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Comunicar com uma puérpera adolescente – estudo de caso

4. Intervenção durante o período puerperal

4.1. Acolhimento à família

4.1.2. Comunicar com uma puérpera adolescente – estudo de caso

A evidência científica vem mostrando que existe na maioria das mães uma resiliência na adaptação ao seu novo papel. O companheiro deve ser uma fonte de suporte, que facilita e diminui o impacto de muitas adversidades que a mulher enfrenta (Felgueiras et al., 2013). Esta resiliência pode ser ainda mais sentida em puérperas adolescentes, onde muitas vezes ainda não existe uma figura de suporte.

Durante a realização deste módulo houve oportunidade de contactar com algumas jovens mães com idades compreendidas entre os quinze e os dezassete anos. Um dos desafios sentidos foi a comunicação com estas jovens, para maximizar a qualidade dos cuidados, dado tratar-se de um grupo de risco.

A palavra “adolescer” advém do latim e significa desenvolver-se, crescer. Segundo a OMS a adolescência é uma fase do ciclo de vida do Homem que tem início aos 10 anos e término aos 20 anos de idade. De referir que o período compreendido entre os 15 e os 20 anos de idade é já considerado como adolescência tardia. É nesta fase da vida em que a jovem inicia descobertas, têm novos anseios e onde ocorrem alterações físicas, psíquicas e sociais. É também neste momento em que a adolescente procura entender quem é e qual o seu papel na sociedade (Oliveira et al., 2009).

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A gravidez, em qualquer fase da vida da mulher, pode ser vista como uma marcha para o que é desconhecido e o impacto emocional da comunicação de uma gravidez leva ao aparecimento de um vasto leque de emoções e sentimentos que pode ir desde a extrema energia até ao medo (Bahadoran et al., 2008 cit in Ferreira, 2013).

A gravidez na fase adolescente da mulher é considerada como um acontecimento precoce. Desta forma o anúncio de uma gravidez na adolescência traduz-se num vasto leque de emoções e é caracterizado como um evento inesperado no início, passando para um período de surpresa e descontentamento e finalmente culminando em aceitação (Caldeira et al., 2012).

O período puerperal representa o culminar dos sentimentos vividos durante a gravidez e caracteriza-se por ser o momento em que a jovem vivência as primeiras obrigações da maternidade, desde a amamentação aos cuidados de higiene ao recém-nascido, mas também do seu próprio autocuidado, como puérpera (Nóbrega e Bezerra, 2010).

É importante exercer durante este período ações relativas ao cuidado centrado na díade mãe-filho, sendo responsável pela educação para a saúde, esclarecendo as dúvidas existentes e também pela orientação para a saúde para que estas jovens puérperas adquiram sentimentos de confiança e tranquilidade em relação ao seu novo papel de mãe. É exigido ao profissional de saúde que seja hábil em comunicação significativa, disponibilidade, avaliação e monitorização e ter uma postura de aceitação (Nóbrega e Bezerra, 2010).

Deste modo surge a questão: como se deve comunicar com uma puérpera adolescente para que os cuidados de Enfermagem prestados sejam de excelência? Qual o pronome pessoal a utilizar, tu ou você?

Os profissionais de saúde, principalmente os Enfermeiros, sempre se debateram com esta questão principalmente quando surge um adolescente num internamento. Tendo em consideração que, num internamento em Obstetrícia, o mais espectável é que apenas existam adultos internados, esta questão torna-se ainda mais pertinente.

Muitas opiniões foram surgindo e alguns profissionais defendem que estas jovens devem ser tratadas pelo pronome de segunda pessoa, “tu”, pois acreditam que assim criam uma maior ligação, tornam mais fácil a educação para saúde e aumentam o sentimento de confiança entre a puérpera adolescente e o profissional de saúde.

95 Outra opinião é de que se deve questionar a puérpera de que forma esta quer ser tratada, por “tu” ou por “você”, dando assim a oportunidade de escolha à jovem puérpera para que esta seja capaz de verbalizar uma opinião e não seja o profissional de saúde a impor uma forma de tratamento.

Por último, existe a opinião de que estas devem ser tratadas da mesma forma que as restantes puérperas, portanto por “você”.

Segundo Nóbrega e Bezerra(2010), a maioria das adolescentes refere que o facto de serem tratadas pelo primeiro nome torna o internamento mais agradável, estando tal facto associado a um bom atendimento por parte do profissional de saúde.

Refletindo sobre o assunto, o questionar à adolescente sobre a forma como esta gosta e quer ser tratada, leva a uma resposta tendenciosa. A maioria dos adolescentes na nossa sociedade, principalmente na região norte do país, é tratada por “tu”, dado que este pronome é normalmente reservado ao tratamento familiar e entre pessoas que se conhecem bem ou no tratamento de uma pessoa mais nova. Por outro lado, o tratamento por “você” tornou-se cada vez mais raro em Portugal, estando limitado a registos dialetais, litúrgicos ou mais formais. Assim, a mãe adolescente ao ser confrontada com esta questão irá responder tendo em conta a forma como geralmente é tratada e que lhe traz algum conforto, pois identifica esta forma de tratamento com o seu self.

Como profissionais de saúde deve-se abordar a puérpera adolescente da mesma forma que se aborda uma puérpera adulta. Deste modo, está-se a responsabilizar a puérpera pelos seus atos, pelo cuidado do recém-nascido e pelo seu próprio cuidado. Esta deve compreender que embora exista uma diferença de idade comparativamente com as outras puérperas, confia- se tanto nela como nas restantes mulheres e o que se espera dela é o mesmo que se espera das outras. Assim, não se está a criar um distanciamento na relação profissional de saúde/cliente, mas sim a criar mães que se sentem respeitadas, que não são subestimadas e que vão adquirir uma maior autoeficácia e autoestima.

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