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Conforme apontado por alguns estudiosos da paralisia cerebral, alguns indivíduos podem apresentar comprometimento na linguagem de modo geral, tanto na compreensão, quanto na expressão, enquanto outros podem desenvolver linguagem, porém experimentar dificuldades em se tratando da produção. Em outras palavras, esses indivíduos apresentam um vocabulário receptivo adequado para as interações sociais, mas não conseguem expressá-lo pelo uso da fala convencional, ou seja, não conseguem articular os sons da fala de modo que passem as informações pertinentes ao processo de comunicação em suas relações interpessoais. Visto que o participante desta pesquisa se enquadra no perfil da paralisia cerebral em cuja linguagem expressiva há dificuldade na oralidade, foram apresentados conceitos de comunicação verbal e não-verbal e comunicação suplementar e alternativa de autores consagrados na área, a fim de justificar algumas terminologias utilizadas na presente pesquisa, bem como vislumbrar ao leitor o olhar das potencialidades de comunicação dos indivíduos com deficiência, por meio de caminhos não usuais.

Pode-se classificar uma mensagem comunicativa em verbal, não-verbal, vocal e não- vocal. A comunicação verbal apresenta um código lingüístico estruturado, que não implica a necessidade de suporte ou apoio extra para a interação, como, por exemplo, a fala, a escrita e a língua de sinais. Já a comunicação não-verbal refere-se à transmissão de mensagens na ausência de um código lingüístico estruturado, sendo utilizados suportes, como os gestos, as

expressões faciais e corporais, as risadas e as pranchas de comunicação, para garantir a interação. A classificação vocal é utilizada para toda a comunicação que apresenta produção de som, como as vocalizações. Em contrapartida, a classificação não-vocal se refere a toda comunicação que não apresenta produção de som como os gestos, as expressões faciais e corporais e as pranchas de comunicação. É possível, ainda, estabelecer relações entre as classificações verbal, não-verbal, vocal e não-vocal: vocal e verbal pode ser exemplificado pela fala; verbal e não-vocal exemplificado pela língua de sinais; vocal e não-verbal pelo uso do choro, risada e vocalização e não-verbal e não-vocal poder ser representado pela comunicação baseada em apontamentos, gestos, expressões faciais e linguagem corporal (MILIKIN, 1997).

Nesta perspectiva, ainda que a fala seja o meio de comunicação mais complexo e característico do ser humano, compreender a comunicação de uma maneira geral é não se restringir a analisá-la somente a partir de seus elementos vocais e/ou verbais, o que limitaria bastante a visão de todo o repertório comunicativo de uma pessoa. Nosso corpo serve para confirmar, enfatizar, completar e, em caso limite, para contradizer o que estamos tentando comunicar verbalmente. Assim, em muitos momentos, gestos e expressões faciais, dentre outros componentes não-vocais e não-verbais dizem o que a fala não mostra (SAMESHIMA, 2006).

A comunicação humana inclui, portanto, uma gama de atividades, cuja grande parte é não-verbal. A postura corporal e os gestos das mãos do falante transmitem aspectos de atitude, ênfase e emoção. Muitas vezes, essas formas não-verbais de comunicação são não- intencionais e não específicas (BOONE; PLANTE, 1994; MANZINI, 1999; KNAPP; HALL, 1999; OMOTE, 2001). Em se tratando do aluno da educação especial, sabe-se que grande parte pode apresentar dificuldades nos diferentes recursos comunicativos, quer na modalidade oral, quer na gestual, em função das diferentes manifestações motoras e/ou cognitivas (MANZINI, 2001).

Basil (2003) discutiu o avanço no reconhecimento das diferenças individuais e a aceitação de novas formas de comunicação concedendo às pessoas com deficiência o lugar que lhes corresponde em todos os espaços, como no caso do ambiente familiar, educacional, profissional, recreativo e comunicativo. Quando um aluno não consegue utilizar a fala ou mesmo os gestos para se comunicar, suas possibilidades de interação podem estar limitadas e sua inclusão social e escolar prejudicada. Nesse sentido, na área da Educação Especial, a expressão comunicação suplementar e alternativa (CSA) vem sendo utilizada para designar um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos junto a pessoas acometidas por

alguma doença, deficiência ou alguma situação temporária que impeça a comunicação com demais pessoas utilizando os recursos usuais, mais especificamente a fala (DELIBERATO; MANZINI, 2000).

De acordo com a Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição - AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION – A.S.H.A. (1989),

“a Comunicação Suplementar e Alternativa é uma área da prática clínica que se destina a compensar (tanto temporariamente como permanentemente) as alterações ou incapacidades de comunicação expressiva, os distúrbios severos na fala, linguagem e na escrita” (ASHA, 1989, p. 107).

Glennen (1997) definiu a comunicação suplementar e alternativa como outras formas de comunicação que compreendem o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos e até mesmo o uso de sistemas sofisticados de computador, com voz sintetizada. A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo comunica-se face-a-face por meio de outros caminhos que não a fala e suplementar quando, por meio de um suporte, favorece e amplia as possibilidades de comunicação, inclusive a fala (GONÇALVES; CAPOVILLA; MACEDO, 1998; CAPOVILLA, 2001).

Assim, a comunicação suplementar e alternativa se refere a toda forma de comunicação que complemente, suplemente, substitua ou apóie a fala. Destina-se a cobrir as necessidades expressivas e a aumentar a interação comunicativa tanto dos:

“indivíduos que apresentam elevado nível de compreensão de linguagem oral, mas não possuem um meio adequado de expressão, como aqueles outros cujas alterações impeçam de adquirir a fala como veículo de expressão e ao mesmo tempo a interfiram na compreensão da linguagem, inclusos os requisitos cognitivos e sociais” (MOREIRA; CHUN, 1997, p. 149).

A comunicação suplementar e alternativa pode ser não-apoiada e apoiada. É considerada não-apoiada ou não-assistida quando os recursos comunicativos estão centrados na própria pessoa, ou seja, quando a pessoa usa sinais manuais, expressões faciais, língua de sinais e gestos. Essas possibilidades comunicativas são produzidas pelo próprio usuário sem auxílio de outra pessoa ou equipamento. A comunicação suplementar e alternativa apoiada ou assistida compreende todas as formas de comunicação que possuem expressão lingüística na forma física e fora do corpo do usuário, como no caso do uso de objetos reais, miniaturas de objetos, fotografias, figuras e outros símbolos gráficos, além dos sistemas computadorizados (MANZINI; DELIBERATO, 2004).

Deliberato (2005) discutiu que o recurso mais adequado poderia ser o instrumento que possibilitaria ao aluno com deficiência não-falante poder entender e se fazer ser entendido em diferentes ambientes, perante distintos interlocutores, com variadas tarefas.

“A complexidade de utilização dos sistemas suplementares e/ou alternativos de comunicação está na dependência da capacidade de desenvolvimento das possibilidades comunicativas do usuário e, também, em função do contexto comunicativo” (MOREIRA; CHUN, 1997, p. 168).

Deliberato e Manzini (2006), quanto ao ambiente educacional, ressaltaram que além da formação necessária para os professores especializados e do ensino regular, deveria existir uma preocupação efetiva na garantia de que os alunos com deficiência e não-falantes e seus professores fossem constantemente instrumentalizados. Neste contexto, os alunos com deficiência deveriam ter acesso aos recursos adaptados às suas necessidades e o professor deveria ter instrumentos adequados para propiciar a aprendizagem efetiva e ter condições de avaliá-la.

A partir das definições e reflexões apresentadas, pode-se afirmar que muitos alunos com deficiência e não-falantes têm, em sua comunicação, uma das maiores barreiras para seu aprendizado e para sua integração social, muitas vezes, dentro da própria sala de aula, queira regular, queira especial, visto que não têm instrumentos necessários para participar das mesmas atividades que os demais colegas, embora com condições intelectuais favoráveis e compatíveis. Nesse contexto, a utilização de algum sistema de comunicação suplementar e alternativa por estes alunos é, muitas vezes, indispensável, pois é o instrumento de que necessitam para o desenvolvimento de linguagem enquanto conteúdo. Em outras palavras, aprender a ler e a escrever, produzir um texto, contar e recontar uma história, aprender os números e a fazer contas são habitualmente atividades em cuja participação aqueles indivíduos costumam ser marginalizados (FERNANDES, 2001; ZAPATA, 2001). De fato, os recursos e procedimentos da comunicação suplementar e alternativa poderiam, quando bem empregados, tornar-se um fator relevante para a viabilização da inclusão social e pedagógica de indivíduos com deficiência e não-falantes.