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A comunidade rural Dilô Barbosa pertence ao município de São Mateus, que por sua vez localiza-se na região Litoral Norte do estado do Espírito Santo. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município está localizado em latitude 18°42’58” sul, em altitude 39°51’21” oeste e, estando ainda a uma altitude de 36 metros. Ocupando ao todo, uma área de 2.338,727 km² que corresponde a 5,12% do território total do estado.

O município limita-se ao norte com os municípios de Boa Esperança, Pinheiros e Conceição da Barra; ao sul, com São Gabriel da Palha, Vila Valério, Linhares e Jaguaré; a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o município de Nova Venécia. São Mateus é o segundo município mais antigo do país e tem, ainda, a maior população afrodescendente do estado do Espírito Santo. Isso se deve ao fato de o Porto de São Mateus ter sido uma das principais portas de entradas de africanos escravizados no Brasil.

De acordo com a Figura 8, a região onde está compreendido o território da comunidade rural em questão é denominada como Sapê do Norte. De modo que o “Sapê” remete ao tipo de vegetação encontrada ao longo dos vales dos rios Cricaré e Itaúnas, nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra (região também chamada de “Nativo”) e, que ao todo, abriga cerca de 39 comunidades remanescentes de quilombos. Aliás, o termo “quilombo”, enquanto categoria histórica detinha significado de resistência e autoafirmação diante da ordem escravista. Atualmente, os remanescentes de quilombos constituem grupo étnico com identidade política assumida, organizada sob lógica de economia agroextrativista combinada à concepção de uso comum dos recursos naturais (Marin).

Localizado no rio Cricaré, o Porto de São Mateus foi fundamental para o escoamento e comercialização de produtos, como a farinha de mandioca, que além de alimentar as fazendas, as zonas de exploração de ouro e centros urbanos, era utilizado como moeda de troca por africanos escravizados, mais expressivamente com o tráfico negreiro clandestino do século XIX.

Figura 9 - Localização de São Mateus, no Espirito Santo. Fonte: ijsn.gov.br

Com a produção e comercialização da farinha de mandioca, as fazendas movidas pelo trabalho escravista, foram se efetivando ao longo dos vales dos rios Cricaré e Itaúnas. Entretanto, após a proibição do comércio de negros africanos em 1888, a farinha de mandioca e os outros produtos gradativamente perderam o poder de moeda de troca por negros, o que por sua vez provocou um deslocamento das

fazendas do norte do estado, estimulando um fluxo de abandono das propriedades pelos fazendeiros. Propriedades essas, que foram posteriormente apropriadas pelos próprios negros ali escravizados.

De acordo com a geógrafa Ferreira (2009) o espaço apropriado pelas comunidades quilombolas da região do Sapê do Norte está organizado de modo peculiar e reproduzem um modo de vida característico de suas tradições.

Os quilombolas mantiveram a produção de farinha de mandioca e do beiju, de forma artesanal até os anos 60. A partir daí eles sofreram impactos devido a implantação de extensos monocultivos de eucalipto, primeiramente utilizado para produção de carvão e madeira e, posteriormente destinado para a indústria de celulose e papel.

A comunidade é formada basicamente por descendentes destes escravos que permaneceram no local, composta por 52 famílias, cada uma com cincos pessoas em média, o que totaliza aproximadamente 260 pessoas. Hoje possuem posto de saúde, distribuição de energia elétrica e água, utilizada para consumo que é proveniente de poço, como a água utilizada para a irrigação agrícola também.

Atualmente a população desta comunidade tira a sua subsistência através da agricultura familiar, caracterizada pela exploração de pequenas áreas de terra e o aproveitamento da mão de obra familiar, realizando o cultivo de mamão, café, pimenta do reino e manejo animal.

Porém como características de comunidades rurais isoladas, foram encontrados fatores problemáticos, associados no abastecimento de água e ao alto consumo de energia elétrica. Devido ao não fornecimento do abastecimento e tratamento da água, dado pelo ao alto custo, principalmente pelo distanciamento de uma companhia levar água até a comunidade, a população usa intensivamente as bombas dos poços artesianos, para uso pessoal e para o cultivo da agricultura, o que acarreta no alto consumo de energia elétrica, gerando um custo pelo qual muitos não possuem condições financeiras de arcar, ou custos estes que poderiam ser investidos em outras áreas.

Diante deste panorama, é necessário o estudo de viabilidade econômica de projetos de geração de fontes alternativas, sejam elas do sol, da biomassa e dos ventos, na intenção de conhecer os limites e potencialidade destes sistemas de geração para estas áreas rurais. A observação das condições de vida destas comunidades, a partir da implantação de novas fontes alternativas de geração de

eletricidade, possui a possibilidade de promover melhoria de condições de vida a estes envolvidos.

Nesta discussão, destaca-se a contribuição didática de Nahas (2003), quando afirma ser a qualidade de vida uma condição humana resultante de dois conjuntos de parâmetros, os socioambientais e os individuais, modificáveis ou não, e que

caracterizam as condições em que vive o ser humano. (FERREIRA,2009, p 04):

A identidade de Sapê do Norte está vinculada à campesinidade negra presente nas terras de preto. Sua origem comum, os laços de parentesco, casamento endogâmico, saberes tradicionais e o modo de vida sempre inserido num padrão conflitivo com o sistema dominante tecem identidade neste espaço apropriado.

Sob quaisquer origens, as terras de preto trazem em si a história de afirmação étnica de uma população negra outrora escravizada (...) Ali, os antigos escravos passaram a se afirmar enquanto grupos familiares que produziram sua existência material através de práticas agrícolas, pastoreio e atividades extrativistas realizadas a partir do uso comum de determinados recursos.

Pelo que consta, essa população se estabeleceu ao longo de rios, córregos e florestas, sempre recriando o seu modo de vida, configurando uma resistência à sociedade escravista. Os quilombos eram geridos pelo trabalho familiar direcionado à própria subsistência, característica marcante na comunidade em questão.

Esse modo de viver é tecido pela profundez do parentesco, de relações de solidariedade e reciprocidade. Ou seja, esses elementos reunidos configuram uma espécie de ordem moral, segundo os parâmetros definidos por (WOORTMANN, 1990, p 03).

Família, trabalho e terra, nessa ordem social, constituem um ordenamento moral do mundo em que a terra, mais que coisa, é patrimônio, isto é, pessoa moral. [...] a relação do homem com a terra é de troca recíproca, na qual o trabalho fecunda a terra, que se torna morada da vida. A relação com a terra é uma relação moral com a natureza.

A comunidade Dilô Barbosa se estabeleceu na zona rural, na rodovia que liga São Mateus ao município de Boa Esperança, a 25 km da sede mateense, como exposto na Figura 9.

Figura 10 - Localização Comunidade Dilô Barbosa Fonte: Adaptado Google Maps

Os quilombolas deram continuidade com a atividade de produção de farinha de mandioca e do beiju, de forma artesanal até os anos 60. A partir daí eles sofreram impactos diretos devido a implantação de extensos monocultivos de eucalipto, primeiramente empregados para a produção de carvão e madeira, e posteriormente destinado à indústria de papel e celulose.

Baseado em pesquisa realizada in loco, a comunidade é formada basicamente por descendentes de escravos que permaneceram no local, composta por cerca de 52 famílias, com média de 5 pessoas em cada, o que gera um total aproximado de 260 pessoas. Hoje, possui posto de saúde, distribuição de energia elétrica, e a água utilizada para consumo provém de poços artesanais, assim como a água consumida pela irrigação agrícola.

A principal fonte de subsistência das famílias dessa comunidade é fruto da agricultura familiar, marcada pela exploração de pequenas áreas de terra e o aproveitamento da mão de obra familiar no cultivo de mamão, café, pimento do reino e, também de manejo animal.

Contudo, por se tratar de uma comunidade rural isolada, alguns fatores problemáticos representaram dificuldades no que tange o abastecimento de água e o consumo [que vem aumentando] de energia elétrica. Problemas que se devem a questões de altos custos na distribuição e tratamento da água, considerando a distância relativa em que se encontra. Obrigando as famílias a recorrerem

intensivamente as bombas de captação de água em poços artesianos, tanto para o uso pessoal, quanto para as atividades do cultivo agrícola, o que exige um alto consumo de energia elétrica para uma comunidade nem tão populosa. Mas que por outro lado, os moradores dali também não teriam condições financeiras de arcar com tais elevados custos, ou se fosse o caso, deixariam de investir em outras atividades importantes.

A partir desse contexto fica necessário um estudo de viabilidade econômica de projetos de geração de fonte alternativa de energia, sejam do sol, ou proveniente de biomassa, ou dos ventos na intenção de conhecer os limites e potencialidades em áreas rurais, como a comunidade aqui abordada. A partir da implantação de novas fontes de geração de eletricidade, sobretudo para mover as bombas de captação de água dos poços, representa uma boa possibilidade de promoção de melhoria de condições de vida para os moradores da comunidade.

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