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2 O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

3.1 CONTRATO DE CONSUMO

3.1.1 Conceito de Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor conceitua “consumidor” como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”126. Fornecedor, por sua vez, recebe conceituação ampla.

(...)

toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.127

Para que alguém seja enquadrado no conceito de consumidor padrão brasileiro128, ou standard, deverá preencher três requisitos: seja pessoa (física ou

126 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a

proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /leis/L8078.htm>. Acesso em: 9 jul. 2012.

127 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a

proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /leis/L8078.htm>. Acesso em: 9 jul. 2012.

128 Em outros países, a legislação consumeirista é diferente. Na Argentina, a Ley de Protección Del Consumidor (Lei nº 24.240) define que o consumidor poderá ser pessoa física ou jurídica (inclusão da

Lei nº 24.999/1998), desde que o produto ou serviço após ser adquirido não retorne à cadeia de produção, incluindo em seu escopo a proteção ao contrato de locação e excluindo contratos em que o objeto adquirido seja usado. Na Alemanha o consumidor será pessoa física e o contrato não pode ser relacionado à atividade profissional ou ter ligação comercial. O Codigo Del Consumo Italiano se assemelha ao conceito alemão: Art. 3º, 1, a, define como consumidor “consumatore o utente: la persona fisica che agisce per scopi estranei all'attività imprenditoriale o professionale eventualmente svolta;” (ITÁLIA, Presidente Della Repubblica. Decreto Legislativo 6 settembre 2005, n. 206. Codice Del Consumo. Disponível em <http://www.parlamento.it/parlam/leggi/deleghe/05206dl.htm>. Acesso em: 12 jul. 2012). As concepções da Itália e Alemanha têm sido adotadas na doutrina da Europa com o conceito comum de consumidor na União Europeia. A França não tem em seu Code de La

Consommation uma conceituação definida, por isso deixa à jurisprudência que realize esta

delimitação, que geralmente acaba aceitando a pessoa jurídica como consumidora, desde que apresente vulnerabilidade. Na Bélgica, o foco está nos fins lucrativos – estando presente na atividade,

jurídica), adquira ou utilize produto ou serviço, e por fim, que seja destinatário final. Quando se inicia os preparativos de um casamento, diversos serviços são utilizados por pessoa para obter um benefício em sua festa (destinação final).

A doutrina se divide em duas vertentes principais para delinear o conceito de consumidor – maximalista (ou objetivista); e finalista (ou subjetivista).

3.1.1.1 Teoria Maximalista (ou objetivista)

Os adeptos da teoria maximalista entendem que o conceito de consumidor deve ser direcionado a todos aqueles que realizam o ato de consumir, bastando que retire o produto do mercado, encerrando a cadeia produtiva129. Entendem ainda que

o Código de Defesa do Consumidor como uma espécie de lei geral para o consumo, regulando o mercado brasileiro130.

No ponto de vista de Hector Valverde Santana, esta corrente doutrinária aponta para a destinação fática final.

Os maximalistas sustentam que ao art. 2º, caput, do CDC não faz distinção entre a destinação final de produtos e serviços para finalidade pessoal, familiar ou não-profissional, sob o argumento de

provavelmente a pessoa jurídica não será considerada consumidora. Portugal realiza uma conceituação que insere quem deverá realizar a atividade profissional e quem não deverá: “Considera-se consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios” (PORTUGAL, Assembléia da República. Lei nº 24/96 de 31 de Julho de 1996. Estabelece o regime legal aplicável à defesa dos consumidores. Disponível em <http://www.dre.pt/pdf1sdip/1996/07/ 176a00/21842189.PDF>. Acesso em: 12 jun. 2012). Na Espanha, a Ley general para La defensa de

lós consumidores y usuários aceita a pessoa jurídica ou física como consumidora – lei esta em que

claramente houve inspiração para a legislação brasileira, contudo que contém uma delimitação mais clara em sua conceituação. (ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Direito do consumo. Coimbra: Almedina, 2005; MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime

das relações contratuais. 5. ed. rev., atual., e ampl., incluindo mais de 1.000 decisões

jurisprudenciais. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 307-320)

129 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. 1. ed. 2. reimpr. São Paulo :

Atlas, 2009. p. 60.

130 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das

relações contratuais. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 306.

que onde a lei não faz a distinção, não compete ao intérprete fazê- la.131

Assim, independe o motivo pelos quais o produto é retirado do mercado ou o serviço seja requerido, desde que simplesmente seja realizada a contratação.

3.1.1.2 Teoria finalista (ou subjetivista)

A interpretação da Lei de Proteção ao Consumidor segundo a Teoria Finalista (ou subjetivista) volta-se para a ideia do consumo como forma de satisfazer as necessidades pessoais do adquirente, sem que de qualquer forma isto contribua para uma atividade comercial132.

Nesta teoria, a pessoa jurídica somente será consumidora no caso de apresentar notável vulnerabilidade, além de o consumo não ser relacionado à sua atividade comercial133.

A análise realizada pelo Ministro Sidnei Beneti, no julgamento134 do Recurso

Especial nº 1.038.645 – RS (2008/0051397-6) demonstra sentido semelhante:

No caso, a sentença e o Acórdão afastaram, analisando as condições fáticas da Recorrente, sua condição jurídica de consumidora. Caracterizada como transportadora não marcada pela hipossuficiência diante da Recorrida, salientou-se, ainda, que o serviço prestado - conserto do caminhão de transporte - caracterizava-se como insumo dos serviços que prestava como transportadora de cargas, não sendo, ela, a Recorrente, portanto, considerada destinatária final, mas, sim, caracterizava-se como destinatária intermediária, não enquadrada no conceito de

131 SANTANA, Héctor Valverde. Dano moral no direito do consumidor. São Paulo : Editora Revista

dos Tribunais, 2009. p. 68.

132 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. 1. ed. 2. reimpr. São Paulo :

Atlas, 2009. pg. 61.

133 MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN Antônio Hermann V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao

Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos

Tribunais, 2006. p. 84.

134 É importante destacar que o relator realiza um belo trabalho de análise de correntes doutrinárias

ao verificar a conceituação de consumidor. O ponto, segundo o ministro Beneti, que pode ser chave para a resolução de conflitos é apuração da vulnerabilidade da parte em relação a outra.

consumidor e, portanto, não usufruindo das normas protetivas do sistema do Código de Defesa do Consumidor.135

Esta corrente doutrinária recebe ainda uma linha de desenvolvimento denominada finalismo aprofundado, que abrange como consumidora a empresa que adquire produto ou serviço que mesmo que lhe sirva para a produção, não seja diretamente de sua área de expertise136.

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