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CAPÍTULO 2 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E MÍDIAS SOCIAIS

2.3. Comunicação e Cultura organizacional

Quando refletimos sobre o que é Cultura e suas implicações muitas idéias vem a tona em nossos pensamentos algumas ligadas às idéias mais gerais como produção artísticas ou coisas do gênero. Não são poucas as discussões em torno desse tema, mas ao tratarmos da cultura no contexto das organizações fazemos um recorte e podemos de maneira mais clara elucidar o objeto de estudo e as concepções gerais que norteiam os estudos sobre cultura organizacional.

Para compreendermos esse fenômeno da cultura organizacional e o estreitamento da relação entre cultura organizacional e comunicação, faz-se necessário compreender sobre o que é organização. Segundo Marchiori (2008b p. 83) “organização é um fenômeno social e uma de suas principais característica é a interação humana”. Nesta perspectiva, a organização é um fenômeno atribuído apenas a espécie humana já que se estabelece por meio da interação dos indivíduos que a compõem e mais, devido a condições desses indivíduos recorrem à memória ou a uma situação do passado (habilidade exclusivamente humana) para a construção de relações e, portanto da organização em si.

De acordo com Marchiori (2008b, p. 83) “podemos ainda afirmar que uma organização é uma mini-sociedade formada por construções sociais” desta maneira as relações e o modo que o individuo participa em sociedade refletem diretamente no comportamento organizacional; da mesma forma padrões culturais externos serão elementos para a constituição da cultura organizacional em si.

Não podemos supor que a cultura é algo pronto e que estamos fadados a aceitá-la do modo como se apresenta. Ao contrário, tanto a cultura em seus mais diversos aspectos quanto à cultura organizacional, estão sempre em processo de construção, pois “se forma por meio da atuação dos grupos e fomenta o que se pode

conceito nessa evolução histórica. Não descartamos que esses conceitos estariam imbricados nessa evolução; apenas não são pertinentes ao objetivo maior dessa dissertação.

chamar de personalidade da organização” (MARCHIORI, 2008b, p.79) desta forma é constante sua condição de vir - a - ser.

Sendo a cultura organizacional um produto das relações sociais desenvolvida pela atuação de grupos e por agentes sociais é impossível desassociá-la do processo comunicativo, pois é por meio do ato comunicativo que as organizações se constituem como espaço de interação e mais, é por meio da comunicação, da construção de significados que se forma a cultura organizacional.

Muito além de valores, missão, clima organizacional, etc. a cultura organizacional é a construção e o compartilhar de significados, portanto é indissociável da comunicação e de acordo com Duarte (2003 apud OLIVEIRA 2008):

[...] a palavra comunicação deriva do latim communis, que remete à idéia de “tornar comum”. Segundo o autor, “temos então um núcleo de idéias que se associam formando um conceito: Pertencente a muitos, comungar, tornar comum, estar em relação e ação que se associam no macroconceito chamado comunicação. (DUARTE, 2003,p.43, apud OLIVEIRA, 2008, p.47)

Desta forma, a cultura organizacional se mantém, reproduz (ou perpetua) e se modifica por meio das interações sociais potencializadas pela comunicação.

[...] sem a aceitação de suas atividades e sem a compreensão de seus valores pela sociedade, uma empresa dificilmente conseguirá levar à frente os seus propósitos. Assim, é na sua comunicação e nos seus relacionamentos sociais que essas organizações têm os principais processos sociais que as legitimam e as consolidam diante da sociedade e dos mercados em que atuam. (NASSAR, 2008, p. 192)

Essa compreensão de valores por parte da sociedade só é possível quando esses valores são compreendidos e vivenciados dentro da organização. Acontece num processo de dentro para fora. Esses valores devem ser parte integrante da organização e dessa forma irá permear todas as ações da organização fazendo com que esta tenha credibilidade junto à sociedade.

A comunicação quando associada com os estudos da cultura organizacional possibilita ao gestor um posicionamento estratégico junto a própria organização, ao mercado e aos públicos de interesse, pois rompe com ações ultrapassadas e com

modelos tradicionais. A comunicação passa a assumir uma função mais amplificada contemplando diferentes aspectos da organização:

A dimensão estratégica que a comunicação vem assumindo nas organizações, sendo parte da cultura organizacional, modifica paulatinamente antigos limites. Não mais se restringe à simples produção de instrumentos de comunicação: ela assume um papel muito mais abrangente, que se refere a tudo que diz respeito à posição social e ao funcionamento da organização, desde seu clima interno até suas relações institucionais. Uma estratégia de comunicação é algo intrínseco à estratégia global da organização. Expressando de forma mais radical, pode-se afirmar que comunicação e organização constituem um único fenômeno, isto é, comunicação é organização e organização é comunicação: os dois processos são isomórficos. (PUTNAM et al., 2004;TAYLOR, 1993 apud CARDOSO, 2006, p.1128)

A discussão quanto aos aspectos estratégicos da comunicação organizacional serão abordados posteriormente.

2.3.1. Gestão de pessoas, comunicação e cultura organizacional

Atualmente quando pensamos nos estudos na área de gestão e da comunicação notamos que houve uma grande mudança de enfoque. Onde antes havia uma super valorização aos processos e técnicas hoje notamos que a atenção voltou-se ao individuo, ao ser humano enquanto ponto chave no processo não mais como apenas executor das técnicas, mas como agente dotado de capacidade inovadora e criativa.

Quando pensamos em comunicação e cultura nas organizações podemos dizer que as pessoas não são mais apenas um ponto em comum desses dois aspectos, mas sim, o ponto de partida para a elaboração de estratégias e para o desenvolvimento de ações. Alverssom, (1993 apud MARCHIORI, 2008b, p. 83), afirma que a cultura pode ser entendida como estudo das pessoas como sujeitos culturais.

Se as pessoas são responsáveis pela produção, transmissão e manutenção da cultura e essa cultura fruto de um processo comunicativo, não há como descartar a necessidade de gestão das pessoas e de relacionamentos dentro das organizações.

Hoje as organizações por meio dos seus gestores precisam ter claro que as pessoas são construtoras de significados, produtoras de bens intangíveis como conhecimento e por isso são necessárias as ações de gestão com planejamento efetivo que contemple essa questão.

Segundo Chiavenato (2004), atualmente esse processo de gestão tem como princípios as responsabilidades: corporativa, fiscal, legal, ambiental, social, trabalhista, societários, comunitários, etc., bem como os interesses dos públicos envolvidos com a organização e a interação de tudo isso com o ambiente em que a organização está inserida ou diretamente ligada.

Não é possível pensar a comunicação organizacional sem levar em consideração os relacionamentos da organização com seus públicos de interesse. As pessoas dentro e fora das organizações interferem de modo precioso nos resultados almejados por estas.

Desta forma, todo processo comunicativo traz em si marcas da cultura da organização, pois a comunicação reproduz valores, características que refletem a essência da organização. Infelizmente ainda hoje é comum nas empresas a adoção de práticas comunicacionais fragmentadas e sem política definida, configurando uma estrutura parcial de comunicação e isso nada mais é do que o reflexo de uma cultura organizacional também fragmentada.