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2 UMA ANÁLISE SOBRE AS IMPLICAÇÕES DA TECNOLOGIA NA

2.2 LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO: UMA NECESSIDADE

2.2.4 Comunicação, informação e conhecimento

Temos aqui a necessidade da distinção entre os conceitos de comunicação, informação e conhecimento, uma vez que é possível notar uma imposição da informação, oriunda de todos os lados, todos os meios, perante a comunicação. Como coloca Wolton (2010, p. 26), informar não é comunicar. Informação, na tradição política e intelectual, remete à ideia de algo que aparece e produz uma ruptura. “A informação tem a ver com o acontecimento ou com o dado novo que perdura uma ordem vigente. Essa é a sua força.” Já a comunicação está associada à ideia de compartilhamento, vínculo e “comunhão”, o que a torna mais complexa que a informação, pois impõe a questão do outro, da relação e da troca mútua.

No entanto, o que percebemos com o advento das tecnologias de comunicação e informação é que houve uma inversão de valores. “A informação passou a ser o que estabelece vínculo, tendo a sociedade da informação como horizonte. Ou seja, o sentido oposto ao da informação como ruptura. Quando tudo é signo e interação, a informação é vínculo.” (WOLTON, 2010, p. 14). Isso é possível notar na nova geração que faz uso da internet como única fonte legítima de informação e comunicação. E o mesmo acontece com a

comunicação que deixou, em parte, seu sentido clássico de compartilhamento de valores. “Ontem, comunicar era compartilhar e reunir, ou unir. Hoje, é mais conviver e administrar descontinuidades.” (WOLTON, 2010, p. 27).

A questão da comunicação tem a ver com as relações que os indivíduos estabelecem uns com os outros. Uma diferença, como coloca Wolton (2010, p. 59), quase ontológica com a informação. A mensagem não existe sem um destinatário, mas mesmo assim a informação existe em si. Isso não ocorre com a comunicação que necessita da existência do outro e do reconhecimento mútuo. É preciso reconhecer que o diálogo é algo inerente às relações humanas e sociais; negar a abertura ao outro é negar o reconhecimento das identidades e extinguir a construção de uma possível convivência cultural e a própria possibilidade de reconhecer a dignidade do ser humano e respeitá-lo enquanto tal.

Em um mundo saturado de informação, onde a tecnologia é onipresente, não se podem diminuir as incertezas que rondam a comunicação. É falso pensar que basta informar para comunicar, pois a onipresença da informação torna a comunicação mais difícil. Wolton (2010, p. 78), porém, acrescenta que o problema não está somente em torno da informação e no excesso dela, mas sim na falta de conhecimento necessário para interpretá-la.

É preciso conhecimento para explicar e contextualizar uma informação; caso contrário, corre-se o risco de criar um mundo incoerente e tiranizado pelos acontecimentos (WOLTON, 2010, p. 77). É preciso saber escolher quais são as informações que realmente construirão o meu conhecimento. O saber é um processo contínuo e não, apenas, retenção aleatória de informações. Luckesi (1994, p. 122) define conhecimento como uma compreensão inteligível da realidade, que os homens adquirem através do confronto com essa mesma realidade.

A realidade exterior adquire, no interior do ser humano, uma forma abstrata pensada, que lhe permite saber e dizer o que essa realidade é. A realidade exterior se faz presente no interior do sujeito, do pensamento. A realidade, através do conhecimento, deixa de ser uma incógnita, uma coisa opaca, para se tornar algo compreendido, translúcido.

Gadamer (1997b, p. 217) coloca que essa questão acena ao momento em que fica claro e manifesto com que razão o outro diz o que diz; seria isso a simples evidência interna da compreensão. Simultaneamente à revolução da informática, em que a informação passa a circular por diferentes áreas e culturas, parece faltar uma linguagem comum, o que só reforça as contradições e as tensões; é na linguagem que o entendimento e a compreensão revelam seu sucesso ou o seu fracasso.

Gadamer (1997b) apresenta uma tese que parece explicar os problemas que rondam a compreensão em tempos que a linguagem falada perde seu posto para a linguagem escrita. Ele coloca que o próprio processo de compreensão representa um fenômeno de linguagem, essa compreensão tácita e silenciosa que se esforça para auscultar a linguagem acaba esbarrando em outro fenômeno – aquele em que tentamos adivinhar o pensamento de outrem ou quando, sem mencionar suas intenções, ocorre um acordo tácito. Ele compara esse processo de linguagem àqueles diálogos internos caracterizados por Platão. Ficar sem palavras ou – talvez seja muita ousadia, mas valendo-se da tese de Gadamer e trazendo para esses novos tempos em que a linguagem cibernética ganha novas formas – utilizar de novos componentes de linguagem, se assim podemos chamar, como os emojis25, também seria uma forma de estrutura de linguagem, em que a negação da língua escrita testemunha a capacidade de buscar expressão para tudo.

De qualquer forma, temos de lembrar que essa busca do entendimento pode levar à incompreensão entre as partes. Porém, justamente quando nos deparamos com algo estranho, provocante e desorientador, que, de acordo com Gadamer (1997b, p. 25), ocorre o primeiro lampejo de querer compreender. “A nova linguagem traz dificuldades para o entendimento, mas o processo comunicativo também possibilita a superação dessas dificuldades. É esse, pelo menos, o objetivo ideal de toda comunicação.” (GADAMER, 1997b, p. 222).

É necessária uma base sólida para conhecer e saber escolher. É preciso investigação para descobrir o que ainda permanece oculto; somente depois de compreendido é que podemos considerar algo como conhecido. E, unicamente, através do conhecimento é possível fazer bom uso da informação, fazendo dela ferramenta de avanço em direção ao novo. É preciso dispor de conhecimento para fazer interpretações; quanto mais competente for o entendimento, mais satisfatória será a ação do sujeito que a detém. “Conhecimento, no verdadeiro sentido do termo, é aquele que possibilita uma efetiva compreensão com a realidade, de tal forma que permite agir com adequação.” (LUCKESI, 1994, p. 124).

Não é possível julgar, refletir, dialogar, filosofar, contrapor ideias, ter senso crítico e orientar a ação humana, como convém um ponto de vista ético, sem dispor de conhecimento e capacidade de fazer escolhas deliberadas. A dificuldade em produzir diálogos só pode ser superada no âmbito do conhecimento. Em um mundo pluralista, onde as incontáveis diferenças pulsam vigorosamente, é preciso de um mínimo de tempo e diálogo para conhecer, reconhecer e respeitar um ser humano em sua diversidade, especificidade e dignidade.

25 De origem japonesa, a palavra emoji é composta pela junção dos elementos e (imagem) e moji (letra), tendo