, não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação” (Idem, p. 41).

Os museus podem, então, ser percebidos como meios de comunicação, como bem salienta Eliean Hooper-Greenhill:

Nós podemos argumentar que os museus trabalham com dois modelos distintos de comunicação. De um lado, podemos utilizar a comunicação interpessoal, a comunicação face a face, e nós percebemos isso em ação nos serviços de informação, por exemplo, em que o curador e o inquiridor se conhecem diretamente. Outros exemplos podem ser percebidos em alguns aspectos do trabalho educativo dos museus, em que os professores trabalham diretamente com grupos. Por outro lado, os museus também podem ser classificados como comunicadores de massa, já que, além de

lidar com algumas pessoas face a face, eles também lidam com um grande número de pessoas de maneira menos pessoal. Muitas exposições compartilham a maior parte das características de maioria das formas de comunicação de massa, na medida em que envolvem um processo de mão única, uma fonte única de mensagem com um grande número de receptores...Ao se comunicarem por meio de exposições, publicações, anúncios e outros métodos, como vídeos, os museus podem ser caracterizados como meios de comunicação de massa (HOOPER- GREENHILL, 1995, p.6, tradução nossa).

A autora ressalta, ainda, que a pesquisa de comunicação de massa tem fornecido outras ideias úteis, como a rejeição do modelo linear de comunicação, em favor de um modelo transacional, em que as mensagens são formuladas, trocadas e interpretadas em um processo contínuo (Idem, p. 9).

A ideia de comunicação como processo contínuo é defendida por Berlo (1972). Para o autor, o processo é definido como “qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo, ou qualquer operação ou tratamento contínuo”.

Ainda segundo Berlo, o pensador pré-socrático Heráclito de Éfeso exemplificou o conceito de processo ao declarar que um homem não pode banhar- se duas vezes no mesmo rio; o homem será diferente e assim também o rio (BERLO, 1972, p. 29).

Com base na definição de Berlo, Sousa (Op. cit., p. 28) afirma que:

O conceito de processo está relacionado com esta movimentação das coisas, com a sua evolução em interação. A comunicação é um processo precisamente porque se desenvolve num contínuo espaço-temporal em que coexistem e interagem permanentemente múltiplas variáveis. Os elementos do processo de comunicação podem entender-se como variáveis precisamente porque variam, porque apresentam contínuas mudanças no tempo, enquanto interagem uns com os outros. Além disso, a comunicação não tem princípio e fim bem definidos porque a cadeia de causas e a cadeia de consequências de um ato comunicativo são parcialmente indetermináveis e, de algum modo, infinitas (SOUSA, 2006, p. 28).

Conforme Serra (2007), estudos de comunicação têm origem no século XIX, quando

estudiosos como Comte, Durkheim, Tarde, Le Bon, Simmel ou Weber procuram analisar o conjunto de transformações trazidas pela Revolução Industrial – e em que avultam as transformações ocorridas a nível das formas de comunicação, pessoal e mediatizada (SERRA, 2007, p.63)

Todavia, o autor considera em termos acadêmicos o momento inaugural dos estudos de comunicação na criação, em 1916, do primeiro Instituto para o

Estudo dos Jornais (Institut für Zeitungskunde), em Leipzig, por iniciativa do economista político Karl Bücher.

No final dos anos 1920, surge o termo Publizistik para designar o “conjunto dos estudos de comunicação referentes não só ao jornal, mas também aos meios emergentes como o rádio e o cinema” (Idem, p. 64).

Em 1927, Harold Lasswell publica “Propaganda Techniques in the World War”, obra considerada “a primeira peça do dispositivo conceptual da corrente da

Mass Commmunication Research”, de acordo com Sousa (ibidem, p.65). Após a

publicação desse estudo, vários modelos e teorias surgiram, como o modelo ou paradigma de Lasswell (1948), o modelo de Shannon & Weaver (1949) e os modelos de Schramm (1954).

Com base nos modelos de comunicação é possível perceber algumas similaridades com os modelos propostos pelos teóricos da percepção pública da ciência (PUS, na sigla em inglês). O modelo de déficit dos estudos de PUS, por exemplo, possui clara semelhança com modelos lineares da comunicação. No próximo tópico, serão apresentados brevemente alguns desses modelos e teorias.