• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 ± A CNEC CHEGA, ENFIM, AO CEARÁ

4.2. A CNEC CHEGA NO CEARÁ

4.3.11. A comunidade e a CNEC

Vê-se também que a Campanha começa a sentir necessidade de ter seus próprios prédios e a passagem pelos grupos escolares em geral não durava mais que um ano. Os terrenos eram muitas vezes doados por indivíduos de condição melhor do município e a construção dos prédios era feita muitas vezes com a ajuda dos pais dos alunos e de moradores GDVORFDOLGDGHV5HOHPEUDR3URIHVVRU/~FLR0HOR³$TXLR&HDUiQRVVRSRYR nunca foi rico Qp"0DVQyVQXQFDFRPSUDPRV XPWHUUHQRSDUDFRQVWUXLUXPSUpGLR´ ((Entrevista concedida em 13/01/2010). Se referindo aos municípios do interior do Estado.

Quanto a esse aspecto, ele afirma que a CNEC exerceu um papel de povoamento e de urbanização dos municípios. Porque geralmente os terrenos doados eram fora do centro da cidade e quando se começava a construção de uma escola, logo surgiam núcleos populacionais ao redor do colégio e aparecia também uma pequena rede de comércio, residências, capelas, enfim, gerava um pequeno núcleo urbano.

A ajuda dada pela comunidade não se restringia somente à doação dos terrenos. Os próprios moradores ajudavam a construir as escolas.

As proporções pagas à CNEC segundo normas adotadas pela Administração central, eram na seguinte proporção: os Municípios entravam com 25 contos96 anuais por turma, os Estados entravam com 46 e a União com 60 contos pagos anualmente. O restante era pago pelos pais dos alunos, mensalmente. Era uma quantia equivalente ao que era pago nas caixas escolares dos colégios públicos.

E eis então o esboço da história da chegada da CNEC ao Ceará. Até os primeiros anos da década de 1970 a CNEC ainda recebia recursos financeiros federais. As escolas passaram a sobreviver às custas do pagamento de uma mensalidade no que o Professor Lúcio Melo FKDPRXGH³FRQGRPtQLRVHVFRODUHV´

96 &RPRIRLXWLOL]DGRRSDGUmR³FRQWR´GHL[DPRVPHVPRTXHQmRIRsse mais a moeda padrão apenas para efeito

O condomínio escolar foi a figura encontrada pelos cenecistas, particularmente no Ceará, para facilitar o entendimento da manutenção das escolas da CNEC. Nas capitais e grandes cidades, comum à existência de moradas em apartamentos, a comparação em termos de recursos para a sustentação dos estabelecimentos cenecistas, ajudou bastante. No interior, DRFRQWUiULRSUiQDGDVHUYLX2V³SRPEDLV´LQH[LVWHPQRVHUWmR (Editorial da Revista O Cenecista?)

As escolas cenecistas começaram a fechar suas portas no começo do século XXI. Algumas ainda resistem sob nova administração, mas, são tão custosas quanto as particulares. Como escolas gratuitas ou semi-gratuitas, cumpriram o seu papel. Como escolas comunitárias, deixaram de valorizar uma experiência que poderia ter ajudado na busca de soluções para a educação no Brasil e que seria a efetiva participação da comunidade na direção escolar.

A Arminda de Araújo, o Carolino Sucupira, Demócrito Rocha, João Pontes e Júlia Jorge fecharam suas portas. Ainda resistem alguns colégios no interior do Estado, inclusive de grandes proporções, como o Ruy Barbosa no Iguatu, o Luzardo Viana em Caucaia e alguns outros. Mas não se pautam pelo modelo da escola comunitária.

Pensamos ter mostrado o panorama da história da chegada da CNEC ao Ceará no final da década de 1950 e começo da década de 1960. Para se ter uma idéia da extensão do movimento, mostramos a seguir uma tabela com os colégios que surgiram nesse tempo.

RELAÇÃO DAS ESCOLAS CENECISTAS FUNDADAS ENTRE 1958/1963

ANO ESTABELECIMENTO CIDADE

1958 Centro Educacional Santanense Santana do Acaraú

Colégio Massapeense Massapé*

1959 Centro Educacional Manuel Baltazar Guaiúba

Otacílio Mota Ipueiras

Centro Educacional Monsenhor Tabosa Morada Nova *

Centro Educacional Fonseca Lobo Santa Quitéria

1960 Centro Educacional Luzardo Viana Caucaia *

Centro Educacional Ruy Barbosa Iguatu *

Centro Educacional Pio XII Itapipoca *

Centro Educacional Castro Alves Mombaça *

Centro Educacional Avelino Feitosa Nova Olinda

Centro Educacional Domingos Brasileiro São Gonçalo do Amarante* Centro Educacional N.Sra,das Brotas Tabuleiro do Norte * Centro Educacional Arminda de Araújo Fortaleza

Centro Educacional São Luis Pacoti

Centro Educacional Perboyre e Silva Redenção *

1961 Centro Educacional São Pedro Caririaçu

Centro Educacional Moura Brasil Iracema

Centro Educacional 29 de agosto Jaguaretama *

Centro Educacional Domingos Paes Jaguraribara

Centro Educacional Cônego Agostinho Jaguaruana

Centro Educacional Epitácio Pessoa Orós

Centro Educacional Oviedo Diógenes Pereiro Centro Educacional Carolino Sucupira Sobrinho Fortaleza Centro Educacional Demócrito Rocha Fortaleza

Centro Educacional João Pontes Fortaleza

1962 Centro Educacional Joaquim Nogueira Baturité

Centro Educacional XI de Agosto Ipaumirim

Centro Educacional Henrique Jorge Itaiçaba

Centro Educacional Presidente Kennedy Limoeiro do Norte Centro Educacional Sagrado Coração de Jesus Piquet Carneiro 1963 Centro Educacional Pedro Gomes Alcoforado Aracoiaba

Centro Educacional Pe. João da Rocha Paracuru

Centro Educacional João XXIII Pentecoste *

* Colégios que continuam em atividade.

Relação de todos os Municípios do Ceará em que foram fundadas escolas da CNEC:

1ª Zona: Redenção e Pacatuba, Itapiúna e Palmácia, Guaramiranga e Aratuba, Pacoti, Baturité, Aracoiaba e Guaiúba

2ª Zona: Itapagé e Arara, Santa Quitéria, Irauçuba e Amanaiara, Itapipoca. 3ª Zona: Acaraú, Massapé, Groaíras, Marco, Morrinhos.

4ª Zona: Pentecoste, Paracuru, Caucaia,Canindé, São Gonçalo do Amarante 5ª Zona: Maracanaú, Cascavel e Beberibe, Itabebussu, Pacajus e Aquiraz

6ª Zona: Parambu, Solonópole e Mombaça, Milha, Senador Pompeu, Madalena, Independência, Piquet Carneiro, Minerolândia.

7ª Zona: Jaguaretama, Limoeiro do Norte, Russas, Morada Nova, Tabuleiro do Norte, Jaguaruana, São João, Quixeré.

8ª Zona: Nova Olinda, Potengi, Campos Sales e Altaneira, Araripe, Caririaçu. 9ª Zona: Várzea Alegre e Mangabeira, Aurora, Iguatu, Baixios, Carius, Ipaumirim.

10ª Zona: Iracema, Orós, Lima Campos, Jaguaribara, Pereiro, Alto Santo, Ererê e Feiticeira 11ª Zona: (Capital): Júlia Jorge, Arminda de Araújo, Carolino Sucupira, J.B.Jereissati, Demócrito Rocha, João Pontes.

CONCLUSÃO

Olhando o panorama de ensino no país atualmente podemos dizer que há escolas publicas para todos como os Pioneiros da Educação ansiavam. O ensino é laico e inteiramente gratuito do jeito que eles queriam. O nível médio, hoje chamado de 2º grau, está disponibilizado nas duas formas: científico, profissionalizante e tendo terminado ambos, qualquer um pode com seu diploma de 2º grau, prestar um vestibular para um curso superior. Acabaram-se os problemas da educação no Brasil? Parece-me que não.

Depois de tudo o que foi exposto podemos agora tentar responder as questões norteadoras deste estudo: a CNEC foi importante para a educação no Ceará? Se assim o foi, por que então sua história é tão pouco conhecida pelos cearenses? O que representou a CNEC para os milhares de estudantes que naquele momento não tinham como continuar os estudos? Qual o retorno que a experiência trouxe para a educação em nosso Estado? E para o ideal de ensino comunitário desejado pela CNEC: ainda cabe algum espaço?

Comecemos com a primeira questão: a CNEC foi importante para a educação no Ceará?

Em 1969, Lauro de Oliveira Lima escreveria, ao constatar através de um censo escolar, relatando da precariedade do ensino no nosso EstDGR³1RDQRHVWDSRSXODomR ora sem escola, terá a idade máxima de 50 anos, estando toda ela comprometida na faixa que GHYHULDWHUDPDLVDOWDSURGXWLYLGDGHQR3DtV´ /,0$, p.37)

O que Lauro não previu nessa afirmação é que haveria um aumento substancial na procura pelo ensino secundário97. Essa mudança teria iniciado no começo do século XX, aumentando progressivamente a cada década que passava.

Essas mudanças foram preconizadas por Teixeira (1976, pgs.147/148) que afirmava: ³2PRYLPHQWRGHmassas ± pelo qual as camadas que não pertenciam às chamadas elites e, longe delas, não tinham nem condições econômicas suficientes para prolongar a sua educação, estão todas buscando educação secundária ± vai transformar fundamentalmente essa educação secXQGiULD´

97 O ensino secundário era a meta dos alunos que ingressavam no ginasial. As escolas públicas eram construídas

visando as séries que seriam ofertadas. Assim tínhamos os ginásios que precisava do Exame de Admissão para o ingresso e os Colégios que ensinavam o Ensino Médio englobando aí os cursos técnico-profissionalizantes. O ensino secundário preparava para os exames vestibulares. Os entrevistados, por atuarem no Magistério antes e depois da reforma que dividiu o ensino em 1º e 2º graus, por vezes se confundem usando os termos secundário e ginasial alternadamente.

Os fundadores da CNEC perceberam essa necessidade e talvez esteja aí a razão da ampla aceitação da Campanha tanto pelas comunidades onde estas foram inseridas como por parte do poder público que já percebia claramente o estrangulamento do sistema educacional principalmente nas séries ginasiais e não encontrava solução à curto prazo para resolvê-lo..

Essa popularização de ginásios nos Municípios mais carentes do Estado do Ceará alterou as perspectivas de muitos alunos, que de outra forma teriam somente concluído o ensino primário e voltado para trabalhar na lavoura. O próprio Felipe teria destino parecido se não fosse o apadrinhamento de pessoas importantes.

As chances para uma pessoa carente de recursos continuar seus estudos, se assim o quisesse, eram mínimas, como vimos ao longo desse trabalho.

Os ginásios sediados nos municípios e na periferia da capital, por ofertarem suas aulas no turno noturno, atendiam ao segmento que trabalhava e que não poderia estudar durante o dia. Além disso, diferente das escolas públicas que separavam os turnos por sexo, as escolas cenecistas não faziam tal separação. As turmas eram mistas. Portanto, as mulheres que trabalhavam teriam como estudar também no turno noturno.

A década de 1960 foi considerada por Anísio Teixeira como a década da educação. Em 1961 com a promulgação da 1ª Lei de Diretrizes e Bases do Ensino a legislação transferiu, para os Estados, o que antes era competência da União, ficando esta apenas com a função de atribuir, legislar, interpretar, mantendo sua condição supletiva somente nos estritos limites das deficiências locais.

Ora, a CNEC com o critério de criação de ginásios em municípios carentes ocupava inclusive esse espaço ± o das deficiências ± o que pode explicar o apoio financeiro tanto da União como dos Estados e Municípios.

Esse ano também foi propício porque o Estado aumentou as dotações orçamentárias. Pouco tempo mais tarde, as escolas cenecistas vão procurar definir linhas de ação que aumentem esses recursos. Assim, o Carolino Sucupira, por exemplo, criou uma fábrica para confeccionar blusas e calções escolares, que eram vendidos aos próprios alunos como fardamento escolar.

Outra contribuição que pode ser creditada à CNEC foi o aumento do número de professores preparados para a docência no ensino secundário. Embora a CADES, criada no início da década de 1950, já estivesse minimizando o problema, os professores oriundos das profissões liberais que se tornaram professores da CNEC e que, obrigatoriamente deveriam fazer tal curso, em muito diminuiu a escassez de professores do ensino secundário.

Documentos relacionados