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5 DIAGNÓSTICO TURÍSTICO DA COMUNIDADE DE FORTE VELHO

5.2 A comunidade de Forte Velho

Forte Velho segue o exemplo de muitas povoações tradicionais que habitam o litoral nordestino. Um pequeno núcleo de povoamento com forte relação com a atividade pesqueira, características históricas e culturais singulares, sob intensa influência do ambiente onde está inserido e sofrendo pressões de atividades econômicas e de grupos externos, incluindo a atividade turística, que alteram e desestruturam substancialmente a sua organização interna.

A referida localidade tem sua origem na constituição de um espaço de proteção e povoamento na área estuarina do rio Paraíba ainda na época colonial11. Em matéria publicada no jornal A União (GOUVÊA, 2011), o pesquisador Guilherme D’Ávila Lins defende a tese de que Forte Velho seria o primeiro núcleo de povoamento constituído na capitania da Paraíba, mantendo assim relação direta com a conquista do território da Paraíba. A ideia é sustentada pelo autor a partir da evidência da edificação, no ano de 1584, de um fortim em madeira denominado de Forte de São Felipe e São Tiago e da instalação de uma alcaiadaria neste lugar. Porém, de acordo com o mesmo, a intenção de proteger a costa de possíveis ataques fracassou com o abandono prematuro da edificação militar. Em uma versão histórica mais aceita, as ruinas do antigo forte passam a ser conhecidas como Forte Velho, dando nome àquela região.

Outro registro histórico é realizado já no início do século XX, quando da aquisição das terras pelo Sr. Carolino Ferreira Soares, major fiscal da Guarda Nacional. De acordo com o

10 Distância entre Santa Rita (sede municipal) e Forte Velho: 30,6 km; Santa Rita e Ribeira: 25,3 km; Santa Rita

a N. Senhora do Livramento: 21,2 km.

11 Apesar de sua importância, sua história apresenta longos períodos não registrados, fatos não consensuais e, até

mesmo, acontecimentos desconhecidos. É importante salientar que esta pesquisa não objetiva discutir e questionar os fatos históricos da formação de Forte Velho.

registro da família Ferreira Soares, Forte Velho é apresentada naquela época como “uma fazenda com 1.200 hectares e com aproximadamente 8 mil pés de coco, localizada na foz do rio Paraíba, às margens da Praia de Costinha, quase defronte ao porto de Cabedelo”. A propriedade era moradia daquela abastada família e de empregados ligados à fazenda. No relato exposto, não foi possível colher referências diretas sobre a existência de moradores tradicionais, no entanto, existência de atividades econômicas, como a plantação de cocos e também de uma casa de farinha, implica no trabalho humano que, possivelmente era realizado por pessoas que residiam em áreas próximas ou na própria localidade.

Fonte: desconhecida.

Em tempos atuais, a localidade encontra-se elevada à categoria de distrito pertencente à zona rural do município de Santa Rita (Lei 1.529, de 26 de abril de 2013). Este município integra a região metropolitana de João Pessoa (RMJP) e, nos últimos anos, tem apresentado relativa melhoria em seus indicadores de desenvolvimento. O IDHM, índice que mensura o desenvolvimento humano municipal, obteve um expressivo salto entre os anos 1991 e 2010, passando de 0,367 e chegando a 0,627, situando-se atualmente em níveis médios, e, portanto aceitáveis, de desenvolvimento humano (PNUD, 2013). Porém, seu resultado ainda figura abaixo dos índices alcançados por municípios vizinhos como João Pessoa, Cabedelo e Bayeux.

A melhoria relativa dos indicadores econômicos e sociais à luz do IDH-M (2010), notadamente no que se refere à educação, seguida da longevidade e da renda, não revela a

totalidade de problemáticas presentes neste município. O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (BRASIL, 2015) apontou no ano de 2014 que, entre os 283 municípios brasileiros, Santa Rita figurou na décima sexta colocação dentre aqueles de pior desempenho na avaliação do índice a nível nacional. A publicação traz a comparação dos resultados obtidos naquele ano, com os números de 2007, quando o município encontrava-se na sexagésima posição, evidenciando o agravamento desta problemática no contexto municipal nos últimos anos.

Territorialmente, Santa Rita possui 730,205 km² de extensão (IBGE, 2010) sendo a maior parcela inserida em espaços rurais, apresentando vastas áreas de cultivo destinadas à monocultura da cana-de-açúcar e do abacaxi. A mecanização da lavoura e a desestruturação das atividades agrícolas tradicionais trouxeram como resultado a fuga do homem do campo para a cidade especialmente na última década do século XX neste município. Todavia, após apresentar decréscimo significativo de sua população rural entre 1991 a 2000, foi perceptível o aumento no número de habitantes que residiam no campo em 2010 em termos absolutos.

Seguindo esta tendência, a comunidade de Forte Velho assistiu a um relevante crescimento de sua população nos últimos anos - especialmente com a chegada de famílias externas à comunidade. Se, no ano de 2006, a prefeitura municipal constatou (SANTA RITA, 2006) a existência de 533 moradores na comunidade, dados mais recentes disponibilizados pelo IBGE (2010) indicaram a presença de 991 habitantes na localidade. No entanto, mesmo com crescimento habitacional acelerado, as deficiências na infraestrutura local e na qualidade dos serviços públicos oferecidos à população permanecem e são, até mesmo, agravadas pelo aumento populacional e pela baixa perspectiva de geração de renda na comunidade.

A prática pesqueira, atividade tradicional de Forte Velho e das demais povoações que habitam a margem esquerda do estuário do rio Paraíba, ainda resiste enquanto atividade econômica representativa para grande parte dos habitantes do lugar12. Entretanto, há relatos contundentes, inclusive alguns deles colhidos durante a realização da pesquisa de campo deste trabalho, que versam sobre as problemáticas ambientais e a provável diminuição dos estoques pesqueiros, incluindo crustáceos, na área do estuário do rio Paraíba. Nishida et al. (2004) apontam para fatores como a ausência de medidas de gestão e monitoramento da pesca realizada neste espaço, somados à ocorrência de impactos ambientais relacionados com a poluição e a eutrofização da área estuarina como possíveis causas da retração da pesca nesta região.

12 A colônia de pescadores Z-11, que tem sede em Forte Velho e tem jurisdição em todo o município de Santa

Ainda que a localidade seja constantemente afeta à geração de desequilíbrios e conflitos socioambientais, a relevante beleza cênica e a vocação do lugar para o turismo tem ensejado um fluxo de visitação espontâneo, sazonal e pouco organizado até a comunidade. A ausência de medidas de planejamento e organização de sua prática, bem como, de ações que visam capacitar e integrar a comunidade local na atividade não têm favorecido a estruturação e o desenvolvimento do turismo neste espaço.

A atual prática turística realizada neste espaço, bem como a perspectiva do aumento da circulação de turistas e visitantes decorrente da cobertura asfáltica do principal acesso terrestre às povoações que margeiam o estuário, pode interferir, em um futuro não muito distante, na dinâmica do ambiente e das comunidades tradicionais como Forte Velho e nos demais povoados inseridos no entorno do estuário. Nishida et al. (2004) afirmam que o processo desencadeado através do turismo já foi iniciado, o que acentua a necessidade de ação organizada para dimensionar e direcionar a atividade neste espaço.

5.3 Diagnóstico situacional - Forte Velho do coco-de-roda à luta pela terra - carências,