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2. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

2.3. Funções das representações Sociais

2.3.2. Comunicação

Enquanto sistemas de categorização e interpretação, as representações socias instituem- se como linguagem partilhada, criando as condições necessárias ao processamento da comunicação. Quando comunicamos, descrevemos, avaliamos e explicamos determinada realidade. Assim, os atos de comunicação podem-se considerar atos de partilha de consensos e igualmente de debate, discussão e argumentação dentro de, e entre grupos (Vala & Monteiro, 2010). Moscovici (1976) apresenta três principais modalidades de comunicação, as quais determinam o conteúdo e a forma que as mensagens adquirem: difusão, propagação e propaganda. De forma resumida, a comunicação enquanto difusão de ideias tende a favorecer a eclosão de opiniões sobre problemas específicos, por sua vez, a propagação é construída através de um foco generalizado da representação da conduta hegemónica, e por fim, a propaganda, não se limita à transmissão ou disseminação de ideias, mas tende mesmo a criar ou reforçar determinada atitude (Castro, 2002).

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3. METODOLOGIA

3.1. Especificamente para a Educação Social e Animação

Sociocultural

A investigação científica especificamente nos campos da Educação Social, como na Animação Sociocultural é ainda escassa. Isto deve-se a uma geral priorização da ação por parte dos seus agentes profissionais. Não obstante, esta lacuna já se tornou bastante visível pelos próprios profissionais, sendo crescente a preocupação e esforços para a existência de investigações orientadas, sobretudo à melhoria das práticas, no sentido de qualificar a ação. Assim, através da investigação científica aproximamo-nos do conhecimento de determinada realidade, através de uma aproximação sistemática à mesma. Esta aproximação é realizada através de uma sequência de escolhas, escolhas estas que controlamos, projetando a investigação com ordem e método. Desta forma os métodos têm um papel singularmente importante pela sua capacidade de condicionar os resultados (Serrano, 2007).

No presente trabalho, projetado continuadamente, de forma simultânea com a própria execução, tomou-se uma linha de orientadora que levou a optar pelo pluralismo metodológico, integrando aspetos dos paradigmas positivista (baseado em métodos quantitativos) e naturalista (baseado em métodos qualitativos). Face a uma realidade complexa, que beneficia de um espectro variado de aproximações, apoiámo-nos na complementaridade das técnicas, de forma a abranger as mais-valias de cada método:

Basta decidir que não existe nada (…) que impeça o investigador de misturar e acomodar atributos dos dois paradigmas [qualitativo e quantitativo] para alcançar a combinação que resulte mais adequada ao problema da investigação e ao meio com que se conta. Não existe razão para os investigadores se limitarem a um dos paradigmas… quando podem obter o melhor de ambos.” (trad. própria, Cook e Reichardt, 1986, in Serrano, 2007, p.24).

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3.2. Abordagem psicossocial: pesquisa em Representações

Sociais e opções metodológicas correntes

Do ponto de vista metodológico, o conceito de representações sociais surge como reunificador das ciências sociais. Situado na interseção entre o psicológico e o social, este conceito oferece variadas possibilidades de articulação entre a psicologia, a sociologia e as ciências vizinhas (antropologia, história, linguística, ciências políticas, etc.). O conceito caminhou para a atual diversidade no que respeita a sua utilização nas ciências sociais e humanas estabelecendo-se como um campo de investigação rico e dinâmico, sendo aplicado no estudo de questões diversas, como por exemplo (inclusive no nosso caso) quanto à sua função social e eficácia. Isto é, o estudo da figuração das representações na prática, sua utilização enquanto ferramenta e mecanismo de interação social, e dos seus efeitos progressivos enquanto “onda de choque” social, abrangendo o estudo da atividade representativa dos indivíduos enquanto reprodutores de ideologias dominantes e reflexo dos seus posicionamentos sociais. (Cabecinhas, 2009; Vala & Monteiro, 2010).

Ao longo do processo de origem/ formação da teoria das representações sociais, foi-se constantemente impondo a ideia de que as metodologias utilizadas no seu estudo não teriam de corresponder obrigatoriamente a um tipo específico. Segundo Moscovici (1989) estas devem ser ajustadas à especificidade dos objetivos de estudo, considerando importante, devido à complexidade e multiformidade do fenómeno, uma inicial preocupação com descrição, antes de se embarcar numa via explicativa (in Castro, 2002). Este autor salienta adicionalmente a importância do “politeísmo metodológico” no estudo das representações sociais, sendo que: “nenhuma metodologia por si só é suficiente para investigar estes complexos fenómenos”. Na mesma linha de ideias, diversos autores têm salientado a necessidade de triangular diferentes tipos de metodologias, de recolha e de tratamento de dados, uma vez que cada técnica apresenta as suas potencialidades e limites específicos. Contudo, não obstante à delineação de um programa de pesquisa e instrumentos completos e sofisticados, importa analisar os resultados não esquecendo o seu momento histórico e contexto sociocultural específicos (Cabecinhas, 2009, p.12).

43 Podemos destacar duas orientações das pesquisas e estudos em representações sociais: uma volta-se para os processos (que geram e mantêm as representações vivas nas interações sociais, relacionadas com questões culturais e históricas) e outra centrada nas estruturas (organização das representações sociais nos níveis cognitivo e linguístico). Assim, posicionamos a presente pesquisa na primeira linha de orientação, embora abordando alguns níveis de organização cognitiva (nomeadamente, semântico/ linguístico) no que respeita a recolha de dados. Focam-se os processos que estão na génese das representações sociais, recorrendo a metodologias que permitam a descrição de como tais sistemas se iniciam e operam no contexto em questão. Considerando que o fenómeno em estudo é complexo, buscou-se dar atenção ao contexto em estudo, e também à diversidade de olhares e vozes do grupo social aqui relevante para o estudo das representações sociais de tradição, especificamente para a música e dança, nomeadamente na recolha de dados quantitativos. (Nascimento-Schulze & Camargo, 2000).

Para compreender o porquê das escolhas metodológicas para o presente trabalho, importa identificar as diferentes abordagens metodológicas eleitas nas pesquisas em representações sociais: escolhemos como instrumentos fundamentais para a recolha de dados, a entrevista e o inquérito por questionário. Tais procedimentos permitiram ultrapassar algumas das fragilidades de cada um dos métodos, agindo como mútuo complemento, beneficiando assim das potencialidades que cada um proporciona.

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