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O CONCEITO DE CADEIA COMO NORTEADOR DA REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE DE CARVÃO

Matéria prima

4. Intermediário distribuidor: possui marca própria de carvão vegetal e paga ao intermediário embalador para que

7.1 O CONCEITO DE CADEIA COMO NORTEADOR DA REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE DE CARVÃO

VEGETAL

Para ilustrar a possibilidade de uso do conceito de cadeias, trazemos agora exemplos de comercialização, encontrados nesta pesquisa. Conforme já ressaltamos, o único caso em que todo carvão comercializado é produzido conforme as exigências legais é subscrito no âmbito da marca coletiva Valor da Roça, pertencente à Associação Valor da Roça, de Biguaçu. A Associação controla a utilização desta

identidade, por meio da distribuição das embalagens e etiquetas de identificação individual. As regras de uso das embalagens estão estabelecidas no caderno de normas da associação, que é uma instituição formal para esse grupo de agricultores de Biguaçu. A utilização correta da marca coletiva e a veracidade das informações constantes da embalagem são objeto de preocupação da Associação. Qualquer usuário que cometer uma fraude, não cumprindo com o disposto no manual, estará maculando a marca Valor da Roça, que tem como premissa principal, a responsabilidade social e ambiental e, portanto, estará sujeito às penalidades previstas no documento normativo.

As embalagens da Associação Valor da Roça são coletivas e contém a informação sobre o tipo de matéria-prima utilizada, que no caso é floresta nativa manejada, e sobre a forma de manejo da floresta.

Figura 28 - Embalagem de carvão da Associação Valor da Roça.

Fonte: Rede Sul Florestal

Além das informações genéricas, a embalagem contém etiquetas de identificação individuais em que constam: nome do produtor, telefone, número da inscrição estadual de produtor rural, número do Cadastro Técnico Federal (registro no IBAMA); número da Autorização de Corte (AUC) que deu origem a matéria-prima e número da Certidão Ambiental ou da Licença Ambiental para a atividade de carvoejamento (comumente denominada pelos agricultores de “registro do forno”), dependendo do porte da atividade.

Figura 29 - Etiquetas individuais da Associação Valor da Roça.

Fonte: fotografado pela autora em um supermercado de Biguaçu

Nas demais embalagens, comumente encontradas no mercado, apenas constam o nome, o telefone, número da inscrição estadual e do Cadastro Técnico Federal do Ibama.

Vale destacar, que o Cadastro Técnico Federal do Ibama é um registro necessário inicial do produtor rural que não garante, porém, a regularidade da atividade. Como já detalhamos nesta dissertação, a regularização da atividade carvoeira, em Santa Catarina, depende da autorização de corte da matéria-prima, no caso de espécies nativas, e certidão ou licenciamento ambiental da atividade.

Os agricultores da Associação ainda não estão utilizando o sistema DOF para transporte do carvão até o presente momento, porque os procedimentos para regulamentação do DOF para carvão, como apresentamos acima, ainda não estão regulamentados em Santa Catarina.

Outro fator que contribui para o não uso do DOF são as dificuldades em acessar à internet e de utilizar o CTF e o sistema DOF, conforme pontuamos no capítulo anterior. Entendemos que, levando em conta a realidade do meio rural e os aspectos levantados acima, deve-se considerar a necessidade de adequação deste sistema, para que possa ser facilmente entendido e utilizado.

Apesar dos agricultores da Associação Valor da Roça não utilizarem o sistema DOF para transporte de carvão vegetal, todos os

processos da cadeia produtiva são realizados em conformidade ambiental e devidamente documentados. A identificação de origem, que é o principal objetivo do Documento de Origem Florestal, com a disponibilização de informações acerca da regularidade ambiental nas embalagens e controle coletivo da identidade de origem do produto, pelos produtores associados.

A sinalização inequívoca ao consumidor, quanto à origem do produto e seu modo de produção, associada à possibilidade de rastreabilidade, da identificação de sua origem, objeto de procura pelo produtor, permite identificar uma cadeia curta, definida, conceitualmente, como espacialmente estendida. Analisando o caso da comercialização dos produtos da Associação Valor da Roça, como uma cadeia com essa configuração, podemos sugerir que, considerando a integral regularidade do processo informada nas embalagens, a utilização do Documento de Origem Florestal, para estes casos, pode ser dispensada.

Nos casos de cadeia curta face a face, onde a comercialização do produto se dá diretamente, entre o produtor rural e o consumidor final, a utilização do Documento de Origem Florestal pode igualmente ser dispensada, desde que as embalagens forneçam o mesmo tipo de informações ao consumidor. Neste caso, em que pese a compra direta, entendemos que se faz necessária a apresentação de informações acerca da regularização ambiental nas embalagens, para coibir ações oportunistas, já que a atividade envolve várias etapas, com exigências legais diversas.

Na ilustração a seguir (figura 30), trazemos, novamente, os diferentes tipos de cadeias produtivas encontradas nesta pesquisa, onde sugerimos, para os diferentes tipos de cadeias produtivas, as etapas nas quais a dispensa do uso de DOF não comprometeria a rastreabilidade do produto, amparadas no fato de que as informações sobre a legalidade da produção fossem apresentadas ao consumidor, como nos exemplos citados acima.

Figura 30 - Apontamentos para utilização do sistema DOF, de acordo com os tipos de cadeia produtiva do carvão vegetal.

Fonte: Elaborado pela autora com base no trabalho de campo realizado entre outubro/2010 e março/2013.

Nesta ilustração, sugerimos a dispensa de DOF, nos casos onde o processo de comercialização se desenvolve por meio de cadeia curta, onde o próprio produtor faça o beneficiamento de sua produção, que no caso do carvão vegetal, é composto pelos processos de seleção e embalagem, e que, identifique suas embalagens mediante, informações

do licenciamento ou cadastramento da atividade, origem da matéria- prima através do número da autorização de corte para matéria-prima de origem nativa, e os dados do produtor rural. Assim, poderia haver isenção de DOF nos três casos de cadeia curta com o cumprimento dos requisitos acima.

Destacamos, ainda que na cadeia de proximidade regional, sugerida na Figura (30), diferentemente do que ocorre atualmente no município de Biguaçu, os produtores devem cumprir todas as exigências legais e a embalagem deve fornecer as mesmas informações da cadeia curta espacialmente estendida. Esta cadeia se diferencia pela presença do consumidor no local de origem do produto, o que pode acontecer nos estabelecimentos varejistas da própria região ou em eventos como festas típicas.

Como ilustrado, a cadeia curta de produção, está relacionada com a associação do produto à forma como foi produzido e à sua origem, além de outros atributos, como confiança e reciprocidade, e não implica, necessariamente, que o produtor venda diretamente o seu produto. Entendemos, que o importante é que estejam identificadas, no produto final, a origem de sua matéria-prima, devidamente comprovada por sua autorização de corte, e as condições de produção garantidas pelo cadastro da atividade. O fato de a distribuição, que implica em logística específica, ser realizada por outro ator, não interfere nas condições de regularidade da produção. No entanto, a partir do momento, em que houver uma ação oportunista, na qual um produtor receba e embale carvão vegetal de um terceiro, sem o devido trâmite legal de aquisição da matéria prima, na embalagem identificada com os seus dados de produção, este estará adulterando informações comerciais e comprometendo a possibilidade de rastreabilidade do produto, no âmbito da cadeia. Neste contexto, a fiscalização poderia ocorrer, a qualquer momento, pela conferência das informações na embalagem do produtor a respeito da autorização do corte e da certidão ambiental ou licenciamento da atividade diretamente com o produtor rural.

Nos casos de cadeia longa, em que a origem de produção se perde pelo envasamento em embalagens sem identificação dos produtores e demais informações sobre a regularidade ambiental, o DOF deverá ser exigido. A despeito das dúvidas sobre a possibilidade de sua emissão, para esta etapa da cadeia produtiva, por conta do modo de operação do sistema, entendemos que deveria haver exigência do DOF, inclusive para o carvão em embalagens individualizadas, até sua chegada aos estabelecimentos varejistas. Assim, nos casos de cadeia longa, o DOF, para cuja emissão se fazem necessárias informações sobre a

regularização ambiental da atividade, seria o mecanismo adequado para dar ao consumidor garantias sobre a produção ambientalmente correta.

O que propomos aqui induz à diferenciação quanto à origem dos produtos diretamente ligada ao produtor rural, proporcionando-lhes uma melhor inserção no mercado. Esse apontamento vai ao encontro do preceito de Padilha Junior (2007), que afirma que quando os produtores vendem os produtos sem distinção de marca e qualidade, de forma homogênea e sem nenhum grau de diferenciação, isso os torna tomadores de preços, ao invés de formadores de preço.

Além da valorização do produto, no caso da Associação Valor da Roça, ocorre a valorização do uso legal e sustentável da mata nativa e da produção na agricultura familiar. Assim, o diferencial do produto ocorre não só com base na qualidade do produto, mas também, na sua responsabilidade social e ambiental.