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Capitulo 2- Fundamentação Teórica

2.3 Variáveis da Cooperação

2.3.7 Comunicação

Tradicionalmente a investigação da cooperação no campo dos dilemas sociais, recorre a modelos teóricos de jogos baseados no dilema do prisioneiro. O principal foco do campo de estudos das abordagens dos dilemas sociais, centra-se em perceber que fatores influenciam a cooperação aquando de um dilema social. No caso do estudo de interações entre grupos de indivíduos, são usados geralmente os jogos de bens públicos (Kagel & Roth 1995 in Hauert, Holmes & Doebeli, 2006).

Os dilemas que envolvem bens públicos, assentam por exemplo em discussões que envolvam a contribuição monetária, para bens públicos. É preciso que os envolvidos, alcancem um acordo que atinja determinada soma monetária afim de o bem público ser alcançado (Balliet 2009). Neste tipo de situações, os interesses individuais, bem como os interesses públicos, entram

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em conflito, pois o individuo joga pelo seu interesse individual de preservar ao máximo o seu dinheiro e ao mesmo tempo manter o bem publico de manter a televisão pública. Assim para que se possa atingir o objetivo de manter a televisão pública as pessoas não podem seguir a lógica de preservar ao máximo o seu próprio dinheiro.

Mas o dilema mais focado pela literatura, acaba por ser o dilema do prisioneiro. Neste dilema, duas ou mais pessoas são confrontadas com uma matriz de escolha binária, sendo que por vezes as pessoas estão em salas separadas impedindo a comunicação entre elas. Sally (1995 in Balliet, 2009), verificou que quando havia comunicação entre os vários elementos envolvidos no dilema, estas tinham mais tendência a cooperar.

Assim, uma breve discussão antes da interação, levou a um aumento dos comportamentos cooperativos (Deutsch 1958, 1960; Loomis 1959 in Balliet, 2009). Isto reforça a ideia da importância da comunicação numa cooperação bem-sucedida. Diversas formas de comunicação e o seu peso têm sido estudadas pela literatura reforçando o peso da comunicação na cooperação, bastando apenas a oportunidade para que a comunicação se dê.

A explicação para este efeito da comunicação sobre a cooperação, é explicado pelos estudos de Kerr et al. (1997 in Balliet, 2009), que apontam para que a comunicação, pese para uma melhor compreensão do dilema, crescentes explicações de cooperação, potenciar a identidade grupal e estabelecimento de normas de cooperação. Havendo uma intensa discussão, sobre qual é o fator mediador decisivo para a cooperação, dando alguns autores enfâse à identificação com o grupo e as normas de cooperação que resultam da comunicação (Orbell, van de Kragt, & Dawes 1988, in Balliet 2009), Por outro lado Kerr et al (1997 in Balliet, 2009), argumenta que o fator mediador decisivo acaba por ser as normas.

Balliet (2009), com base nestes estudos anteriores e especialmente na revisão de literatura de Sally (1995) que este considera apresentar limitações, fez uma revisão meta-analítica com o objetivo de elucidar a forma como a comunicação agem de forma a potenciar a cooperação. Este centrou-se no tipo de cooperação, quando ocorre a comunicação e por fim na dimensão dos grupos. No que toca a tipo de comunicação, este analisou as diferenças na

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cooperação, quando a comunicação é feita cara a cara ou por meio de mensagens escritas. Quanto a quando ocorre essa comunicação, o objetivo da revisão meta-analítica, foi elucidar em qual das situações a cooperação é mais beneficiada, se quando esta ocorre previamente ao jogo dilemático antes do primeiro teste, se quando ocorre antes de cada teste da prova mas sem haver comunicação durante o processo de decisão ou se quando a comunicação se dá de forma continua. Já no que toca a dimensão do grupo, este tem sido pouco abordada pela literatura, havendo apenas um estudo que apurou que os grupos de menor dimensão alcançam um melhor nível de cooperação face aos grupos de maior dimensão, mas apenas quando existe comunicação prévia à situação dilemática.

Com esta revisão meta-analítica, Balliet (2010) comprovou a forte relação entre a comunicação e a cooperação, nos mais variados dilemas sociais. Concluiu-se também que a comunicação cara-a-cara é mais produtiva para cooperação do que aquela feita por intermédio de mensagens escritas. Verificou-se ainda que a relação entre comunicação e cooperação é mais forte em grupos de maiores dimensões em comparação com grupos de pequenas dimensões. Já relativamente a quando ocorre, verificou-se que não havia diferenças entre a comunicação que ocorre previamente à situação dilemática e a comunicação contínua.

No campo das teorias dos dilemas sociais, os autores demonstraram empiricamente, que quando iniciado um comportamento cooperativo, a reciprocidade entra em campo, levando a comportamentos de cooperação cada vez mais fortes (Ferrin et al., 2007) Na teoria dos dilemas sociais, a negociação assume um grande relevo, em que duas ou mais partes resolvem as suas divergências em relação aos interesses não idênticos, no entanto a negociação, pode ser efetuada com recurso a comportamentos cooperativos e competitivos.

Já Deuscht (1958), havia notado que um breve período de discussão entre as partes envolvidas na resolução da situação dilemática, melhorava substancialmente a cooperação. Assim a comunicação assume um papel central na cooperação em contextos de dilema, muitos outros autores nos seus estudos chegaram á mesma conclusão (Bouas and Komorita 1996; Braver and

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Wilson 1986; Dawes, McTavish, and Shaklee 1977; Isaac and Walker 1988; Kerr et al.1997; Orbell, van de Kragt, and Dawes, 1988; Ostrom and Walker 1989; Scodel et al.1959 in Balliet 2010). Estima-se que a comunicação tenha um efeito potenciador da cooperação, na ordem dos 40%, tendo assim um peso muito maior sobre a cooperação que outras variáveis, como o tamanho do grupo, recompensa e identidade grupal (Sally, 1995 in Balliet 2010).

Assim através dos trabalhos destes diversos autores, é possível concluir a forte influência da comunicação, para o sucesso de uma interação cooperativa. Este constitui assim, mais um outro fator reconhecido pelos estudos empíricos, que poderá ser evidenciado pelos dados a serem analisados nesta dissertação de tese.

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