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4 CAPÍTULO A DOCÊNCIA NA PERCEPÇÃO DOS DOCENTES-ENGENHEIROS

4.3 As percepções dos docentes-engenheiros

4.3.2 Conceito de bom professor

Estudos indicam que a compreensão da categoria de bom professor está relacionada a um conceito relativo que transita pelas dimensões pessoal e relacional. Configura-se na capacidade do professor de elaborar pontos de vista e ter uma percepção clara da compreensão de si mesmo e de suas relações recíprocas, bem como de sua integração no ambiente institucional (NÓVOA, 1995; BRÜTTEN, 2008). Mas é fato que alguns, na prática, conseguem melhores resultados de aprendizagem do que outros e que alguns conquistam a maioria dos alunos.

Em relação a esse tema, os sujeitos manifestaram a valorização dos objetivos das disciplinas para a formação do aluno. Não consideram que o conteúdo seja o único objeto relevante e reconhecem a importância da dimensão política na vida do docente universitário.

O Gráfico 2 permite visualizar melhor os resultados do levantamento sobre esse eixo:

Gráfico 2: Distribuição e freqüências sobre o conceito de bom professor Fonte: Dados da pesquisa

Essa representação gráfica informa que: “para ser bom professor, deve-se conhecer os objetivos da disciplina para a formação do aluno”, todos os professores apresentaram respostas indicando que concordavam com a sentença, seja esta parcial (20%) ou total (80%). As demais opções de respostas não foram referidas. A alta frequência nessa variável indica a preocupação dos professores com a formação do aluno.

O professor precisa conhecer a meta que norteará seus esforços ao longo de sua formação. Vale lembrar que “sem conhecer os objetivos de formação, que revelam o caráter técnico do ensino e orientam suas

finalidades e sentido, não existe legitimidade institucional” (BRÜTTEN, 2008, p. 145).

A questão “para ser bom professor universitário é necessário ter boa vontade” apresentou resultados semelhantes à questão anterior. A maioria dos professores concorda com essa proposição, parcial (72%) e totalmente (23%). Somente 3% dos professores referiram discordância parcial e meio termo.

Segundo pressupostos da psicologia,

a boa vontade implica uma disponibilidade, que se manifesta com a percepção de uma necessidade em outra pessoa, para espontaneamente ajudá-la, visando efetivamente seu benefício. Inclui um sentimento positivo em relação a si mesmo, relacionado com a ação praticada, mas também um sentimento positivo em relação ao outro que recebe a ação (AMATUZZI et al, 2002).

Os resultados dessa proposição refletem a valorização pelo corpo docente de elementos inerentes à atividade voluntária: a disponibilidade, a espontaneidade, a ajuda, sentimento positivo em relação ao outro e a si mesmo no exercício do ofício docente. Esses investimentos são necessários para o alcance do bem-estar docente.

Paim (1993, apud SOARES, 2006), em estudo sobre o ato volitivo, define a palavravontade, em seu sentido comum, como

a faculdade que tem o ser humano de se determinar a partir de razões, o que supõe consciência e reflexão. A vontade está indissoluvelmente ligada à sua finalidade e às suas tendências e, como as demais funções psíquicas, é fortemente influenciada pela afetividade.

Com relação à afirmativa “conhecer e dominar o conteúdo se constitui o único fator importante para ser um bom professor”, observou-se que 34% dos professores discordaram da mesma em âmbito total e parcial. Uma porcentagem de 25% demonstrou concordar com a frase, enquanto 6% sugeriu neutralidade.

Tal situação indica que os respondentes compreendem que existem os saberes inerentes à docência e que estes não se resumem em conhecer e saber o conteúdo, ter vocação, intuição e experiência. Analisamos que há preocupação em conhecer os fundamentos do bom ensino universitário. Seu desenvolvimento deve ser baseado na autonomia e no exercício de uma boa prática pedagógica. O professor tem de transformar o conhecimento do conteúdo em formas eficazes de adaptação ao contexto de formação profissional dos alunos. Configura-se uma visão diferente da que comumente se vê: a tradicional ênfase nos conteúdos no ensino superior brasileiro, em que a principal função do professor tem se reduzido a repassar os conteúdos aos alunos, “transformando-os em reprodutores de conhecimento, dificultando-lhes a reflexão” (GIL, 2010, p. 35).

Essa visão demonstra a mudança de atitude do professor universitário, agora preocupado em repensar e organizar o processo de ensino-aprendizagem voltado a alunos adultos, exigindo novas compreensões e competências que se esperam de um profissional capaz na atualidade.

Do ponto de vista das investigações acadêmicas, o exercício da dimensão política da atividade docente é destacado como uma das competências básicas a ser exercida, compreendida como o compromisso social do ensino direcionado para a realidade e ao exercício da equidade social. Assim, com base na sentença: “é preciso participar da vida e da política da instituição”, a maioria dos professores demonstrou concordância parcial de 43% e total de 29%, ninguém discordou total nem parcialmente e 14%, se mantiveram neutros. Esse quadro indica que um total de 72% dos respondentes reconhecem a dimensão política da participação na construção coletiva da sociedade.

Esse resultado nos leva a refletir sobre a visão crítica da realidade, característica genérica do trabalho e da Instituição universitária. Entretanto, lembramos que na linguagem freireana, a prática educacional neutra é impossível, na fala ou no silêncio, educador e educando estão a serviço de algo e de alguém.

Em se tratando de docência universitária, na interpretação de Masetto (2003), no exercício da docência, o professor não deixa de ser um cidadão, não podendo, igualmente, pleitear uma prática pedagógica que não reconheça o contexto social e cultural como processo histórico, portanto, propenso a incorporar a construção da vida e da história de seu povo.

Os componentes do bom professor no contexto acadêmico pesquisado, e o processo de construção da docência universitária de “melhor qualidade” (RIOS, 2008, p.16) estão associados à definição dos objetivos da formação, à autonomia intelectual, a elementos subjetivos, ao domínio de conteúdo, culminando com a dimensão política. Apontam-se possíveis direções para o desenvolvimento do bem-estar institucional no percurso da profissão docente.

Esses fatores favorecem a tese levantada pela mesma pesquisadora de que “o trabalho docente competente é um trabalho que faz bem. É aquele em que o docente mobiliza todas as dimensões de sua ação com o objetivo de proporcionar algo bom para si mesmo, para os alunos e para a sociedade”.

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