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Comunicação e Transporte

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FOTO 16 – Casa de um dos moradores da comunidade que hospeda

3 COMUNIDADE QUILOMBOLA CÓRREGO FUNDO

3.2 DIMENSÕES ESTRUTURAIS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA CÓRREGO

3.2.4 Comunicação e Transporte

O rádio e a televisão são os meios de comunicação utilizados pelos remanescentes de quilombolas da Comunidade Córrego Fundo. O rádio supera a televisão em função do valor do objeto, da possibilidade de poder manuseá-lo, levar para qualquer lugar e por último pela própria tradição.

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roça, durante o período de carpina, plantação e colheita, por ser uma forma de distração, visto que o tempo passa de forma mais agradável. A televisão chegou à comunidade somente após o ano 2004, com o advento da energia elétrica no local. Contudo, ainda há alguns integrantes da comunidade que não assistem televisão, pelo fato de serem evangélicos, e alegarem que os preceitos morais religiosos não coadunam e não se combinam. Também, entre os remanescentes que não assistem televisão, relacionam-se moradores de Barreiro, visto que lá não existe energia elétrica. O celular não é utilizado por nenhum morador da comunidade, uma vez que não há recepção de sinal de nenhuma operadora. Como já mencionado, quando precisam utilizar esse meio de comunicação, vão até a cidade de Brejinho de Nazaré.

Entre as várias dificuldades enfrentadas pelos remanescentes de quilombolas, faz-se necessário relatar sobre os meios de transportes que os mesmos utilizam para se locomoverem. As respostas levantadas colocam em primeiro lugar o uso do caminhão da prefeitura, seguido pelo ônibus; outros utilizam outros meios de transportes como no caso de bicicletas (TABELA 07).

Meio de transporte Porcentagem Porcentagem

SIM NAO Ônibus 62,5 37,5 Caminhão 79,2 20,8 Carroça --- 100,0 Carro 42,0 68,0 Outros (bicicleta, a pé) 20,8 79,2

TABELA 07 - Meios de transportes utilizados na Comunidade Quilombola Córrego Fundo. FONTE: Pesquisa de Campo, 2012-2013.

Embora o ônibus escolar seja bem utilizado para transportar os alunos da comunidade, percebe-se também que mesmo fugindo as regras, a maioria dos moradores insiste em utilizá-lo também. Não existe outra linha específica para o trajeto entre a comunidade e Brejinho de Nazaré. A prefeitura disponibiliza um caminhão todas as quartas-feiras para cumprir essa trajetória (FOTO 10). Esse serviço é ofertado de forma gratuita e democrática uma vez que todos os territórios são atendidos semanalmente visando não gerar insatisfação ou sentimento de exclusão.

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FOTO10 - Caminhão levando os Quilombolas da Comunidade até Brejinho de Nazaré FONTE: Pesquisa de Campo / 2013.

Todo quinto dia de cada mês acontece os pagamentos dos benefícios ou aposentadorias e os beneficiados vão até a cidade para receber o benefício. Este é um fator que corrobora com o percentual acima citado do quantitativo de pessoas que usam o caminhão. O transporte possibilita o livre acesso à cidade, à condução de objetos pesados de um local para outro, aproveitam e fazem compras, vão ao banco, vão fazer consultas médicas, etc. Algumas pessoas também levam arroz para ser pilado (retirar a casca do arroz) na cidade (FOTO 11), bem como levam partes de sua produção para venderem, como: arroz, feijão, milho, banana entre outros produtos.

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FOTO 11- Moradores da Comunidade levando o arroz para a beneficiadora FONTE: Pesquisa de Campo, 2013.

A viagem tem duração de praticamente uma hora. A condição da estrada de chão é irregular, cheia de buracos e traz desconforto para os passageiros. Apesar de ser proibida pelas leis de trânsito, a prática de se viajar na carroceria do caminhão é comum na região e no município. Os quilombolas e o motorista da prefeitura afirmaram que nunca houve acidente. A viagem é arriscada, especialmente a volta, pois dividem o espaço com as compras. É necessário que a pessoa se segure firme para evitar que caía ou sofra qualquer tipo de acidente. A condição climática influi diretamente na qualidade da viagem. As pessoas ficam completamente expostas à intempérie.

O transporte é uma questão fundamental que está ligada diretamente à sobrevivência da comunidade. Pelos relatos oriundos das informações coletadas durante a pesquisa de campo e levantamento histórico cartorial, os remanescentes de quilombolas esclareceram que antigamente, fazendo uso de facão e da enxada, eram construídas as estradas de chão “O caminho era aberto no facão”. Essa forma manual de trabalho precisava de muito tempo para a conclusão das construções das

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estradas visto que dependiam diretamente da quantidade de homens e de horas despendidas para a consecução das vias.

O Córrego Fundo no tempo antigo não possuía estradas que ligassem a cidade, não possuía as pequenas pontes que passam por cima dos muitos córregos que cortam a comunidade. Na época de chuvas ficava mais difícil para fazer a travessia. A construção das vias era de uma importância indescritível por ser a ligação da comunidade com o mundo exterior, ressaltando a cidade de Brejinho de Nazaré. Garantir uma circulação mais fácil era muito importante, pois assegurava o atendimento médico e o comércio na cidade.

Ainda no tempo antigo as pessoas andavam a pé ou em cima de animais. Quando era para carregar um doente este era carregado em rede até o hospital em Brejinho de Nazaré ou Porto Nacional. Eram mais de 12 horas andando. Nessa época, faleceram pessoas pelo fato do atendimento não ser rápido.

A comunidade não conta com a rota de ônibus, nem mesmo mensalmente, e os remanescentes entrevistados não souberam responder o porquê de não serem atendidos com o transporte público. No entanto, a prefeitura oferece ônibus para as crianças irem para a cidade estudar. O ônibus passa em alguns pontos determinados na comunidade que nem sempre é perto da casa de todos pelo fato das moradas na comunidade serem espalhadas. O deslocamento dos estudantes até o local do ponto de ônibus é feito por bicicleta, que ficam nesses locais até voltarem da escola e poderem retornar para casa em suas bicicletas. Os demais moradores se deslocam também a pé, bicicleta (FOTO 12), cavalo ou quando a pessoa tem um pouco mais de recurso, por motocicleta.

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FOTO 12 - Locais em que os estudantes deixam as bicicletas para pegarem o transporte escolar. FONTE: Pesquisa de Campo, 2013.

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