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4 ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL DO ASSENTAMENTO ANTÔNIO

4.1 A formação do Assentamento Antônio Conselheiro

4.1.4 Comunidade de Umari

A comunidade de Umari é composta por cerca de 80 famílias que trabalham com a produção familiar e o comércio de produtos ao longo da BR-122. Nessa localidade, está a escola mais antiga do assentamento, a Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raimundo Facó, onde estudam as crianças das comunidades. (Figura 07)

Figura 07 – E.E.I. E. F Raimundo da Facó. Assentamento Antônio Conselheiro. Comunidade de Umari. Aracoiaba-CE.

Fonte: Sousa (2017)

A Escola de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Raimundo Facó, são gestados pela Secretaria de Educação do município de Aracoiaba. De acordo com Oliveira e Sampaio (2017), a mesma foi projetada no final da década de 1980 e construída no início da década de 1990, atendendo as reivindicações de moradores da fazenda, tendo sido oficializada em 1992 com a denominação Escola Municipal Raimundo Facó, em alusão ao proprietário da fazenda. A construção da escola foi, portanto, anterior ao movimento de ocupação.

No processo de ocupação, o número expressivo de crianças necessitava de escola para dar continuidade aos estudos, devido a este fato foi debatido em uma assembleia que decidiu por encaminhar uma comissão de acampados para ir até a sede do município, falar com o prefeito municipal de Aracoiaba sobre a abertura da escola, que foi encontrada abandonada e coberta de mato. Conforme Oliveira e Sampaio (2017, p.159), “[...] um fato motivou a ação dos acampados: o gestor municipal não aceitou matricular as crianças dizendo que não tinha escola para sem-terra”. Contudo, um grupo de educadores em especial a pedagoga Francisca Pinto, assumiu a educação das crianças até o final do ano letivo em curso, mandando, para as secretárias dos municípios de origem de cada criança, os seus resultados

finais, mas o desejo de ter a escola ainda estava presente para os assentados, por entenderam a importância da educação para seus filhos.

No período da ocupação a escola contava com duas salas de aula.

A escola já existia quando a assentamento foi criado, mas não estava funcionando não, tinha muitos animais vivendo dentro dela. As primeiras aulas do assentamento foram embaixo de lonas. Na fazenda existia uma escola com uma estrutura precária contando apenas com duas salas de aula, que na ocasião não se encontrava funcionando, depois que teve a parceria com a prefeitura de Aracoiaba e articulação do movimento ai ela voltou a funcionar. (Profa. F. C. Assentamento Antônio Conselheiro, 2017).

O assentamento passou a ser espaço de construção política e lugar de aprendizagem. Assim depois de muitas lutas a escola foi reaberta e serve aos alunos do assentamento.

Muitos dos professores da escola são da própria comunidade, vale destacar a Dona Terezinha, que além de mestre é uma liderança dentro do assentamento por fazer parte do MST/Ce, assim como seu marido Paulo Magalhães. D. Terezinha teve participação no desenvolvimento do projeto Crianças Construindo a Soberania Alimentar, popularmente denominado projeto da horta comunitária, que funcionada na escola Raimundo Facó.

De acordo com Oliveira e Sampaio (2017) o projeto Crianças Construindo a Soberania Alimentar foi desenvolvido no período de 2011 a 2013 através de parceria entre o MST/CE, a ONG Italiana IntervitaOnluse a secretária de educação de Aracoiaba. O objetivo foi proporcionar melhorias nas condições de alimentação e vida das crianças assentadas. Para isso ocorreram oficinas teóricas e práticas nas quais se discutiram em rodas de conversas a história de ocupação do assentamento, as condições ambientais das áreas de cultivo, os princípios da soberania alimentar e da agroecologia entre outras questões.

O projeto também gerou ações envolvendo toda a comunidade no trabalho coletivo de construção do tanque e no preparo das sementes. Como resultado a horta comunitária foi instrumento pedagógico que diversificou os conteúdos disciplinares, contribuiu para uma leitura crítica sobre o uso de agrotóxicos, favoreceu uma reeducação alimentar na merenda escolar e se revelou como um projeto a favor do desenvolvimento rural no diálogo com os camponeses.

A comunidade conta também com a Associação dos Moradores de Antônio Conselheiro que tem como presidente Seu G.A padroeira dessa comunidade é Nossa Senhora das Candeias e a escolha veio da influência do padre J. M., no processo de ocupação e na formação do assentamento. Para os devotos, a Santa foi escolhida; devido ao significado do nome, “Candeias” que quer dizer: luz, remetendo a esperança para o novo assentado, para a

vida que recomeça. Na figura 08, a igreja de Nossa Senhora das Candeias em processo de construção.

Figura 08 – Igreja de Nossa Senhora das Candeias. Assentamento Antônio Conselheiro. Comunidade Umari. Aracoiaba-CE

Fonte: Sousa (2017).

A presença de um patrimônio material e imaterial relacionado aos santos de devoção: São Francisco, São José, Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora Aparecida revelou um fortalecimento do Catolicismo no assentamento. A religiosidade do sertanejo que tem como mecanismo a mediação nas relações entre agricultura/agricultor e natureza. A fé no santo que pode trazer a chuva ou na santa que indicará a luz para se ter a justiça no acesso a terra é alimentada por uma ética/moral camponesa. A fé do camponês também se revela nas inúmeras manifestações religiosas nas comunidades que compõe o assentamento.

Há no assentamento uma articulação política entre quatro as associações que procuram contemplar diferentes gerações, buscando também ser uma gestão participativa. No processo, a luta para buscar melhorias nas condições de vida de um lugar passa não só por projetos de produção de alimentos como a fabricação de doces, mas por acesso a serviços urbanos como uma praça de encontro; a pavimentação das ruas e a coleta de lixo.

Portanto, o assentamento, a cada dia que passa está se fortalecendo como um espaço adquirido pela luta e resistência, de crianças, jovens, adultos e idosos como uma demonstração de força do camponês.