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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Comunicação Internacional como um campo de estudo

O primeiro capítulo desta dissertação foi dedicado ao enquadramento do tema, onde expôs-se o papel do Brasil no contexto internacional ao apresentar suas características de potência emergente. Também falamos na importância do Conselho de Segurança da ONU e da vontade brasileira de tornar-se um membro permanente deste, elevando assim sua relevância no cenário internacional, o que faz parte dos objetivos da política externa do país. Já este segundo capítulo será dedicado a fundamentação teórica da investigação, no qual será abordada outra questão fundamental para a pesquisa: a importância da mídia na reprodução e propagação da imagem brasileira e o seu papel cada vez maior nas Relações Internacionais.

A comunicação internacional como campo de estudos adquiriu grande ênfase, principalmente, com as atividades humanas e o alto desenvolvimento tecnológico ocorridos na metade do século passado. Pode ser considerada um campo de estudos dentro das Relações Internacionais, mas também pode ser estudada na área de Ciências da Comunicação, uma vez que aborda os dois setores. Alguns são os exemplos dos pesquisadores que usaram paradigmas da comunicação nos estudos das relações internacionais e vice-versa. Podemos citar o exemplo de estudiosos como Karl Deutsch, Richard Merritt e Carl Clark, Charles McClelland, entre outros. (Mowlana, 1997, p. 11). A interferência dos meios de comunicação nas relações internacionais estimula a introdução de conceitos que originalmente são estudados na área de Ciências da Comunicação, como por exemplo, meios de comunicação de massa (mass media), agenda-setting, opinião pública, entre outros, nos estudos das relações internacionais. As duas áreas são bastante interligadas, principalmente, se estamos nos referindo ao fluxo de informação internacional impulsionado através da globalização.

Segundo Fadul, durante a década de 70, com o aceleramento do processo da globalização, o setor económico não foi o único a ser afetado, paralelamente vamos nos deparar com a influência da globalização na área da comunicação, com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento de novas tecnologias de comunicação, informática e telecomunicação, as quais contribuem para minimizar a noção de tempo e espaço. (Fadul e Moreira, 2007, p. 02).

26 Atualmente, o número de estudos sobre comunicação internacional é significativo, principalmente, após os avanços tecnológicos no setor, que acarretaram em numerosos artigos e livros sobre o assunto. Entre as abordagens mais conhecidas podemos citar “ a era da informação”, “ sociedade da informação”, “ sociedade informática”, entre outros, os quais deslocaram paradigmas até então predominantes na área de estudos, como por exemplo, “sociedade agrária”, “sociedade industrial” e “sociedade pós-industrial”.

O problema, salientado por Mowlana, nesses novos campos de estudo é que eles não refletem a realidade de muitas sociedades, onde o desenvolvimento tecnológico ainda não é tão alto. Além de não transmitirem a devida atenção para fatores culturais e psicológicos, os quais mudam de forma rápida e constante durante o processo de estudo. Ele também salienta a distinção que deve ser feita na definição do processo de comunicação intercultural e internacional e na descrição e análise deste processo, ressaltando que a comunicação intercultural e internacional como campo de estudos é mais facilmente definida do que o processo em si.

De qualquer forma, Mowlana também fala sobre a dificuldade em separar a área de comunicação intercultural da comunicação internacional. A primeira cresceu na década de 90 como zona de estudo e pesquisa, ressaltando que ela também deve levar em consideração questões políticas e económicas, da mesma forma que a comunicação internacional não deve menosprezar questões culturais e linguísticas no seu estudo. Dessa forma, as duas áreas estão interligadas e não devem ser estudadas de forma separada. (Mowlana, 1997, p. 05).

Segundo Gilboa, outra abordagem de estudos na comunicação internacional está sendo trabalhada recentemente. A chamada Teoria do Efeito CNN estuda a interferência das coberturas jornalísticas em tempo real feitas pela televisão na política externa, tendo seu foco, principalmente, nas coberturas de guerras étnicas e civis, além de questões humanitárias. Muitos estudiosos estão desenvolvendo essa nova teoria para tentar explicar os efeitos da cobertura televisiva na política externa. (Gilboa, 2005, p. 28). A Teoria do Efeito CNN será abordada de forma mais profunda nessa dissertação, quando analisarmos o impacto da mídia na política externa.

Quatro são as abordagens utilizadas por pesquisadores, governos, profissionais da mídia e indivíduos ao estudarem a comunicação internacional. Entre elas: idealística- humanística, proselitismo político, poder económico e poder político. (Mowlana, 1997, p.06). A abordagem idealística-humanística caracteriza a comunicação internacional

27 como um meio de unir as pessoas e as nações, além do poder de contribuir com organizações internacionais a fim de servir a comunidade mundial, tendo como exemplo garantir a paz mundial. Ela vem sendo criticada por ser uma abordagem idealista, a qual possui certos problemas. Entre eles devemos destacar a impossibilidade de atingir seu objetivo, quando falamos da transferência de informação e valores para os indivíduos. Devidas as diferenças culturais, cada pessoa é única e possui uma “bagagem” de valores e conhecimento construídos a partir de informações recebidas ao longo de sua vida. Dessa forma, só uma pequena parte dos seus valores é que são susceptíveis a influência de informação.

“Every person´s knowledge and value system is unique and reflects the accumulated image of all the messages he or she has received. There are no facts, only a changeable value system and images that are malleable and open to socializing influences.” (Mowlana, 1997, p. 07).

Outra crítica a abordagem humanística é sobre a variação de idéias, neste caso, em relação a paz mundial. Em sociedades diferentes, com pessoas diferentes, o significado de paz mundial para um, pode não ser o mesmo para outro. Principalmente, se temos sociedades ideologicamente diferentes, como o imperialismo. Em outras palavras, apesar da existência de um pensamento predominante de mundo ideal e de paz, é praticamente impossível não existir oposição, mesmo que seja pequena. Para além, podemos falar na diferença de pensamento existente nas sociedades. Quando partimos do pressuposto de que todos pensam da mesma forma, não existirá mudança, pois é a partir do pensamento diferente que surge o progresso, ou seja, o progresso humano surge de indivíduos que discordam com as normas e linhas de pensamento existentes.

Já a abordagem do proselitismo político vê a comunicação internacional como forma de propaganda e publicidade, principalmente, governamental, além de servir para o confronto de idéias e a criação de clichés e mitos. O proselitismo necessita de algum tipo de autoridade política para possibilitar a manipulação das pessoas, por isso é usada constantemente na relação entre Estados nas últimas décadas.

As críticas em torno desta abordagem são referentes ao fato dela ocasionar uma falta de confiança em torno da mídia internacional, pois leva as pessoas a acreditarem na utilização dos meios de comunicação com o propósito de manipular os indivíduos. Dessa forma, como é chamada por Mowlana, a “Guerra de idéias” tem sido acusada de patrocinar a rivalidade ideológica, a qual alimenta a intolerância entre as nações e

28 pessoas, aqui, podemos ressaltar que a comunicação internacional é acusada de patrocinar tensões internacionais, se não intencionalmente, pela falta de promoção de soluções pacíficas.

A terceira abordagem vê a informação no contexto internacional como forma de poder económico mais subtil. Ela é usada principalmente para negócios, comércio, marketing, transferência de tecnologia, entre outros. Podemos afirmar que ela é utilizada sobretudo na dominação de países periféricos por países desenvolvidos, pois os primeiros, através da “modernização”, vão adotar formas de comportamento dos segundos, também tornando-se mais fáceis de controlar. Já a última abordagem; vê a informação como poder político, sendo que essa assume a forma de notícias e dados, e é considerada neutra e livre de valores. Podemos citar como instrumentos de informação políticas: agências de notícias, programas televisivos, produção literária e de cinema, que saem de um país para outro levando conteúdo cultural, podendo dessa forma influenciar o país receptor.

Como as orientações idealística e do proselitismo político, essas duas últimas também são bastante criticadas. Para as orientações política e económica, a informação é uma fonte de poder, estando no mesmo patamar que o petróleo e urânio, por exemplo. Em uma sociedade baseada na informação, esta virou uma forma de recurso internacional, podendo ser usada para manipulação das pessoas, utilizando o exemplo da transmissão televisiva parte-se do pressuposto que teremos a habilidade de manipular os telespectadores. Em outras palavras, informação significa poder e através da sua utilização pode-se conseguir atingir efeitos no desenvolvimento político, social e económico.

Apesar da capacidade de comunicar-se com outras pessoas pelo mundo ter crescido nos últimos anos através do desenvolvimento tecnológico, ainda são muitos os países sem o progresso tecnológico necessário. Muitas são as sociedades que não dispõem de uma estrutura de comunicações para possibilitar essa troca de informações. Dessa forma, podemos destacar que a tendência em monopolizar a comunicação está crescendo. Com o final da União Soviética, a luta por uma chamada igualdade ao acesso de informação cedeu lugar a economia de mercado e ao capitalismo, liderada pelos EUA e pela União Européia. Consequentemente, podemos dizer que a comunicação global não é universal, com o monopólio da informação restrito a alguns. (Mowlana, 1997, p. 08).

29 Essas são as quatro abordagens da comunicação internacional utilizadas por estudiosos, governos e os profissionais da mídia para descrever a comunicação internacional. Como pode ser constatado, as abordagens estão interligadas entre si e podem ser utilizadas em um mesmo estudo. Para fins de estudo desta dissertação, utilizaremos conceitos das áreas de Ciências da Comunicação e relações internacionais, uma vez que como foi descrito no começo deste tópico, elas estão interligadas.

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2.2 Comunicação global: a relação entre os meios de comunicação e a

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