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O foco central da presente pesquisa está relacionado à questão da ocupação da orla do Lago da Barragem do Passo Real, no município de Quinze de Novembro/RS, em que são constituídos condomínios com casas de veraneio, uma vez que o município possui um grande potencial turístico, como se verá posteriormente. No entanto, para que se torne possível dimensionar o potencial de degradação ambiental provocado pela expansão desenfreada desta atividade e apontar alternativas de minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente sem, contudo, impedir a expansão da atividade turística, é necessário caracterizar e definir as Áreas de Preservação Permanente, uma vez que nestas áreas estão localizados os condomínios.

Neste sentido, vem de encontro à elucidação do assunto a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o novo Código Florestal. A referida Lei traz em seu art. 1º, § 2º, inciso II, a definição das áreas de preservação permanente como sendo as áreas protegidas, conforme determinam os arts. 2º e 3º do Código Florestal, cobertas ou não por vegetação nativa, que possuem a função ambiental de preservar recursos hídricos, paisagens, garantir a

estabilidade geográfica, a biodiversidade, fluxos de fauna e flora, e ainda, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Complementando o anteriormente mencionado e procurando definir quais seriam as áreas de preservação permanente protegidas pelo Código Florestal, torna-se de fundamental importância transcrever parte do art. 2º da Lei nº 4.771, pois este artigo define quais são e onde estão situadas as áreas consideradas de preservação permanente:

Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

1) de trinta metros para os cursos d’água de menos de dez metros de largura; 2) de cinqüenta metros para os cursos d’água que tenham de dez metros a cinqüenta metros de largura;

3) de cem metros para os cursos d’água que tenham de cinqüenta a duzentos metros de largura;

4) de duzentos metros para os cursos d’água que tenham de duzentos a seiscentos metros de largura;

5) de quinhentos metros para os cursos d’água que tenham largura superior a seiscentos metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios naturais e artificiais; [...]

Sabendo-se que os condomínios turísticos foram construídos às margens do reservatório de um lago artificial no Município de Quinze de Novembro, e que as edificações, em alguns locais, terminam dentro da lâmina d’água, constata-se, após análise do texto do Código Florestal, que os mesmos estão localizados de maneira diversa da que preconiza a referida Lei. Em momento oportuno será trazido ao presente trabalho um levantamento da atual situação destes condomínios. No momento os estudos serão direcionados a elucidar melhor a questão específica das áreas de preservação permanente.

No caso da ocupação da orla do Lago da Barragem do Passo Real, no Município de Quinze de Novembro, constata-se a infração da alínea “b”, do art. 2º, do Código Florestal, uma vez que a área ocupada fica ao redor de um lago artificial, construído em meados da década de 1970, tendo como objetivo principal a geração de energia elétrica. Esta área, conforme regulamenta o já mencionado Código, está, pois, situada em local de áreas que deveriam ser de preservação permanente, pelas razões e motivos expostos em seu art. 1º, inciso II.

Por sua vez, no que se refere à proteção das matas ciliares, o Código Florestal é o documento legal que regulamenta esta matéria. As matas ciliares são localizadas em áreas de preservação permanente e são protegidas por lei, sendo que não é permitida sua derrubada e nem a ocupação destas áreas por qualquer atividade. No caso do reservatório do lago da Barragem do Passo Real, no Município de Quinze de Novembro, nem toda a extensão do lago é coberta por mata ciliar. Este fato, no entanto, não torna permitida a sua ocupação, pois se entende que mesmo não havendo mata ciliar tais áreas devem ser preservadas de forma permanente.

Ainda no tocante à questão da proteção legal das matas ciliares, refere Freitas (2001) que esta se encontra regulamentada no Código Florestal, o qual dispõe serem elas áreas de preservação permanente, não podendo, por isso, ser derrubadas, exceto em situação excepcional e com prévia autorização da autoridade administrativa competente. A função das matas ciliares é a de proteger os cursos d’água, seja na forma de proporcionar alimentos aos peixes, evitando a sua contaminação por agrotóxicos, por agentes poluentes, ou ainda, evitando a erosão das margens e, consequentemente, o assoreamento dos cursos d’água. Neste sentido as matas ciliares são consideradas importantes aliadas na proteção do meio ambiente, devendo ser preservadas e conservadas.

No momento em que o foco central da discussão é a ocupação da orla de um reservatório artificial, é importante mencionar o que regulamenta a Resolução nº 302, de 20 de março de 2002, resolução esta editada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a qual, em seu art. 2º, inciso I, define reservatório artificial como sendo a acumulação não-natural de água destinada a quaisquer de suas múltiplas finalidades. Com base nesta definição, pode-se caracterizar o Lago da Barragem do Passo Real como sendo um reservatório artificial, independentemente de sua finalidade.

O inciso II do art.2º da mesma Resolução define as Áreas de Preservação Permanente como sendo as áreas marginais ao redor do reservatório e, também, suas ilhas, que possuem a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo de fauna e flora, e ainda, proteger o solo e assegurar o bem-estar da população. Já o art. 3°, inciso I, regulamenta a largura mínima das áreas de preservação permanente, estabelecendo-a de trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas e de cem metros nas áreas rurais.

Tendo conhecimento que o Lago do Passo Real é um reservatório artificial, do qual parte de sua lâmina d’água se encontra em área do Município de Quinze de Novembro, sendo tal área urbana e rural, e que seu entorno está sendo ocupado por condomínios que são construídos com finalidade turística, entende-se que os conceitos, limitações e legislações anteriormente expostas são suficientes para a delimitação e caracterização da área ocupada. Neste sentido é possível afirmar que estes condomínios estão localizados em áreas que não deveriam receber edificações, mas, serem preservadas, inclusive com cobertura de mata ciliar. Por outro lado, faz-se necessário destacar que a atividade turística é importante para a economia do Município de Quinze de Novembro, uma vez que muitas famílias têm no turismo mais uma alternativa de agregar renda e melhorar sua qualidade de vida.

Na realidade, a orla do Lago da Barragem do Passo Real já está ocupada e, como será possível constatar oportunamente, com casas de grande valor econômico, contribuindo com o desenvolvimento turístico do município, embora estabelecidas em Área de Preservação Permanente. Nesse contexto, a questão ao mesmo tempo urgente e complexa que se põe é como instaurar no Município de Quinze de Novembro um desenvolvimento sustentável que concilie a atividade turística com alternativas que minimizem os impactos ambientais já causados e impeçam que mais degradação venha a acontecer. Neste sentido entende-se que é fundamental a união de forças em prol da promoção de um desenvolvimento turístico sustentável e de qualidade, que promova o progresso do município, mas primando pela preservação e conservação dos recursos naturais, sempre observando a legislação pertinente ao assunto.

A estruturação do próximo tópico deste capítulo terá por objetivo fazer um breve estudo sobre o histórico do Município de Quinze de Novembro/RS, levantar dados acerca da construção do reservatório da Barragem do Passo Real, realizar um levantamento sobre a atual situação de ocupação da orla do lago da barragem com finalidade turística, bem como conhecer o real potencial turístico do Município. Feito isso, o terceiro capítulo ocupar-se-á em organizar os dados colhidos na realização de uma pesquisa de campo, para, a partir dos subsídios teóricos e dos conhecimentos legais anteriormente elaborados nos primeiros capítulos, efetuar uma análise crítica que possa contribuir de forma significativa na formulação de políticas públicas no Município de Quinze de Novembro voltadas a um desenvolvimento sustentável, trazendo alternativas para mudanças que, sem desqualificar a

atividade turística, respeitem, dentro das especificidades do contexto local, a preservação e a conservação ambiental.