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Conceição da Barra (ES) e Santa Cruz (ES)

1.3 Solos de manguezais

2.1.5 Fe nos filossilicatos

2.2.1.4 Conceição da Barra (ES) e Santa Cruz (ES)

Conceição da Barra (município de São Mateus – ES) e Santa Cruz (município de Aracruz – ES) são as duas localidades cujos manguezais foram amostrados no litoral do Espírito Santo. Em ambas, há as maiores extensões de manguezais do estado

(juntamente com os manguezais da baía de Vitória), cuja área aproximada é de 70 km2

(SILVA et al., 2005). Apesar da relativa proximidade entre ambas, há algumas diferenças que serão brevemente descritas no texto que se segue.

A bacia do rio São Mateus localiza-se na região norte do estado do Espírito

Santo, e abrange uma área de 13.500 km2. O rio São Mateus nasce da confluência dos

rios Cotoxé e Cricaré, cujas nascentes localizam-se em Minas Gerais. Seus afluentes atravessam os três principais compartimentos geológicos/geomorfológicos do estado: o complexo geomorfológico sobre o embasamento cristalino pré-cambriano, os terrenos terciários do grupo Barreiras e as planícies flúvio-marinhas do Quaternário. No estuário do Rio São Mateus, onde se localiza o manguezal da localidade de Conceição da Barra (18º35’35” S; 39º45’04” W) (Figuras 8 e 11), o regime de marés é do tipo micromarés semi-diurnas, com variação média de 0,8 m, e intervalos entre 0,1 e 1,5 m (SILVA et al., 2005). O clima é do tipo Aw (tropical com chuvas concentradas no verão), temperatura média anual de 23,9 ºC, e média de 28,9 ºC nos meses mais quentes e 20,0 ºC nos mais frios (SILVA, 2005).

Silva et al. (2005) estudaram a estrutura dos bosques do manguezal de Conceição da Barra. Verificaram a existência de Rizophora mangle, nas áreas de maior influência das marés, de Avicennia schauerianna, Laguncularia racemosa e Avicennia

germinans, sendo estas duas últimas mais comuns em bosques mais desenvolvidos,

sob maior influência do aporte de água doce.

O manguezal de Santa Cruz (19º57’00” S; 40º11’10” W) encontra-se no estuário do rio Piraquê-Açu (Figuras 9 e 12), com 65 km de extensão, nascendo na reserva

Lombardia (Santa Teresa – ES). Sua bacia de drenagem tem área de 457 km2,

ocupando terrenos dominados por sedimentos terciários do grupo Barreiras (MORAES, 1974). O clima na região é do tipo Aw (tropical com chuvas concentradas no verão), com temperatura média anual de 24,8 ºC, sendo 27,3ºC para o mês mais quente e 21,9ºC para o mês mais frio (OLIVEIRA, 2009). O regime de marés é o de micromarés semi-diurnas, sendo que medições da baía de Vitória apontam para marés de sizígia de 1,70-1,50 m e 0,70 m para as de quadratura (CODESA, 2007; NUNES, 2007).

A vegetação, que ocupa uma área de aproximadamente 12 km2 é composta

principalmente por Rizophora mangle (domina a franja dos bosques), Laguncularia

racemosa (ocorrem mais para interior) e Avicennia schauerianna (mais próxima às

áreas de restinga). Avicennia germinans ocorre nos estuários médios e superiores (BARROSO, 2004 apud OLIVEIRA, 2009)

O litoral do Espírito Santo é dividido em três compartimentos geomorfológicos distintos: os tabuleiros terciários do grupo Barreiras, o complexo sobre o embasamento cristalinos do Pré-Cambriano e as planícies flúvio-marinhas quaternárias. Na maioria das regiões da costa, os tabuleiros terciários do grupo Barreiras atingem a linha de costa, na forma de falésias vivas, mortas e terraços de abrasão marinha, sendo que em alguns pontos, promontórios rochosos do Pré-Cambriano também estão presentes. As planícies quaternárias encontram-se bem desenvolvidas somente nas adjacências da desembocadura dos rios de maior porte, como o Doce, São Mateus, Piraquê-Açu, Reis Magos, Jucu, Itapemirim e Itaboana. Nas demais regiões, seu desenvolvimento é incipiente (ALBINO et al., 2006).

Conceição da Barra e Santa Cruz encontram-se, respectivamente, nas zonas 2 e 3 do litoral capixaba, segundo a classificação proposta por Martin et al. (1996). Na zona 2, há o maior desenvolvimento da planície flúvio-marinha quaternária, atingindo 38 km de extensão (em Conceição da Barra) (Figura 10), entre as falésias mortas do Terciário e a linha de costa. Na zona 3, os tabuleiros encontram a linha de costa (figura 10) em diversos pontos, mas no rio Piraquê-Açu, cujo manguezal que ocupa seu estuário foi amostrado no presente trabalho, a planície flúvio-marinha é melhor desenvolvida (ALBINO et al., 2006).

Figura 8 – Localização e imagem do manguezal de Conceição da Barra (São Mateus – ES), na desembocadura do rio São Mateus (imagem LANDSAT 5, 11/04/2006 - figura superior à direita). Abaixo, detalhe do manguezal amostrado, no estuário do rio São Mateus

Figura 9 – Localização e imagem do manguezal de Santa Cruz (Aracruz – ES), na desembocadura do rio Piraquê-Açu (imagem LANDSAT 5, 11/04/2006 - figura superior à direita). Abaixo, detalhe do manguezal amostrado, no estuário do rio Pirauê-Açu. Também pode ser observada a presença dos tabuleiros próximos à linha de costa

Os dois pontos amostrados no estado diferem em relação à natureza dos sedimentos continentais predominantemente levados à linha de costa, e que ocupam os estuários onde se desenvolvem os manguezais. O rio São Mateus, cujo estuário, na localidade de Conceição da Barra foi amostrado, drena regiões mais interiores, com contribuição de sedimentos provenientes de solos formados sobre o embasamento cristalino associados aos solos formados sobre sedimentos terciários dos tabuleiros à medida que atinge a linha de costa, que também é mais extensa. O grande aporte de sedimentos desse rio é responsável pela diferenciação geomorfológica do setor do litoral onde se encontra.

No rio Piraquê-Açu, a área drenada encontra-se exclusivamente nos tabuleiros, fato que se reflete não somente na natureza dos sedimentos, mas na própria configuração do litoral onde desemboca, cuja planície é menos desenvolvida (ALBINO et al., 2006). Os solos desenvolvidos sobre esses sedimentos do Terciário são, principalmente, Argissolos e Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos, com baixos teores de Fe e hematita, altos teores de caulinita proveninetes do mateiral de origem, goethita formada em condições atuais e muitos com caráter coeso (DUARTE et al., 2000; MELO et al., 2002a)

Figura 10 – À esquerda: planície arenosa em Conceição da Barra, com evidência de horizonte espódico na região escavada. Essas feições são bem desenvolvidas nessa região do litoral capixaba. À direita: tabuleiro terciário do grupo Barreiras, chegando próximo à linha de costa, uma feição característica dessa região do litoral capixaba

Figura 11 – À esquerda: desembocadura do Rio São Mateus, em Conceição da Barra (ES); À direita: aspecto geral do manguezal amostrado

Figura 12 – À esquerda: desembocadura do rio Piraquê-Açu, Santa Cruz (ES). Os manguezais se

desenvolvem à beira dos tabuleiros do grupo Barreiras, onde há plantações de Eucalyptus sp. À direita: aspectos gerais do ponto amostrado

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