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Comunicação, economia e poder: a sociedade contemporânea e o avanço tecnológico

“Os Sistemas de Informação/Tecnologias de Informação e de Comunicação (…) são uma presença constante na nossa vida (…) [, da qual] (…) [dependemos cada vez mais]. De facto [,] esta omnipresença é claramente catalisadora de oportunidades, de crescimento e de aumento de produtividade e competitividade.”

(Martins, 2015)

Segundo Sousa et al. (2006, pp. 5–12), a produção e o consumo da informação e do entretenimento nunca são questões meramente económicas, políticas ou artísticas, prendendo-se, sobretudo, com a distribuição do poder na sociedade e com as suas consequências para a constituição do espaço público e para a qualidade do sistema democrático e do ambiente simbólico que nos envolve.

Na Era da Informação as mudanças introduzidas pela crescente digitalização e interconetividade em todas as áreas da atividade humana têm tido, conforme referem Buhr et al. (2017, p. 4), um reflexo profundo a nível económico, social e político, trazendo consigo um conjunto de importantes transformações, que vão desde a forma como obtemos informação e comunicamos com os outros, passando pelas mudanças a nível da gestão dos negócios e da produção de bens e serviços, até ao modo como gerimos o lazer, as amizades, a família, o emprego e a nossa autonomia (DG Communications Networks, 2015, p. 1).

Assim, as transformações em apreço afetaram não só os sistemas de produção industrial, mas também a organização da sociedade, a participação política e o modo como os governos respondem às necessidades dos cidadãos (Buhr et al., 2017, p. 4).

Neste contexto, face aos desafios com que são confrontados, os Estados têm procurado modernizar-se internamente (European Institute of Public Administration (EIPA), 2013, p. 7), nomeadamente a nível da digitalização da Administração Pública e do ambiente tecnológico (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2016, pp. 1–6), através da proliferação das ligações à Internet, da expansão da banda larga e do desenvolvimento das competências e capacidades individuais necessárias ao processamento de informação (Buhr et al., 2017, p. 4).

A questão da digitalização da economia e da sociedade é uma das prioridades assumidas pela Comissão Europeia para o horizonte temporal 2016- 2021 (DG Communications Networks, 2015, p. 1), tendo como principais objetivos a criação de uma infraestrutura digital que permita reduzir as barreiras digitais e o desenvolvimento das competências e capacidades digitais dos cidadãos e das Administrações Públicas, designadamente através do investimento em investigação e do desenvolvimento e reforço de serviços digitais públicos (Buhr et al., 2017, p. 10).

A conetividade e o acesso à Internet é uma pré-condição essencial para a participação na economia digital (DG Communications Networks, 2015, p. 13): em 2014, 97% das empresas europeias utilizavam computadores e 94,5%

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estavam conetadas à Internet através de banda larga fixa ou móvel. Neste capítulo, importa também destacar, pela sua importância, o crescimento e a universalização do acesso e utilização dos computadores e da Internet em casa. Assim, de acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) (OECD, 2013, p. 46), entre 1999 e 2009 o número de subscrições da Internet e de telefone móvel nos países da OCDE registou um forte crescimento, tendo praticamente triplicado em ambos os casos, culminando em mais de 70% dos domicílios a utilizar computador e a ter acesso à Internet no seu dia-a-dia.

De acordo com os relatórios da Comissão Europeia de 2016 e 2017 (Comissão Europeia, 2016; European Commission, 2017), relativos ao índice de digitalidade da economia e da sociedade no mercado único europeu, Portugal surge como um dos países com melhor índice de digitalidade21, apresentando

uma pontuação acima da média da União Europeia e registando, na generalidade, um desenvolvimento mais rápido ao verificado entre os seus parceiros, o que, entre outros fatores, se fica a dever ao esforço nacional desenvolvido com vista à evolução do capital humano e do desempenho dos serviços públicos digitais (Azevedo, 2017; XXI Governo Constitucional, 2017).

Outro aspeto com especial relevância para o desenvolvimento e crescimento da digitalização da economia e da sociedade na Era da Informação é a multiplicação, na última década, das potencialidades e possibilidades de utilização das tecnologias de informação e de comunicação (Cardoso et al., 2015, pp. 147 e 159), designadamente com a proliferação de dispositivos digitais de acesso e partilha de conteúdos na Internet, com o aparecimento das redes sociais em linha, com uma aposta mais forte dos media tradicionais na disponibilização de recursos informativos online, com a generalização do acesso a conteúdos culturais digitais, com as atividades relacionadas com a transação de bens e serviços na World Wide Web (WWW) e, ainda, com a proliferação de espaços virtuais, uma espécie de “não-lugares”22 (Augé, 2012, p. 70), que

apelam à participação e à opinião dos utilizadores no ciberespaço.

No caso português, segundo o estudo A Sociedade em Rede em Portugal: Uma Década de Transição (Cardoso et al., 2015, pp. 147–159), a atividade mais comum na Internet é o uso do correio eletrónico, com a troca de e-mails a ser referida por 88% dos utilizadores, assumindo também especial destaque a utilização das redes sociais, com uma percentagem de utilizadores na ordem dos 70% (Cardoso et al., 2015, pp. 150–151).

Esta percentagem de utilização das plataformas de sociabilidade na Internet em termos nacionais surge em linha com os fortes padrões de uso das

21 Segundo Chaturvedi, Bhalla e Chakravorti (2017), em linha com o evidenciado pelos relatórios da Comissão Europeia supra referidos, no período 2008-2015 Portugal surge também entre os países com melhor índice digitalidade a nível mundial, apresentando uma pontuação acima da média no Digital Evolution Index de 2017, que analisa a taxa de evolução digital em 60 países diferentes.

22 Para uma melhor compreensão do conceito de “não-lugar”, ver: AUGÉ, Marc - Não-

Lugares: Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade. 3.a ed. Lisboa: Livraria

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mesmas registados a nível internacional (Greenwood, Perrin e Duggan, 2016; Guest et al., 2015; Hampton et al., 2011; Poushter, 2017; Universo Abierto, 2017), o que se assume como um indicador importante acerca da relevância destes canais de comunicação nas sociedades contemporâneas, que, cada vez mais, os vêem como um meio e uma ferramenta para influenciar e intervir no espaço público (Rasmussen, 2016, pp. 65–66), como acontece com as mobilizações políticas e sociais construídas e convocadas a partir das redes sociais (Cardoso et al., 2015, p. 272).

Assim, fruto dos desenvolvimentos tecnológicos registados e da crescente digitalização da economia e da sociedade, assiste-se a uma reconfiguração nas relações entre os cidadãos e o Estado (Santos et al., 2017), com este último, numa trajetória de modernização e de digitalização do setor público, orientada por princípios de economia, eficiência e eficácia, a investir na oferta e disponibilização de serviços públicos através da Internet em áreas fundamentais para o bem-estar social, como a saúde, os impostos e a segurança, entre outras. Na sua essência, este investimento visa corresponder, através de abordagens menos burocratizadas, hierarquizadas e procedimentalizadas, assentes num conceito de governação integrada (Louro et al., 2015, pp. 9–10), às necessidades e expetativas dos cidadãos e das empresas23, que, cada vez mais, utilizam o ciberespaço nas suas atividades

diárias (OECD, 2013, p. 46).